Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Fogovivo: Parte III - Explodindo a bomba

Uma buzina tocou e Lucio levantou-se me puxando pela mão. O menino animado gritou um tchau para a mãe. Eu e ele estávamos bem vestidos. Passamos a tarde inteira nos ajeitando. Marielle estava logo em frente à casa, encostada na porta do passageiro do carro, uma BMW preta. Um carro sport de duas portas. Estava linda, toda arrumada. Antes de chegar próximo ao veículo senti o perfume dela. O banco estava afastado permitindo a entrada na parte de trás. Lucio entrou e eu mesmo contrariado entrei na parte de trás também. Nossos olhares se cruzaram e ela desviou os olhos, acho que apressada. Marielle entrou e fechou a porta.

"Bernardo, este es mi amigo Jonas."

Jonas se virou e apertamos as mãos, me pareceu simpático. Era bem apessoado e tinha um cavanhaque bem delineado.

A cidade estava agitada, bêbados dançavam nas ruas e todos os bares e boates que passamos estavam lotados. Entramos em uma avenida larga e iluminada, onde o trânsito estava engarrafado. Lucio quebrou o silêncio dizendo que era a avenida dos melhores shoppings, bares e boates. A garotada adorava andar por ali conhecendo todos os locais. Jonas entrou no estacionamento de um shopping.

Era um lugar gigantesco, com lojas e restaurantes por todo lado, parecido com qualquer outro shopping, mas realmente destacava-se em tamanho. Entramos em um restaurante italiano. Pedimos filé à parmegiana. Chegou rápido e saboroso junto com vinho e champanhe. Jonas contou piadas, que não entendi e forcei-me a rir. Marielle e Lucio não conseguiam cessar o riso. A conta veio escandalosa, mas nosso anfitrião do ano novo fez questão de pagar.

Fomos caminhar pelo shopping e não tive coragem de pegar nas mãos de minha namorada, me pareceu estranho. Lucio não parava de falar e contar mil coisas sobre o shopping e a cidade. Uma letargia me atingiu e me distraí olhando aquele povo desconhecido. As roupas eram mais coloridas, a pele em geral mais escura, os corpos mais atarracados e cabelos mais longos do que eu costumava ver no Brasil. Lucio me chamou para ver a roupa de uma vitrine. Olhei em volta e não achei Marielle e Jonas.

"Lucio, donde estan Marielle e Jonas?"

Lucio não me deu ouvidos ficou fixado olhando a vitrine, idolatrando um vestido vermelho. Procurei o casal pela multidão nos corredores, não estavam em lugar nenhum.

Cutuquei Lucio com certa força.

"Donde estan?"

O olhar do garoto era de atordoamento. Lembrou-me uma criança perdida dos pais.

"Yo no sé."

Perambulamos pelo local, não havia um vestígio deles. O menino não largava a minha mão. Senti vergonha de caminhar com um pré-adolescente de mãos dadas comigo no meio de tanta gente. Tive a impressão que todos olhavam torto para nós. Mesmo sem conhecer o lugar eu que direcionava o caminho, a adrenalina me subia. Depois de cruzar os principais corredores parei em frente ao cinema. Painéis de papelão no formato dos atores estavam distribuídos por toda a entrada.

"Lucio, como puede isto estare aconteciiiendo? Ela te dirre alguna coisita? Exlicareto algo para tu? "

"No entendo." Disse cabisbaixo, parecia querer chorar.

Olhei para os cartazes, vi Stallone, Bruce Willys e Mel Gibson, todos ali em papelão, pendendo com a brisa do ar condicionado. Gotas de suor cruzaram minha fronte. Esfreguei o rosto tentando me acalmar. Apertei os ombros de Lucio e ele olhou para mim, tinha lágrimas nos olhos.

"O que está acontecendo, caralho?"

Lucio enxugou as lágrimas e tremendo começou a falar.

"Se fueron en un club nocturno. Se preguntó para nosotros tener la diversion. "

"O quê?"

"Usted y yo no podía conseguir el club. Estamos menores de edad."

"Eu sou emancipado. Que merda é essa?"

Um puta choque cultural.

"Una por la mañana vuelven a recogernos."

"Não acredito! Só pode ser brincadeira. Uma da manhã eles voltam. É isso mesmo que usted hablou?"

"Calma! Podemos ir ahora. Llamamos a un taxi."

Senti como se o "fogovivo" que bebi no dia que me apaixonei por Marielle voltasse ao meu corpo. Algo se quebrou e se libertou em mim. Tinha agora fúria e vida. Chutei Stallone com toda força fazendo seu corpo deslizar no piso liso, soquei Bruce Willys com tanta força que quebrei sua sustentação, cuspi na cara de Mel Gibson e o papelão de seus olhos azuis borrou. Olhei para Lucio que havia se afastado vários metros e me aproximei. O garoto encolheu o corpo.

"Não Lucio, nós não vamos pedir um táxi. Nós vamos esperar eles. Onde é o ponto de encontro. Diga onde é a desgraça do ponto de encontro."

"En la entrada del centro comercial."

Faltavam duas horas para o horário. Sentei com Lucio na escadaria do shopping e fiquei a observar o intenso movimento. Minha chama interna estava fervilhando, era uma bomba prestes a explodir.

"Quando eles chegarem você entra no carro primeiro. Entendeu?"

"Sí. Que vais a hacer?"

"Provavelmente alguém vai morrer, só isso."

Cada minuto que se passava era como se mais lenha fosse jogada no meu fogo, mais indignação, injúria, raiva, humilhação e tormentos me enchiam. Sentia ódio de todos que passavam, se tivesse uma metralhadora faria uma chacina. Lucio não conseguia me encarar e parecia não se mover. Deu meia noite e presenciei fogos, pessoas se abraçando, beijos de namorados, carros buzinando, sorrisos por todos os lados.

