Me faz um favor?
— Me desculpa, eu me perdi um pouco na história...— Vincent ergue a mão me fazendo parar a narração intensa de minha história. Eu o olho e ajeito a mochila no ombro, voltamos juntos andando para minha casa, já que Vince odeia ir direto para a dele— Pode voltar para a parte em que você insinua para o seu ex-namorado que te chifrou... que você chifrou ele primeiro e, melhor ainda, que foi comigo?— ele pede abrindo um sorriso de canto, debochado. Fico quieta e reviro os olhos enquanto ele cai na gargalhada.
— Muito obrigada, Vince, mas eu não preciso que zombe de mim nesta altura do campeonato.
— Não, mas fala sério, aquele idiota acreditou mesmo nessa história?!— Vince coloca a mão sobre meu ombro e eu projeto o lábio inferior para frente.
— Parece que sim e, além do mais, você sabe que eu posso ser bem convincente quando quero.— gabo-me. Vincent estala a língua, nem um pouco convencido. O ruim é que ele me conhece bem demais e por isso vive me chamando de péssima mentirosa e ele é o único que me fala isso. Aprendemos a mentir juntos, aí eu não consigo mentir para ele nem ele para mim. De alguma forma, mesmo que a gente seja muito bom em controlar nossos corpos e expressões faciais, é como se dividissimos um sexto sentido que apita bem alto e claramente quando o outro mente.
— E por que é que eu tive que ser seu amante? Por que não escolheu outra pessoa? Agora as minhas costas estão marcadas com um puta alvo, Ali. Alôô! Garoto magricela e sedentário em perigo de apanhar na saída da escola!— ele arregala os olhos— E é culpa sua, sua feia!
— Para, me desculpa. Não foi escolha minha te trazer a tona, foi ele que tocou no seu nome e eu sei lá... nem me passou pela cabeça falar de outro garoto. Se ele tem mesmo ciúmes de você, é óbvio que eu vou continuar usando seu nome.
— Alice...
— Ele não vai te bater, Vince.— garanto, o interrompendo— Ele é um babaca traidor, mas não bate de frente com quem é mais fraco que ele.— ou pelo menos eu espero que não, porque eu estou seriamente em dúvida se eu o conhecia tão bem quanto pensava.
— Nossa, Alice Saltzman, obrigado pela parte que me toca!— ele eleva o tom de voz e sai de perto de mim fazendo uma corcunda como se eu tivesse genuinamente ofendido sua virilidade. Mas nós dois sabemos que em uma briga corpo a corpo, Vince perderia feio. Meu amigo é um saco de ossos perto de Lorenzo que faz muaitai, natação e joga basquete— Você não deveria tratar um amante como eu com palavras tão cruéis assim!— ele me olha de rabo de olho e eu dou risada, chegamos na porta de minha casa e eu o puxo para passar pelo portão como uma pessoa normal, coisa que ele insiste em contrariar. Kisha não demora em vir nos comemorar, mas a mando fazer silêncio e seus latidos não interrompem minha conversa.
Mas sua presença sim.
Vincent e eu nos distraímos por alguns longos minutos brincando com a pastor alemão que eu quase esqueci sobre o que tinha que falar com ele. Eu o arrasto para dentro e nós vamos direto para a cozinha, sempre se sentindo em casa, Vincent pega um copo grande no armário e vai pegar água gelada na porta da geladeira. Kisha choraminga no meu pé por mais carinho e fica de pé tentando lamber minha cara.
— Desce!— eu ordeno.
— Ah, não seja chata, ela só deve estar querendo limpar sua boca depois que você usou ela para me foder.— Vince retorna ao drama, deixa sua mochila sobre a ilha da cozinha e vai para a sala enchendo a cara de água. Jogo minha bolsa do lado da sua e o sigo com minha cachorra extremamente empolgada me agredindo com seu rabo como um chicote nas minhas pernas. Eu me jogo no sofá ao lado de Vince e nós encaramos a TV desligada, tendo vislumbre apenas do reflexo escurecido de nossas cabeças. Kisha deitou a cabeça no meu colo e eu fiquei a afagando.
