035
And I just wanna know if you're in love yet, girl
— Jennie, você conhece a Lisa — Nayeon continuava me seguindo pela casa, tentando justificar as ações de Lalisa como se fossem pelo meu bem. Já fazia quase duas horas que ela insistia nisso.
— Será que dá pra você parar de defender a Lalisa? — interrompi minha caminhada e me virei para ela, irritada. — Pra Lisa, ninguém consegue derrotar ela, mas todos nós sabemos que ela pode sim ser derrotada. Principalmente quando está machucada.
— Claro que sabemos, mas adianta falar isso pra ela? Lisa é cabeça-dura. Se não ela não escutou você, óbvio que não vai ouvir a gente.
— Olha, eu tô de cabeça quente. Vou subir, tomar um banho e tentar esquecer essa ideia de que Lisa provavelmente morrerá ou voltará pra casa ainda mais machucada do que já estava — falei e Nayeon assentiu.
No momento em que me virei para subir as escadas, parei ao ver Lisa parada. Ela segurava um buquê de flores em uma mão e uma caixa de bombons gourmet na outra. Seu semblante era inexpressivo, mas os olhos estavam cravados em mim, carregados de algo que não consegui decifrar.
— Você não acreditou em mim de novo? — Sua voz saiu baixa, quase um sussurro. — Da última vez, eu disse que iria te proteger. Eu quase morri, Jennie, mas te protegi. E olha que antes você fugiu porque não acreditou na minha palavra.
— Li...
Antes que eu pudesse continuar, Changbin se aproximou dela, inclinando-se para cochichar algo. Lisa, no entanto, parecia imersa em mim, ignorando completamente suas palavras.
— Peça a outros capangas para irem no meu lugar. — Sua voz estava firme, mas seus olhos não se desviaram de mim.
— Certo. Com licença. — Changbin se retirou rapidamente.
— Eu comprei flores pra você e alguns doces. Achei que estaria brava comigo por ter feito o que você me pediu pra não fazer. — Ela olhou para os presentes em suas mãos antes de voltar seu olhar para mim. — Mesmo que não acredite em mim, saiba que eu faria de tudo para te proteger, Jennie. Matei Yoon Taemo sem dificuldade. Nem me machuquei, nem sangue tem em mim. Tô ilesa.
— Eu fico feliz...
— Fica feliz, mas ainda acha que eu sou fraca, não é? — Seu sorriso forçado doeu mais do que suas palavras.
— Eu nunca disse isso, Lisa! Eu só estou com raiva de você. Cogitar a ideia de que poderia ter te perdido hoje me dá vontade de chorar. Estou cansada de te ver se machucando por mim, mesmo sabendo que isso não é só por minha causa.
— Desculpa por não ter te ouvido. Mas entenda, esse é o meu trabalho.
— Seu trabalho é uma merda, Lalisa Manobal! — As palavras saíram como veneno, enquanto seus olhos brilhavam de dor. — Não quero te ver na minha frente. Então nem pense em entrar no meu quarto.
Virei-me para subir as escadas, mas antes que pudesse alcançar o primeiro degrau, senti sua mão agarrar meu braço.
— Por que você está brava? Por quê? Não vê que o meu maior medo é te perder? — Sua voz subiu um pouco, e percebi que o buquê e os bombons estavam agora no chão.
— Eu queria que você entendesse que faço qualquer coisa pra ver você feliz e viva, Jennie. Mesmo que eu não esteja mais aqui, basta saber que está segura. Isso é o suficiente pra mim.
— Existem outras formas de me manter viva, sabia? E se você tivesse morrido hoje, caralho? — Minha voz saiu em um grito, acompanhada de lágrimas que eu não pude mais conter.
— Eu não me importo se morrer. Desde que seja por você. — Uma única lágrima escorreu pelo rosto dela, e isso quebrou algo dentro de mim.
— Você não se importa, mas eu me importo! Se você realmente quer que eu seja feliz, pense no que aconteceria comigo se eu perdesse você. Eu iria ser tudo, menos feliz. Minha liberdade não significa nada sem você ao meu lado.
