O dia que te conheci
Katsuki Bakugou vinha de uma linhagem rara, na qual provavelmente nem mais existia no mundo. Era um domador de dragões, a única civilização que conseguia não só como se comunicar com tamanhas criaturas, mas também domá-las facilmente e fazer com que obedecessem às ordens que lhe fossem mandadas.
O problema era que tamanho poder fez com que essa civilização fosse caçada, escravizada e muito usada por aqueles que ansiavam por poder, fazendo com que ela acabasse. Só que o loiro de olhos carmesim era o último de sua linhagem, tinha sobrevivido por sorte e tinha ido até uma floresta encantada onde era cheia de criaturas mágicas, dificultando a entrada de humanos.
A floresta tinha sido criada após a morte de todos os domadores, pois seria um refúgio para toda nova civilização pura que nascesse e tivesse um dom especial, onde aqueles caçados pelos humanos tivessem um lugar a qual recorrer e se proteger.
O jovem rapaz tinha um dragão filhote como seu fiel companheiro, eram amigos desde cedo, sempre brincavam e se aventuravam pela floresta, mas um dia acabaram saindo e ficando muito longe das terras sagradas da floresta. Perdendo então sua proteção, Bakugou acabou sendo capturado por soldados que tentavam invadir o lugar, levando não só ele, mas também seu pequeno dragão.
Fora jogado em uma cela ao lado de seu companheiro que estava com correntes e uma focinheira de aço que o impossibilitava de cuspir fogo. O jovem domador ficou desesperado, os antigos dragões contaram a história de seu povo, ele não queria ser usado, muito menos escravizado como seu povo havia sido.
─ Você está bem? ─ uma voz infantil, assim como o do jovem, falou chamando sua atenção.
Katsuki encarou a cela ao lado, vendo um garoto do mesmo tamanho que o seu, só não sabia ao certo a idade do mesmo, mas julgando pelo tom de voz podia pensar que era uma idade próxima a sua. Tinha sido ensinado a falar como os homens para entender o que eles falam, assim como aprendeu a língua dos dragões.
─ Você fala minha língua? ─ perguntou o jovem novamente.
─Cala a boca, me deixa em paz! ─ disse raivoso. Odiava humanos, não se importava pelo colega de sala ao lado, deitou a cabeça no dragão que suspirou tristemente, queria ir embora dali.
─ Por possuir um dragão, imagino que seja um domador. Não se preocupe, você vai sair daqui rápido ─ falou com uma voz, na qual o domador conseguiu identificar que estava fraca.
Aquilo chamou a atenção do pequeno, que se aproximou mais da cela ao lado, querendo saber mais sobre. Vendo então o estado do garoto que falava consigo.
Seu cabelo era esverdeado, ou aparentava, pois estava imundo. Havia inúmeros machucados pelo corpo do garoto que estava magro demais, havia faixas tão sujas que não deviam ser trocadas há um bom tempo. O rosto magro com algumas sardas e sangue seco. Notou os olhos esverdeados, que tinham um olhar cansado e derrotado.
─ Vão me machucar também? ─ perguntou um tanto assustado, não queria sofrer como aquele menino.
─ Não, pode ficar tranquilo. Você é valioso demais para lhe machucarem. Você provavelmente vai ser vendido, ai poderá sair daqui ─ respondeu fechando os olhos cansados.
Bakugou notou que o garoto tinha os pulsos e os tornozelos, presos por correntes, até mesmo seu pescoço estava preso a uma corrente. Nem mesmo seu dragão estava em um estado tão triste daquela forma. Por algum motivo aquilo deixou Bakugou furioso, não entendia o motivo do mesmo estar sofrendo aquilo, por qual motivo fizeram isso?
─ O que você é? ─ perguntou, querendo entender o motivo de tanto ódio dos humanos pelo garoto, seria ele algo semelhante a si? Ou só era judiado por maldade mesmo?
