4. magical pass
Eu estava sem reação.
Me afastei de repente, levantando do sofá, sentindo a mão do mais velho contra o meu pulso, me segurando. Quando o olhei de novo, havia uma expressão confusa em seu rosto.
— O que houve? — ele perguntou, parecendo desorientado por eu ter me afastado.
Foi só aí que eu percebi que, tal como a porta, aquilo tinha sido apenas sons que eu tinha ouvido. Taehyung não tinha dito nada, e agora estava confuso do porquê de eu ter me afastado dele.
Mas sinceramente, aquilo pareceu ser meu álibi. Quanto mais eu mantivesse isso, pior seria. E agora eu estava mais preocupado em como Meung reagiria do que qualquer outra coisa. Taehyung poderia me ajudar a desfazer o feitiço, então eu estaria tendo mais prós do que contras.
— Tenho que te contar algo — falei baixo, sentindo um pouco de ânsia que vinha com o receio da reação de Taehyung. E se ele gostasse de Meung de verdade? Porque ele a havia beijado. Quando descobrisse que não era realmente ela... Engoli, não querendo pensar demais, senão mudaria de ideia antes mesmo de começar. — É bem sério.
Taehyung franziu a testa, rindo leve, mas concordou mesmo assim, ficando em silêncio para ouvir o que eu tinha a dizer, soltando minha mão em prol de cruzar os braços.
Mordi o lábio inferior com força antes de falar.
— Eu não sou a Meung — falei rápido, sentindo como se um peso tivesse saído das minhas costas. Uau. Inspirei, sentindo minha respiração leve. Isso me motivou a continuar. — Eu fiz uma bobagem hoje com a magia então acabei me transformando nela. Mas na verdade, eu sou o Jeongguk... Meung não está em casa...
Eu fiquei em silêncio, observando a informação chegar até Taehyung lentamente. Fiquei com medo de verdade de como ele reagiria. E se ele me odiasse agora? Como eu poderia vê-lo sabendo que ele me odiava? Meu peito apertou, mas eu continuei em silêncio.
— Você tem algo mais para me dizer? — Taehyung finalmente falou, levantando-se também. — Algo que eu ainda não saiba?
Meus olhos arregalaram, assim como meus lábios quando eu o vi sorrir da minha expressão surpresa. Não conseguia acreditar.
— O-O que? Como você sabia?! — perguntei um pouco esganiçado. Ele deu de ombros.
— Eu conheço sua irmã muito bem, vamos começar por aí. Ela não mudaria de ideia em cima da hora, e não cancelaria uma grande responsabilidade. Então, desde o começo, algo já estava muito errado — Taehyung explicou. — Fora que você se confundia o tempo todo e parecia extremamente nervoso na minha presença — uma risada fraca. — Foi bem fofo, na verdade.
— Mas nada disso te dá uma garantia de que não era ela! — eu tentei dizer, porque por mais estranho que eu agisse, meu rosto e corpo eram os mesmos que o dela. Quando me olhei no espelho, não vi erro nenhum, era Meung ali, então não tinha como Taehyung simplesmente-
— Seus olhos.
A realidade me alcançou naquele momento. Quando me olhei no espelho, a única coisa que não tinha mudado era a cor dos olhos, a porta da alma. Meung tinha um azul claro, mas eu tinha o amarelo. Ninguém nunca tinha realmente ligado para a minha cor. Então eu simplesmente não ligava também. O que me fez facilmente ignorar sua importância ao ver que todo o resto era da minha irmã mais velha. Afinal, de que importaria? Meus olhos seriam um mero detalhe despercebido perto do rosto dela para qualquer um.
— Mas isso... — minha voz ficou fraca, meus olhos no chão. Taehyung se aproximou, e eu vi seus sapatos antes que uma mão pressionasse meu queixo, me fazendo levantar o rosto. Seus olhos ainda eram gentis, e eu senti vontade de chorar. — Eu não entendo...
