Capítulo 34
"Eu não te amo
Eu não preciso de você
Eu não quero sequer vê-la
Essas são as mentiras que eu conto para mim mesmo a noite
Essas são as mentiras que estão me mantendo vivo"
-These Are The Lies
The CAb
Como eu pude ser tão cego?
Estava tudo muito bom para ser verdade.
É óbvio que ela estava brincando comigo durante todos esses dias!
Burro. Burro. Burro.
De todas as pessoas nessa maldita universidade, jamais pensei que Ava seria a que me quebraria dessa maneira.
Toda aquela conversa sobre seu ex idiota, sobre ela estar fugindo do relacionamento... tudo aquilo foi para provocar pena em mim e fazer com que eu me apaixone por ela.
"Tudo foi parte de um plano, Jhonatan, e você caiu como um patinho."
A frase se repete uma e outra e outra vez na minha cabeça conforme ando até o estacionamento.
Estou tão furioso, tão desapontado comigo mesmo e também com ela, que não paro até chegar no meu carro.
Aperto o botão do alarme com tanta força que a chave não quebra por um milagre.
Ao entrar, fecho a porta em um baque seco e dou o fora dali o mais rápido que consigo sem me importar com as multas que provavelmente receberei.
Dirijo sem rumo pelas ruas da cidade enxergando o caminho com certa dificuldade por conta das lágrimas que derramo sem parar.
Ainda não compreendo porque Ava agiu assim. Ela parecia gostar de mim, do tempo que passamos juntos e das noites de prazer que nos proporcionamos.
Droga, como é possível que ela tenha caído tão baixo apenas por uma vingança ridícula?
E o pior de tudo, é que ela foi na onda daquela garota maluca. Eu sabia que Bianca não era flor que se cheire.
— Mas que porra! -Esmurro o volante depositando toda a minha frustração no couro macio.
Penso em ir até o estúdio para conversar com Nick, quem sabe receber algum conselho, no entanto, não quero incomodá-lo no seu trabalho.
E muito menos deixar minha irmã preocupada.
Ela já está puta da cara com o louco que estragou o seu carro, não merece mais uma bomba em cima dela.
Também não quero ir para casa.
Meus pais ainda não devem ter chegado, mas mesmo assim não quero correr o risco de encontrá-los lá e ter que fingir que não está acontecendo nada.
Então pego o rumo do único lugar que sei que pode me atender uma hora dessas.
Estaciono na entrada da Devil's de qualquer jeito e soco a porta dos fundos até que Pedro aparece com um semblante assassino no rosto.
— Qual é cara, não deveria estar na faculdade uma hora dessas? -Ele pergunta em um bocejo.
Empurro seu ombro com o meu para entrar na boate vazia e vou direto até o balcão sem dizer nada.
— Está tudo bem, Jhonny? -Apoio os cotovelos em cima da madeira fria e escoro minha cabeça nas mãos como se ela pesasse uma tonelada.
— Me dê uma dose da bebida mais forte que você tem, por favor. -Peço com a garganta arranhando de tanto chorar.
— Não sem antes me dizer o que está acontecendo.
Levanto a vista e encaro meu amigo com os olhos injetados.
— Só faça o que estou te pedindo, caralho! -Golpeio o balcão com a palma da mão.
Pedro levanta uma sobrancelha contrariado, mas obedece mesmo assim.
Um copo com rum aparece na minha frente e engulo todo o seu conteúdo em segundos. Faço uma careta deixando que o ardor me distraia da dor emocional que estou sentindo nesse momento.
— Melhor? -Nego com a cabeça. — O que fizeram com você cara?
— Me fizeram de idiota, Pedro. Foi isso que aconteceu. -Limpo o nariz com o dorso da mão e sinalizo o copo para que ele volte a enchê-lo.
— Oh não... -Observo pensativo o líquido âmbar escorregando até o vidro.
— É, oh não. -Sorrio amargamente. — Acabei de saber que a garota que eu amo fez uma merda de aposta ou desafio para me ferrar. -Bebo tudo de novo. — E sabe o que é mais engraçado? -Pedro move a cabeça para os lados. — Por um instante... -uno o dedo indicador com o dedão de maneira desajeitada. — Por um maldito instante eu pensei que ela era a correta para mim.
— Pô cara, eu sinto muito mesmo. -Recebo alguns tapinhas no ombro.
Nem tinha percebido que ele estava do meu lado.
— Droga, ela é tão linda. -Continuo sem dar bola para o fato de que minha língua começa a ficar adormecida na medida que bebo mais e mais. — Eu sabia que ela teria que ser minha desde a primeira vez que a vi...e aquelas tatuagens, Deus...
— Não precisa ficar assim, Jhonatan, sabe que ela não é a única garota nesta cidade, não é mesmo?
