Capítulo 28
"Todos os meus membros estavam flutuando
Muito antes do aviso
As ondas das marés
Muito lento para escapar do som
Querida, você já deveria saber
Querida, você já deveria saber"
-By Now
Verité
— Não acredito nisso. -Ando para um lado e para o outro dentro da pequena sala como um animal enjaulado.
Vovó tenta me tranquilizar de várias formas, mas é em vão. Quando se trata de meus pais ou Beto, meu corpo responde da mesma maneira de sempre: minha pele fica arrepiada, minhas pernas estremecem e a boca seca.
Meu coração bate acelerado e tudo o que consigo pensar é no fato de que se eles me encontrarem, não serei capaz de escapar outra vez.
Eu sei que poderia facilmente denunciá-los, no entanto, tanto meus pais quanto os pais do meu ex namorado são pessoas influentes. Eles dariam um jeito de me desestimar, de fazer parecer que é só mais uma pirraça de uma garota mimada.
Foi por esse motivo que escolhi fugir.
— Não vou deixar que eles cheguem perto de você, querida. Farei o que for preciso para te proteger. -Os dedos enrugados apertam as minhas bochechas e secam as lágrimas furiosas com delicadeza.
É incrível como eles conseguiram estragar uma noite maravilhosa sem nem mesmo estarem presentes.
Como podem existir seres tão nocivos? Chego até a sentir um sabor amargo na minha boca.
Abraço o corpo esguio de uma das únicas pessoas que me atrevo a chamar de família e ela me afaga carinhosamente.
— Obrigada, vovó, não sei o que faria sem você. -Murmuro com a voz embargada.
— Eu sempre vou ficar do seu lado, meu amor. Sempre.
Balanço a cabeça sem dizer nada. Não há necessidade.
Vovó entende perfeitamente o que estou sentindo nesse exato momento.
Medo. Pânico. Impotência.
E uma pequena parcela de alívio por saber que pelo menos não estou sozinha.
— Agora me conte como foi a sua noite com o seu namoradinho. -Franzo o cenho ao escutar a última palavra e se a sua intenção era me distrair da conversa de minutos atrás, devo admitir que ela conseguiu.
— Jhonny e eu não somos namorados, vovó. -Me jogo em um dos sofás e ela me acompanha em seguida com um olhar entristecido.
Mas que droga.
— Pois não é o que está parecendo. Aquele garoto só falta babar por você. -Vovó afirma com convicção.
— Ele não... quer saber, pense o que quiser. -Esfrego a testa com as pontas dos dedos.
Preciso lembrar de onde deixei os remédios para dor de cabeça.
Depois de alguns segundos percebo que estou sendo ríspida com a minha avó sem nenhum motivo e solto uma longa respiração.
— Quero dizer, Jhonatan e eu não definimos o que temos. Só estamos deixando as coisas fluírem para ver até onde chegamos. -Explico torcendo a barra da camiseta com os dedos. — Não quis te responder dessa maneira, me desculpe, é que não sei mais como reagir com tudo isso. -Sinto um aperto no abdômen e com ele, uma vontade insana de gritar.
Sou puxada para um abraço lateral e ela começa a acariciar meus cabelos com os dedos, como fazia quando era criança em um tempo que eu era feliz graças à ingenuidade infantil.
— Não deixe que seus pais ou aquele mauricinho idiota estraguem algo que possa chegar a ser especial, Ava. -Respiro profundamente. — Jhonatan está claramente apaixonado por você e posso garantir que você se sente da mesma maneira.
— Vovó...
Ela me abraça mais apertado e meus olhos se enchem de lágrimas no mesmo instante, mas não consigo chorar.
Meu corpo inteiro está cansado.
Minha mente está cansada de toda essa merda.
É como se dentro de mim houvesse uma maldita bomba relógio e todos os dias acordo com a sensação de que a qualquer momento ela vai explodir e despedaçar tudo ao seu redor.
— Não é nenhum pecado ter medo, querida. Na verdade, é completamente normal, porém não podemos permitir que esse medo nos impeça de viver.
Solto uma risadinha triste.
— Como fazer isso quando eles me perseguem e me atormentam até mesmo nos meus sonhos? Não me deixam em paz nenhum segundo. Eu não sei o que fazer vovó. Jhonatan é... ele é a coisa mais bonita que me aconteceu até agora e não quero que isso acabe. -Ao falar no garoto, as comportas se abrem dentro de mim e choro copiosamente, meu corpo sacode com os soluços e vovó espera que eu termine com paciência.