— Desde a primeira vez que eu vi você, eu tive certeza que seus olhos são os mais bonitos, sabia? — ele falou, e eu nem mesmo consegui responder algo, o choque ainda me deixando sem voz. Taehyung continuou. — Eu nunca poderia confundi-los. Então, com todas essas provas juntas, eu sabia que era você.
Mordi meu lábio inferior, desviando o olhar. Eu nem conseguia pensar direito com a forma que meu peito batia acelerado agora. Aquilo significava algo?
— Então por que... Você deveria ter me impedido de beijar você — murmurei, sem graça.
— Por que eu faria isso?
— Você já viu... Eu não sou a Meung.
— Eu sei que não é, e foi por isso que eu beijei você — sua resposta foi como um soco gentil demais, e eu nem consegui controlar minha surpresa, tendo quase certeza que minha expressão era abismada. Como isso podia realmente estar acontecendo? — Por que você está tão surpreso?
— I-Isso nem faz sentido! Todo mundo gosta dela! Tenho certeza que você só está falando isso para não me deixar chateado e-
Vi meu corpo ser coberto pelo calor do mais velho antes de sentir seu toque. Seus braços eram os melhores, seu abraço era o mais confortável. Fez todas as defesas que eu já estava formando caírem por terra. Meu coração acelerou, e eu tinha certeza que Taehyung podia sentir contra ele.
— Que malvado. Você não deveria falar assim, Jeongguk. Eu sei muito bem quem eu beijei, e acredite, eu não erraria. É só eu olhar pra você que eu já tenho a minha resposta — ele falou num tom baixo e consolador contra meu pescoço, e eu me vi circulando seu corpo com meus braços em resposta. — Eu estava esperando você admitir a verdade antes do beijo, mas ao invés disso você me beijou, e eu sabia que você não faria isso em qualquer outra situação, então eu não consegui me controlar também.
— Eu estou tão envergonhado agora... — murmurei, mas Taehyung apenas riu leve, se afastando o suficiente para me olhar nos olhos.
— Acho que isso foi necessário. É a primeira vez que estamos nos falando assim, cara a cara. Eu gosto disso.
— Eu não podia olhá-lo antes. Eu... V-Você já sabe o porquê — falei baixo, sem conseguir conter a ansiedade gritando dentro de mim. Mas não era tão ruim agora, eu não estava com medo. Era mais sobre a emoção do que viria a seguir.
— Eu não acho que tenho certeza. Talvez eu precise de mais confirmações — ele respondeu, e eu sabia o que aquilo significava. Não precisei esperar muito mais. Os lábios de Taehyung pressionaram os meus de novo, e eu o beijei de forma doce novamente.
Mas não demorou para que o espaço fosse criado de novo.
— Mas acho que precisamos concertar isso, não acha? Por mais que eu saiba que é você, ainda é estranho que a aparência seja de Meung. Eu quero ver você.
Eu nem sabia mais como reagir. Todas aquelas palavras, toda a atenção que eu estava recebendo de alguém que eu gostava tanto... Parecia que eu não merecia isso. E mesmo que eu não quisesse acreditar naquilo, aparentava que tudo acabaria assim que eu voltasse a ser quem eu era. Fiquei com medo.
Mas, eu tinha mais medo da reação de Meung ao ver tudo que tinha acontecido com a imagem dela. Suspirei, assentindo. Era melhor terminar com isso antes das coisas ficarem piores para mim e para o meu coração.
— Eu não sei o que fazer — confessei.
— Posso reverter, não se preocupe. Mas tem um porém — o Kim falou, e eu o olhei confuso. — Do mesmo jeito que seu sangue foi necessário para acontecer a mudança, ele também é necessário para desfazê-la.
Senti a cor sumir do meu rosto naquele momento. Eu não tinha me machucado porque quis. Não estava indo atrás disso. Mas ainda assim, serviria como lição para mim. Eu desistiria da magia de verdade.
— Eu não gosto da ideia, Taehyung — admiti, coçando levemente o pulso, onde antes eu tinha me machucado em meu corpo original.
— Eu sei, eu também não queria que isso fosse necessário. Posso tentar fazer isso ser o mais indolor possível. Não precisa ser grande coisa, entretanto.