— Você não tem que apanhar por causa disso. Supostamente foi só golpe trocado e eu não acho que Lorenzo vá querer espalhar que nós estamos no mesmo nível de babaquice.
— Lorenzo Smith com ciúmes de mim?— olho para Vincent e o vejo com o rosto franzido de descrença— Olha, eu tenho amor próprio, mas se eu tivesse a cara dele nem fodendo que eu teria ciúmes de alguém como eu.
Eu não consigo deixar de soltar uma risada. Uma coisa que eu odeio e amo muito em Vince é que ele sempre vai conseguir me arrancar uma risadinha, por pior que eu esteja me sentindo.
Ficamos calados por um tempo, até que meu amigo me olha como se esperasse uma resposta, eu deito a cabeça no encosto do sofá e encaro seus olhos de amêndoa.
— Você acha que algum dia eu já fiz algo com você que desse a entender que nós tivemos algo?— perguntei em voz baixa. Vince olhou para cima e pensou por um tempo.
— Não. Acho que não. As coisas nunca foram estranhas entre nós.— ele franze a testa e dá de ombros— Bem, eu meio que sempre soube que você tem uma paixonite platônica por mim, mas você nunca deixou isso atrapalhar nossa amizade, ainda bem.— ele zomba e deixa escapar uma risada gostosa quando eu o empurro quase que violentamente.
— Você só não se perde porque vive se achando, garoto idiota.— reclamo, Vince assente dramaticamente como se fosse se curvar para mim pela ceninha.
— Obrigado, obrigado.
Reviro os olhos e recolho as pernas, dobrando-as e as abraçando. Minha cadela saltita e pula no sofá para tentar meter a grande e molhada língua na cara de Vincent que abraça seu pescoço, rindo.
— Você quer ir para casa comigo, meu amor?— ele brinca com ela e eu me desligo por uns instantes, afundando-me em uma mare de pensamentos sobre o que eu fiz hoje.
Eu me senti ótima, não vou mentir. A cara de indignação de Lorenzo por apenas imaginar que fora traído antes de trair foi impagável. Foi uma péssima ideia que me ocorreu, mas valeu a pena fazê-lo sentir um gostinho do que ele me fez sentir.
Por um momento, eu me pergunto como ele se sentiria em saber que, não foi apenas traído, mas também já fora substituído...
Seria uma vingança mais ou menos, considerando que eu estaria me rebaixando a uma competição sem sentido só para tentar mostrar que saí na frente e o superei rápido pois já tinha um step disponível. Que o que ele fez não deixou meu coração despedaçado e por mais que eu me sinta bem em magoá-lo, isso não me faz genuinamente feliz.
Sacudo a cabeça para não me deixar levar pelos pensamentos negativos e me volto para Vincent segurando seu ombro e lhe chamando a atenção.
— Vince, me faz um favor?— eu peço, ainda colocando os planos em ordem. O cacheado me encara com neutralidade.
— Depende, que favor seria?— ele responde. Eu reluto em prosseguir com minha proposta, mas quem melhor do que ele? Eu namorei por mais de um ano, não estava conversando com mais ninguém para conquistar qualquer um rapidamente.
Mordo o lábio e olho para baixo.
— Hmm... eu preciso que você... namore comigo.— empurro as palavras para fora e Vincent me encara inexpressivo por uns segundos longos. O seu semblante muda lentamente para uma careta confusa conforme ele se dá conta de que eu não estou brincando com ele.
— O que?
— Eu tive uma péssima ideia agora, e eu preciso muito da sua ajuda para fazer com que ela dê certo.
— Você quer que eu namore com você?
— Eu quero me vingar, Vincent.— eu seguro sua mão muito perto de suplicar para ele. Vince odeia se meter em confusão e imediatamente ao ver o que isso pode causar, ele torce o nariz— Eu quero que ele tenha um real motivo para ficar magoado, quero que ele pense que eu já o superei.
— Cruel, Alice.— Vince sopra uma risada nasalada e balança a cabeça para mim, puxando sua mão e a jogando sobre a barriga da cadela que está deitada no seu colo— E por que você acha que essa maluquice daria certo?
— Porque eu já disse que nós tivemos algo no passado?— minha resposta sai mais como uma pergunta e eu encolho os ombros enquanto ele balança a cabeça em desaprovação— Tá, mas eu só vou precisar de um pouquinho do seu tempo, me dê um mês e eu já arranjo outra pessoa para usar.
Assim que termino de falar noto como soei babaca.
Vincent nota e levanta a sobrancelha para mim.
— Desculpa. Me expressei errado.— resmungo, cabisbaixa. Cruzo as mãos no colo e baixo a cabeça. O ouço respirar fundo e então bufar.
— Então eu vou ser seu namorado por um mês?— ele pergunta atraindo meu olhar esperançoso.
— Vai fingir ser meu namorado por um mês, sim.— o corrigi porque uma palavrinha faz toda diferença.
— Não sei não, Ali...
— Não é uma coisa difícil. Só temos que dar as mãos e fazer cara de apaixonados um para o outro de vez em quando. Sempre que alguém da escola estiver nos vendo.
— E você não acha que as pessoas vão estranhar se a gente não se beijar nunca?— ele pergunta e eu quase engulo minha língua— Só estou dizendo— ele dá de ombros e cruza os braços— eles podem achar que está começando a ter alguma coisa entre nós e então isso levaria outro mês de encenação e nós teríamos perdido um por nada.
Recolho os lábios, pensativa.
— Tudo bem, você está certo. A gente vai ter que dar um selinhos demorados de vez em quando.— assinto.
— Selinhos.— Vince repete, achando graça.
— O que, você já quer meter a língua na minha boca? Eu sempre soube que você tem uma paixonite platônica por mim, mas nunca pensei que isso fosse atrapalhar nossa amizade.— caçoo e nós dois rimos. Vincent empurra meu joelho.
— Você não daria conta do papai— ele ironiza e eu lhe dou um tapa no braço deixando sua pele branca e sensível vermelha.
— Ridículo, Vince!
— Não, mas falando sério, o que é que eu ganharia com isso? Eu estou vendo o lado de perda, porque ficar com você em público vai espantar os meus rolos.
— Que rolos? Os de papel higiênico?— debocho. Vincent se vira para mim jogando o braço no encosto do sofá.
— Eu converso com pessoas, Alice.
— Elas são reais?— arregalo os olhos— Não! Melhor ainda, elas estão neste plano?— olho ao redor como se estivesse procurando por fantasmas. Meu amigo apenas me encara com profundo tédio e eu solto uma gargalhada— Não se preocupe com isso, Vince. Algumas garotas até gostam de ser "a outra mulher"— faço aspas com os dedos.
— Eu não me atraio por vadias sem noção.— ele retruca, eu levo a mão ao peito, ai.
— Então como nós viramos amigos?
— Seu pai me paga para ser seu amigo.— ele faz uma careta de quem lamenta.— Ele me disse que você é muito sozinha, e tal. Eu fiquei com pena— eu soco sua coxa e ele ri.
— Você é ridículo!
— E ainda assim você está criando todas as desculpas possíveis para me beijar.
Reviro os olhos com um sorriso no rosto.
— Vincent. Se você topar a entrar nessa comigo...— eu faço uma pausa que parece um momento de suspense, mas eu só estou pensando no que posso te oferecer— Eu te mostro meus peitos e até te deixo tocar neles.
Um sorrisinho malicioso nasce no canto dos seus lábios e ele cerra os olhos.
— Você está mesmo desesperada, não é?
— Um pouquinho.— faço careta.
Ele pensa e pensa.
— Eu vou ver seus peitos por um mês inteiro?
— Sim, senhor.— assinto. Vince desce os olhos momentaneamente para o meu decote e umedece os lábios. Levanto a sobrancelha e dou um quase-leve tapa na sua cara para que ele volte a olhar nos meus olhos.
— Ai.— ele leva a mão a bochecha— Gostei— ele me estende a outra— Temos um acordo.
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