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Capítulo 17

Capítulo 17


Eu tinha que ser positiva. Mesmo que o sentimento fosse totalmente divergente com o meu pensamento. Vince passou o resto do tempo tão ocupado, que mal tive contato com ele, mesmo estando quase ao lado dele. Trix parecia ser a segunda no comando alí, e Clara era a gênio dos computadores, e era também bem óbvio que eu não entendia nada do que eles estavam falando. Estava mais fácil aprender japonês em braille, do que entender as explicações de cada um. O que mais me chamou atenção foi o fato de Vince ser seguido por eles de uma forma única, pois dava para vê a admiração que todos tinham quando ele começava a falar: havia um respeito entre eles.

— Deve ser fácil passar por tudo que está passando, e ter a pessoa que se ama do lado? — eu estava tão envolvida olhando para Vince, que nem vi quando Trix se aproximou de mim.

— Não sei se posso falar que é fácil, mas me dá um certo conforto, eu acho... — sorri para ela, mesmo que sem graça ainda devido ao acontecido.

— É verdade — ela ponderou — fácil não é, porém, a sensação de ter um porto seguro é sempre presente... — escutei ela falando e direcionado o seu olhar para Clara.

— Então é assim com vocês duas? — fiquei curiosa.

— A Clara é mais que isso — dava para vê nos olhos de Trix, o quanto ela era apaixonada — ela foi e é a minha salvação. Sem ela, eu estaria completamente perdida.

— Eu tenho medo, Trix — sem querer, falei o que estava pensando.

— Medo? — eu sei que ela sabia sobre o quê eu estava me referindo.

— Tenho medo de amar tanto, que no final eu não consiga sair do buraco, caso algo dê errado — eu já tinha tido essa conversa comigo mesmo várias vezes, mas ele, o medo, sempre estaria ali para me atormentar. Mesmo eu falando que iria viver o momento, um dia de cada vez e blá blá...

— Qual seria a graça de se viver, se não tivéssemos o medo. Porém, melhor do que o medo, é a coragem. Eu sei... — ela riu das suas palavras — parece confuso, mas não é no final de tudo. Por medo deixamos de fazer muitas coisas, no entanto, às vezes, o medo salva. Aí vem a contradição: Mas e se eu não arriscar? Cadê o frio na barriga, o coração acelerado, o pensamento a mil... Enfim, são tantas coisas, que eu poderia passar o resto do dia falando — Trix era coaching dos relacionamentos, meu Deus!

— Fiquei confusa, mas vou digerir — brinquei com ela.

— Ele mataria por você, Ana — disse Trix com tom mais sério, olhando para mim — nunca o vi assim, e o conheço há bastante tempo.

— Não sei bem o que isso significa, Trix — suspirei, pois era bem possível que eu também fosse capaz de matar um por ele — às vezes não reconheço a mim, quando paro para pensar em tudo.

— Ana, não posso dizer que sei pelo o quê está passando, porquê eu já nasci dentro da máfia — ela, de repente, ficou pensativa e como em um passe de mágica, saiu do seu mundo obscuro — se eu pudesse escolher um caminho diferente, e nele não tivesse a Clara, eu não escolheria.

— Mas se pudesse escolher um ao lado dela, sim?

— Não pensaria duas vezes — sorriu para mim um pouco triste.

— Trix! — Alguém gritou por ela e vi uma grande movimentação se formou dentro do armazém.

Corri até onde Vince estava e fiquei observando, ao lado dele. Três carros entraram e estacionaram. Se eu soubesse que o resto do dia seria assim, teria tomado algum tipo de calmante. Aquele rosto era tão familiar, por anos foi o meu refúgio, e lá estava a minha mãe saindo de um dos carros. Uma mistura de emoções e choro reprimido dos dias que se passaram, saiu de uma única vez: parecia uma represa rachando e inundando tudo ao meu redor.

— Mãe! — eu nem consegui sair do canto para ir até ela e abraça-la.

— Ana! — ela veio até mim, de braços abertos — Que saudade de você, meu amor! — disse ela emocionada, ao me abraçar finalmente.

— Oh, dona Inessa! — finalmente consegui falar algo para ela — e a minha irmã? — quis saber, me afastando um pouco para olhar para a minha mãe e ter certeza que de não era apenas um sonho.

— Lolla conseguiu fugir... — mais uma voz conhecida surgiu, e com ela, a presença imponente do pai de Vince, Franz Castello.

— Como assim, fugiu? — meu cérebro entrou em colapso naquele exato momento.

