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VELÓRIO





O Mundo é antigo.

E, bem antes de toda essa multidão espalhada pelo globo pisando uns aos outros, roubando, estuprando e matando, já havia as Artes Arcanas.

Por quem foram ensinadas? Nunca saberemos.

Ao menos não nós, os ditos profanos.

Os manipuladores das Grandes Artes, estes sim conhecem os segredos, não todos, mas uma boa porcentagem deles. O suficiente para escolher entre ajudar a quem precisa ou explorar quem não possui conhecimento e vive a escassez da vida dura e difícil.

Antes de toda essa tecnologia e destes médicos e doutores da palavra, as pessoas só podiam recorrer aos bruxos, parteiras e benzedeiras, que existiam em grande número e possuíam grande talento.

Mesmo naquela época, já existiam aqueles que se utilizavam de seus conhecimentos mágicos para a prática do mal.

Sacrifícios de animais e até de humanos eram consagrados a deuses e demônios, tão antigos como os passos que O Criador deu sobre o Grande Abismo amorfo e sem vida.

Eles já viviam, quando Ele disse "Faça-se a Luz!".

                                                                         [...]

O ano em que tudo isso ocorreu ninguém sabe dizer, muito menos ela a quem os anos encheram de afazeres e outras responsabilidades mais vitais.

Manter em sua mente memórias intactas de uma época de sofrimento e luta pela sobrevivência era tarefa difícil.

Mas ali, enquanto se embala em sua rede, a velha senhora sã e no vigor de suas faculdades mentais, recorda coisas que lhe foram repassadas por seus parentes ao longo dos anos.

Do lado oposto, embalando-se de forma sutil e envolto no silêncio, me preparei na minha rede confortável.

Os ouvidos estavam prontos para o primeiro relato da noite, assim como a mente sempre esteve aberta ao Oculto.

Então, depois de uma risada gostosa que só ela conseguia oferecer, Madá se pôs a contar sobre o bruxo do Nordeste...

João Penumbra era bem conhecido em seu povoado, mas a fama aumentou e se espalhou apenas quando aquilo aconteceu em seu velório.

Por toda sua vida o velho João foi visitado por inúmeros homens ricos e políticos, cujas roupas caras, se revendidas, alimentariam três famílias inteiras.

Eram fazendeiros, políticos, doutores da Lei, Padres e até Caciques, sem contar os inúmeros aprendizes de magias obscuras que o procuravam no meio daquele sertão.

A chuva era a única capaz de ousar desafiá-lo, pois, apesar das inúmeras mandingas feitas por Penumbra, nenhuma única vez aquele povo sofrido soube o que foi um pingo de chuva.

E era disso que ele tirava proveito.

Assassinou cruelmente grande parte dos seguidores do candomblé, umbandistas e benzedeiras da região, alegando ser a única forma de trazer a chuva para lá.

Exterminou boa parte das parteiras e, as poucas que deixou viver, viviam sob seu jeito violento e explorador.

Estava velho, mas ainda assim, prosseguia com suas maldades.

Os anos se passaram e o progresso insistiu em se aproximar.

O velho João, no auge de seus 70 anos, pressentia o seu fim chegar na própria sombra, trazendo consigo todos os males e o terror que o acompanhavam desde sua entrada no Mundo Arcano.

A doença tentava aos poucos lhe possuir, traiçoeira como uma cobra, nociva como uma picada em um tornozelo desprotegido.

Os políticos e homens ricos já não o visitavam mais. O medo e a repulsa ao verem o sangue assassino, expelido a cada tossir de seus pulmões enfraquecidos, era avassalador e os mantinha à distância.

Todos riam e se perguntavam o motivo do velho bruxo, antes temido e poderoso, não conseguir curar a si mesmo.

Justo ele, que sacrificou tantos bebês e jovens virgens, que eliminou rivais em consagração aos deuses ancestrais não obtinha o próprio livramento.

O famoso João Penumbra, o velho que só vestia ternos brancos, caminhou pela cidade uma última vez com seu galo de estimação sob o braço esquerdo, semanas antes de sua morte... semanas antes de seu tenebroso velório...

Não se sabe ao certo, mas o que diziam é que o velho João Penumbra ajeitou seu chapéu caro na cabeça e, de frente para o abatedouro do povoado, se ajoelhou.

Berrou palavras em uma língua estranha e, com uma faca oculta dentro de sua bota, degolou seu galo.

O sangue da ave escorreu para o chão de terra batida e, como se possuído por vida própria, seguiu caminho para o abatedouro, deixando um rastro viscoso misturado ao barro.

Lá dentro, os crânios dos bois pendurados em ganchos enferrujados colidiam entre eles, emitindo o som de ossos se espatifando.

Os moradores se reuniram, alguns estavam possuídos pelo medo, outros viram ali uma grande oportunidade.

O velho estava fraco, parecia conversar à distância com um dos crânios bovinos.

Sentindo-se vitimados por aquele homem ganancioso e sem escrúpulos e motivados pela cegueira, ganância, fanatismo religioso e ignorância tão determinante daqueles tempos, se armaram até os dentes.