— Mas ela é a única que eu amo, caralho.
O resto da semana passa lenta e torturante como o inferno. Cada vez que vejo Ava, meus batimentos cardíacos aceleram e sinto vontade de ir até ela e exigir que ela me diga que tudo não passou de uma brincadeira ridícula.
E ao mesmo tempo quero implorar para que ela volte para mim, que esqueçamos toda essa merda e comecemos do zero.
Ela parece estar tão afetada quanto eu, bolsas debaixo dos olhos e o cenho franzido permanentemente, no entanto, não quero criar falsas esperanças.
Não quero correr o risco de me machucar outra vez.
Vê-la andando para cima e para baixo com Bianca só confirmou que tudo o que ela disse era verdade. Como eu me deixei manipular pelas duas?
Durante as aulas que levamos juntos, ela faz questão de se sentar no extremo oposto ao meu, como se eu fosse um desconhecido.
Não sei até quando vou aguentar tê-la tão perto e ao mesmo tempo tão longe.
— Pai, mãe, estou saindo. -Berro para ninguém em específico.
Não suporto mais ficar trancado dentro de casa. Preciso me distrair um pouco, tentar esquecer o seu rosto, seu cheiro e até mesmo o sabor dos seus beijos.
É sábado e embora eu esteja pensando seriamente em ir até a Devil's e beijar a primeira garota que der em cima de mim, algo dentro do meu peito grita que isso não seria o correto. Que de uma forma ou de outra, eu estaria traindo-a.
Eu definitivamente sou um imbecil apaixonado.
Dirijo pela cidade por quase duas horas até que sem perceber, estou no estacionamento do cemitério jardim onde compartilhei uma das experiências mais incríveis com ela.
Desligo o carro e tiro a chave da ignição antes de descer e caminhar até o pequeno e solitário banco que fica a apenas alguns metros do enorme precipício.
Me jogo no cimento frio e observo a cidade debaixo de mim deixando que as lágrimas escorram livremente pelas minhas bochechas sem nenhum medo de ser julgado.
Ava acabou comigo. Eu entreguei meu coração de bandeja para que ela o destruísse por inteiro.
E agora aqui estou eu, sentado em um lugar vazio sem saber o que vou fazer a partir de agora.
Sei que uma hora essa dor toda vai passar, que eventualmente eu acabarei esquecendo-a e seguirei adiante, mas por enquanto, vou deixar que ela me consuma de dentro para fora.
Pelo menos tenho esse direito.
Depois de um tempo olhando para o nada, meu celular vibra e desbloqueio a tela rapidamente pensando que talvez possa ser ela, contudo, é o nome de Pedro que pisca sem parar.
— Onde você está cara? Pensei que viria para cá. -Quase não consigo escutar a sua voz por conta do barulho da boate.
— Não estou afim, me desculpe. -Meu amigo solta um longo suspiro.
— Tudo bem, só por favor, não vá fazer nenhuma besteira, Jhonatan. Estou falando sério. -A preocupação na sua voz não me surpreende.
Passei os últimos dias vegetando como um zumbi e não atendi a quase nenhuma das suas ligações, embora tenha sido eu mesmo a lhe contar tudo em primeiro lugar.
— Pode deixar, já fiz uma besteira gigante e aprendi a lição. -Encerro a chamada e aperto o aparelho contra a palma da mão me controlando para não entrar na galeria de fotos para ver o seu rosto outra vez.
Tirei tantas fotos de Ava, a maioria quando ela estava distraída. Mas as que mais gosto são as que estamos juntos em momentos bem... íntimos.
Não sei como ainda não excluí todas.
Na verdade, eu sei sim.
Se eu fizer isso, vai significar que tudo acabou de verdade.
Para evitar jogar o celular colina abaixo, tranco-o dentro do porta-luvas do carro e aproveito para pegar uma colcha que sempre deixo guardada no banco de trás.
Inclino o banco do motorista e cubro o meu corpo para me proteger do frio noturno.
Fecho os olhos e imediatamente as lembranças de todos os momentos que passamos juntos, deixando que todas essas imagens me transportem para aqueles dias onde eu era feliz.
Acabo pegando no sono depois de várias horas de mastigar o sabor amargo do engano e me reviro no banco do carro sendo invadido por uma enxurrada de pesadelos.
Aperto as pálpebras ao sentir a luz do sol que me atinge através do parabrisas.
Mas o que diabos está acontecendo?
Olho para os lados e reconheço imediatamente onde estou.
Eu dormi em um cemitério.
Não estou acreditando nisso.
Esfrego o rosto com ambas mãos e endireito o assento me arrependendo de ter passado a noite em um banco desconfortável.
