Luz da Noite - 25
Eu não queria ir ao baile da escola. Primeiro porque não era chegada em eventos desse tipo (nunca fui à um baile), segundo porque não tinha par, terceiro porque não queria ver Steven com Hana. Quando estávamos eu, John, Hudson e Jacop terminando o café da manhã, me emocionei quando Jacop se ofereceu para ser o meu par.
– Estou lisonjeada – respondi. – Mas não acho que esteja à sua altura, Príncipe Jacop.
Ele apontou para mim.
– Está!
– Com quem você vai então? – indagou Hudson. – Porque se for pra ir sozinha é melhor nem ir.
– Besteira, filho – falou John. – Não acho que...
– Pai, é um baile da escola. Todo mundo vai com um par – insistiu Hudson.
John deu uma mordida em uma torrada.
– Mas que estranho. Você é a menina mais legal e mais bonita da sala inteira. Como que ninguém te convidou?
Era incrível a naturalidade com que ele dizia isso, como se realmente acreditasse nisso e não estivesse falando só por falar. Dei um sorriso sem graça.
– Pai, obrigada, mas... isso nem sempre basta.
– Como assim?
Fiquei muda e sabia que Hudson sabia a resposta, mas optou por ficar mudo também, para minha sorte.
– Veja querida, não precisa ir se não quiser... mas quer saber? Por quê você não convida alguém?
– Pai... tudo bem. Mesmo que quisesse, acho que à essa altura todos já tem par...
– Menos os nerds – ressaltou Hudson. – Ah, esqueci, Satsuki. Você é nerd.
– Não sou – rebati, sabendo que era mentira.
– Tudo isso para impressionar o seu professor, e não adiantou nada – Hudson continuou.
– John, já chega – John o repreendeu. – Se continuar provocando sua irmã terei de pedir que saía da mesa.
Hudson baixou o olhar.
Acabei decidindo ir. Mesmo sem par? Sim. Eu ia só fazer uma aparição rápida. Multidões, garotas exibidas com vestidos de princesa, ponche, dança e música alta não eram comigo. Quando estávamos só eu e John, ele me perguntou o que me fez tomar a decisão de ir, ressaltando que eu realmente não precisava ir se não tinha vontade.
– Mamãe queria que eu usasse aquele vestido... no baile – respondi com sinceridade. Sim, Amy era o motivo. Há aproximadamente um ano, já animada com o baile da escola, resolveu se adiantar e me comprou um vestido, dizendo que adoraria que eu o usasse no baile, que não via a hora de me ver nele. Não importava que ela não pudesse me ver ao vivo - ela queria que eu fosse e usasse o vestido que ela escolheu para mim e era isso o que eu ia fazer.
– Tem certeza, Satsuki?
Sorri.
– Sim. Por sinal, amo o vestido.
O vestido que Amy escolheu para eu usar no baile da escola não era para nada extravagante, senão simples e discreto. E tampouco era rosa. Era um tomara que caia bege, comprido, com um laço discreto abaixo da altura do peito, a parte de baixo tinha finos fios costurados caídos para baixo – flores, das cores vermelho, azul e branco. Só. Por fim, Amy tinha escolhido algo que combinava mais com a minha personalidade. Desta vez, no entanto, decidi dar uma incrementada no cabelo e usei o babyliss da Amy para fazer umas ondas. Coloquei um delineador, uma sombra dourada, um batom um tom acima do vestido e estava pronta. John me deixou e na hora que quisesse ir embora, bastava avisá-lo e ele viria me buscar... tínhamos inclusive planejado jantarmos todos juntos em um restaurante chique, considerando que eu já estava vestida para a ocasião. Brincando, ele me pediu para não me encher de salgadinhos e ponche. Quando cheguei, cumprimentei alguns colegas e, naturalmente (mas sabendo que não devia), meus olhos começaram a procurar por Steven. Lá estava ele com Hana, em um traje elegante, perto da mesa dos salgadinhos. Com Hana magra feito um palito, imaginei que ele seria o único a consumir.
Tudo bem... o que devia fazer? Esperar ele se afastar dela para ir cumprimentar ou me aproximar independente dela e dane-se a reação dela? Percebi que o problema não era a reação dela, senão a minha – ver os dois juntos, ainda mais conversar com os dois estando juntos, me dava enjoo.
Estranhamente, ela não usava roupa de baile. Usava uma blusa branca de mangas compridas, uma jeans rasgada e botas pretas de couro com salto agulha. Mesmo assim, era mais baixa do que eu. O cabelo, negro e liso, parecia mais comprido do que nunca, e a franja lhe cobria a metade do rosto.
Tudo bem... dane-se. Não podia deixar de cumprimentá-lo – provavelmente se fosse por ele, passaríamos a noite inteira sem trocar uma palavra. Me surpreendi quando Hana se afastou, talvez para ir ao toalete, talvez para buscar alguma coisa que esqueceu no carro... não importava, era a minha deixa.
– Com licença... Steven?