Assenti, sabendo que não tinha mais o que fazer. A solução que me restava era aceitar e desfazer os erros que eu tinha cometido. Mesmo que precisasse pagar um preço por eles.
— Espere um momento — ele se afastou e foi em direção a cozinha, e eu tive que desviar o olhar da faca na mão dele para não pensar demais no que aconteceria. Eu queria não ter tocado naquele livro. Mas ao mesmo tempo, eu lembrava do beijo, da conversa com Taehyung, de finalmente conseguir olhá-lo sem querer fugir. Era realmente dolorido para mim saber que eu só podia ter o que eu queria quando não era eu a buscar por elas. — Onde você fez a magia? — Taehyung perguntou, e eu o guiei pelo caminho até meu quarto. Ainda estava com tudo exatamente como estava após a transmutação. Eu não tive tempo para arrumar nada além de ficar louco com o que tinha acontecido comigo.
Ele não verificou muito como eu pensei que faria. A dúvida pareceu ser clara na minha cara, já que o Kim começou a falar.
— A magia tem que ser desfeita no local que foi feita. Eu disse a você, lembra? São códigos. Se você erra um, a magia pode sair errada.
Eu me perguntei o porquê de eu não saber daquilo. Qual a razão da minha mente não conseguir gravar as informações referentes a magia? Por que meu único problema era com ela? Quanto mais eu pensava, menos fazia sentido.
O mais velho se aproximou de mim, e eu senti sua mão macia contra a minha. Com todo o cuidado, ele pressionou a ponta afiada da faca contra meu dedo, e eu olhei para o lado a fim de não ver o movimento rápido da lâmina contra a pele macia. A dor fina foi momentânea, e eu agradeci por isso. Quando olhei novamente, a gota de sangue já se formava sobre a pele.
Sua voz recitou algumas palavras que eu não entendia, e sua varinha mágica surgiu na nossa frente. Ele a segurou com maestria enquanto se preparava para a ministração. Como esperado dele, não havia nem mesmo necessidade de usar o livro de magia.
— Você pode sentir alguns efeitos colaterais disso. Dor de cabeça, algum enjoo, olhos desfocados, e outros bem mais fracos e inofensivos. Mas eles vão passar assim que a magia se completar — Taehyung me avisou, e eu lembrei de ter sentido algumas dessas coisas quando tinha me transformado em Meung ainda sem saber. Então não tinha haver com ler ou não o livro, e sim com a magia que eu acabei usando. — Vou começar agora.
Eu engoli em seco, me preparando mentalmente. Ele esperou minha concordância, e eu a fiz, assentindo a cabeça. Taehyung começou a recitar as palavras calmamente e com total conhecimento, letra por letra formando uma sensação densa que eu imaginei ser a pura magia ao nosso redor.
Quando ele terminou, eu senti as mesmas coisas de antes. Apesar da dor de cabeça ter sido menos agressiva do que antes, a perda de ar foi incrivelmente forte. Por sorte, tão rápido veio, ela se foi, mas não antes de me fazer lutar pelo ar.
Taehyung correu até mim quando percebeu isso, me segurando nos braços, já que eu precisei me abaixar e segurar a cama para sentir alguma segurança que vinha com a falta de ar.
— Você está bem?? O que foi isso?! — Taehyung perguntou, parecendo extremamente preocupado. Eu não entendi. Aquele não era um dos efeitos colaterais? Olhei para ele confuso, já recuperando o ar corretamente. — Jeongguk, estou falando sério, o que aconteceu??
— E-Eu não sei! Eu só... Me faltou o ar. Isso não deveria acontecer? — perguntei, sentindo um nervosismo interno ao notar a face assustada de Taehyung. — Eu senti isso pela manhã também... Quando me transformei na Meung. Achei que era normal.
— Isso é grave. Não tem nada haver com fazer qualquer tipo de feitiço. Você já tinha sentido isso antes de hoje?
Eu não precisei pensar muito.
— Eu costumo sentir um pouco disso quando vou fazer alguma magia, ou pelo menos tentar — ri soprado, lembrando de como eu falhava sempre. — Mas não é grande coisa. Hoje foi a primeira vez que eu senti tão fortemente.
— Você já contou isso a Meung? Ou a qualquer outra pessoa? — ele indagou, e eu neguei veementemente.
— Eu não queria pedir ajuda dela. Não queria pedir ajuda de ninguém.
— Bem, você não vai precisar me pedir isso, já que eu obrigatoriamente te farei aceitar a minha ajuda.
Eu quis rir, mas não queria deixar Taehyung chateado com a minha falta de desejo de ser auxiliado.
— Mas por que isso é tão grave? — falei ao invés disso.
— Existem algumas magias que afetam perigosamente o corpo ao usá-las. Magias arriscadas, então isso é normal. Exige muito de quem as proferir. Mas magias como a que acabamos de fazer ou qualquer outra mais simples jamais deveriam trazer problemas graves ao seu feiticeiro. Isso significa que existe algo a mais — Taehyung explicou gentilmente, mas ainda cheio de dúvidas. — Se você me permitir, posso verificar isso agora?
Eu engoli, incerto. Nem mesmo Meung tinha chegado tão longe, e nem houve alguma razão para isso. Eu não disse nenhuma a ela. Mas novamente, era Taehyung. E se ele estava preocupado, eu deveria pelo menos fazer o mínimo pela consideração.
— Ok, mas eu não acho que tem algum problema comigo. Eu só não sou bom recitando magias. Isso deve até ser uma punição de Origem pela minha estupidez — zombei de mim mesmo, mas nem consegui manter a farsa quando Taehyung me olhou nos olhos. Cuidadoso ao mesmo que triste. Havia uma mão na minha bochecha agora, fazendo um carinho leve contra ela. Eu tive que desviar o olhar, sentindo que acabaria deixando minhas emoções mais frustadas tomarem de conta. Eu não queria chorar. Era bobagem. Eu já tinha superado isso.
— Origem jamais faria isso, Jeongguk. Não fale assim — ele pediu, e então se afastou, movendo a varinha em alguns círculos. — Vou começar agora. Eu só preciso que você não pense em nada ruim. Isso pode afetar o feitiço.
Concordei. Não haviam lá muitas memórias boas que eu poderia pensar, mas hoje foi diferente. Apesar de tudo, Taehyung me beijou. A pessoa pela qual eu era apaixonada ficou comigo e me beijou! Eu poderia até mesmo deixar um pedacinho meu acreditar que ele fez isso porque também gostava de mim! Então era uma boa memória, e foi isso que pensei enquanto Taehyung recitava a magia.
Foi bom sentir aquele sentimento de que por um momento, as coisas tinham dado certo para mim.
Quando Taehyung parou seus movimentos, eu o olhei, sabendo que ele havia terminado. Mas eu não esperava a reação que vi logo depois. O mais velho foi até mim e me abraçou com força, e eu fiquei sem reação por alguns segundos.
— Tae...?
— Sinto muito por isso — ele murmurou, me deixando ansioso. Ele suspirou pesadamente em seguida, se afastando apenas para me olhar. — Há um selo maligno em você. Funciona como uma magia de contenção. É raro e difícil de ser usado em alguém. Impede os usuários de recitarem corretamente o feitiço. Qualquer feitiço.
Meus olhos desfocaram por longos segundos enquanto eu pensava. Uma magia que me impedia de recitar feitiços. Impedia-me de ser um feiticeiro... Senti uma linha tênue de raiva dentro de mim. Quem teria feito isso comigo? E quem teria potencial o suficiente para me prender nesse abismo de tristeza e insuficiência desde o momento que tive que recitar magia?
Minha mente estava tão cheia de pensamentos naquele momento que eu fiquei com receio de sair fumaça dela.
— Você tem alguma ideia de quem possa ter feito isso com você?
Engoli em seco, sentindo meu coração apertado. Quanto mais eu pensava, menos opções me vinham a mente. Senti as batidas aceleradas do meu coração contra o peito, o sentimento de inópia me consumindo por dentro.
Eu não sabia.
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