006
You picked a dance with the devil and you lucked out
Ao acordar, percebi que uma pelúcia estava em meus braços. Sem entender nada, cogitei que tudo o que eu vivi fora apenas um pesadelo e que, na verdade, eu estava em um sono profundo numa tarde de domingo fria e chuvosa.
Abri os olhos lentamente, torcendo para que o cenário à minha frente fosse a minha janela com cortinas claras. Decepcionei-me ao ver o guarda-roupa que eu já conhecia bem. Aquele pesadelo não iria acabar nunca?
Sentei-me na cama devagar, percebendo que realmente havia acordado. Cocei levemente meus olhos e me espreguicei. Olhei para o lado, enquanto bocejava, e vi o meu ursinho bege e peludo ao meu lado. Confusa, olhei ao redor, procurando por Nayeon para perguntar sobre a pelúcia que havia aparecido do nada em minha cama.
Não encontrei Nayeon, mas vi outra mulher. Ela estava sentada em uma poltrona, lendo um livro. Vestia um conjunto de moletom preto, o cabelo curto, na altura dos ombros, e seu semblante era amedrontador. As pernas cruzadas e o cuidado ao virar as páginas do livro lhe conferiam um ar ainda mais sombrio.
— Bom dia, Kim Jennie! — disse, levantando os olhos lentamente na minha direção. — Pensei que tinha morrido. Você demorou tanto pra acordar que já está quase na hora da janta.
— Quanto tempo eu dormi? Quem é você? Onde está Nayeon? — perguntei, confusa.
— Graças a você, Nayeon está no porão, refletindo sobre o fato de ter deixado você sair desse quarto. Ela é tão fraca que não consegue resistir a ninguém. Não sei como consegue matar — respondeu, fechando o livro e me encarando. — Se você não tivesse fugido, Im Nayeon estaria aqui no meu lugar. A propósito, meu nome é Yoo Jeongyeon.
— Nayeon está presa? Aquela bruxa não fez nada com ela, fez? — levantei-me, agitada, tentando não pensar no pior.
— Nayeon está bem. A senhorita Manobal só a colocou lá pra refletir sobre os próprios erros — disse, levantando-se e caminhando lentamente até mim, com as mãos nos bolsos. — Na verdade, quem deveria estar lá é você, Kim Jennie. A única coisa que conseguiu ao sair desse quarto foi colocar Nayeon naquele lugar imundo. E tudo isso por causa de um homem — zombou, com um tom de desaprovação.
— Eu não tenho culpa disso. Tenho certeza de que, se fosse o seu namorado, você faria o mesmo.
— Eu sou lésbica. E posso te garantir que, a única mulher por quem eu arriscaria minha vida, jamais cometeria a burrice de me procurar na máfia mais perigosa da Coreia do Sul. Até porque, ela já trabalha nessa máfia — disse, afastando-se.
Não era possível que a única pessoa gentil naquele lugar fosse Nayeon. Todos ali tinham a mesma aura sombria de Lalisa. Na verdade, a aura de Lalisa era a pior de todas. Sempre que eu me aproximava dela, sentia uma vontade incontrolável de acabar com minha vida bem diante de seus olhos.
— Vai lavar esse rosto. Está cheio de remela — falou, caminhando até a porta. — Vou buscar seu café da tarde, madame — zombou, antes de sair.
Envergonhada com seu comentário, corri para o banheiro para escovar os dentes e lavar o rosto, já que todos os meus produtos de skincare ficaram na minha casa.
Que ódio daquela mulher!
Ontem, quando vi meu namorado morrer em meus braços, doeu mais do que uma facada. Era certo que ele era o único que me amava, o único que estava sempre lá quando eu precisava. Taehyung sempre aparecia com um buquê de flores para me animar quando eu estava triste. Às vezes, até me comprava presentes caros para me fazer sorrir. E nunca me forçou a fazer nada que eu não quisesse. Ele sempre perguntava se eu estava confortável com seu toque, suas carícias.
Enquanto me olhava no espelho, as lágrimas começaram a escorrer. Como pode uma mulher ser tão cruel e sem coração? Ela matou uma pessoa inocente, uma pessoa que nunca faria mal nem a uma barata. Espero não vê-la tão cedo, porque não sei o que faria com aquele rostinho psicopata.
Depois de terminar minha higiene, voltei ao quarto e abri a cortina. A chuva já havia passado, mas o clima continuava fresco e nublado. Bom, estávamos no outono, não tinha muito o que fazer. Uma época chuvosa e seca.
