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Capítulo 24




Senti meu corpo praticamente gritar de dor, quando finalmente consegui recobrar a consciência. Aos poucos, meus olhos se adaptavam a luz do ambiente e junto, o início de uma grande dor de cabeça. Que lugar era aquele? Parecia muito com o armazém onde Vince estava escondido com os outros. Eu tinha sido sentada em uma cadeira, com os braços para trás e de repente, me vi em desespero. Lembrei de antes do acidente e tudo o que eu queria era saber se Vince e os outros estavam bem.

— Socorro! — era uma besteira por ajuda ali, no meio do nada. Pelo menos era o que eu achava.

— Você é uma mulher inteligente, Ana. Sabe que o mundo civilizado está bem distante daqui — das sombras surge Salvatore, todo pomposo com um largo sorriso na boca.

— Me solte, seu filho da puta! — se um dia eu havia sentindo raiva na minha vida, com certeza não era do tamanho da que eu estava sentindo naquele momento.

— Soltar você? — ele debochou — acha mesmo que eu tive esse trabalho todo para depois deixá-la ir, como se nada tivesse acontecido? Ana, você tem ideia do tamanho da minha surpresa quando a vi chegar na casa do meu tio, e a melhor parte, sem que ninguém soubesse que era a minha futura esposa?

— Eu não sou nada sua, seu monte de lixo. Nunca serei sua esposa!

— Nem mesmo se a vida do seu precioso Vincenzo esteja em jogo? — eu congelei por dentro. A minha reação o deixou satisfeito e eu ainda mais assustada. Se a vida dos outros estivesse em risco, eu jamais iria fazer qualquer coisa para prejudicar a situação na qual estávamos.
— O que você quer?

— Um pergunta excelente e uma resposta bem simples: eu quero você e tudo o que a sua família tem — ele andou até ficar bem na minha frente e só em sentir o cheiro dele, fiquei enjoada.

— O pacote incluí a minha irmã, seu merda? — eu queria voar na cara dele e arrancar aquele sorrisinho cínico na base do soco.

— Lolla é uma mulher ambiciosa e eu gosto disso —falou inclinando levemente a cabeça para o lado, como se estivesse pensando em algo mais — ela é um pouco imatura, mas tem grande potencial. Até venderia a própria irmã, por um lugar mais abastado...

— Então foi assim que você ficou sabendo onde eu estava? Usou a minha irmã, sabendo que a minha mãe estaria vulnerável e passaria as informações para ela? — questionei irritada.

— Você com toda certeza é a mais inteligente da sua família — ele vibrou de felicidade, gesticulando com as mãos em floreio desnecessário  — fico imaginando os filhos, que genética! Sabe, passei todos esses anos fingindo gostar de estar morando com o meu tio e aquele merda do meu primo, mas o que eu queria mesmo era colocar fogo em todos!

— E o seu irmão, você não pensou nele?

— Não pedi para ter um, então não vejo motivo para ficar me preocupando com ele. Se dependesse de mim, ele estaria morto...  — Salvatore apoiou as mãos nos braços da cadeira, uma de cada lado e se inclinou para frente, ficando a alguns centímetros do meu rosto — Ana, não se engane... Eu não sou o tipo de homem que nutre sentimentos familiares ou coisas do tipo. A única coisa que me importa é ter poder, e quanto mais... Melhor.

Eu deveria ter me segurado, mas não consegui: cuspi no rosto dele sem nenhuma cerimônia. Mas a consequência foi receber um tapa na minha cara, do tipo que desmonta o que já está quebrado. E eu que já estava um lixo, tive que me segurar ao máximo para não chorar de dor.

— Você é uma vadia! — esbravejou ele, saindo do personagem calculista — eu vou ser o seu pesadelo... todos os dias eu vou fazer você lembrar de é que manda.

— Vá se foder! Se você acha que está colocando medo em mim, falando essas merdas... Se enganou. Nem que eu precise me matar, jamais deixarei que me use...

— Eu acho que vou começar agora... — Salvatore, que voltou me encarar, pegou novamente os braços da cadeira e a girou, começando a me guiar.

— Salvatore... — eu conhecia aquela voz e era da minha irmã. Ele parou de andar no mesmo instante — pare de se emocionar e venha resolver o plano de fuga. Daqui a pouco isso aqui vai estar um inferno...

— Lolla... — eu choraminguei para ela, mesmo não tendo ela no meu campo de visão — me ajuda, por favor...

— Certo, eu vou terminar isso... — ele suspirou, largando a cadeira quase no escuro total do armazém.
Quando ela teve certeza que Salvatore não estaria mais ali, andou até ficar de frente para mim. Aquela não era mais a minha irmã, não com aquele sorrisinho falso e olhar de desdenho.
A Lolla que estava ali era sofisticada com o seu salto alto, roupas caras, cabelo preso no estilo Ariana Grande e bem maquiada.

— Acha mesmo que eu vou ajudar você?

— Mas você é minha irmã, como pôde fazer isso comigo? — era óbvia a decepção em minha voz e no meu semblante.

— Salvatore vai me dar a vida que eu sempre quis, Ana. Acha mesmo que o meu pai me daria uma igual a sua? Nunca! Agora é a minha vez — ela mantinha o queixo levemente erguido, mostrando que se sentia superior a mim naquela situação.

— Lolla, em que mundo você achou que eu não te daria uma vida boa? — perguntei irritada — acha mesmo que eu não faria isso? Tantos anos juntas, minha irmã...

— Cala a sua boca, que eu não sou mais sua irmã! — de onde tinha saído aquele monstro? Ela arregalou os olhos de uma maneira quando gritou, que me deu calafrios.

— Então Inessa não é mais sua mãe? — o que tinha acontecido com a Lolla, para ela chegar a tal ponto?

— Cansei de ser uma Delmondes... — ironizou ela — cansei de pegar suas sobras, Ana. Serei a senhora Salvatore Castello em breve...

— Senhora Salvatore? — eu não consegui segurar e tive que gargalhar.

— Do que você está rindo, sua vagabunda!?

— Por que até nisso, você pega minhas sobras. Ele não contou a você que ele era prometido a mim? — eu não conseguia falar, pois seria cômico, se não fosse tão trágico.

— Não estou falando de agora. Estou falando depois que ele matar você e ficar com tudo...

— Você fala demais — disse Salvatore aparecendo do nada, com uma arma apontada para Lolla — essa vadia não consegue ficar de boca fechada?

— Meu amor, o que você está fazendo? — de repente, até eu fiquei apavorada. Salvatore parecia determinado e a única coisa que eu pensava era que ela era a minha irmã e não merecia ser morta, mesmo agindo como uma vaca.

— Meu amor é um caralho! — e então ele fez. As lágrimas saiam como cachoeira dos meus olhos, um grito sufocado saiu da minha boca.

— Não! Não! Lolla! — comecei a gritar em desespero — seu filho da puta! Eu juro que vou matar você!

O corpo da minha irmã estava ali, jogado no chão bem na minha frente. Ela ainda estava respirando, em agonia com o sangue saindo também pela boca, além do ferimento.

— Ana... — ela agonizava olhando para mim.

— Já estava de saco cheio dela mesmo— ele guardou a arma e veio na minha direção, passando por cima do corpo dela literalmente. Ele fez questão de pisar no meio do peito dela, onde ele havia atingindo-a.

Lolla deu seu último suspiro bem na minha frente e eu gritava com a dor que senti em vê a minha irmã sendo morta na minha frente.

— Não roque em mim, seu bosta! Não encoste um dedo em mim! — eu urrava e tentava de alguma forma me desvencilhar dele, mesmo sabendo que era impossível, pois estava sem saída.

— Acha mesmo que eu iria trocar uma raça pura por uma qualquer? Você nunca vai se livrar de mim, Ana. Nunca! — ele desamarrou as pontas da corda da parte de baixo da cadeira, onde as deixava mais firmes e mantinha meus pulsos imobilizados, me puxando com força, fazendo com que eu tropeçasse e caísse no chão, na poça de sangue da minha irmã e saiu me arrastando, enquanto ele andava para sair dali.

Eu não conseguia pensar em outra coisa: eu iria matar Salvatore de qualquer jeito. Mesmo que custasse a minha vida, ele pagaria por todo o mal que ele estava me fazendo: a mim e a todos que eu amava.

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