─ Sou um filho de uma feiticeira, que foi acusada de bruxaria. Minha mãe era uma feiticeira branca... sabe? Uma boa ─ disse com um sorriso fraco. ─ Acharam ela, então bem...
─ Não precisa continuar. Mas não entendo, você também é humano, por qual motivo é tratado diferente? Não devia receber o mesmo tratamento que eu e ser vendido? ─ não que o loiro gostasse da ideia de ser vendido, mas fora daquelas grades e seu dragão livre, ele poderia talvez lutar e fugir, ou pedir ajuda aos amigos dragões.
─ Os humanos temem aquilo que não entendem, eles têm medo que eu seja igual a minha mãe. Ao invés de me matar eles preferem me torturar e descontar suas frustações, mas tudo bem... Isso logo vai acabar ─ falou abrindo os olhos e encarando o jovem a sua frente. ─ Izuku Midoriya.
Izuku notou as roupas do outro, era apenas uma calça um tanto rasgada com uma enorme capa vermelha, com um tipo de material parecido com algodão próximo aos ombros. Uma roupa melhor que a sua, já que era apenas trapos rasgados e sujos.
─ Katsuki Bakugou, mas por que disse isso? Por acaso vai fugir ou vão te tirar daqui? ─ falou um tanto mais animado, o garoto a sua frente era alguém como si, ele merecia sua compaixão e ajuda, queria vê-lo bem. Então faria de tudo para ajudá-lo, os dragões haviam lhe ensinado a ajudar os semelhantes a si. Ou seja, ajudar sempre alguém que era odiado pelos humanos.
─ Estou fraco, meus dias nessa cela suja estão acabando, não acho que irei durar muito ─ comentou com um sorriso tristonho. ─ Queria ficar mais, pois é a primeira vez que alguém fala comigo... depois de tanto tempo, que não fosse para me insultar.
─ Não, você não pode morrer, não vou deixar! Vamos fugir daqui juntos ─ falou mais alto, colocando seu rosto colado na grade vendo o garoto lhe sorrir fraco.
─ Eu ganho pouca comida e água, estou machucado, não vou sobreviver até o dia de sua saída ─ falou fechando os olhos novamente.
─ Eu divido minha comida com você, eu posso tentar cuidar de suas feridas! Posso pedir pano para eles, ou até mesmo mais comida. Eu não sei, mas eu não vou deixá-lo morrer, eu nunca encontrei alguém como eu, eu não posso deixá-lo partir... Não como deixei todos partirem, não posso!! ─ falou bravo, apertando com força as barras de aço, estava frustrado. Seu primeiro amigo que dividia o mesmo tipo de fardo que o seu, o ódio dos humanos, estava ali ao seu lado machucado e precisando de ajuda e ele não podia fazer nada.
─ Obrigado, é gentil da sua parte ─ falou tentando se aproximar da grade onde o outro estava, ficando com a cabeça apoiada na mesma. ─ Posso te dar um apelido? Eu sempre quis um amigo, então eu sempre achei que seria legal usar apelidos.
─ Só se prometer que não vai morrer ─ falou tentando encorajar Izuku, não podia vê-lo desistir de tudo, não quando ele estava ali, pronto para ajudá-lo.
Midoriya nada disse, fazendo com que Bakugou ficasse magoado com aquilo, estava preocupado com o estado de seu novo amigo. Ele estava péssimo, não sabia nem ao menos como ele havia conseguido sobreviver esse tempo todo com tantos machucados.
Viu ao longo das horas o jeito que o menor era tratado. A pouquíssima comida e água que recebia, ele fez o que falara e dividiu tudo o que ganhava, até mesmo ajudava o garoto a comer, visto que estava tão cansado que nem para segurar o alimento possuía mais forças.
Sempre que um guarda ameaçava o pequeno, ou até mesmo dava indícios que bateria no menor, Bakugou gritava que se mataria ou se machucaria dentro da cela, fazendo com que os homens acabassem se afastando, pois não queriam uma mercadoria preciosa machucada.