— Estávamos vindo para cá, quando isso aconteceu. Em um dos postos de gasolina que paramos, ela pediu para ir ao banheiro e depois sumiu — Franz explicou, nitidamente cansado. Como ela pôde fazer isso, depois de tantas coisas ruins acontecendo? Lolla não pensou na aflição que a nossa mãe sentiria, com ela tomando aquela atitude? — ela fez o segurança dela achar que estava apaixonada por ele, e de fato ele acreditou. Era pra Giorgio acompanhá-la...

— Lolla sempre foi diferente da Ana, Franz — assim como Franz, a minha mãe também estava cansada, e era tão visível que me deixou ainda mais irritada com a inconsequente da minha irmã.

— Depois desse tempo que passamos longe, ela deveria ter um pouco mais de cérebro para pensar em tudo que está em jogo... — comecei a falar, irritada.

— Pai, já mandei um pessoa procurar pela Lolla — não lembro em que momento da conversa Vince se aproximou de mim, mas ele estava ali, do meu lado, me dando apoio. Mesmo que eu estivesse pronta para cortar a cabeça de um.

Franz encarou o filho por um instante e em seguida, direcionou-o para mim. Não sabia exatamente o que fazer, porém, sabia que ele iria desaprovar a minha relação com o seu filho.

— Então é verdade que estão juntos, Vincenzo — Franz não havia feito uma pergunta. Para mim, foi o suficiente.

— Já entendi que o senhor desaprova... — tentei começar a falar, mas logo fui silenciada pelo olhar mortal do pai de Vince.

— Desaprovar? — era nítido o sarcasmo em sua voz ao fazer aquela pergunta —vocês dois não estavam comigo, tentando acalmar o ânimo do conselho quando meu estimado sobrinho revelou esse romance — Franz parecia muito irritado e acho que ele só não estava gritando pois a minha mãe estava controlando a fera.

— Eu quero que o conselho e quem mais que for contra o meu relacionamento, vá pra casa do caralho com asas! — de repente, me vi esbravejando para todos ouvirem — estou cansada! Chega dessa merda dos outros querendo controlar a minha vida!

— Ana... — minha mãe tentou falar, mas eu não estava muito afim de escutar o que ela tinha para falar.

— Mãe, com todo o respeito que tenho pela senhora, não tente amenizar nada aqui... — suspirei antes que eu explodisse novamente — e quer saber de uma coisa, eu mesma vou cuidar da situação com o meu pai.

— As coisas não funcionam assim, Ana — Franz, assim como a minha mãe, tentou falar, porém eu também estava de saco cheio dele.

— Chega, Franz! — todos a minha volta estavam olhando para a nossa discussão, mas eu não estava nem aí para o que eles pensariam — é ridículo o fato de eu ter quase trinta anos e não agir como a mulher forte que sou. Se tem alguém que pode convencer o Mazzini, sou eu. Afinal, sou ou não sou filha dele?

— Claro que é — senti que a minha mãe ficou um pouco ofendida.

— Ana, você precisa se acalmar... — Vince começou a falar.

— Não preciso me acalmar, Vince — olhei para ele, mesmo com todo carinho e amor que tivesse, eu seria a que me sacrificaria por ele dessa vez. Quase o perdi, não deixaria aquilo acontecer novamente. E se eu estivesse brincando com a sorte? Se não houvesse uma próxima vez? Vince era gato, mas não tinha sete vidas.

— Eu preciso do endereço do meu pai — falei determinada — quem vai fazer um acordo com ele, sou eu. Posso até administrar os negócios, mas não admito que escolham com eu devo passar o resto da minha vida — olhei para Trix e ela me exibiu um sorriso orgulhoso. Já tinha passado da hora de eu tomar as rédias da minha vida — amanhã mesmo eu vou, e nem tentem me impedir.

— Mesmo que tente falar com ele, Enzo está decidido, Ana — Franz explicou com o tom um pouco mais calmo.

— Você por acaso é a filha dele? — arqueei uma das sobrancelhas para ele, ao questioná-lo. Aquela pergunta o deixou em silêncio — foi como eu pensei. Preciso deitar. O dia já foi estressante o suficiente.

— Ainda precisamos conversar, Ana — disse minha mãe aflita.

— Por enquanto, preciso de um ligar silencioso para pensar, mãe. Sei que o restante precisa de um tempo para ligar os pontos entre o ataque, Salvatore e o fato de Vince quase ter sido morto.

— Você tem razão — Vince se pôs a falar — Salvatore ter nos traído daquele forma, é inaceitável.

— Está bem... — Franz respirou fundo, massageando as têmporas para aliviar a tensão — e ainda temos o sumiço da Lolla...

— Falo com vocês amanhã, já está tarde — comuniquei, antes de dá as costas para todos e ir em direção a uma das acomodações no primeiro andar.

Não olhei para trás e nem diz questão de falar com mais ninguém.

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