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Capítulo 1 - Lembrança


Já é a décima vez que a Keijey me acerta um soco no estômago, me fazendo cambalear em cima do ringue de treinamento.

— Vamos, acorde garota! O que está acontecendo com você hoje, Violet!? — Ela me lança um olhar de reprovação. Acentuando ainda mais a carranca no rosto sério, nada feliz com o meu desempenho das últimas horas. — Por que não está prestando atenção nos meus golpes como te ensinei? — Ela mal termina de falar e me dá uma rasteira que faz com que eu tombe de costas no chão do ringue, me deixando completamente sem ar. — Se levante menina, não vou pegar leve com você dessa vez.

Não vai pegar leve comigo? E quando foi que você fez isso? - Pensei séria.

Keijey era a minha professora de luta já havia alguns anos e pelo que eu conhecia dela, ela nunca pegava leve com alguém e tenho a absoluta certeza de que essa não seria a primeira vez que ela faria algo do tipo. Ela não perdoava nem mesmo os coitadinhos dos novatos.

— Es-Espere um segundo. — Consegui dizer, enquanto tentava puxar o ar para os meus pulmões, me arrasto para o lado e me esforço para levantar. Quando consigo entro na posição de um novo combate frente a frente com ela. Eu ainda estava tentando fazer com que o meu pulmão voltasse ao normal, o que não está sendo nada fácil para mim.

O soco que ela me deu foi forte, mas não tão forte ao ponto de me deixar incapacitada.

Eu não estava conseguindo me concentrar na luta como nas aulas anteriores, mas felizmente nas outras aulas eu tinha conseguido não deixar isso tão evidente.

Neste treino se eu acertei cinco ou seis golpes nela, eu tive sorte. Se alguém estivesse acompanhando o treinamento estaria rindo da minha cara agora, pela vergonha que eu estava passando. E por mais que eu tentasse concentrar na luta, eu não conseguia.  

Estava começando a achar que as aulas de Boxe não estavam mais fazendo tanto efeito assim em mim.

Digo... No sentido de distrair a minha cabeça fodida.

Antes era tão mais fácil.

Eu conseguia deixar minha mente clara e descarregava todo o meu estresse de uma forma bem rápida e precisa, sem que nenhuma distração irritante passasse pelos meus pensamentos e no final daqueles treinamentos focados, eu era agraciada com vários sorrisos orgulhosos da Keijey.

Agora nada disso estava surtindo efeito em mim, por mais que eu me esforçasse não estava me concentrando nos golpes que ela estava desferindo, nem mesmo bloquear os chutes eu estava conseguindo fazer. Estava absorvendo todos impactos de uma forma quase bruta demais, vergonhosa demais para alguém que treinava todos os dias nos últimos sete anos.

Precisava tirar essas coisas da minha cabeça, mas eram tantos pensamentos que mesmo tentando pensar em outra coisa, eu sempre acabava voltando para o mesmo ponto de partida.

Remoendo e remoendo sem parar.

Eu havia começado com as aulas de boxe e ginástica na academia para gastar toda essa energia acumulada e controlar a ansiedade que fervilhava dentro de mim. Desde a infância, nunca fui de ficar parada, sempre procurava algo para fazer, e graças aos conselhos da renomada e discreta psicóloga "Doutora Waitler", encontrei uma maneira de estabilizar essa agitação. Não posso deixar de dar esse crédito àquela cobra.

Foi a doutora Waitler quem também começou a tratar do trauma das irmãs Benvills, e por ironia do destino, eu era uma delas. Nós precisávamos encontrar algo para nos concentrarmos e evitar pensar no que aconteceu há alguns meses atrás, mas isso era mais fácil falar do que fazer, não é mesmo?

Estava se tornando cada vez mais difícil me manter concentrada nas coisas ao meu redor, nas pessoas e nas atividades cotidianas. Eu mentiria se dissesse que estava focada nos estudos como antigamente. Precisava me concentrar em alguma coisa nova e como o Boxe não estava funcionando por hoje. A linda e bela Violet aqui, teria que dar o fora deste lugar na maior cara dura que eu pudesse fazer.

Meus músculos protestavam pelos vários golpes que tinha recebido de Keijey, que era uma instrutora imponente, com um corpo moldado por músculos resultado de treino árduo e esforço diário, eu suspeitava que ela já havia conquistado algum título em competições de fisiculturismo ou algo do gênero, já que inúmeros troféus de campeonatos estavam espalhados por toda a academia.

Keijey oferecia aulas de uma ampla variedade de estilos de artes marciais e esportes de combate que alguém poderia imaginar. Ela treinava campeões mundiais e contava com o apoio de diversos instrutores altamente qualificados para auxiliá-la. No entanto, apesar de toda a agitação e a rotina movimentada, isso não significava que ela não estivesse atenta ao que acontecia ao seu redor. Key sacava as coisas no ar.

Eu sabia que não seria a melhor das pessoas se inventasse uma desculpa inútil e fosse embora agora mesmo, mas eu precisava sair dali. Eu levaria uma surra ainda maior se continuasse aqui divagando durante o treinamento.

Lancei um olhar discreto para o enorme relógio na parede e suspirei insatisfeita. Ainda faltava quase uma hora para a aula terminar. Tentei acertá-la novamente, mas meu esforço foi em vão. Desviei de forma desajeitada e por pouco não levei um soco na cara.

Definitivamente, já deu por hoje!

A questão era como sair da aula sem que Keijey me castigasse na próxima vez que me visse? Ela certamente faria isso, e eu era péssima em mentir. Quero dizer, algumas mentiras até que passavam, mas outras... não. Eu literalmente era pega na boca da botija muito frequentemente quando tentava mentir para alguém.

Precisava encontrar uma resposta bem rápido, porque Keijey estava começando a lançar olhares estranhos toda vez que eu tentava dar um gancho ou um chute frontal. Ela bloqueava todos os meus golpes, me cansando e me deixando sem saída. Os olhares dela estavam ficando sinistros, como aqueles de uma mãe prestes a esganar um filho quando ele está fazendo algo muito errado.

Ela, sem dúvida, não era ingênua e certamente perceberia se eu tentasse mentir para ela. Afinal, eu frequentava suas aulas de boxe há bastante tempo, tempo suficiente para que ela me conhecesse como a palma de sua mão.

No começo, eu escolhi as aulas de luta por causa do meu temperamento briguento. Não que eu batesse nas pessoas por diversão, mas às vezes, confesso que era bem divertido. Contudo, eu não levava desaforo para casa, principalmente quando falavam mal da minha família. Nesses casos, as coisas nunca terminavam bem.

Comecei a me envolver em diversas brigas, tanto na escola quanto nas ruas, e meu pai não ficou nada satisfeito com isso. Ele ficou putaço quando começou a receber convocações para comparecer à escola, graças ao insuportável diretor Artur Arturioom.

Sério, quem diabos tem um nome desses?

Meu pai ficou extremamente irritado com tudo o que estava acontecendo em relação à sua filha mais nova. E, aliás, eu era mais nova por apenas 5 minutos de diferença, tenho que ressaltar esse humilde detalhe da minha vida.

Meu pai, é um homem extremamente rico, dono de uma das maiores empresas de armamento e desenvolvimento de tecnologia nuclear do mundo. 'Aindan Benvill'. Quem não dá credito para alguem que carrega todo essa responsabilidade?  Todo mundo puxava muito o saco dele, as pessoas quando o viam queriam agradá-lo com todas as suas forças. 

Meu pai sempre causava admiração nas pessoas ao seu redor, mesmo quando elas não sabiam quem ele era. Ele tinha um jeito de fazer as pessoas se submeterem a ele sem perceberem. Por isso, quando soube que seu "bebê", no caso – Eu – era uma rebelde juvenil levemente desequilibrada, como o diretor Arturioom me descreveu, ele não ficou nada satisfeito.

Uma rebelde juvenil levemente desequilibrada... Dá vontade de rir só de lembrar dessa descrição.

Discordo veementemente disso aliás,  já que eu nunca começava uma briga, apenas a terminava. Mas como nada na vida é perfeito, meu pai deu ouvidos ao diretor e, na primeira oportunidade que teve, me colocou nas mãos da "Doutora  Alice idiota debochada Waitler", uma pessoa comprada com uma grana preta para que nunca e de forma alguma abrisse a boca que uma Benvill saía da linha.

Quem não era discreto quando se tratava de muito dinheiro?

Doutora Waitler não hesitou em aceitar a tarefa de tratar uma paciente de apenas nove anos de idade, acreditando que eu seria facilmente domesticada por ela. Mas a vida é cheia de surpresas, e eu estava longe de ser uma menina fácil de se lidar.

Minhas irmãs ficaram histéricas ao saber que eu teria de ficar algum tempo longe delas. A ideia de nos separarmos, mesmo que temporariamente, nos deixava angustiadas e preocupadas, pois sempre fomos muito unidas e compartilhávamos tudo uma com a outra. Essa conexão forte tornava difícil aceitar qualquer tipo de distanciamento, mesmo que fosse por um curto período de tempo.

Mas, mesmo com muitas birras minhas e das minhas irmãs, eu tive que ir. A decisão estava tomada e não havia como voltar atrás.

A psicóloga sugeriu aos meus pais várias formas para que eu pudesse trabalhar essa raiva que estava alojada dentro de mim. Eu achava extremamente injusto, considerando que eu tinha apenas nove anos de idade na época e nunca havia brigado fisicamente com nenhuma das minhas irmãs, nem mesmo nos meus dezessete anos de vida. As irmãs Benvill eram a personificação da união em pessoa.

Éramos como uma só.

Eu era o tipo de pessoa que não tinha paciência para picuinhas ou vitimismo exagerado. Podem me julgar se eu estiver errada, mas simplesmente não conseguia tolerar esse tipo de pessoa. Não que eu fosse agressiva e os enchesse de pancada, não era assim que as coisas funcionavam. Eu simplesmente não me importava com eles, a menos que envolvessem o nome dos Benvills em xingamentos e ofensas infundadas. Nesses casos, as coisas tomavam um rumo totalmente diferente. Podemos dizer que eu sou uma pessoa bastante protetora, especialmente quando se trata das pessoas que amo.

Eu poderia ser uma pessoa difícil de lidar quando queria – e eu quase sempre queria.

A doutora, que até então me via seis ou oito vezes por mês, indicou atividades extras para aplacar minhas ondas de raiva e impaciência. Ela repetia que havia algo errado com uma criança tão briguenta e que minha falta de cooperação com seus ensinamentos não era normal para uma menina tão jovem.

A psicóloga praticamente gritava aos sete ventos que eu era a tentação reencarnada.

Ela praticamente me chamou de demônio na frente dos meus pais que não fizeram absolutamente nada para provar o contrário do que ela dizia, provavelmente foi por que eu preguei algumas peças nela, como: Colar chiclete na franja dela na primeira consulta que tivemos.

Que culpa eu tinha? Se eu achei que o cabelo dela era uma peruca?

Achei que se eu colasse o chiclete na peruca dela, ela iria retirar e me deixar usá-la. O cabelo dela era tão armado e cheio de cachinhos redondinhos que fiquei impressionada, parecia cabelo de anjo, daquele que víamos e panfletos de anúncios fofos de bebês.

Foi nesse dia que descobri que chicletes não saem com facilidade dos cabelos e também descobri que meu pai e minha mãe poderiam ser mais difíceis de lidar do que eu. Devo ressaltar que não foi uma descoberta nada legal, por que levei uma bronca daquelas, não que nunca tivesse levado uma reprimenda deles antes, mas essa bronca ficou na memória e não culpo os meus pais. Eu meio que tinha merecido.