— Nada vai acabar. -Suspiro sabendo que provavelmente é o que vai acontecer cedo ou tarde. É sempre assim, como se o universo estivesse brincando comigo, me fazendo ter um gostinho do que se sente estar em uma relação onde gostam de você de verdade para depois me tirar tudo com um golpe certeiro e de quebra, uma punhalada direto no meu coração. — Vocês fazem bem um para o outro e tenho certeza de que esse garoto vai te apoiar, não importa o que aconteça. Você só precisa se abrir com ele e contar a verdade, os seus motivos para estar aqui. -Vovó reitera.
Desde que lhe contei que estava saindo com Jhonatan, ela repetiu a mesma coisa uma e outra vez.
"Conte para ele o que está acontecendo. Seja sincera para evitar problemas."
É um conselho sensato e lógico, e embora eu saiba que ela tem toda a razão do mundo, mesmo assim eu não consigo fazer isso.
Não quero ter que ver mais um olhar de pena, de passar a ser tratada como uma boneca de porcelana que pode se quebrar a qualquer momento, por mais que eu já esteja completamente quebrada por dentro.
Quero que Jhonny me veja exatamente como sou, que ele goste de mim como eu sou.
E para isso eu devo manter toda essa toxicidade longe, de forma que preciso saber o que meus pais estão tramando e só há uma pessoa que pode me passar essa informação.
Deixo minha avó sentada no sofá e vou para os fundos da casa com a desculpa de que preciso de ar puro.
Procuro o contato da minha prima na minha pequena lista que me restou e pressiono o botão verde para ligar.
Ela não demora para atender e meus batimentos cardíacos aceleram só de escutar a sua voz.
— Que bom que ligou, Ava, precisava conversar com você, inclusive já ia te ligar de todas formas. -Lana solta antes mesmo que eu possa dizer qualquer coisa.
Depois que cheguei sã e salva na casa da vovó, combinamos de que ela me ligaria apenas quando estivesse sozinha ou em um lugar que não pudesse ser descoberta para evitar qualquer risco.
— Me diga tudo, prima. Não quero que me esconda nada por favor.
— Ok. -Ela respira fundo antes de falar. — Seus pais não pararam de te procurar desde que você fugiu, como você já sabe. Eles me abordaram várias vezes e sempre fiz questão de fazer de conta que não sei de nada. -Mordo os cantos dos dedos enquanto escuto e todo o meu corpo treme sem parar. — De uns dias para cá eles pararam de me procurar, então achei que tinham desistido de você, mas então, do nada a sua mãe veio até a minha casa e exigiu que eu lhes dissesse onde você se escondeu.
— E-e o quê respondeu? -Murmuro engolindo em seco.
— O de sempre: que eu não sei de nada e que se soubesse, também não diria. -Solto uma respiração aliviada. — Mas mesmo assim eles continuaram insistindo e afirmaram que vão te encontrar custe o que custar, que você não pode simplesmente escapar das suas obrigações, que Beto está devastado e muito bravo com toda essa situação e mais um monte de baboseiras. -A última frase saiu tão indignada que eu literalmente compartilhei do seu sentimento.
— Aquele idiota ainda tem a coragem de dizer que está bravo... -Sussurro para mim mesma.
— Sim! E teve a cara de pau de falar para todo mundo que você está de viagem, que precisava aproveitar o mundo antes de voltar para a realidade e se casar com ele. Que ele mesmo sugeriu que fizesse isso, como um ano sabático e toda essa merda.
— MAS QUE PORRA É ESSA? -Engasgo com a minha própria saliva.
Minhas pernas fraquejam instantaneamente e vou escorregando em uma das paredes da área até me estatelar no chão frio de cimento batido.
— Ava, por favor tenha cuidado, o maldito está furioso e não sei o que fará se te encontrar.
Lágrimas escorrem livremente pelas minhas bochechas e depois de tudo o que Lana falou, só consigo pensar em uma coisa: Jhonatan.
Ele não merece estar em uma relação com uma garota cuja vida é tão complicada.
Sei que ele não faz ideia disso, mas os buracos do meu coração estão sendo preenchidos pouco a pouco e tudo graças ao bad boy tatuado.
— Eu não vou baixar a guarda, prima. -Afirmo com a voz trêmula. — Se ficar sabendo de algo, qualquer coisa, me ligue por favor. Não posso permitir que esses três me achem.
— Não se preocupe, baixinha, eu vou te manter informada. -Sorrio ao escutar o apelido que ela me deu desde que éramos crianças.
Lana sempre foi bem mais alta do que eu e por conta disso, sentia que devia me proteger. Era como se ela estivesse prevendo o futuro ou algo assim.
— Te amo Lana e estou morrendo de saudades. Não vejo a hora dessa loucura acabar para poder te ver outra vez.
Choro ainda mais com a confissão e posso sentir minha prima fazendo o mesmo do outro lado da linha.