Bakugou lembrou das histórias, das coisas que aprendera, sabia da existência de bruxas na qual utilizavam magia negra e as feiticeiras, assim como a mãe de Izuku, que usavam a magia branca e só queriam o bem. Se perguntava como era ter uma mãe, já que nunca conhecerá a sua.
Izuku lhe contava histórias, na qual um dia sua mãe já havia lhe contado, fazendo o jovem Bakugou ficar ainda mais encantando pelo menor, era tudo tão novo para si. Ele só tivera amigos animais, nunca alguém como ele, odiava os humanos e os queria longe, mas Izuku era diferente, queria protegê-lo de todo mal que a humanidade poderia causar.
Os dragões anciões haviam lhe dito que ele despertaria um poder, não que fosse normal para os domadores o possuir, mas por ele ter sido concebido e dado pelos dragões. Com medo que ele morresse e acabasse de vez com a linhagem, Bakugou havia recebido algumas dádivas dos dragões.
Pra começar, sua vida era bem mais longa, pelo menos mais do que a de um humano comum, ele demorava a envelhecer, ganharia um poder na qual despertaria ao longo dos anos, mas não sabia quando ele se manifestaria. Teria que esperar e ver quando isso aconteceria. E quando ele morresse, teria um sucessor, mesmo não tendo uma criança. Como se fosse uma reencarnação, fazendo assim que a linhagem nunca acabasse.
Ele não queria ficar sozinho, tinha conhecimento que grandes feiticeiros podiam viver anos e mais anos, Izuku poderia lhe fazer companhia, eles podiam viajar juntos e descobrir coisas novas. Na pequena mente infantil do garoto, eles teriam uma vida mágica e divertida, mas para isso precisavam sair dali. Porém, com o estado de Izuku se agravando cada vez mais, Katsuki tinha medo de ser tarde demais.
Entretanto, chegou um dia na qual Izuku mal falava e nem queria mais comer. Katsuki tentava fazer com que ele comesse, mas o menor nem ao menos parecia abrir os olhos. O dia de sua venda estava próximo, logo ele sairia daquela cela, logo ele seria livre.
─ Acorde, Izuku! Você precisa comer, logo eu vou sair daqui e vamos fugir! ─ disse cutucando o rapaz que estava jogado, apoiado na cela. ─ Acorde! Acorde!
─ Garoto, se afaste dele! Você irá ser levado para o leilão! ─ falou um rapaz, abrindo a cela de Katsuki e chamando sua atenção e do dragão.
─ Vamos ganhar uma fortuna com esse garoto e seu dragão! ─ disse um outro com um sorriso de lado.
─ O que fazemos com o lixo ali? ─ apontou um terceiro guarda, que apontava para o corpo caído do menino.
─ Deve ter morrido, dê ele de comida para os cães. Isso, é claro, se eles gostarem de carne podre ─ começou a rir junto ao segundo guarda.
Katsuki ficou em pânico ao escutar aquilo, lutou com todas as forças para sair dos braços do guarda, enquanto gritava o nome do amigo, esperando que o mesmo se movesse para que os guardas não fizessem aquilo. Seu coração batia a mil, seu dragão rosnava junto aos seus gritos de desespero. Izuku não podia estar morto, não podia.
Foi então que tudo pareceu parar, como se tudo ficasse em câmera lenta. Katsuki conseguisse escutar até mesmo o mais fraco dos batimentos, foi quando algo dentro de si acordou ─ junto a sua fúria ─, foi quando ele escutou, bem baixinho, mas tão baixo que nenhum humano poderia ter escutado.
─ Kacchan... ─ disse Izuku, com extrema dificuldade.
O local pegou fogo, enquanto Katsuki gritava, seu dragão tinha sido libertado e atacava os guardas que gritavam por ajuda em meio ao fogo e o dragão que os atacava sem piedade, tudo estava coberto pelas chamas, viu suas mãos machucadas, como se fosse delas que o enorme poder havia saído.
