Capítulo 21
Capítulo 21
Casa nostra. Para os mafiosos é o que define o que eles são. Para todos, significa ser um homem honrado e cumprir com seus deveres dentro de sua família, para tudo funcionar conforme as regras.
As regras da máfia consistem em não se apresentar diretamente a alguém de qualquer família. Ou seja, você precisa conhecer alguém que conhece outra pessoa, para saber se o encontro é possível; nunca se deve olhar para mulheres casadas, seja ela a mulher do capo, subchefe, conselheiro ou os soldados, e se caso um associado faça algo do tipo, ele está fodido para o resto da vida. Mazzini explicou que o certo era que quem fosse envolvido com a máfia, não devesse ser visto em festas ou qualquer evento público. Mas com a nova geração, isso estava ficando cada vez mais complicado; ser fiel a família e estar sempre a disposição do conselho, honrando seus compromissos; nunca desrespeitar suas esposas; sempre ser verdadeiro e jamais mentir para o capo, mesmo que isso lhe custe a vida.
Para Salvatore, cumprir a regra de não roubar a própria família, desejar a mulher e fortuna dos outros, não se aplicava, já que parecia que ele não tinha o mesmo respeito pelo restante dos integrantes e nem mesmo pelo conselho. Até agora, a regra principal ainda não havia sido quebrada por ninguém, que era: não se relacionar com qualquer pessoa ou familiar de policiais. Deveria ser por isso que eles sempre queriam estar anônimos, ou quase isso, já que a maioria das pessoas tinham conhecimento sobre os negócios deles. Claro que eu estava me inteirando sobre tudo isso aos poucos, e não me dava muita margem do que fazer. O meu medo era não conseguir convencer o conselho sobre os meus sentimentos, era enorme. Mesmo que depois de um tempo, com eles mais flexíveis sobre isso, desde que quase houve uma guerra entre três famílias, eu ainda precisava de toda coragem do universo.
Mas até onde eu tinha conhecimento, Vince não tinha dado a sua palavra que iria se casar com qualquer uma que lhe fosse proposta. A palavra dele tinha sido dada a mim, a sua namorada, que eu tinha esperança que toda aquela merda se resolvesse e eu me tornasse a sua esposa. Eu ainda estava conversando com o meu pai, quando de repente, bateram na porta.
— Senhor Mazzini, o Vincenzo Castello deseja falar — informou Heitor, com calma e educação impecável.
— Não basta me dar dor de cabeça, ainda quer falar comigo... — suspirou Enzo, massageando as têmporas com movimentos circulares.
— Eu não ligo para sua dor de cabeça, mas eu me importo com a Ana — Vince falou assim que entrou sem fazer qualquer cerimonia.
— O gênio da mãe — disse Enzo com o tom saudoso, mas logo voltou ao normal.
— Até onde eu lembro, ela era uma mulher incrível — relembrou Vince, sem baixar a guarda. Sim, ele era orgulhoso, o segundo no comando dos negócios da família Castello e não deixaria ninguém dizer o contrário — o que está havendo lá fora? Todos do conselho estão chegando...
— O que está havendo? — Enzo repetiu a pergunta de Vince com ironia — sabe, eu nunca pensei que teria que fazer tal coisa, mas eu sou obrigado a atender ao pedido da minha única filha, por sua causa.
— Do que ele está falando? — Vince parecia até confuso, com a forma que meu pai falava.
— Você é prometido a uma vagabunda, filha de algum chefe da máfia... — eu não deveria falar daquela maneira, porém, eu não resisti.
— Isso é impossível — disse Vince desesperado — meu pai nunca faria uma coisa desse tipo. Ele sempre me deixou livre para escolher a mulher por quem eu devesse me apaixonasse...
— Não estou falando do pai — vi os olhos de Vince se arregalarem com o que o meu pai havia acabado de revelar — sua mãe fez isso...
— Não... — ele buscou uma cadeira para sentar, pois tudo parecia uma brincadeira. Vince olhou para mim, com os olhos cheios de lágrimas. O perigo estava ali... Eu vi que as coisas poderiam mudar por causa daquela promessa, que tinha sido feita a melhor amiga dela, a esposa dos Ferrara.
— Sophia Ferrara, você não a conhece, já que ela estava fora dos Estados Unidos. Assim que nasceu, ela foi morar na Itália. Agora, a família dela está na minha sala, junto com o clã, para saber como vai ficar a situação... — Enzo informou tanto para mim, quanto para Vince, que ainda estava sem saber o que fazer.