— Também te amo, Ava. Vai dar tudo certo, prometo.
Balanço a cabeça para cima e para baixo desejando acreditar na suas palavras com todas as minhas forças.
Quero ser positiva e pensar que eu vou conseguir me livrar daqueles três, no entanto, conforme os dias passam e eles chegam cada vez mais perto, eu me vejo ainda mais perdida.
Encerro a ligação depois de me despedir e volto para o meu quarto com um peso gigante nas costas.
Me jogo na cama e aperto firme o edredom, descontando na pobre peça de tecido toda a minha raiva e frustração. Como gostaria de estar bem longe daqui, mas ao mesmo tempo eu criei laços nessa cidade que me fazem feliz e saber disso só me deixa ainda mais triste.
Choro tanto que em algum momento acabo pegando no sono me deixando levar pelo único lugar onde eu posso ser livre: nos meus sonhos.
Depois de mais uma noite mal dormida, estaciono Mabel no lugar de sempre e pela primeira vez desde que comecei a estudar na Brown, desejo que Jhonny não venha para a aula hoje.
Não porque eu não queira vê-lo, é só que não sei se vou ser capaz de lidar com isso ainda mais depois da nossa última noite juntos. Se conseguirei manter a expressão indiferente quando dentro de mim eu sei que nossa felicidade não vai durar muito.
Coloco o capacete no compartimento com o coração na mão e guardo minhas chaves dentro da mochila respirando fundo e me preparando para mais um dia de aula como se eu fosse uma aluna qualquer sem preocupações, nem medos e muito menos um ex maluco me perseguindo.
Começo a andar em direção à entrada, mas não chego a dar nem três passos quando sinto dois braços envolvendo minha cintura e me puxando suavemente para trás.
— Onde pensa que vai, garotinha? -Jhonny sussurra no meu pescoço e aquele maldito frio na barriga me faz tremer de dentro para fora como sempre acontece quando ele me abraça.
— Hã... para a aula? -Brinco com a voz falha.
— Sem me dar um beijo de bom dia? Como se atreve? -Ele pousa os lábios na minha pele arrepiada e meu coração só falta pular para fora da garganta.
Oh Deus...
Não movo um centímetro sequer e ao perceber o meu receio, Jhonatan me vira de frente para ele e segura meu rosto com as duas mãos.
Seus olhos se prendem nos meus e não sei ao certo como isso é possível, mas consigo ver uma miríade de sentimentos passando pelas suas íris castanhas.
— Não precisa me beijar se não quiser, é que estava morrendo de saudades então pensei que... -Ele começa a falar e de repente percebo que não adianta negar, eu desejo o mesmo que ele.
Jhonny é a única coisa que me faz esquecer de toda a merda que é a minha vida, é como um descanso dessa realidade obscura que fui submetida.
Me aproximo lentamente dos seus lábios e aprisiono seu lábio inferior com meus dentes arrancando-lhe uma risadinha convencida.
Ele coloca uma porção de cabelo atrás da minha orelha e encosta sua testa na minha antes de me beijar de verdade.
Nesse momento é como se nada mais importasse.
Estou pouco me lixando para as pessoas que estacionam seus carros, motos ou até mesmo que chegam a pé.
Não ligo para os professores que passam por nós, alguns com uma carranca no rosto e outros com um sorrisinho nostálgico, muito menos para um par de amigos de Jhonny que assobia baixinho e dizem palavras de encorajamento bem sugestivas.
Por agora só estou interessada em uma coisa: eu e ele.
Nos beijamos por quase dez minutos matando toda a saudade que sentíamos um pelo outro, até que escuto alguém batendo palmas de uma maneira estranhamente familiar.
— Mas olha só se não é o casalzinho modelo! -A voz de Bianca desliza pelo ar que fica tenso em segundos e minha pele inteira se arrepia e não de um jeito bom.
Jhonatan se afasta a contragosto, porém mantém os dedos enroscados nos meus em um sinal claro de que ele não vai me deixar sozinha com a loira cuja expressão furiosa assustaria a qualquer um em um raio de cinco quilômetros.
— O que quer agora, Bianca? -Ele praticamente rosna, mas ao contrário do que imaginei, Bia abre um enorme sorriso mostrando todos os dentes como um predador prestes a atacar.
— Oh querido, fico com pena de você, sabia? Tão tolo e iludido por uma garota que praticamente não conhece... -Bianca diz olhando para as unhas bem feitas de um modo excessivamente teatral.
Mas que filha da puta.
— Bianca, o que você pensa que está fazendo? -Sussurro com o cenho franzido. Minhas mãos começam a suar imediatamente e sou obrigada a desfazer o contato com Jhonny para secá-las na minha calça jeans surrada.
