All the lonely people (Todas as pessoas solitárias)

Where do they all come from? (De onde elas todas vêm?)

All the lonely people (Todas as pessoas solitárias)

Where do they all belong? (De onde elas todas são?)

Eleanor Rigby - Kansas

Sentar próximo a Torre de Belém em frente ao mar no final da tarde havia se tornado um hábito desde que chegara em Lisboa há dez dias atrás. A expectativa de começar o curso de artes visuais deixava Harry em um estado de tranquilidade e até mesmo de conforto de certa forma, afinal a arte sempre fora um lugar seguro para somente se expressar, mas para simplesmente ser livre.

O que realmente o estava deixando em estado de ansiedade era o treinamento para desenvolver seus poderes e atingir a cúspide. Ou seja, se tornar um bruxo completo. Há alguns anos isso nem uma possibilidade. Sua mãe tinha abnegado dos seus poderes e decidido levar uma vida mais comum possível apesar de nunca ter escondido suas origens para ele e Gemma.

E talvez o fato de ter crescido longe práticas mágicas ancestrais que corriam em suas veias tenha o tornado um ser um tanto quanto indiferente a esse aspecto da sua vida. Era como o aquecimento global: sabia que existia, via as consequências desastrosas que causava mas não movia um dedo para produzir nenhum tipo de mudança.

Sua uma família, os Styles, vinham de uma longínqua linhagem de bruxos a pelo menos sete gerações, pelo que sabia. Seus antepassados haviam sido perseguidos pela Inquisição da Igreja Cristã, alguns chegando a inclusive morrerem queimados ou enforcados em cerimônias públicas. As pessoas se chocam com a violência no presente porque escolheram fingir que o passado é um lugar idílico menos complicado. Mas toda história tem um rastro de sangue.

O dos Styles fez a família migrassem para diferentes partes da América do Norte antes de retornarem a Inglaterra a quatro gerações antes do nascimento de Harry. Seu conhecimento sobre as regras da magia era muito básicos: sabia que quando Júpiter completava duas voltas - ou seja, aproximadamente 23 anos - era dado a opção de escolher aprofundar os poderes que já os acompanhavam geneticamente. Até os 23 poderíamos decidir se queríamos isso ou não. Gemma, que é cinco anos mais velha que o caçula, decidiu vir para Portugal logo que completou vinte anos e acabou por se estabelecer em Lisboa de forma definitiva.

E se Harry fosse cem por centro honesto consigo mesmo, ele não poderia se importar menos com todo esse aspecto mágico em sua vida. Exceto, é claro, pelas vezes em que dom da previsão me permitiu presumir algumas coisas em momentos bastante específicos. Como da vez em que sentiu uma angústia avassaladora que o fez chorar sem nenhum motivo durante dias quando era apenas uma criança. Pouco tempo depois quando conseguia acordar e passar o dia sem chorar, um Tsunami devastou parte do sudoeste asiático. Ou quando mais recentemente ele passou a sonhar com fogo lambendo casas por dias. Los Angeles ficou em chamas por dias depois desses sonhos. Era algo que o assustava mas não sabia como evitar. Podia ser que depois que Júpiter completasse o ciclo aquelas premonições o abandonassem. Ou elas podiam o perseguir pelo resto da vida.

Apesar do dom da previsão permitir de fazer certas afirmações e até mesmo tomar algumas decisões, o dom não impedia que as coisas dessem errado em sua vida. Prova maior disso era o fato desse dom nunca ter sido útil em sua vida amorosa e a recente separação e término de noivado eram prova disso Talvez aquela tenha sido a ruptura definitiva que levou a ideia de ser bruxo e a mudança para Portugal, pois afinal quanto mais distante mais fácil de esquecer as lembranças felizes que traziam dor ao coração do rapaz de olhos verdes e que ainda o fazia querer chorar todos os dias. E o novo casamento da mãe junto com o término também não contribuiu em nada para querer permanecer na Inglaterra vivendo da forma que eu vivia.

Necessitava de mudança para conseguir respirar de novo. E se aproximar da magia e fazer a faculdade de artes eram as mudanças que trariam as novidades que precisava.

O sol começa a se pôr no horizonte, por trás da Torre de Belém, quando vejo a silhueta de um homem de terno caminhando sobre a ponte em direção a Torre. Fico um pouco na dúvida se queria ser como ele ou se queria ter alguém como ele ao meu lado, porque sim ele tinha fraco para sujeitos que usavam terno e não sabia resistir a tipos assim, por pior que as vezes eles fossem. Ele não era nem imune a mulheres de terno. É só pesquisar no google e ver qualquer foto da Zendaya usando terno que Harry sentia o impacto. E enquanto divagava em meus pensamentos sobre homens e mulheres sexys de terno, seu celular toca.

− Oi Gemma - falou tranquilo.

− Onde você está Hazz?

− Aqui perto da Torre de Belém - respondo.

− Ótimo! Quando estiver voltando pra casa passa na padaria e traz pastel de nata, por favor. Não demora muito pra voltar também, porque eu estou com fome.

− Beleza Gems, daqui a uns 20 minutos eu chego.

− Certo, até daqui a pouco - A cara de pau da irmã desligando praticamente em sua cara sem ao menos se despedir.

O homem de terno sumiu de seu campo de visão e fazendo Harry soltar suspiro triste. Levantando-se do banco onde estava sentado e saiu caminhando em direção aonde morava com a irmã, escutando The Beatles, porque por mais que as coisas fossem mudar de forma drástica nos próximos dias, certas coisas nunca mudam.

I'm just a child of nature (Sou apenas uma criança da natureza)

I don't need much to set me free (Não preciso de muito para ser livre)

Child of nature - The Beatles

Oi oi! Cheguei com mais uma história rs! Volto com mais um capítulo mais tarde 😘

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