Luz da Noite - 4
Pouco após ter recebido a notícia, me chegou um álbum de fotografias e um jacaré de pelúcia. Ele não era feio e assustador como os de verdade, e tinha olhos exageradamente grandes. Me perguntei por quê, entre todos os animais, me mandaram um jacaré. Iria preferir um leão, sabia que viviam no mesmo continente que eu... mas nunca vi um, já que leões não vivem em selvas. O que sim vi foi um gorila, tão imponente quanto um leão e bem mais assustador também. Mas eu gostava de répteis (gostava de todos os animais) e não importava qual fosse – fiquei feliz com o meu primeiro presente, na verdade, o primeiro bicho de pelúcia que tinha ganho na vida. Quando papai voltava do trabalho, ele raramente me trazia presentes, e quando trazia, eram guloseimas. Quanto ao álbum de fotografias, ele tinha o meu nome na capa. Estava escrito "Para Satsuki". O folheei sendo cada página, cada foto, uma surpresa. Minha nova mãe era bonita e tinha um olhar amável. Incrivelmente, tinha cabelos louros compridos – um tom acima do meu – levemente ondulados e olhos azuis que nem eu. A semelhança física fez com que eu logo me simpatizasse. Meu novo pai também tinha olhos claros, verdes, e cabelos castanhos e um olhar bondoso. Um verdadeiro galã. Meu irmão (não podia dizer novo pois nunca tivera um) herdara o cabelo castanho e os olhos verdes do pai, porém de um tom mais apagado. A primeira foto do álbum era uma foto dos três juntos na frente da casa.
Era a casa mais bonita que eu já tinha visto, não que tivesse visto muitas. Era totalmente diferente de qualquer casa ou construção que eu tivesse visto na África. Cor creme com telhado cinza, tinha duas janelas no andar de cima – deduzi que uma daquelas janelas devia pertencer ao meu futuro quarto. O terraço da frente era bem comprido, com sete colunas, brancas. Os três estavam bem no centro, sobre uma curta escada, também branca. Podia-se ver um pedaço da grama e nossa, como era verde. E reta. As seguintes fotos eram da família praticando, pelo que parecia, suas atividades favoritas. A que mais chamou a minha atenção foi de meu irmão em pé encima de uma prancha flutuante segurando um remo. Aquilo devia ser divertido. Embaixo, estava escrito "Seu irmão vai te ensinar a andar no paddle board". Havia também, uma foto da cidade, escrito "Essa é a cidade que você vai morar". Vendo as fotos, fiquei imaginado minha nova vida e a experiência me animava e assustava ao mesmo tempo. Era tão surreal imaginar que aqueles estranhos das fotos viriam a ser minha nova família. Minha nova mãe, entretanto, era mesmo parecida comigo, portanto teria mais facilidade em fingir que era ela minha mãe biológica, a mãe que nunca tive.
Eu, junto com um pequeno grupo de crianças mais ou menos da minha idade, começamos a ter aulas de etiqueta. Eu nunca havia comido em um prato, segurado um talher ou ousado um guardanapo na minha vida. Nos primeiros dias no orfanato, como não sabia o que fazer com aqueles objetos, continuei comendo como comia na selva. Quando começamos as aulas de etiqueta, entretanto, o meus maus hábitos à mesa teriam de mudar. A senhora que nos ensinava me disse "Você é mesmo uma criança selvagem, não é? De agora em diante, vai comer como uma menina normal e bem educada."
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