Clary Narrando

Abro os olhos com certa dificuldade.
Escuto o barulho irritante de uma máquina e devido à tanto branco deduzo que eu esteja em um hospital.
Minha cabeça dói de uma forma incrível.
Levanto uma das mãos e percebo que ainda estou tomando soro. Decido levantar a outra.
Quando vou passar a mãos em meus cabelos percebo que tem uma faixa em minha cabeça e e o flashback do tiroteio vem à tona.
Primeira coisa que penso é em meus filhos.
Me pergunto se eles estão bem e se Robson também está.
Um desespero começa a surgir em mim.
-Bom dia, que bom que acordou. -Uma voz feminina fala. Estava tão distraída que não notei a mulher na faixa dos 40 anos adentrando o quarto. Ela esta segurando uma bandeja com um copo d'água, um suco e um prato de sopa. -Como eu já imagina que iria acordar após 5 horas dormindo devido à cirurgia eu trouxe água e uma sopa. -Fala ela de forma calma e deposita a bandeja sobre uma mesa próxima da maca em que estou deitada. 
-Preciso ir embora. -Afirmo e tento me levantar, mas a mulher me impede.
-Não faça isso, ainda tem que ficar de repouso. -Fala ela me fitando com seus olhos preocupados.
-Eu preciso ver como meus filhos estão. -Falo para ela a olhando nos olhos para que ela veja minha angústia.
-Calma, seu marido dormiu aqui e seus filhos acabaram de chegar com uma senhora para ver como estava. -Fala ela tentando me acalmar e sorri de forma sincera. Suas palavras me acalmaram de uma certa forma. -Posso falar algo? -Pergunta ela e me sento na cama com certa dificuldade.
-Sim. -Falo enquanto ela coloca os travesseiros em minha costa de um jeito confortável, mas com cuidado.
-Você tem um ótimo marido. -Fala ela e a olho sem entender. -Ele não saiu do seu lado nenhum instante depois da cirurgia, só agora pouco que depois de eu quase ter batido nele para ele ir jogar uma água no rosto e comer algo. -Diz ela e pega a bandeja e a coloca de um jeito para que eu possa comer a sopa. Sorrio ao saber que Robson não saiu de perto de mim. -Você tem uma linda família, e aposto que deve estar ansiosa para ter mais um filho. -Afirma ela.
Ainda bem que não comecei a toma a sopa pois certamente teria engasgado.
Estou grávida? Será que ouvi direito?
A olho surpresa.
-Estou gravida? -Pergunto num sussurro um pouco surpresa.
-Sim, de poucas semanas. -Responde ela. -Ainda bem que a bala que te atingiu na barriga não perfurou a placenta, mas a bala chegou perto e ficou alojada. -Explica ela.
-Meu marido sabe? -Pergunto me referindo a Robson.
-Sim, ele também ficou surpreso igual a você. -Fala ela de forma doce e sorri. -Imagina se vier gêmeos novamente. -Diz ela parecendo alegre como se me conhecesse a tempos.
Respiro fundo e sorrio para ela.
Nossa, estou grávida de Robson. Não que isso seja uma coisa ruim, não tenho dúvida que Robson será um bom pai assim como ele é com Pedro e Heitor, minha única preocupação é de como Pedro e Heitor vão reagir ao saberem da notícia.

Após a enfermeira simpática me fazer comer a sopa e beber água e suco ela se retirou do quarto.
Nesse momento aguardo ansiosamente para ver meus filhos e Robson.
Vejo Robson passar pela porta com Pedro e Heitor ao seu lado.
-Mamãe. -Escuto Pedro e Heitor falando juntos e os dois correm até mim.
Os dois me abraçam com cuidado, mas mesmo com um pouco de desconforto com a dor que estou sentindo os abraços de volta e sorrio alegre em vê-los.
Uma alegria sem explicação me invade em saber que não morri e que estou com meus filhos em meus braços e mais um a caminho em meu ventre.
-Ainda bem que acordou. -Robson fala e se aproxima. Ele deposita um beijo em minha testa e se afasta apenas o suficiente.
Reparo um pouco nele. Ele esta com uma camisa branca social um pouco amassada e suas olheiras sobre os olhos deixam evidente que ele não dormiu muito. Mesmo com o semblante de cansaço ele continua lindo. O olho por um instante me lembrando da gravidez.
-Mamãe quando você volta para casa? -Pedro pergunta me olhando.
-Em breve filho. -Respondo sem saber quando poderei estar em casa.
-Vê se não demora porque você e o pai só ficam aqui e não gosto daqui. -Heitor fala deixando claro que não gosta de hospital.
Apenas rio com Robson.
Decido que agora não é momento para Pedro e Heitor saberem que terão mais um irmão.