Olhei ao redor e percebi que minhas malas estavam ali. Curiosa, caminhei até elas, franzindo o cenho.
Quem trouxe minhas coisas? Invadiram minha casa? Como souberam a senha e passaram pelos seguranças do prédio?
Abri ambas as malas e me deparei com todas as minhas roupas organizadas. Reparando melhor, foquei o olhar em um porta-retrato com minha irmã Jisoo. Agachei-me e peguei-o lentamente, sentindo as lágrimas encherem meus olhos. Quem quer que tenha pego minhas coisas, eu só podia agradecer. Pensava que apenas Nayeon era sensata e educada nessa máfia, mas talvez houvesse mais alguém.
— Voltei, madame — disse Jeongyeon, entrando no quarto de repente.
Assustei-me e levantei-me com o porta-retrato nas mãos.
As lágrimas estavam ali, ameaçando cair, mas me recusei. Eu não iria chorar de novo.
— Quem trouxe minhas coisas? — perguntei, tentando manter a voz firme, embora o nó na garganta tornasse isso quase impossível. Meu olhar caiu sobre Jeongyeon, esperando uma resposta.
Antes que ela pudesse sequer abrir a boca, a porta do quarto se abriu. O som ecoou pelo quarto, fazendo o meu coração pular uma batida. Eu não precisei olhar para saber quem era.
Ela.
Lalisa Manobal, a mulher que fez da minha vida um inferno desde o momento em que cruzei seu caminho. Seus passos eram lentos e calculados, como se ela estivesse em completo controle de tudo, de mim, da situação. E, por algum motivo, eu não conseguia respirar.
O ódio me consumia, mas o medo também. A cada dia que passava, menos eu conseguia esconder o meu medo dela.
— Fui eu — a voz dela cortou o ar como uma lâmina afiada. Não havia hesitação, não havia qualquer emoção que eu pudesse reconhecer como humana. — Yoo Jeongyeon, pode se retirar.
Jeongyeon assentiu, deixando a bandeja com comida na mesa escrivaninha e se retirou do quarto.
Ela entrou no quarto como se fosse dona do lugar, o que, tecnicamente, era. O preto do seu traje, a frieza do seu olhar... tudo nela exalava perigo, como se eu estivesse na presença de algo que poderia me destruir com um simples estalar de dedos — ela podia realmente fazer isso.
Eu senti meu corpo congelar, o ódio queimando minhas veias. Eu apertava o porta-retrato com tanta força que podia sentir o vidro prestes a ceder.
— Por que você... — Minha voz saiu mais fraca do que eu queria, cheia de raiva, mas também de medo. — Por que trouxe minhas coisas? O que você quer de mim agora?
Ela sorriu. Não era um sorriso de verdade, era um esboço cruel, sem vida, como se estivesse se divertindo com o meu sofrimento.
— Eu queria que você se sentisse... confortável — ela disse, e o sarcasmo em sua voz era sufocante. — Você não está em uma situação fácil, então achei que um pouco de familiaridade poderia ajudar. Afinal, você vai ficar aqui por um bom tempo.
O ódio que eu sentia por ela era tão grande que me sufocava. A mulher que tirou o Taehyung de mim... que arrancou o único raio de luz que eu tinha. E agora ela queria que eu fosse grata?
— Você matou o meu namorado — minha voz saiu mais baixa do que eu esperava, cheia de dor e raiva. — E agora quer me manter aqui como sua prisioneira? Como se eu fosse sua... propriedade?
Lisa apenas ergueu uma sobrancelha, como se o que eu dissesse fosse irrelevante.
— Ele estava no caminho — ela deu de ombros, como se estivesse falando de um objeto qualquer. — Era um risco.
Eu senti algo dentro de mim se partir de novo, o mesmo som surdo de perda que ecoava desde o momento em que vi o corpo de Taehyung no chão, sem vida. Ela não se importava. Não se importava com nada. Nem comigo, nem com ele.
— Eu nunca vou te obedecer — minha voz saiu mais forte dessa vez, cheia de ódio, de promessas que eu faria de tudo para cumprir.
Ela me olhou com aquele sorriso frio, como se estivesse se divertindo.
— Veremos — disse ela, virando-se para sair, mas não sem antes lançar uma última ameaça. — Ah, e Jennie... — Ela parou à porta, o tom casual demais para o peso das palavras que saíam da sua boca. — Não pense em fugir de novo. Da próxima vez, eu não vou ser tão misericordiosa.