Mas em meio ao caos, apenas a cela de Izuku estava intocada, como se ele mesmo fosse imune ao fogo, porém Katsuki fizera isso sem perceber, não queria machucar a única pessoa importante para si. Ele não era como seus amigos dragões, ele era um igual a si, alguém mais especial.
Ele passou pelas celas que tinham virado cinza, pegou com delicadeza o corpo magro, rosnando com aquilo, vendo o quanto o seu amigo estava leve e ferido. Não aguentava mais vê-lo assim, queria matar todos os humanos, mas ele precisava levá-lo o mais rápido possível para a floresta, precisava sair logo dali.
Chamou seu fiel parceiro e fugiu daquele lugar horroroso, o corpo em seu colo mal possuía vida, ele implorava para o dragão ir mais rápido para que conseguissem chegar a tempo de algum dragão salvar seu amado amigo. Assim que avistaram a grande floresta, o dragão rugiu alto, chamando seus companheiros, para que pudessem ajudar aquele pequeno que seu amigo tinha tanto apresso.
─ Por favor, alguém salve ele! Por favor! ─ Bakugou implorou quando o dragão pousou, chamando atenção dos dragões que estavam ali por perto. ─ Ele vai morrer! Alguém, por favor!
Os dragões se encararam, ficando surpresos pelo jovem querer salvar um humano, mas os dragões anciões sentiram um pouco de magia vindo daquele humano. Ele não era um humano comum e pelo seu estado, provavelmente não era muito bem aceito pela humanidade.
─ Tem certeza que deseja isso? ─ um dragão mais velho perguntou, vendo Bakugou chorar com mais intensidade.
─ Sim, só salve ele... Foi a primeira pessoa que encontrei que é igual a mim! ─ disse com a mão no peito, apertando. ─ Ele entende o que é ser odiado pelos humanos e caçado, eu... Não quero perdê-lo.
─ Meu jovem, quero que entenda que a magia que irei fazer é muito complexa ─ o dragão abaixou a cabeça, se aproximando das duas crianças. ─ Ele só permanece vivo enquanto você estiver vivo, o amando.
─ Eu não me importo, eu só quero que você o ajude! ─ falou a criança, nervosa e desesperada.
O dragão suspirou, aquela criança no chão já se encontrava morta, mas por ter restos de magia ─ mesmo que fraca ─ seria possível realizar aquele tipo de feitiço. Entretanto, era algo complicado, fazer alguém reviver e viver no constante medo de que a qualquer minuto pode morrer é um erro gravíssimo.
Mas o pequeno não se importava e continuava a implorar, o dragão via que ele gostava muito do jovem de cabelos esverdeados, talvez realizar tal magia não fosse dar problema, ele só temia pelo futuro, pois não sabia como Bakugou lidaria com tamanha responsabilidade, só esperava que no fim tudo desse certo.
─ Irei ajudá-lo, mas lembre-se, jovem Bakugou. Esse garoto ira permanecer na terra, pelo amor que sente a ele, no momento que deixar de amá-lo... A magia já não vai mais funcionar, mas ainda assim, deseja salvá-lo? ─ perguntou uma última vez, vendo Katsuki abraçar o corpo do menor e concordar. O dragão então fez com que seus chifres brilhassem e tocou com cuidado o corpo ferido.
Bakugou se afastou um pouco, vendo o corpo brilhar, as feridas estavam sumindo e até mesmo a cor voltava para Midoriya. O rosto corado e já não se encontrava mais tão esquelético, estava bem melhor do que se lembrava, só estava usando os mesmos trapos. O mesmo agora suspirava, como se estivesse tendo uma ótima noite de sono.
─ Não se esqueça, Bakugou: magias ligadas a sentimentos, sempre são perigosas ─ o dragão então voltou a se afastar, deixando o pequeno com um sorriso, encarando o jovem amigo que havia retornado.
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