Capítulo 2 - Sentimentos Estranhos
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Enquanto Chris se preparava para a festa de Halloween, ele se olhava no espelho do quarto, ajustando sua aparência para mais uma noite de festas. Na sua irmandade, eram dois dias consecutivos para a comemoração do Halloween: dias 30 e 31. Após uma semana, havia a celebração do Dia dos Mortos. Durante esse período, os alunos entravam em recesso.
A garota misteriosa tinha encontrado um lugar na mente de Chris. Foi tudo o que ele pensou o dia inteiro. Agora, seu amigo não precisaria influenciá-lo a ir à festa, pois ele estava animado por conta própria. Enquanto se arrumava, ele ponderava sobre como faria para que a garota revelasse seu nome.
A televisão ao fundo estava ligada, transmitindo uma notícia séria. A âncora do telejornal anunciava:
"Hoje marca o aniversário de um ano, desde o trágico assassinato de uma estudante na irmandade "Colina da Lua Prateada"da Universidade Westbury."
Imagens mostravam velas acesas e um memorial improvisado em frente ao prédio da irmandade.
Chris ouviu a notícia com um leve interesse, mas sua mente estava ocupada com outros pensamentos. Ele ignorou a reportagem, focando na imagem refletida no espelho à sua frente. Ajeitou a gravata, pois queria parecer um verdadeiro cavalheiro, e depois penteou o cabelo com um gel especial.
Nesse momento, PD, seu colega de quarto, entrou no quarto e, percebendo a distração de Chris, desligou a televisão abruptamente.
— Olha só quem está se arrumando agora, hein? Nem precisei te convencer a ir...
Chris dá um riso mínimo.
— Foi alguma garota que te fez mudar de ideia, não? — PD perguntou.
— Talvez... — ele respondeu, fazendo bico enquanto arrumava os botões de seu smoking. — Como estou?
— Acho que parece um boiola... — PD brincou. — Não, tô zuando. Tá legal. Mas tá de quê?
— James Bond... — ele respondeu, com um pouco de receio. — Parece com ele, não?
— Tirando a cara, sim.
Chris ri. — Vai se fuder. E você, tá de quê?
— Olha direito, cego. — ele estendeu os braços e deu meia-volta. — Pareço com o quê pra você?
Chris tentou responder de maneira séria, mas não queria perder a oportunidade da piada. — Uma bicha. — ele respondeu, arrancando uma risada de seu amigo. — Não, tá de Han Solo, né? — perguntou, sabendo estar certo.
— Sim. — PD respondeu, risonho. — Está pronto para ver a festa de verdade acontecer? — perguntou, com um sorriso travesso.
Chris assentiu, dando um último ajuste em sua fantasia.
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À medida que Chris e PD se aproximavam da entrada da festa de Halloween, começaram a notar uma presença incomum de viaturas circundando a área. Era algo que poderia ser considerado normal, mas Chris jurava ter visto pelo menos cinco viaturas passarem em um intervalo de apenas dois minutos. Quando finalmente estacionaram, notaram um carro de polícia destacado no estacionamento.
— Caramba, quantos policiais estão por aqui! — comentou Chris, observando as viaturas.
— É... — concordou seu amigo. — Parece que estão só esperando para ver qual será a próxima confusão... — ironizou, com um tom de desdém.
Chris franziu o cenho, seguindo o amigo impaciente enquanto ele avançava rapidamente. Caminharam em direção à grande escadaria, cuja iluminação estava inteiramente a cargo de velas. O ambiente ao redor começava a escurecer gradualmente, como se as luzes estivessem sendo apagadas uma a uma, deixando as velas como o único guia pelo caminho.
Próximo à entrada, uma fila se formava com várias pessoas aguardando para entrar. Uma professora do campus segurava uma prancheta e um lápis, controlando a lista de estudantes e convidados.
Parados na fila, Chris e PD observavam ansiosamente. Foi quando Chris notou um pequeno mural de vidro na parede do corredor. Ao redor dele, várias velas estavam dispostas, com bilhetes, cartas e anotações fixadas. Contudo, ele não conseguiu ver claramente de onde estava.
Com um sinal de cabeça, Chris perguntou ao amigo:
— Ei, o que você acha que está naquele mural?
PD parou por um momento, sua expressão se tornando séria.
— É um memorial — respondeu ele.
Chris franziu o cenho, sem entender imediatamente.
— Um memorial? Para quem?
PD suspirou, relutante em explicar.
— Para uma garota que foi assassinada aqui — explicou ele. — É um tributo que a irmandade fez, agora que completou um ano desde que ela... Morreu. — engoliu em seco.
Chris ficou surpreso e um pouco perturbado com a revelação.
— Você está falando sério?
— Sim, cara. Eu juro! — respondeu PD, visivelmente sério.
— Como assim? — perguntou Chris, incrédulo.
— Pode parecer loucura, mas... O corpo dela foi encontrado no salão — disse PD, com relutância.
À medida que se aproximavam da professora, os dois pararam de conversar, deixando Chris ainda mais ansioso para descobrir mais sobre o que aconteceu.
— Nomes, por favor — a professora Maggie solicitou.
— Chris e Paul.
— Sobrenomes também, por favor.
— Chris Thorne, Paul Delmont.
A professora agradeceu e fez um check ao lado dos nomes.
— Obrigada, entrem por favor.
Enquanto atravessavam a entrada da festa de Halloween, Chris tentou retomar o assunto, mas Paul o cortou abruptamente:
— Chris, o que aconteceu foi difícil para todos nós. Hoje não é o dia para ficar remoendo isso. Vamos aproveitar e celebrar como se fosse nosso último dia na Terra! — Paul lhe deu dois tapas no ombro e se afastou, cumprimentando outros amigos que o chamavam.