— Eu não vou me casar com ela — proferiu com raiva — eu já tenho a mulher da minha vida e não irei abrir mão dela por nada desse mundo.
— Então vá lá e convença a todos que a Sophia não é mulher certa... — Enzo levantou da cadeira e olhou para mim como se quisesse que tudo desse certo.
E eu esperava que sim.
Parecia que eu estava em um filme de suspense, a cada passo, um arrepio estranho percorria o meu corpo. Enzo andou até à porta do escritório e esperou por mim e Vince, enquanto eu tentava formular algo em minha cabeça para dizer. O melhor de tudo, o que me deixou mais aliviada, foi ter o homem da minha vida ao meu lado, me dando apoio. Eu percebi que tudo aquilo tinha o abalado muito, pois havia sido uma promessa da mãe dele, e mesmo que não tenha sido ele a prometer, ali estava a palavra de honra de sua mãe, por quem ele sempre nutriria um amor enorme para o resto da vida.
Não pira, Delmondes. Respira. Inspira... Eu tentava me acalmar durante o curto caminho, onde Enzo nos guiava.
Não esperava que em questão de horas, teriam tantas pessoas reunidas para decidir o futuro de um casal, mas ali estavam as famílias mais importantes, muitas unidas pelos negócios, e outras pelo simples prazer da vingança. Enzo foi o primeiro a adentrar na sala de reuniões, nos deixando do lado de fora até que pudéssemos entrar, fechando a porta logo em seguida. Vince e eu estávamos de mãos dadas, olhei para ele e vi o quanto tudo estava se tornando mais real. Até a sua postura havia mudado: o seu queixo estava mais empinado, coluna reta, semblante mais sério e uma frieza dando lugar aos olhos que eu amava quando me admirava com carinho.
E por alguns instantes, eu pude contemplar o a maravilha que era ele, o quanto ele estava impecável. Na verdade, nunca o vi com um fio do cabelo fora do lugar. A calça de sarja preta praticamente colada em seu corpo, com aquela camisa azul-marinho de mangas longas, devidamente abotoadas com abotoaduras de ouro, com as suas iniciais gravadas nelas. Até mesmo no dia em que ele foi atingido de raspão, ele mantinha a elegância, claro que não era o clássico mafioso, mas ainda assim, ele era lindo de morrer e havia acabado de se tornar um pedaço de mim, o qual eu não saberia viver sem.
— Não importa qual seja a decisão deles, ficaremos juntos, Ana — ele não direcionou seu olhar para mim, porém, eu senti que ali era mais uma promessa que ele estaria disposto a cumprir pelo bem de nós dois.
— Eu não permitiria nem o próprio diabo nos atrapalhar, quem dirá alguém tentar nos separar. Essa é a minha promessa para você — com o nível de determinação que eu estava sentindo, tudo para mim era possível. Inclusive, quebrar todas as regras em nome do amor que tínhamos um pelo outro. Não se tratava de sexo gostoso, mas de quem acordaria ao meu lado todos os dias da minha vida, para construir uma família. Se eu poderia ter resistido a ele? Impossível!
— Você é o amor da minha vida, Ana Delmondes. E mesmo que eu morra, ainda te amarei.
— Também te amo, Vincenzo Castello. Agora e sempre.
Suspirei. Até estava parecendo os votos de casamento, e eu iria casar com ele. Sim. Ele seria o meu marido e nada e nem ninguém nos impediria. Ali era eu e ele, contra uma caralhada de mafiosos filhos da puta... Droga, não podia xingar a mãe dos outros. Perdão, Deus.
Vince tinha aquela cara de homem determinado, com uma determinação no olhar e na postura, a vontade de batalhar pelo que queria. Depois que todo aquele momento conturbado passasse, eu o levaria para uma ilha deserta e só sairia de lá em caso de morte.
Parecia que Enzo estava horas conversando com eles, enquanto ficávamos do lado de fora. Eu não poderia dar qualquer sinal de fraqueza, e nem pretendia fazer tal coisa. Não era apenas a minha vida que estava em jogo, mas a família Castello e a minha também, e isso até incluía o pai desnaturado que só veio se redimir, depois que a filha já estava crescida e bem criada. No entanto, a parte do meu pai, eu teria muito tempo para resolver, já que eu tinha dado a minha palavra que cuidaria de tudo sem reclamar, se ele apenas me desse o meu objeto de desejo: liberdade.
De repente, a porta se abriu e era a nossa vez de digladiar.
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