— Desde que você entrou na minha vida, o único objetivo que tenho é te proteger. Não importa o que eu tenha que fazer. Você fez nascer uma nova Lisa dentro de mim. Agora, eu não vivo apenas pra acabar com Shin Donghee e vingar meu pai. Eu vivo com a esperança de um dia formar uma família com você, longe de tudo isso.
Olhei ao redor, procurando conter minhas lágrimas, percebendo os olhares dos capangas e amigos de Lisa que haviam se reunido devido à gritaria. Era evidente que estavam chocados. Talvez pela intensidade de sua declaração. Talvez porque desconheciam essa Lalisa Manobal vulnerável.
— Não fica brava comigo, por favor. Eu te imploro! — Sua voz tremia, mas eu não reagi. Apenas puxei minha mão de sua.
— Lisa... — Suspirei, limpando as lágrimas. — Eu preciso de tempo. Não é fácil pra mim aceitar que tô me envolvendo romanticamente com uma assassina.
Virei-me e subi as escadas, sentindo os olhos de todos em mim, mas principalmente os de Lisa, pesando como uma faca em minhas costas.
[...]
Eu estava sentada na poltrona do meu quarto, tentando organizar meus pensamentos após as palavras de Lisa, quando três batidas discretas ecoaram na porta. Antes que eu pudesse responder, Changbin entrou, equilibrando uma bandeja de comida nas mãos.
— Eu trouxe seu almoço, senhorita Kim — falou e colocou a bandeja sobre minha escrivaninha.
— Não precisa de formalidade comigo, Changbin. — Olhei para ele, curiosa com sua expressão tensa. — O que foi? Parece preocupado. Aconteceu alguma coisa? — perguntei, notando seu desconforto. Ele assentiu lentamente, meio sem jeito. — Senta aí. Me conta o que foi. — Apontei para a cama, e ele obedeceu, se acomodando na beirada com hesitação. — Se for sobre a Lisa, eu não quero saber.
Changbin suspirou profundamente, ajeitando-se no lugar e fixando o olhar em mim.
— Não conta pra Lisa que fui eu quem te falou isso, mas... Ela quase morreu hoje. — Sua voz era baixa, como se temesse ser ouvido por mais alguém. — Se o senhor Yoon não tivesse errado o tiro, ela estaria morta agora. Foi muita sorte. Acho que não era a hora dela, já que ele errou dois tiros. E, sinceramente, qualquer um acertaria aqueles tiros.
Fiquei em silêncio por um momento, o peso da revelação descendo sobre mim como uma nuvem pesada.
— Por que tá me dizendo isso? — Minha voz saiu mais fria do que eu pretendia, mas eu não conseguia esconder o incômodo.
— Achei que seria importante você saber. — Ele respondeu com um tom sério.
Permaneci em silêncio por alguns instantes, tentando processar o que Changbin tinha acabado de me dizer. Meu coração estava apertado, mas antes que eu pudesse formular uma resposta, ele continuou, sua voz hesitante e mais baixa:
— Tem mais uma coisa...
Levantei o olhar para ele.
— A Lisa... — suspirou —... ela não quis comer nada. Essa comida era pra ela, mas como ela não quis, eu resolvi trazer pra você e aproveitar pra conversar com você. Quando fui levar comida pra ela, eu ouvi... Eu ouvi ela chorando — falou, sem acreditar. Meus olhos se arregalaram levemente.
— Chorando? A Lisa? — Era quase impossível imaginar aquela mulher, tão forte e orgulhosa, permitindo-se chorar.
Changbin assentiu devagar, olhando para as próprias mãos.
— É... Ela não faz isso na frente de ninguém, claro. Mas ela tava falando coisas sozinha também, algo sobre como você a odeia, que ela sempre faz tudo errado e que talvez fosse melhor se não tivesse voltado viva hoje.
Minhas mãos apertaram os braços da poltrona. Cada palavra dele parecia como um golpe, fazendo minha respiração vacilar.
— Eu só disse que precisava pensar um pouco. Pra que tanto drama? — perguntei, rindo forçadamente, quase como um sopro.
— Acho que ela ficou assim por causa das suas palavras. Você disse que não queria mais ver a cara dela. Por quê? Por que ficou tão brava? — Changbin perguntou, me analisando com um olhar preocupado.