Enrolei o máximo que pude para adiar as aulas que a doutora Waitler havia indicado, mas ela estava determinada a acompanhar meu progresso de perto. As aulas incluíam dança, yoga, natação, futebol, luta e outras atividades das quais nem me lembro mais.

Meus pais, sendo pessoas extremamente práticas, não podiam se dar ao luxo de gastar tempo com sua filha caçula problemática. Eles precisavam investir em negócios e aumentar ainda mais a sua riqueza. Assim, optaram por seguir os quatro primeiros itens da lista de atividades sugerida pela doutora Waitler e voltaram a focar em suas empresas, deixando-me novamente sob a supervisão da psicóloga megera.

Dança e natação acabaram funcionando bem para mim, já que minha irmã do meio, Amber, também participava dessas atividades comigo. Ela era a mais gentil e amável entre nós três, a verdadeira personificação da bondade. Amber não seria capaz de machucar sequer uma mosca, mesmo que o inseto a importunasse.

Em relação ao futebol, não deu certo. Não consegui ficar nem duas semanas no time da escola sem quebrar o nariz da atacante por ter insultado minha mãe com comentários preconceituosos. Por que as pessoas insistem em discriminar estrangeiros, ainda mais quando se trata de uma brasileira? Não menospreze o Brasil seus cuzões e, principalmente, a minha mãe! Nesse dia, em vez de uma bronca, meus pais me deram uma lição de moral sobre respeitar a opinião alheia. A conversa terminou rápido quando disse que estava expressando minha opinião ao socar a cara da atacante. Fiquei de castigo por um bom tempo por causa disso.

A luta se tornou minha paixão e, com bastante insistência, consegui persuadir Ange e Amber a praticarem também. Inicialmente, comecei com karatê e, em seguida, mudei para o boxe na academia de Keijey.

As aulas duravam uma hora cada, divididas entre karatê e boxe, realizadas duas vezes por semana. Após o incidente, passei a fazer duas horas de aula por dia, de segunda a sexta-feira, totalizando 20 horas semanais.

Ficou muito puxado, na verdade. Eu chegava em casa completamente exausta, mal tinha tempo para tomar um banho gelado e me jogar na cama. Mas, mesmo assim, era um alívio para mim, pois conseguia esvaziar minha mente e não pensar nas coisas que me atormentavam.

Key me derruba no chão, me imobilizando com as pernas. Às vezes, quando conseguíamos uma sala de treinamento vazia, misturávamos os estilos de luta. Doeu bastante quando ela torceu meu braço para que eu ficasse quieta e parasse de tentar acertá-la.

Por que eu não contava a verdade para Keijey?

Que eu não conseguia parar de pensar na noite do incidente e as coisas estavam ficando cada vez mais estranhas, e eu não conseguia distinguir o que era real e o que não era.

Provavelmente, ela diria que eu estava ficando louca ou que isso fosse algum tipo de trauma, o que explicaria muita coisa. Mas eu não achava que isso se encaixava na minha situação.

As mesmas alucinações que eu tinha, Amber estava tendo da mesma maneira. Talvez fosse essa ligação entre trigêmeas que compartilham experiências. Acredito que era parecido com aqueles casos que apareciam no jornal de domingo, como "Gêmeo pressentiu quando seu irmão estava tendo um enfarto" ou "Eu pude sentir quando ele se foi, pobre Joseph - relata seu irmão gêmeo ao sentir a morte do irmão".

Coisas assim nunca aconteciam conosco.

Poderia ser um pouco diferente com trigêmeas, embora fôssemos bastante apegadas umas às outras, não era como se eu pudesse sentir o que iria acontecer com alguma delas.

Não funcionava assim, pelo menos não comigo.

Se fosse dessa forma, eu poderia ter pressentido tudo antes e as coisas não estariam na merda que estavam hoje.

— E-eu desisto... Não estou me sentindo muito bem. — Digo, batendo a mão no chão duas vezes para que ela me soltasse. Ela me olha com as sobrancelhas loiras arqueadas, desenhando um arco perfeito em seu rosto anguloso. Ela me libera do seu aperto, mesmo sem acreditar no que eu estava dizendo. — Chega por hoje, olhe só pra mim Key. Creio que saindo daqui vou ter que ir direto para o hospital. Você literalmente chutou a minha bunda hoje, em todos os sentidos da palavra. — Piscando para ela, dou um sorriso de desculpas, esperando que ela não perceba nada.

— Não exagere, Violet... — Ela diz, ainda me analisando com olhar atento, conferindo se realmente tinha me machucado de verdade. — Te machuquei muito? Podemos ir à enfermaria se você quiser. — Ela pergunta, preocupada, se aproximando. — Você quer ir até lá?

A leve sensação de peso na consciência quase me força a contar a verdade a ela, mas se eu falar algo que me faça ficar aqui, Key não sairá do meu pé nunca mais. O que não seria bom, pelo menos não hoje.

Ninguém quer uma mulher musculosa que te enche de pancada cada vez que tem uma chance, te olhando com um olhar de pena...

 Não...

 Não vou contar nada a ela.

Acho que não suportaria um olhar de pena vindo dela. De todas as pessoas que sabem o que aconteceu, Key foi a única que me tratou como se as coisas estivessem normais, e sou muito grata a ela por isso.

— Não, você não me machucou... – Tentei dar um sorriso animador, aquele sorriso mimado que sempre usava com meu pai para conseguir o que queria sem questionamentos. — Só preciso de um bom banho e voilà! Estarei novinha em folha e pronta para levar outra surra de você. — Ela me lança um sorriso desconfiado e acena com a cabeça. Pequenos tufos de cabelo loiro começavam a se soltar do coque apertado que ela tinha feito no alto da cabeça.

Key nunca foi uma mulher de muitas palavras; ela é uma pessoa de ação. Teria pena da pessoa que se envolvesse em uma briga mano a mano com ela, mas felizmente, ela deixava claro que o único lugar para liberar a raiva era no ringue. De certa forma, ela estava certa. Sempre que eu descontava minha raiva lutando, me sentia melhor depois, menos tensa.

— Está bem, por hoje você está liberada, mas só porque é sexta-feira,— ela disse, com aquele tom de voz que não aceita réplica. — Como já te avisei, não vou pegar leve contigo.

Essa era uma das coisas que eu mais gostava na Keijey: ela me fazia seguir as aulas à risca, não importando a desculpa que eu desse pra tentar me livrar dela.

— Quer ajuda para tirar as luvas? — Keijey pega uma toalha limpa e joga no meu rosto.

Nego com a cabeça e murmuro uma despedida rápida. Desço do ringue, caminhando em direção ao vestiário feminino, enquanto desfaço o laço das luvas vermelhas carmesim com os dentes.

A voz da minha irmã capta minha atenção quando entro no corredor. Ela está saindo de uma das salas de treinamento e caminhando em direção ao corredor que leva ao vestiário. Está usando um top preto e uma calça legging verde-limão.

— Você deveria treinar mais, docinho. — Ela me dá um sorriso torto. — Treinando tão pouco assim, você vai acabar levando uma surra de mim uma hora dessas.

Angeline me olha com um brilho astuto no olhar, suas covinhas bem evidentes nas bochechas rosadas enquanto sorri. Está absolutamente linda com os cabelos ondulados e longos amarrados no alto da cabeça, destacando ainda mais seu rosto de porcelana.

Ela continua me olhando com aquele olhar arrogante que a deixa ainda mais interessante.

Minha irmãzinha...

Em outra ocasião, ao vê-la como estava vendo agora, teria corrido sem pensar duas vezes e, para ser sincera, teria sumido dali correndo num piscar de olhos e entrado na primeira igreja que encontrasse.

Correndo como o diabo foge da cruz.

É que tenho muito medo de assombração ou qualquer coisa que já tenha morrido e possa ter voltado. Mas aquela Angeline ali não passava de uma memória minha, uma mera lembrança do que ela já viveu.

