
Peça desculpas
Olho para os lados antes de passar pela rua e atravesso correndo, os fones de ouvido estourando meus tímpanos e eu sem a menor intenção de abaixar o volume da música.
Hoje é o primeiro dia que venho para o colégio sem a companhia de Alice, e eu me sinto um pouco apagado ainda que não completamente invisível, como eu conseguia ficar antes de anunciarmos esse falso namoro.
Me dou conta então de que eu sentia falta de andar sozinho, sem ter que segurar a mão de ninguém e nem forçar sorrisos, mas ainda é estranho passar pelos corredores sem ela.
Bem, não vai fazer diferença hoje. Pelo visto, ainda estamos de mal um com o outro e eu não vou pedir desculpas. Ela não me mandou nenhuma outra mensagem e eu não visualizei a sua última. Sim, ela já está fazendo falta aqui, mas eu ainda estou puto por termos brigado, mais ainda porque o motivo foi o desgraçado do Lorenzo. Ela não pode voltar com ele, não faz sentido. Ela não pode se deixar ser machucada de novo. Eu não posso deixar que ela se machuque.
Inferno, se fosse qualquer outra pessoa eu deixaria que ela quebrasse a cara, mas não consigo fazer isso com Alice e saber disso só me deixa mais irritadiço.
Vou para a primeira aula antes que o sinal toque e entendo que a maioria ao meu redor me lance um olhar confuso. Se é estranho para vocês me ver sem ela, imagine para mim. Eu não quero pensar a respeito, mas os fones e a música alta não estão ajudando.
A professora de espanhol avançado sempre chega atrasada, então não me preocupo com isso ao me sentar no fundo da sala e começar a jogar no celular pra matar o tempo já que não estou afim de falar com ninguém.
Eu poderia ficar em paz na minha, mas não, claro que o universo não pode deixar isso acontecer.
Lorenzo Smith se senta do meu lado, eu sei porque ouvi alguém o cumprimentando e não quis levantar a cabeça, mas minha visão periférica o captou.
Filho da puta.
Eu o olho e ele me encara de volta, acabado e sem nenhuma expressão no rosto. Engraçado, pensei que ele tentaria ao menos se gabar de ter dormido de novo com minha melhor amiga. Mas aí nós viramos o rosto e eu não consigo me concentrar na aula porque ele fica batendo o pé de ansiedade e, Jesus Cristo, como eu quero esmurrar esse imbecil. Rabisco um grafite na última folha do caderno e não gravo absolutamente nada do que a professora fala já que eu sempre me dei bem no espanhol.
Quando o sinal toca, eu me levanto e guardo minhas coisas com raiva. Eu não consigo superar esse sentimento facilmente, entende.
Jogo a mochila nas costas, pego o skate de debaixo da cadeira. Lorenzo e eu saímos ao mesmo tempo, o que não favorece em nada meu nível elevado de estresse quando ele esbarra no meu ombro como se quisesse me atropelar.
— Olha por onde anda, retardado!— eu vocifero, um lapso totalmente impulsivo, meu sangue está fervendo.
Lorenzo para de andar. O corredor está bastante movimentado, mas as pessoas desaceleram o passo para olhar. Nós temos sido o centro das atenções ultimamente.
Ele me olha por cima do ombro e se vira lentamente.
— Falou comigo, Cameron?— ele cerra os olhos como se a ideia fosse impossível. Como eu, magricela do jeito que sou, poderia começar qualquer briga com alguém do tamanho de Lorenzo?
— Ficou surdo?— rebato.
Ah, isso vai ser de foder.
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ALICE SALTZMAN
Mordo o lábio, tentando me lembrar.
— A morte te dá parabéns?— cerro os olhos, tentando adivinhar.
— Não! Pânico, Alice! Pânico!— Dean ri, indignado.— Como você pode errar essa?
— Uma pessoa mascarada que mata gratuitamente os amigos!— arregalo os olhos— É o mesmo conceito!
— Mas está no plural! A morte te dá parabéns é só uma pessoa para matar.— ele rebate e eu estalo a língua, virando o rosto com um sorriso nos lábios. Estamos nessa brincadeira desde hoje de manhã quando nos esbarramos no estacionamento. É basicamente um falando para o outro sobre um filme sem falar o nome deste filme. E eu estou perdendo.