Meu corpo inteiro dói, sem falar do meu pescoço que está duro como pedra.
Ligo o carro para me esquentar um pouco e me surpreendo ao ver o horário no painel.
Seis e meia.
Nunca na minha vida eu acordei tão cedo.
Lembro que Nick ama fazer isso e decido dar uma passada na sua casa para bater um papo com meu amigo. Faz um bom tempo que não conversamos e sinto que se eu não me abrir para alguém, vou acabar explodindo.
Coloco o carro em marcha antes que venham me expulsar e dirijo direto para o estúdio, aproveitando o fato de que tenho uma cópia da sua chave.
Não estou nem aí se ele achar ruim que eu apareça tão cedo, na verdade, estou pouco me fodendo para tudo.
Estaciono em minutos ao lado da sua casa e abro o primeiro portão com os dedos trêmulos. Ao chegar na sua porta, respiro profundamente para tentar me acalmar.
Não quero fazer uma cena e muito menos assustá-lo, então abro a porta com cuidado planejando enviar uma mensagem quando já estiver lá dentro, no entanto, como já era de se esperar, encontro-o na cozinha fuçando na geladeira assobiando baixinho.
— Caramba, você gosta mesmo de madrugar. -Provoco baixinho e ele pula quase deixando cair o que tinha em mãos.
— Porra Jhonatan, quer me matar de susto? -Nick fecha a porta da geladeira e se vira me encarando com o cenho furioso.
— Desculpa cara, não pensei que estivesse tão distraído... -Murmuro levemente arrependido. — Vai cozinhar o quê de bom? -Meu estômago ronca de repente e lembro que não comi nada desde ontem.
Recebo um olhar preocupado de Nick e ele se aproxima com os braços cruzados.
— O que está fazendo aqui tão cedo, mano? -Respiro profundamente sem saber o que responder.
O que eu estou fazendo aqui?
Penso por alguns segundos e até chego a abrir a boca para responder, quando sou interrompido por uma voz que conheço muito bem.
— Nick, será que você tem um carregador para o meu... celular.
Arregalo os olhos ao ver Liv e ela só falta cavar um buraco no meio da sala e se enfiar lá dentro.
Esse dia está ficando cada vez mais interessante.
— Ok, eu não vou nem perguntar o que você está fazendo aqui a essa hora, porque está mais do que evidente. -Esfrego a testa com força, uma dor de cabeça ameaçando aparecer.
— Maninho... o que você está fazendo aqui uma hora dessas em pleno domingo? -Minha irmã pergunta em um grasnido.
Tento não olhar para ela, já que a garota está com nada mais, nada menos do que uma cueca de Nick.
Essa imagem vai ficar gravada na minha mente para sempre, droga.
— É o seguinte, eu vim falar com o meu amigo de algo pessoal e muito urgente, então por favor, será que podemos deixar toda essa discussão para depois?
Sua expressão se suaviza imediatamente e sei que ela deve ter percebido que algo anda mal, afinal somos gêmeos.
— O que aconteceu, Jhonatan? Está tudo bem?
Ao ver que ela chega perto de mim, vou para trás com passos desajeitados e estendo a mão para manter uma distância segura.
— Liv, não quero ser chato, mas a última coisa que preciso hoje, é de uma imagem sua vestindo uma cueca desse bundão na minha cabeça, então só... volte para o quarto. -Peço olhando para todos os lados, menos para ela. — Por favor. -Reitero baixinho.
Para a minha surpresa, Olívia volta para o quarto pisando firme e bufa ao meu lado balançando a cabeça para um lado e para o outro acompanhada da cadela de Nick. Ele então vai até uma mesinha atrás do balcão e pega um carregador antes de ir atrás da minha irmã.
Sabia que esses dois acabariam tendo um caso uma hora ou outra, mas não pensei que fosse acontecer tão cedo.
— Já volto, não saia daqui. -Nick resmunga antes de desaparecer.
Fico parado no mesmo lugar sem vontade de mover um músculo sequer.
Para falar a verdade, não tenho mais forças para nada.
— Vai me contar o que está acontecendo? -Meu amigo volta de repente e balanço a cabeça para os lados focando a vista no corredor que ele acabou de surgir.
— Só me diz uma coisa, Nick.
— Hum?
— Você realmente gosta dela? Quero dizer, não está ficando com Olívia apenas para tapar o buraco que Bárbara deixou, não é mesmo? -Indago percebendo que não foi uma boa escolha de palavras ao ver como ele se eriça todo.
— Que merda é essa Jhonny? Você, melhor do que ninguém, sabe que eu jamais faria isso com Liv. -Ele responde com um sussurro.
O que deu na minha maldita cabeça? Nick sempre foi apaixonado pela minha irmã.
Esse cara nunca teria coragem de machucá-la.