— Não se faça de inocente, Ava. Eu pensei que não tinha aceitado a nossa pequena aposta, mas devo admitir que você me surpreendeu. -Arregalo os olhos e tento puxar o garoto para longe dali, contudo ele não se move e alterna o olhar entre eu e Bianca com uma expressão confusa no rosto.
— Que merda é essa que está querendo dizer? -A pergunta é feita tão baixa que quase não escutamos.
— Que Ava e eu fizemos uma aposta para ver se ela conseguiria te conquistar e olhe só, ela conseguiu! -Bianca responde rapidamente. Seus lábios se curvam em um sorriso triunfante ao ver que Jhonatan fica ainda mais em silêncio e respiro fundo me preparando para mais uma decepção.
— Isso é verdade, Ava? -Jhonny indaga ferido e franzo o cenho sem entender o que diabos está acontecendo. Pensei que ele daria as palavras de Bianca como certas e me mandaria à merda, mas ao contrário disso, ele está me dando uma chance de me defender.
Solto a respiração que estava presa até agora e balanço a cabeça para os lados arrancando um ofego da loira que me lança adagas com o olhar.
— Bianca realmente me pediu para tentar te conquistar e depois terminar tudo, só que eu lhe disse que jamais seria capaz de fazer isso, ainda mais com alguém que não conhecia até então. -Respondo com firmeza e Jhonny suspira aliviado.
Ele então vira para Bianca negando com raiva e impaciência, os lábios apertados em uma linha fina e tensa.
— Não sei o que pretendia com esse show, Bianca, mas claramente não surtiu o efeito que você esperava. É incrível ver quão baixo você caiu. -Por um breve instante chego a ter pena dela, mas quando a garota fala outra vez, qualquer sentimento de amizade ou empatia que ainda restava se desfaz como açúcar na água.
— Caramba Ava, parabéns, você fez um ótimo trabalho! -As palavras saem com tanta fúria que quase posso sentir seu sabor amargo dentro da minha própria boca. — Não imaginei que fosse assim, mas pelo visto é só mais uma das vadias dessa universidade que amam correr atrás do maravilhoso Jhonatan Cross. -O deboche é perceptível no seu tom de voz.
Dou alguns passos para trás ao escutar a última frase como se elas tivessem de fato me atingido fisicamente.
Estou tão surpreendida que não faço ideia de como responder ao seu insulto.
Jhonny por sua vez não parece sentir o mesmo ao chegar tão perto dela que pareceria até que ele vai beijá-la.
— Já chega, Bianca! -Ele diz furioso. — Não ouse falar assim da minha namorada outra vez, entendido? Não ouse se aproximar dela, não ouse sequer respirar a porra do mesmo ar que ela!
Os olhos de Bianca se enchem de lágrimas não derramadas, contudo, ela mantém a pose altiva e ergue o queixo prepotente.
— Ou o que? -Desafia.
— Ou o reitor vai ficar sabendo da sua diversãozinha na sala dele no ano passado e não acho que queira isso. -Agora seus olhos se arregalam, as sobrancelhas se unem em incredulidade e ela começa a sorrir descontroladamente.
— Você está blefando! -Bianca ri ainda mais, porém Jhonatan continua sério deixando bem claro que ele não está brincando. — Quer saber? Vão se foder vocês dois! -Ela grita enquanto caminha para bem longe.
Quando Bianca desaparece completamente do nosso campo de visão, Jhonatan volta para perto de mim e esfrega meus braços com as mãos cobertas pelas tatuagens de diferentes formas e tamanhos.
Tento me mover, mas meus pés estão fincados no chão como se pesassem duas toneladas.
De todo o diálogo bizarro que acabou de acontecer, só consegui prestar atenção em duas palavras: minha namorada.
Jhonatan acabou de dizer em alto e bom som que eu e ele estamos namorando.
Não. Não. Não.
Isso não pode estar acontecendo.
Isso não deve acontecer.
— Ava, está tudo bem? -Seus olhos escaneiam meu rosto em busca de respostas.
— E-eu... me desculpe... eu... -O desespero toma conta de mim e ao me ver completamente sem saída, faço a única coisa que sei bem: saio correndo dali, fugindo como a covarde que sou.
NOTA DO AUTOR
Hellooo amores, deixo aqui mais um capítulo fresquinho pra vocês
e como puderam perceber, é eita atrás de vixe, surto atrás de surto
então já podem ir preparando seus coraçõezinhos pq o bixo vai pegar
kkkkkkkkkkkkkk
Espero que tenham gostado,
Não se esqueçam de votar e comentar!
Amo vcs 🥰
Bjinhossss BF🖤🖤🖤
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