— Tá, minha vez...— comprimo os lábios, pensativa. Dean tem sido uma ótima distração, ainda que não apague por completo a falta que Vincent está fazendo. A brincadeira seria mais divertida com ele, mas ele foi um otário e eu acho que vou ter que esperar até a morte por um pedido de desculpas seu. Bem, que assim seja, se ele acha que só ele pode ser orgulhoso, vou mostrar só...— Esse filme é sobre uma filha que amaldiçoa a própria mãe e depois tem que impedir o pai de matá-la.
— Hmm...— ele cerra os olhos pequenos olhando para a frente do corredor. Ele está me acompanhando para a minha próxima aula e mesmo que a sua seja na direção oposta, ele não parece com pressa.— É Valente, não é?
— AH! Qual é! Como você faz isso?
— Esse estava muito óbvio.— ele sorri de canto. Bufo abraçando os meus livros de física e matemática com mais força.
— Não estava não.— resmungo, emburrando-me. Antes que a gente continue com a brincadeira, um tumulto de frente da sala de espanhol atrai nossa atenção.— O que está pegando ali?— pergunto para Dean porque ele pode ver acima das cabeças, diferentemente de mim. Ele faz careta.
— É o Lorenzo...— ele comenta, que surpresa. Balanço a cabeça, me perguntando que idiota poderia ter puxado briga com Lorenzo em plena manhã— e o Vincent.
Meu sangue congela. Merda, Cameron! Sem pensar demais, passo meus livros para Dean e avanço correndo para o meio da multidão que abre alguns espaços para eu poder passar. Solto um suspiro aliviado ao ver que Lorenzo só está com um sorriso psicótico no rosto, sem ter colocado as mãos no Vince ainda.
— Acho que estou um pouco surdo mesmo, porque só posso ter ouvido coisas.— o Smith diz.
— Engraçado, sua mãe não me avisou isso quando a gente ficou a sós ontem à noite.— Vince rebateu, arrancando vaias e risadinhas das pessoas ao nosso redor. Eu não mereço isso.
— Vincent.— eu me aproximo, atraindo os olhares dos rapazes que espumam como dois cachorros com raiva— O que é que você está fazendo?— sussurro, agarrando o braço do meu estúpido melhor amigo.— Quer morrer?
— Não acha que está do lado errado, senhorita Smith?— ele retruca no mesmo tom, friamente. O lanço um olhar com tédio e me volto para Lorenzo.
— Deixa isso para lá.— eu digo para o garoto de cara amarrada.
— Não força a barra, Cameron. Isso não vai se repetir.— Lorenzo diz, nos dando as costas e empurrando as pessoas da sua frente. O desapontamento pela briga evitada ecoa entre os alunos que começam a se dispersar.
Vince sacode o braço para se soltar de mim, mas eu não vou deixar ele ir tão fácil assim.
— Sai, Alice!— ele diz, eu solto seu braço para agarrar sua orelha e o arrastar para fora do colégio.— Ai!— ele reclama.
— Cala a boca!— vocifero para ele, descendo as escadas da frente e o soltando no estacionamento ocupado apenas por nós e carros e motos de todos os tipos.— Que é que estava acontecendo ali!?
Vincent me olha torto e esfrega a orelha que eu torci.
— Aquele idiota me empurrou.
— Ele já te empurrou assim como vive empurrando todo mundo nessa maldita escola, por que foi se importar com isso agora?
— Por que quer saber? Está preocupada com seu namoradinho?
Reviro os olhos e empurro seu ombro, o fazendo cambalear um pouco.
— Não, seu idiota! É óbvio que eu estou preocupada com você! Caras como o Lorenzo não discutem com caras como você, eles te mandam para o hospital!— respiro fundo, tentando não gritar com ele e olho ao redor para ter certeza de que não estamos sendo ouvidos. Enquanto Vince ia para o clube de debate, Lorenzo estava indo para o clube da luta, não tem como os dois brigarem. Vincent não briga assim.
— E por que você se importaria?— ele cruza os braços e eu me seguro para não mandá-lo para o hospital eu mesma.
— Quando foi que eu não me importei com você?
— Talvez quando você dormiu com aquele desgraçado?!— ele se afasta de mim batendo os pés no chão, eu vou atrás e agarro seu braço, o fazendo se virar para mim de novo.