Ele se virou para mim e se aproximou para que eu o cumprimentasse com um beijo na bochecha.
– Olá Satsuki, tudo bem?
Como de costume, nosso cumprimento foi rápido e um tanto desajeitado. Não importava, fiquei feliz que ele disse o meu nome. Detestava quando uma pessoa da qual eu gostava não me chamava pelo nome. Aliás, qualquer pessoa. Chamar uma pessoa pelo nome dela cria simpatia, cria uma conexão. Além do mais, é educado. É uma pena que poucas pessoas se davam conta disso. Havia, porém, uma outra coisa que eu gostaria de ouvir: "Você está bonita" era tudo o que eu queria que ele me dissesse, mas ele nunca disse. Nesta noite, não seria diferente. Mas o que ele não dizia, não significava que não era o que pensava.
– Oi – sorri sem graça, como se estivesse esperando que ele fosse iniciar a conversa, o que eu sabia que não aconteceria. Mas ele sequer teve a chance. Assim como eu me aproximei dele para cumprimentar, outras pessoas o fizeram, e aproveitei a deixa para me retirar. Com as costas sobre uma parede distante de todos e com um cigarro, Hana apenas observava. Me perguntei o que fazia ali sozinha e algo me puxou como um ímã. Me aproximei e me encostei na parede ao lado dela, como quem não quer nada. Não tive coragem de virar a cabeça para verificar se me encarava, mas sentia que sim.
– Então... é você quem persegue o Steven como se fosse seu cachorrinho perdido?
A voz dela era gelada, tinha um tom soberbo, mas ao mesmo tempo bastante sensual e podia chegar a dizer que tinha uma voz agradável. Então ela sabia quem eu era? Ainda sem fazer contato visual, esperei alguns segundos dizendo a mim mesma de que se ela me perguntava com tamanha naturalidade e sinceridade, eu devia seguir a onda e fazer o mesmo. Não me sentia intimidada, muito pelo contrário.
– Costumava ser – respondi.
– Bom saber.
Finalmente, virei a cabeça para ela.
– Como sabe?
Ela olhou para mim brevemente e deu uma tragada no cigarro.
– Acha que sou burra?
Silêncio. Soltei um leve sorriso. À essa altura, já não escolhia minhas palavras.
– Posso te dar um conselhozinho?
Seus olhos azuis e gelados me fitaram.
– Termina com ele.
Ela voltou a olhar para frente e apoiou a cabeça sobre a parede.
– Para que possa aproveitar a sua recaída?
– Você sabe por quê.
Não estava olhando para ela naquele momento, mas senti que sorria, um sorriso triste e ao mesmo tempo de aceitação, entendendo perfeitamente a minha mensagem.
– Legal falar com você, criança. – Ela se afastou da parede e se virou para mim. – Te vejo por aí.
– Provavelmente não – respondi. Ela sorriu novamente e se foi. Olhei para frente e vi que Steven me encarava, provavelmente apenas por quê viu que estava conversando com Hana... boba, é claro que sim, que outro motivo teria? Fiquei ali um tempo até que segui para o canto mais silencioso do salão, se é que havia um, onde havia um sofá, e peguei o celular para ligar para John e pedir que viesse me buscar.
E foi quando o impensável aconteceu. Começa a tocar a música X&Y do Coldplay (ou será que só estava tocando na minha cabeça?). Steven, que antes conversava com Hana, a deixa e começa a se aproximar de mim lentamente. Tiro o celular da orelha, quase deixando-o cair no chão, pois minhas mãos tremem. Ele chega em mim com seu sorriso mais doce, olha diretamente nos meus olhos e estende a mão para mim.
– Satsuki. Gostaria de dançar?
Completamente muda e paralisada, coloco o celular de volta na bolsa... e a deixo ali mesmo, no sofá. Apontei para mim mesma, como se não entendesse que ele estava de fato falando comigo.
– Com você?
Sem de nenhuma maneira zombar de mim e da forma mais encantadora, ele riu.
– Sim, comigo.
Não falei mais nada. De boca aberta, aceitei a mão dele e deixei que ele me guiasse até a pista de dança. As pessoas ao redor se afastam, como que para dar prioridade aos que seriam o rei e a rainha do baile – sempre achei termos desse tipo bregas, mas não tinha outra palavra para descrever. O mundo parou, e a pista de dança era nossa.
Eu não sabia dançar. Nunca dancei com ninguém, como já disse, nunca fui a um baile nem nada do tipo, assim como nunca tive um namorado que me levasse. Acreditava, entretanto, que a dança era uma arte intuitiva. Se me entregasse, deixaria que ele guiasse os meus passos. Ele colocou a mão envolta da minha cintura, fazendo meu corpo estremecer – e torcer para que ele não tivesse percebido. Mas pensando bem, se sim... e daí? Junto ao refrão, começamos com harmonia e assim permanecemos. Foi quando me permiti sorrir, junto à ele, encostando a cabeça sobre seu peito. E percebi... ele sabia.
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