— Por que está aqui, irmão? -Sua mão paira sobre meus ombros e suspiro desanimado.
Me afasto do seu corpo e me jogo no sofá tampando meu rosto com os braços para que ele não perceba que estou chorando como uma garotinha.
— Eu... droga. -Engasgo com as minhas próprias palavras.
Por onde começar?
Como digo para o meu melhor amigo que a garota que amo me fez de idiota esse tempo todo? Que meu coração está em pedaços e não sei até quando vou aguentar essa dor que sinto cada vez que lembro dela?
Como vou falar que apesar de ter sido pisoteado, mesmo assim ainda a quero de volta? Solto uma risadinha amarga sabendo que não há escapatória. É como tirar um band-aid de um curativo. Deve ser rápido para que a dor não seja tão forte.
Embora eu saiba que vai doer de qualquer jeito.
— Havia essa garota da minha faculdade. -engulo em seco. — Estávamos saindo há algum tempo e inevitavelmente acabei me apaixonando por ela. -Digo as últimas palavras quase em um resmungo.
Nick escuta tudo em silêncio e agradeço mentalmente por isso. Se ele me interromper, não sei se terei coragem para continuar.
— Tudo estava indo tão bem, sabe? Ela parecia realmente interessada em mim, nós combinamos tanto e eu realmente pensei que ela fosse diferente. -Nick franze o cenho conforme vou falando. — Então do nada ela terminou tudo e disse que nosso romance não passou de uma aposta. Que tudo aquilo foi pensado para me fazer sofrer por ter iludido todas aquelas garotas na universidade. -Derramo mais lágrimas em um sorriso resignado.
Continuo contando mais detalhes sobre o que aconteceu, tentando de uma forma ou de outra me livrar de tudo o que estou sentindo, de toda essa tristeza e mágoa, mas ela parece nunca ter fim.
Falo e falo e falo até que não sobram mais palavras para me expressar e finalmente fico em silêncio.
— Cara, eu sinto muito mesmo. -Nick suspira e balanço a cabeça para os lados.
Eu também sinto.
Sinto por ter confiado nela. Por ter me entregado por inteiro para uma garota que só queria se divertir às minhas custas.
Mas o que mais sinto, é por saber que mesmo depois de tudo, ainda fico preocupado com ela, querendo saber como ela está e toda essa merda.
Liv aparece depois de um tempo e me abraça apertando dizendo palavras de apoio.
Seus dedos acariciam meus cabelos como sempre faz quando quer me tranquilizar.
Nick aproveita a deixa para ir preparar algo para comer.
Ele não para de olhar para ela e por nenhum momento uma inveja se apodera de mim me fazendo sentir a pior pessoa da face da terra.
Eu sou um maldito idiota.
— Nick está tão caidinho por você, que daqui a pouco vamos escutar apenas latidos. -Sussurro no ouvido de Liv e ela ri ficando corada em segundos antes de olhar de volta para o meu amigo que abre um enorme sorriso hipnotizado pela sua beleza.
Esses dois realmente são feitos um para o outro.
De repente o clima muda e é como se eu tivesse virado um personagem secundário de um filme de romance.
— Muito bem, já chega vocês dois. -Resmungo rodando os olhos. —Já está pronta a gororoba? -Aponto para o fogão com a cabeça.
Nick confirma rapidamente e serve uma porção do que ele cozinhou para cada um.
Como tudo com gosto e conversamos sobre vários temas até que os dois começam a ficar cada vez mais próximos e sei que é a minha hora de vazar.
Até porque não estou com ânimo para ver duas pessoas apaixonadas assim tão perto. Agradeço rapidamente pela comida e pela conversa e vou embora depois de me despedir dos pombinhos.
Chego em casa e me tranco no quarto sem vontade de falar com ninguém.
Tomo um banho demorado e depois de quase ficar sem pele debaixo da água fervente, visto uma cueca e me jogo na cama, as lágrimas deslizando pelas minhas bochechas até o travesseiro.
Aperto tanto as pálpebras que meus olhos doem e meu peito começa a pesar me obrigando a ficar sentado novamente.
Esfrego o pescoço com força.
Descobri da pior maneira que se apaixonar é tão doloroso que te deixa sem ar.
E o pior de tudo, é que se me perguntarem se me arrependo de ter conhecido Ava, a resposta provavelmente seria um enorme não.
NOTA DO AUTOR
Helloooo amadas do meu core kkkk
Jhonny está sofrendo demais, mas podem ficar tranquilas que
já já vai passar... ou não heheheeh
Espero que tenham gostado,
não se esqueçam de votar e comentar!
Uma ótima semana a todas,
Amo vcs🥰
Bjinhosssss Bf 🖤🖤🖤
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