Suspirei profundamente, tentando organizar os pensamentos.
— Quando estamos dormindo juntas e eu acordo antes dela, fico admirando o rosto dela. Só que, enquanto faço isso, sempre me lembro de que, meses atrás, eu queria acabar com a cara dela... A Lisa destruiu a minha vida, Changbin. Essa é a verdade. Mesmo que eu goste de verdade dela, é impossível não lembrar do que ela fez com o Tae. — Senti uma lágrima descer pelo meu rosto, mas a enxuguei rapidamente. — No começo, fiquei sem chão. Mas a Nayeon me ajudou a seguir em frente. Só que, quando percebi que estava me apaixonando pela mulher que matou uma das únicas pessoas que realmente me amava, eu... Eu quis simplesmente morrer porque eu não queria aceitar que estava me apaixonando por ela.
Outra lágrima escapou, e dessa vez não me dei ao trabalho de enxugá-la.
— Sinto falta da minha irmã. E, às vezes, também sinto falta do Tae. Sei que a Lisa faz de tudo pra me ver feliz, mas... eu não preciso de coisas caras. Não preciso de presentes. Eu só quero momentos únicos, momentos que eu sei que ela nunca vai me dar, mas que o Tae com certeza daria. Mesmo sem querer, eu acabo comparando os dois.
— Que tipo de momentos? Talvez só não estejam no alcance da Lisa.
— Coisas simples. Acampar no quintal e passar a noite admirando as estrelas, contando piadas sem graça e trocando carícias; ver o nascer do sol na praia; correr juntas pela manhã; viajar de carro ouvindo wave to earth; ver a primeira neve ao lado dela... São coisas pequenas, mas que significam tanto pra mim.
Me permiti fechar os olhos por um instante, imaginando aquelas cenas.
— Kim Taehyung faria isso por você?
— Sim. Ele já fez algumas coisas... Ficamos admirando as estrelas juntos uma vez. Não acampamos, mas foi especial. Ele nunca correu comigo porque tinha asma, e o resto... nunca tivemos tempo de fazer. Mas tenho certeza de que ele faria, assim que tivesse férias do trabalho.
— Então por que não fala isso pra ela? Por que não diz à Lisa exatamente o que você quer?
— Porque ela me mantém presa aqui, nessa mansão. Antes era só no quarto, agora é diferente, mas ainda assim... Eu me sinto sufocada. — Olhei para o chão, frustrada. — E agora, ela é quem está trancada no quarto, mas eu... Eu ainda não sei o que fazer. Não consigo parar de pensar no que nosso relacionamento significa, se isso realmente tem futuro.
— Jennie você é a única pessoa que ela realmente ouve. E, desculpa ser tão direto, mas... Se você não falar com ela agora, não sei se ela vai melhorar. Conheço Lisa a muito tempo, mas eu nunca vi ela daquele jeito. Eu juro, nunca vi.
Eu me inclinei na poltrona, cobrindo o rosto com as mãos enquanto um suspiro trêmulo escapava. Tudo o que eu queria era me afastar dessa situação, mas sabia que ele estava certo. Se havia alguém que Lisa escutaria, mesmo em sua teimosia, era eu.
— Onde ela tá?
— No quarto dela. Trancou a porta, mas acho que se você for até lá... — Ele parou, analisando minha expressão. — Ela vai abrir.
Me levantei devagar, cruzando os braços. Olhei para a bandeja na escrivaninha antes de voltar minha atenção a Changbin.
— Pode ir, Changbin. Eu... Eu vou falar com ela.
Ele se levantou, aliviado, curvou-se levemente e saiu, fechando a porta atrás de si. Eu encarei a bandeja mais uma vez antes de pegá-la e me forçar a caminhar em direção ao quarto de Lisa. Meu coração estava um caos, mas sabia que precisava lidar com isso.
Ao chegar na porta do quarto dela, bati de leve.
— Lisa, sou eu.
Nenhuma resposta.
— Eu sei que você tá aí, e também sei que não comeu nada. Pode abrir, por favor?
Ouvi um som abafado do outro lado, talvez um movimento.
— Eu não vou sair daqui até você abrir essa porta, Lalisa. Então faz o favor de não dificultar as coisas pra mim.