Chris o observou se afastar e, por um instante, ficou perdido em pensamentos, com o olhar fixo em algum ponto distante. Avistou Joyce se aproximando mais uma vez, provavelmente para apresentar outra amiga. Suspirou profundamente e decidiu se afastar, adentrando a multidão para evitar a situação.
Ao se afastar, notou a agitação das pessoas com a música que começava a tocar. Ele passou por alguns rapazes animados, empurrando-se uns aos outros para chegar ao centro do salão, sentindo uma certa repulsa pela energia frenética deles.
Foi então que a imagem da garota misteriosa veio à sua mente novamente. Onde estaria ela agora? Desde antes de entrar no salão, Chris não conseguia tirá-la da cabeça, lutando para controlar seus sentimentos. Seus olhos procuravam por ela, e longe de toda a agitação, lá estava.
Com uma expressão um tanto melancólica, a garota misteriosa vestia um enorme vestido branco, solto e leve de cetim que a deixava como um anjo, mas sem as asas. Talvez fosse o mesmo vestido prateado da noite anterior, Chris honestamente não reparou em detalhes como esse. A única coisa que podia ver com nitidez, mesmo à distância, eram seus olhos. Grandes e castanhos claros, pesados por conta da maquiagem, lembravam-lhe das flores do outono.
Ele decidiu se aproximar silenciosamente e surpreendê-la, tocando suas mãos em seus quadris. A garota virou-se com uma expressão de cansaço e não o reconheceu. Chris ficou surpreso e perguntou, um tanto envergonhado:
— Desculpe, você não lembra de mim?
Ela inclinou a cabeça para o lado e respondeu com um tom indiferente: — Deveria?
Por um momento, Chris ponderou sobre sua próxima resposta. Não sabia ao certo se ela estava sendo evasiva ou se realmente não se lembrava.
— Nós nos conhecemos ontem. Sou Chris, lembra? Mas você ainda não me disse seu nome...
— Não precisa. Todos já se esqueceram de mim... — ela murmurou, virando-se para ir embora.
Chris virou-se para acompanhá-la e delicadamente segurou seu braço. — Ei, espere. Você gostaria de dançar comigo?
A garota olhou para ele com um misto de surpresa e melancolia, antes de murmurar um sim. Chris estendeu a mão e ela aceitou, permitindo que ele a conduzisse para uma área mais tranquila, longe da multidão. A próxima música do DJ começou, uma melodia suave e apaixonada para os casais no salão.
Enquanto dançavam suavemente, como se estivessem flutuando em um mar calmo, Chris percebeu a tristeza nos olhos dela.
— Você parece triste... — Chris disse cautelosamente.
Havia lágrimas secas ao redor dos olhos dela, mas Chris não conseguia distinguir se eram reais ou apenas maquiagem.
— Eu sou uma pessoa triste. — ela disse, sem demonstrar sentimentos.
— Talvez eu também seja, mas não costumo mostrar isso para ninguém. O que você quis dizer com "eles me esqueceram"?
Ela suspirou, ponderando sobre sua resposta.
— Às vezes, parece que só as pessoas tristes e solitárias conseguem me ver...
Chris achou estranho, mas respondeu com convicção:
— Pode ser triste e solitária comigo sempre que precisar. — ele disse carinhosamente.
Ela sorriu levemente.
— Me fale por que você é triste. — ela perguntou.
— Acho que meus pais gastaram muito dinheiro para que eu pudesse entrar nesta faculdade, e agora isso foi praticamente o motivo do divórcio deles... — Chris confessou.
— Sinto muito... — ela disse, fitando seus olhos.
— Tudo bem, eu meio que sentia que isso ia acontecer. Mas e você? Por que está triste? — Chris perguntou.
— Eu não estou exatamente triste agora, apenas me sinto sozinha, um pouco incompreendida... — ela franziu o cenho.
Chris gentilmente levantou as mãos da garota, entrelaçando-as por trás de seu pescoço.
— Me conte por que... — ele olhou nos grandes olhos castanhos dela.
— Porque eu sinto que não existo mais. — ela confessou, com os olhos marejados.
Chris ficou surpreso com a sinceridade dela. Por um momento, ponderou sobre o que dizer, mas falou com honestidade:
— Você existe para mim. Aqui e agora, você existe para mim. — ele afirmou.
Instintivamente, ela se deixou levar pelo ritmo da música e pela proximidade de Chris. Seus corpos se aproximaram até que seus lábios se encontrassem num beijo delicado. O calor do momento e a intensidade emocional fizeram as luzes da festa lampejarem ao redor deles, criando uma atmosfera única de conexão, e ao mesmo tempo, mistério.
De repente, a energia do salão caiu, e tudo ficou escuro. Chris podia senti-la nos seus braços, seus lábios, sua alma. Era um beijo que parecia completar toda a dor de dois seres incompreendidos e exilados, finalmente encontrando suas almas gêmeas.
Entretanto, como num passe de mágica, as luzes se acenderam novamente, e ele sentiu aquele beijo se esvair. A garota misteriosa que beijava desapareceu como o vento.
Ele sentiu-se confuso, triste e com saudades, mesmo que aquilo fosse completamente novo para ele. Não conseguia explicar, mas era como se a garota tivesse levado uma parte de si consigo. Desejaria poder entregar todo o seu ser só para ter outro beijo daqueles.
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