Isso acontecia às vezes; eu podia ver claramente ela andando em lugares e falando coisas que já havia feito antes.

O que era aterrorizante.

A primeira vez que vi minha irmã, que estava morta, foi uma semana depois da sua morte.

Eu a tinha visto sentada em cima da minha cama cantando a música "Perfect" de Ed Sheeran. Achei que era a Amber no primeiro momento, mas quando vi a tatuagem de um pôr do sol no antebraço direito, congelei. Chamei pelo nome dela algumas vezes, e ela nem sequer olhou para mim. Então só me limitei a observar com muito medo enquanto ela cantava.

Tínhamos feito as tatuagens juntas há um ano e meio. Nosso pai finalmente tinha permitido que fizéssemos uma tatuagem e não brigaria nem nos repreenderia por ter feito algo tão escandaloso, como dizia minha mãe.

Amber optou por um sol, Angeline pelo pôr do sol, e eu preferi uma lua.

Quase me caguei de medo quando descobri que era ela ali sentada na cama cantando.

Demorei um bom tempo para me recuperar, e quando consegui, contei para minha mãe, que por acaso do destino, era a única pessoa em casa quando tudo aconteceu. Ela quase me bateu enquanto dizia aos prantos que era melhor parar de falar esse tipo de coisa, que era melhor respeitar o luto de Angeline e parar de inventar coisas para chamar a atenção.

Mamãe mal conseguia olhar para mim ou Amber sem cair em lágrimas. Não porque tivéssemos algo a ver com a morte de Angeline, mas porque éramos trigêmeas idênticas, até a nossas malditas vozes eram iguais.

Meu pai raramente estava em casa antes do acidente e, depois que tudo aconteceu, apenas ligava para dizer que ainda estava vivo e que tinha muito trabalho a fazer com suas novas criações e propostas de investimentos. Ele sempre falava mais com mamãe, pois a adorava, e era claro que ela o amava da mesma forma. No entanto, Aindan Benvill mal suportava ouvir as vozes das filhas sem inventar uma desculpa esfarrapada para desligar o maldito telefone.

Não vou mentir e dizer que isso não doía, porque doía demais. Não só pela morte de Ange, mas também porque nossos pais não conseguiam encarar as filhas sem ficarem tristes e inventarem desculpas para se afastarem de nós duas.

Hoje marca exatamente nove meses desde a morte de Angeline, e parece que todas as lembranças que eu tinha dela voltaram à tona como num passe de mágica.

As lembranças não vinham todas de uma vez, elas surgiam aos poucos, e na maioria das vezes, isso acontecia uma ou quatro vezes por semana. Algumas semanas passavam sem que nenhuma lembrança dela aparecesse.

Dias atrás, eu estava na piscina de casa nadando e, ao me deitar para tomar sol, mal fechei os olhos e ouvi barulhos ao redor da piscina. Abri os olhos e vi uma menininha de cerca de cinco anos, de cabelos castanhos ondulados, correndo ao redor da piscina e gargalhando enquanto dizia:

"Vocês nunca vão me pegar, eu sou invencível!" Ela ria alto. "A rainha Ange vai governar pra sempre!" 

Ela vivia dizendo que era invencível, que podia fazer qualquer coisa no mundo inteiro. Que todas nós podíamos realizar qualquer desejo. Ela nos fazia acreditar que poderíamos conquistar tudo, que o mundo não era nada sob nossos pés... mas a primeira de nós a sucumbir foi ela.

A primeira a tirar sua própria vida, jogando-se do lugar mais alto que conseguiu encontrar, foi ela... Não fui eu nem Amber, e sim ela.

A pessoa mais forte que eu conhecia, foi a primeira a tirar a própria vida. 

— Acho que você não é tão invencível assim, Angeline... —  Minha voz não passou de um sussurro, e quando percebi, a lembrança dela já havia desvanecido diante dos meus olhos.






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