— Isso não aconteceu, deixe de ser infantil, Cameron! Eu já te falei o que houve, o que você não consegue entender?
— Eu já te falei o que não dá para entender! Como você poderia ajudar ele depois do que ele fez?— ele sacode os cachos, revoltado— Ele partiu seu coração! Por que mais você acharia que eu estou bravo?
— Eu não sei!— jogo as mãos para o alto e ele revira os olhos, virando o rosto.— Eu sei que eu te falei a verdade, Vince, não aconteceu nada entre nós. Você tem que confiar em mim e parar de ser teimoso, caralho!
— Eu confio em você, mas o que você quer que eu diga? Que ver ele no seu quarto não me magoou? Que tudo bem por mim ter vocês dois brincando de casinha? Porque eu não vou mentir com isso, Alice!
Meus ombros caíram.
— Eu não quis te magoar, Vince...— falo, sentindo-me mal por isso. Nenhum momento pensei como ele poderia se sentir, até porque eu sei que não havia nenhuma malícia no que eu e Lorenzo estávamos fazendo e aquilo não tinha nada a ver com ele. Não é como se eu o estivesse traindo... né?
— E eu só não quero que você se machuque, Ali.— ele resmunga, me lançando um olhar sério— Eu detesto que se magoe, e tenho certeza que Lorenzo vai te magoar sempre que tiver a oportunidade.— ele atirou a mão na direção do colégio atrás de mim, bruscamente.
Pensei em dizer a ele que Lorenzo não faria isso, mas não sei... não tive certeza por mais que o conhecesse mais do que Vincent. Sei que Lorenzo não é uma pessoa ruim, mas ele já me traiu — sabe-se lá quantas vezes — e não dá para ignorar isso. Comprimi os lábios e baixei o olhar.
— Eu não estou zangado por causa de nós, Alice.— ele volta a falar depois de uma breve pausa e eu levanto o olhar novamente— Eu estou zangado por causa de você. Eu te amo e quero o seu bem acima de qualquer coisa. E ele não é bom pra você.— Vince balança a cabeça e levanta os ombros— Não é.
Inclino a cabeça para o lado e faço bico, emocionada, porque Vince não é de falar essas coisas. A gente fica se encarando por um tempo.
— Você também me magoou quando me chamou de idiota, sabe? Aquilo foi...
— Eu sei...— ele suspira, esfregando o rosto com a mão livre— Eu sei.— Vince faz careta e não me olha enquanto tenta empurrar uma simples palavra para fora— Desculpa. Eu não... não me controlo quando fico com raiva, você...
— É, eu sei.— murmuro. Estamos matando aula agora, mas nenhum de nós dois está dando sua devida importância para isso.— Será que nós podemos...— olho para cima e balanço as mãos respirando fundo— não brigar mais?
É, nota-se que eu não sou uma orgulhosa ou rancorosa de primeira. O que mais eu poderia fazer? Meu coração não funciona assim e eu não quero ficar brigada com meu melhor amigo. A gente nunca ficou brigado.
— Eu gostei disso tanto quanto você.— ele murmura. Eu sorrio de canto e Vince passa a mão nos cabelos bagunçados.
Abro os braços para o moreno.
— Vem cá, seu idiota.
— Tá. Não precisa implorar.— ele vem e me abraça depois de colocar o skate no chão. Nós nos apertamos e eu me sinto muito melhor. Era disso que eu estava precisando, meu dia melhorou muito. Foi estranho ficar com raiva dele, por mais que tenham sido poucas horas. Fecho os olhos e escondo o rosto na curva do seu pescoço.
— Você sabe que o Lorenzo te amassaria se eu não fosse te salvar, né?— murmuro. Vince faz um carinho na minha cintura que me causa cócegas e arrepios.
— Eu sei.— ele sussurra no meu ouvido.
— Você é doido.
— Eu sei.
— Mas eu te amo.
— Eu sei, eu também.... me amo.— ele emenda e eu me afasto do abraço, revirando os olhos.
Lhe dou um tapa, arrancando-lhe uma risada.
— Se fode, Vincent!
[...]
Nota da autora:
Primeira atualização do ano 😘
Vamos fingir que eu não estou tendo um bloqueio criativo.
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