Por vingança aos seus filhos que foram mortos ou apenas para aliviar a consciência por terem sacrificado sua própria semente, avançaram contra o velho João.

A conversa íntima com seu deus devorador de almas inocentes foi interrompida.

Foices, facas e facões dilaceravam e furavam.

As parteiras, as mesmas que um dia o falecido caçou, se reuniram e, com ajuda de algumas pessoas de bom coração, levaram o cadáver de velho Bruxo para ter ao menos um velório e um enterro digno.

A notícia de sua morte se espalhou como folhas secas ao vento.

A noite avançou lenta, fria e tenebrosa.

O que mais se ouvia era relinches de cavalos e os fracos mugidos dos bois a puxar seus donos, em carroças pesadas e antigas.

Todos os povoados foram avisados da morte de Penumbra e, tanto seus simpatizantes como os que o odiavam, se reuniram em seu Grande Terreiro; o lugar que antes era visitado por tanta gente conhecida e de influência. Essas pessoas não compareceram, o respeito humano estava apenas nos olhos de quem ele tanto maltratou.

Ao som das Caixeiras e das rezadeiras, multidões chegavam, cada qual com sua vela na mão, guiados apenas pela luz lunar e o brilho das estrelas.

No salão onde o velho caixão de madeira estava, lamparinas e velas reinavam absolutas, iluminando a face de todos que ali se reuniram pra velar João Penumbra.

Assim que se preparavam para dar início ao Pai Nosso ouviu-se um grande som de bater de asas.

A luz das velas oscilou e, com a ajuda da forte luz das lamparinas, lançaram inúmeras sombras disformes nas paredes... algumas pareciam humanas, outras nada além de borrões que caminhavam por entre as rachaduras do chão de barro.

As velas se apagaram uma a uma e algumas das senhoras que faziam as orações se abraçaram e rezaram ainda mais forte, com seus terços de madeira nas mãos calejadas pelo trabalho na roça.

Os homens correram para fora, empunhando seus facões e facas amoladas com o veneno das bananeiras.

O morto se mexeu.

Quem estava dentro da casa correu, gritando por um perdão divino que não chegou a tempo.

As Sombras escondidas nas próprias sombras se avolumaram.

Lá fora, homens e mulheres viam seres enormes rasgarem o telhado com suas garras e asas de espinho.

Ninguém permaneceu ali dentro, apenas reinava sozinha sua última morada de madeira.

As sombras o retiraram do caixão, enquanto as feras aladas adentravam pelo telhado já destruído pela fúria infernal.

O velho bruxo foi torturado, gritava enlouquecido, enquanto as pessoas apenas espremiam os olhos tentando enxergar e entender o que acontecia naquela escuridão.

O sangue lambia o terno branco do velho.

Sangue fresco de gente viva, como se ele ainda pisasse sobre a terra como todos nós.

Criaturas aladas como urubus em busca de carniça o bicaram inúmeras vezes até uma delas enfiar um par de longas garras em seus ombros e o içar pelo ar.

Ele berrou, chorou e gritou pedindo perdão, mas as súplicas foram engolidas pelo escuro da noite.

"Durmiu Wan?" — Madalena queria saber se seu ouvinte fiel ainda estava de prontidão. Só a respondi após perceber que ela já estrangulava uma de suas gargalhadas nada sutis, mas que alegrava todo o ambiente.

"Não Vó... apenas refletindo" — Menti.

Não podia me prejudicar, mostrando-me como um covarde.

Eu queria saber mais, afinal, a madrugada só começava.

"E ele vó?"

"O que tem?" — perguntou ela, fingindo um bocejo.

"Nunca encontraram o corpo?"

Alguns segundos em silêncio e ela respondeu, finalizando a história...

"Dias depois do velório que até hoje assombra aquele povoado perdido nas entranhas do Nordeste, alguns pescadores encontraram em uma poça d'água um homem velho, vestindo um terno branco todo sujo de sangue. Quem o olhava, poderia jurar que apenas dormia, mas ao ver mais atentamente, notaria inúmeros ferimentos em seu corpo, além da ausência de suas mãos.

Esse é o destino de quem usa as Artes, meu filho. Seja pro bem ou pro mal."

"Mas Vó..."

Ela para de se embalar na rede e fingi roncar, sinalizando que a noite de contos não seria tão extensa como imaginei.

Cesso os embalos também e, estremecendo, me cubro com meu lençol... estava angustiado, com medo e ainda mais curioso.

Fito a escuridão, rasgada apenas pela fraca luz do poste próximo à casa da Tia Marta, na cidade de Teresina, onde passávamos as férias.

Fecho meus olhos e tento imaginar o quão horrendas seriam aquelas criaturas aladas... as sombras vivas...

"Wan?"

"Sim vó?"

"Para de pensar besteira e te bota pra dormir... amanhã tem mais história."

"Certo." — Digo, com uma alegria quase palpável. "Bença, Vó!"

"Deus te cubra de felicidades! Agora dorme. Amanhã vamos ver a estátua do Cabeça de Cuia. E é longe o lugar..."

E assim fiz.

Nunca fui uma pessoa muito obediente, mas aquela ordem eu cumpri perfeitamente.

Dormi... pensando em João Penumbra.

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