Ela saiu, deixando a porta aberta, e eu fiquei ali, presa no meu próprio ódio. O porta-retrato de Jisoo e eu juntas ainda estava nas minhas mãos, mas agora... agora eu só conseguia pensar em como eu queria ver Lalisa sofrer como ela me fez sofrer.
Lalisa Manobal não tinha coração. E eu odiava essa mulher com todas as minhas forças.
Eu não podia deixar aquilo passar. Não depois de tudo. O ódio me consumia a cada segundo que a imagem de Lalisa saía do quarto, como se tivesse vencido. Como se ela tivesse algum tipo de poder sobre mim.
Joguei o porta-retrato na cama e saí atrás dela, o coração martelando no peito, minhas mãos tremendo de tanta raiva. Minhas pernas mal respondiam, mas eu sabia que precisava fazer aquilo. Precisava enfrentá-la. Não iria me calar. Não para ela.
— Lalisa! — gritei. Eu a alcancei na metade do caminho. Ela parou, como se soubesse que eu iria atrás. Virou-se devagar, me olhando com aqueles olhos frios. — Você acha que tem o direito de decidir sobre a minha vida? Sobre o que eu devo fazer ou sentir?
Ela não disse nada, apenas me olhou. Aquele olhar vazio e distante que só me enchia de mais raiva. Eu me aproximei, o ar se tornando quase insuportável entre nós. O peito subia e descia enquanto eu tentava controlar as lágrimas de frustração que ameaçavam cair. Mas eu não deixaria elas escorrerem em frente à ela.
— Você transformou minha vida em um inferno! Matou o meu namorado sem motivos — gritei. — Você acha que pode fazer isso e sair ilesa? Que pode continuar agindo como se eu fosse um objeto, como se a minha dor não fosse nada?
Ela permaneceu parada com as mãos nos bolsos, como se a minha raiva fosse algo insignificante para ela. Como se eu fosse uma criança fazendo birra. E isso me queimava por dentro. Como alguém podia ser tão... desumana?
Finalmente, Lalisa respirou fundo, sua expressão sem qualquer traço de emoção, e falou devagar, com aquela voz fria e calculada que eu já estava começando a odiar com toda a minha alma.
— Eu matei o Taehyung porque ele era fraco — ela disse, suas palavras cortando como facas. — E sabe o que é pior? No fundo, você sabe que ele nunca seria o suficiente pra te proteger. Você correria pra ele, e ele te deixaria morrer, porque ele não aguentaria o peso de carregar você. E é isso que te assombra, não é? A verdade.
As palavras dela ecoavam na minha cabeça. Eu queria gritar, queria retrucar, mas não conseguia. Algo dentro de mim se despedaçou de novo. A ferida que eu tentava esconder abriu, sangrando diante dela.
— Você sabe que eu estou certa — continuou, sem um pingo de compaixão. — Você está sozinha, Jennie. Ninguém vai te salvar. Ninguém vai lutar por você como você quer. O Taehyung não está mais aqui. Só restou você, e sua incapacidade de aceitar isso.
As lágrimas começaram a escorrer sem que eu pudesse controlar. Eu queria falar algo, qualquer coisa, mas as palavras não saíam. Minha garganta apertava, e tudo que eu conseguia sentir era o vazio. Um buraco que Lalisa cavava cada vez mais fundo dentro de mim.
Ela me olhou por um segundo a mais, observando o impacto do que havia dito.
— Você tem sorte que eu ainda não perdi a paciência com sua teimosia. É melhor parar de tentar me retrucar, tentar fugir, tentar achar que pode me vencer. Se eu me estressar, sua vida vai ser a próxima que eu vou tirar — afirmou.
Então, virou-se de novo, como se nada tivesse acontecido, e foi embora, me deixando sozinha no corredor.
Eu caí de joelhos, as lágrimas finalmente desmoronando, e, pela primeira vez desde que fui trazida para aquele inferno, me senti verdadeiramente derrotada.
— Você é muito idiota, garota! — escutei a voz de Jeongyeon, logo sentindo ela me levantar. — Agradeça que ainda está viva. Lalisa pode te torturar até a morte se ela perder a paciência. Pare de agir como uma criança birrenta — falou, me levando até meu quarto.
Eu apenas escutei, calada. Meu maior desejo era morrer. Viver nessa vida está sendo torturante demais.
Bom dia!!!
Tão gostando até aqui?
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