Todos os dias ao ir para o meu trabalho, via um senhor no primeiro degrau de uma escadaria ao lado de uma lanchonete. Sempre prestei a dar algumas moedas que ele prometia a todos que era para o seu sustento. Sabia lá no fundo que algo dentro das palavras daquela pobre criatura que ensaiava a ser humana poderiam ser mentiras lavadas e tudo bem.

E as unhas grandes em destaque soltavam na minha visão. Era tolerável que estivessem sujas, mas a cada dia que passava ficavam cada vez mais escuras e terrivelmente nojentas. Arqueando o meu campo de visão e por momentos sendo terrivelmente grotesco o crescimento daquelas unhas.

Um dia, com o meu namorado, observei a escadaria e ali estava o homem que estendia as mãos. Com ambas sujas e as unhas podres à mostra. Eu relutei, mas peguei as moedas e joguei em direção ao senhor. Que agradeceu.

- Carlos, você está ficando maluco?

- Por quê?

- Você está literalmente jogando dinheiro fora.

- Mas o pobre senhor precisa beber a pinguinha para se aquecer nesse frio.

- Que senhor? Isso se ele vir as moedas que você acabou de jogar no chão.

- Mas eu entreguei nas mãos dele!

- Carlos. Não havia ninguém na escada.

E ao olhar eu percebi que de fato, aquele senhor não estava mais ali.