b-side de "como o sol" (capítulos 15 e 16 da obra "sol").

Dedicado a SharleneMelo LarissaSantos854134 e Mylle_s

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Música: lágrimas // Baco Exu do Blues, Gal Costa

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incêndios

"Tristezas são belezas apagadas pelo sofrimento
Belezas são coisas acesas por dentro"
(Lágrimas Negras, Gal Costa)

São três da manhã e eu não quero ir para casa. As caixas de som tocam algo que faz par com o meu humor melancólico e eu leio mais do que deveria entre as batidas, já que entendo pouco do que a cantora declama em inglês. Talvez ela saiba melhor do que eu sobre o medo de encarar aqueles olhos escuros, a aflição contida nas faíscas que queimam contra a luz da cozinha de madrugada, os passos silenciosos pelo piso de mármore. Todos os contrastes escondem as perguntas que não queremos responder. E sei que não estou só nas incertezas que assombram o meu sono.

Será que é...? A pergunta morre no silêncio da sala ampla, nem mesmo em pensamento tenho coragem para completar, muito menos responder. Ainda assim, as três letras que se descolam do teto do estúdio caem sobre o meu rosto. Em uma resposta involuntária, me viro de lado para me proteger de algo que não vai cair sobre mim, pois já habita nos meus sentidos há algum tempo. É difícil medir quando, onde ou por qual razão os traços do seu rosto são capazes de me despertar isso, essa inquietude e irritação que engulo com um copo d'água quando nos cruzamos de forma não premeditada de madrugada, quando tudo que esperava encontrar era o silêncio, mas lá estava ela e seu sono perturbado pelas mesmas questões que atrapalham o meu.

Ela também não diz nada e nem precisaria, só pelo movimentar das suas sobrancelhas poderia atear fogo na mobília, nos armários de parede, na mesa de madeira maciça, nos bancos coloridos, alastrando até os eletrodomésticos e então já era. E não estou falando só dos estragos que acometeriam a rede elétrica, falo sobre nós. 

Ela é um incêndio e não sabe disso. Não faz ideia do fogo que emana dos seus olhos, das coisas que (não) diz, descrevendo um aviso de despejo com os olhos, enquanto, com o maxilar cerrado e sem nunca elaborar uma frase, ela se prepara para dizer, como se escolhesse as palavras, todas as erradas, sabendo como as receberei. Ela cria qualquer coisa, entre lábios e língua desenha o meu nome e o adeus como se não tivesse com tanto medo, quanto eu, de não ser capaz de conter o incêndio que começamos juntos. 

Pego meu telefone, jogado ao lado do meu corpo, e me levanto com preguiça. Meu corpo está dolorido e sinto que não deveria ter ficado tanto tempo no chão frio. Mais gelado é a indiferença que constato na tela brilhosa que não exibe o seu nome, nem uma simples mensagem, ela havia desistido de esperar e talvez assim seja melhor, também já não espero muito de mim. Desligo o som e tranco a sala, decidido a quebrar o silêncio da madrugada ao recolher as três letras caídas sobre o chão,

f i m.

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continua...

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hello amores!

Espero não ter assutado ninguém com as postagens relâmpago. Que saudadeeeee! Achei uns textos escritos aqui e decidi que era hora deles serem soltos no mundão. Espero que tenham gostado. Até a parte II :)

Beijos da Maria ❤️