Finalmente, ouvi o som da chave girando, e a porta abriu devagar. Lisa estava ali, os olhos inchados e vermelhos, e seu rosto carregava uma expressão que misturava tristeza e exaustão. Meu coração apertou mais ainda ao vê-la assim. Coloquei a bandeja sobre sua cama.
— O que você quer, Jennie? — Sua voz era baixa e seus olhos não encontravam os meus.
— Quero que você coma e... quero entender por que você tá se destruindo assim. Eu só disse que precisava pensar um pouco.
— Você odeia a ideia de ter se apaixonado por uma assassina. Mesmo que eu faça de tudo pra te fazer feliz, pra te fazer esquecer disso, você sempre volta a lembrar quem eu sou de verdade. — A voz de Lisa soava baixa, quase quebrada, enquanto seus olhos ainda evitavam os meus.
— Eu não odeio você, Lalisa. E não odeio ter me apaixonado por você. — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava, mas logo perdeu força. — Eu só... não sei como lidar com tudo isso. O que você já fez comigo... Parece que, às vezes, você esquece que eu também tô tentando lidar com isso. Tô tentando aceitar que você realmente mudou e que não vai mais... acabar com a minha vida.
— Eu só queria que você me visse como alguém bom o suficiente pra te amar, e não como uma assassina. — Sua voz saiu baixa, quase quebrada. — Mas... como posso pedir isso, se nem eu consigo me ver de outro jeito? Eu tenho ódio de mim mesma por ser tão suja assim... Se eu não fosse assim, talvez a gente pudesse ser feliz juntas. Eu seria boa o suficiente pra você.
— Lisa, você precisa parar de se odiar assim. — Minha voz saiu baixa, mas firme, enquanto eu a encarava. — Eu nunca disse que você não é boa o suficiente pra mim. Mas, ao mesmo tempo, não dá pra ignorar tudo o que aconteceu. Eu não vou mentir, ainda é difícil confiar. Só que... se você se vê como alguém suja, como espera que eu veja o contrário?
— Eu quero ser alguém melhor pra você. Mas sempre que eu tento, sempre que eu penso que tô indo na direção certa, parece que tudo desmorona. E você me lembra, sem querer, de todas as coisas que fiz. É como se... eu nunca pudesse escapar do que sou.
— Você não pode apagar o passado. E eu também não posso. Mas você não precisa deixar isso definir quem você vai ser. O que importa é o que você faz agora, como escolhe viver daqui pra frente.
Seus olhos estavam marejados, e aquilo fez meu coração apertar.
— E se eu não conseguir? E se... eu nunca puder te dar o que você merece? E se eu nunca conseguir ser quem você tanto merece?
Dei um passo mais perto, segurando seu rosto entre minhas mãos, obrigando-a a me encarar.
— Se você não conseguir, então você tenta de novo, Lisa. O seu maior erro seria desistir antes mesmo de tentar de novo, porque eu não vou desistir de você tão fácil. Acha que eu espero que você seja perfeita? Eu só espero que você esteja comigo. Que lute por nós, assim como eu pretendo lutar também.
Uma lágrima escorreu por sua bochecha, e ela desviou o olhar, tentando conter suas lágrimas que queriam cair.
— Eu tô com medo, Jennie. Medo de te perder. Medo de nunca ser suficiente. Medo de que um dia você acorde e perceba que não vale a pena tentar se relacionar comigo.
Engoli em seco, sentindo uma dor familiar apertar meu peito. Lalisa nunca tinha medo de nada, batia de frente com todos e acabava com todos ao seu redor, sem nenhum medo.
— Você não pode deixar o medo te derrubar.
Ela finalmente encontrou meus olhos novamente, um brilho de vulnerabilidade tomando conta de seu olhar.
— Eu vou tentar, Jennie. Não sei se vou conseguir mudar quem eu sou, mas vou tentar... por você. .
Deixei um pequeno sorriso escapar, apertando suas mãos nas minhas, sentindo uma lágrimas escapar.
— Agora, é melhor você comer por bem, se não eu vou fazer você comer por mal, Lalisa Manobal — forcei a voz, vendo ela assenti, limpando suas lágrimas.
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