"Feliz año nuevo."

"Foda-se o ano novo, Lucio. Não existe felicidade nele."

Quando o relógio mostrou que eram uma e trinta e três da madrugada vi uma BMW entrar na avenida, que continuava a ter o trânsito engarrafado. Percebi que Lucio também avistou o carro. Ficamos sentados esperando haver mais proximidade. Havia sangue pressionando as veias dos meus olhos e o retumbar do meu coração me causava enjoo. A BMW parou em fila dupla em frente à escadaria. Marielle desceu e gesticulou agitada para nos apressarmos. Lucio foi na frente. Olhei Marielle e não vi beleza alguma. Cheiro de cerveja e fumaça preenchiam o ar. Lucio entrou. Abaixei-me para entrar no carro olhando firme os olhos dela, vi Jonas ao volante e assim que ele esticou seus lábios, iniciando o que seria um sorriso, minha mão acertou sua bochecha com uma força brutal. A cabeça de Jonas bateu no vidro da porta que trincou. Empurrei Lucio com meu corpo e utilizando um de meus braços enforquei Jonas por de trás do banco, com o outro continuei a socar o rosto do sacana. Era eu que pagava a conta agora. Observei que pessoas começaram a se aglomerar em torno do carro. Marielle estava aos gritos. Lucio chorava descontrolado ao meu lado. Senti Jonas segurando meu braço, cessando os socos, apertei com força o pescoço da vítima até que ele soltasse e continuei a pancadaria. Quando não aguentava mais socar deixei o corpo de Jonas pender e sai do carro. A multidão abriu um corredor. Olhei para Marielle com desprezo e cruzei livre o caminho, ninguém ousou atravessar minha frente.

Caminhei e caminhei. As ruas da cidade estavam vazias e eu com a camisa amarrada na cabeça e uma garrafa em cada mão, catadas dos restos do fim de ano, estava disposto a enfrentar qualquer marginal que me aparecesse. Tinha que voltar para a casa de Marielle, me faltavam documentos e algum dinheiro. Meu plano era trocar minha passagem de volta, adiantar meu retorno. Sabia que a casa ficava próxima a uma antena de telefonia que podia se ver ao longe, segui no rumo dela. Vi no chão luzes piscando de um carro que se aproximava logo atrás. Olhei e vi a BMW preta. Marielle baixou o vidro.

"Bernardo! Fique calmo. Vamos llevar usted a casa."

Pude ver o rosto inchado de Jonas a balançar em sinal de positivo. Contornei o carro e fui até a janela trincada. Jonas abaixou o vidro que quase se desmanchou. Tinha os olhos pacíficos. Veio-me a voz de Gustavo dizendo: "Confia no seu taco, para de se rebaixar. Parece um idiota." Quebrei uma das garrafas sobre o teto do carro, Jonas acelerou. Arremessei a outra garrafa que trincou o vidro traseiro do nobre veículo. Desapareceram na escuridão.

Vi a noite passar, perguntando nomes de ruas e me direcionando. No raiar do sol consegui chegar a casa de Marielle. Estava fechada, mas havia uma cadeira de praia no pequeno jardim de entrada. Deite ali e dormi.

Acordei com som de talheres que vinha de dentro da casa. Levantei-me e bati na porta. O pai dela atendeu, mais carrancudo que o normal. Me olhou e quase cuspindo de nojo me deixou entrar. A família estava toda na mesa tomando café.

"Sienta muchacho." Disse a voz rouca e agressiva do pai.

Sentei sobre olhares acusatórios. O pai bateu forte na mesa.

"Usted puede explicar la porquería que hiciste?"

Percebi que a história que tinham contado não era a minha versão. Pelo olhar da mãe pensei que a polícia poderia entrar e me prender a qualquer momento. Marielle não se atreveu a levantar a cabeça, mas vi que tinha um sorriso no rosto. Lucio tinha os olhos arregalados. Olhei cansado para cada um e para os móveis daquela terrível casa. Eu era o vilão. Violência só podia gerar o pior. Mas não era verdade, não sei explicar. Aquela não era Marielle, era algum demônio. O que eles sabiam sobre mim? Quem eu era para aquela família? Por que ela me convidou se não me amava? Por que ela jogou fora nossos momentos na praia? Seria tudo um sonho? Eu deveria baixar a cabeça e ir embora?

Olhei para Lucio com o sangue fervendo. Gritei para o moleque:

"Lucio, yo quiero la verdad."

O menino me olhou triste e assustado e disse:

"Papá, Marielle es una puta."

Marielle levantou-se indignada e soltou um tapa no irmão, na mesma medida seu pai repetiu o gesto no rosto da filha. Puxou os cabelos loiros da garota chorosa e levou para o quarto onde continuou a estapeá-la. Eu abaixei o rosto sobre a mesa e comecei a rir. A mãe supôs ser um choro descontrolado e veio me consolar. Cessei o riso, levantei, peguei minhas coisas, abracei Lucio e me despedi da mãe. Ainda ouvindo os sopapos do pai na filha me retirei da casa, seguiria para a rodoviária.

Horas e horas de ônibus para voltar ao meu lar, muita reflexão e filosofia amorosa me rondou a viagem inteira. Chegando em casa não havia ninguém, todos estavam na praia, no dia seguinte seguiria para encontrá-los. Fui até meu quarto e procurei o meu velho caderno de anotações, que havia abandonado há anos. Achei caído atrás do meu criado mudo. Abri na frase que escrevera há tempos e que não fazia sentido: "Fogo pode ser amor e ódio, como diferenciar? Acho que pelo material combustível, pela cor das labaredas."

Sentei e chorei.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro