Capítulo 16
"Ultimamente tem sido difícil chegar
Tenho estado por muito tempo só
Todo mundo tem um mundo privado
Onde eles podem estar sós
Você está me chamando?
Você está tentando superar?
Você está procurando por mim?
Eu estou procurando por você."
-Beautiful
Eminem
Jogo minha mochila de qualquer jeito por cima do ombro e saio correndo da sala rezando para que Jhonny não tenha ido muito longe. Para a minha sorte, avisto o garoto indo na direção contrária à outra sala onde deveríamos passar a segunda aula, que a essa altura já deve estar quase acabando. Droga.
Ele cumprimenta alguns amigos de longe, mas mesmo assim não se detém para falar com ninguém.
Quando percebo que estou chamando a atenção de várias pessoas, diminuo a velocidade e caminho a passos rápidos até que chego bem perto de Jhonatan e ele olha para o lado com a sobrancelha levantada.
— Jhonny, espera. -Peço ofegante segurando seu braço. — Está indo embora? -Respiro fundo para recuperar o ar.
— Sim... Já estou com falta mesmo, não vejo motivos para ficar aqui na faculdade. -Seu olhar desvia do meu e arquejo sentindo como se tivesse levado um tapa na cara.
Olho ao meu redor para disfarçar o vexame e percebo que várias pessoas estão nos observando para ver o que vai acontecer, então solto-o de supetão e procuro um lugar mais vazio para que possamos conversar em paz.
— O que quer comigo, Ava? -Jhonatan indaga cruzando os braços e se afastando alguns passos de mim.
— Certo, hã... quer saber? Vamos, aqui está muito cheio. -Aponto para o estacionamento.
Jhonatan concorda e rumamos lado a lado até parar bem perto da sua picape.
— Muito bem, aqui estamos. -Seus olhos me examinam em um misto de curiosidade e mágoa contida que faz meu estômago embrulhar.
Tento formular alguma frase dentro da minha cabeça, mas essa simples ação parece ridiculamente difícil quando se tem um garoto me encarando com expectativa e algo de irritação que só faz com que ele fique ainda mais bonito. Será que ele não fica feio de nenhuma maneira?
— Escuta... -limpo a garganta para me desfazer da aspereza que sinto — você entendeu tudo errado. -Murmuro nervosa e Jhonny solta uma risadinha amarga.
— Então me explique. -A resposta suave me pega desprevenida.
Suas mãos se levantam como se ele quisesse me tocar, mas desiste no meio do caminho e como se não bastasse, ele enfia as duas dentro dos bolsos da sua calça jeans preta.
Engulo em seco e balanço a cabeça para um lado e para o outro.
Eu sou uma idiota.
Que seja, já estou aqui e não vou perder mais tempo com isso.
— Vou ser rápida e direta. -Começo com a voz trêmula. — Que eu tenha dito que foi só um beijo, não significa que não tenha gostado, Jhonatan. -O garoto pisca lentamente assimilando a informação. — É só que... eu já te disse que não me sinto preparada para um relacionamento no momento e não quero te fazer perder seu tempo comigo. -Meus olhos se enchem de lágrimas ao lembrar de como meu ex namorado quase me destruiu por completo e me contenho para não deixar que elas escorram pela minha bochecha.
Aquele maldito não merece nenhuma gota das minhas lágrimas.
Jhonatan perde a pose por alguns segundos e segura meu queixo fazendo com que olhe para cima. Para ele.
— Não te pedi em casamento, Ava. Não confunda as coisas, por favor. -Ele sussurra com os lábios bem próximos dos meus e solto a respiração lentamente pensando no quanto desejo beijá-lo outra vez.
— E-eu sei, é só que como disse que para você foi muito mais do que um beijo, eu pensei que... -Seus dedos acariciam minha pele com suavidade e me perco no seu toque por um instante.
— E eu não menti quanto a isso, gata. -Sua voz séria é o suficiente para que saiba que ele está se controlando tanto quanto eu. — Não sei o que aconteceu com você antes de chegar aqui, mas quero que entenda que eu não sou essa pessoa. Não vou te machucar e muito menos brincar com os seus sentimentos. Eu não vou te obrigar a nada, Ava, é só que eu... droga... eu sinto coisas por você.
Oh não.
Essa conversa está tomando um rumo totalmente diferente do que eu tinha planejado.
Não posso permitir que isso aconteça.
Devo me proteger.
Proteger minha sanidade mental e meu coração.
— Acho... -respiro fundo. — Acho melhor continuarmos como estávamos antes, já sabe, antes do beijo.
Jhonatan me solta devagar e encosta na lateral do carro sem deixar de me encarar.
Consigo ver aquele o brilho se apagando no seu olhar e um sorrisinho de canto se forma nos seus lábios carnudos.
— É isso mesmo que você quer? -Ele pergunta com a voz baixa e movo a cabeça para cima e para baixo em resposta. — Tudo bem, vamos fazer de conta que não aconteceu nada. De volta à estaca zero. Até amanhã amiga. -Ele se despede com o cenho franzido e entra no carro me deixando sozinha e completamente confundida no meio do estacionamento lotado de carros vazios.
O que diabos acabou de acontecer?
E por que me sinto a pessoa mais burra da face da terra?
Que seja, de todas maneiras o estrago já está feito, não há volta atrás.
Resolvo fazer o mesmo que Jhonatan e vou para casa com a mente tão bagunçada que nem sei como não me perdi no caminho.
Durante todo o trajeto, as expressões do garoto não pararam de se reproduzir dentro da minha cabeça, como se minha própria mente quisesse me castigar por ser tão idiota.
Como tenho hora marcada no estúdio de tatuagem daqui a alguns minutos, deixo a moto do lado de fora mesmo e entro na casa pela porta da sala, o que é bem incomum, já que normalmente entro pela porta da cozinha que se conecta com a garagem.
— Vovó, cheguei... -Aviso deixando minha mochila pendurada no suporte ao lado da porta.
Escuto uns barulhos estranhos e um gritinho assustado conforme vou me aproximando do sofá e quando chego mais perto, meus olhos se arregalam e se eu não estivesse tão surpreendida, provavelmente teria gritado junto.
De todas as coisas que pensei que encontraria ao chegar em casa, nunca imaginei que seria minha avó aos beijos com um cara que nunca vi na vida.
— Querida, pensei que suas aulas acabassem mais tarde! -Vovó diz ofegante ajeitando as suas roupas amarrotadas e o seu acompanhante faz o mesmo.
— Hum... saí mais cedo hoje. -Engasgo me virando de costas para que os dois pombinhos terminem de se recompor. — Só vim deixar minha mochila e já estou saindo de novo, não precisam se preocupar. -Minto me contendo para não rir.
Na verdade eu tinha planejado tomar um banho para me refrescar e descansar um pouco antes de sair de novo, mas prefiro deixá-los a sós.
Vovó e o senhor que até então não fazia ideia da existência conversam baixinho por alguns segundos e espero pacientemente até que eles terminem o que quer que estejam fazendo.
— Pode se virar agora, meu amor. -Vovó pede envergonhada e giro meu corpo lentamente sendo recebida por dois pares de olhos espantados. — Hã, as coisas não aconteceram do jeito que eu gostaria, mas não há volta atrás então, te apresento o Hugo, meu... -Ela hesita por um instante.
— Namorado. -Hugo diz com uma segurança invejável e vovó suspira negando com a cabeça.
Me aproximo do sofá e ele se levanta e segura minha mão beijando-a em um gesto cavalheiresco.
— É todo um prazer finalmente te conhecer, querida. Elizabeth me falou muito sobre você. -Seus olhos brilham enquanto ele fala o nome da minha avó e solto uma risadinha divertida.
De soslaio vejo que vovó está tão ruborizada que só falta começar a hiperventilar.
— O prazer é meu, Hugo. -Ele sorri mais tranquilo ao ver que não estou brava e volta a se sentar ao lado da namorada.
Observo seu semblante com atenção.
Hugo aparenta ser apenas alguns anos mais velho que vovó. Seus cabelos castanhos escuros estão começando a esbranquiçar, mas o homem não parece ligar para isso. Ele deve fazer exercícios, pois posso notar alguns músculos por baixo da camisa amarrotada e seus olhos são de um tom esverdeado muito bonito, como se ele tivesse duas esmeraldas no lugar das íris.
Resumidamente, vovó tem um bom gosto invejável.
Hugo é realmente bonito. Imagino como ele era de jovem...
— Ava, saiba que eu só trouxe Hugo para cá porque pensei que você não estaria. Jamais te colocaria em uma situação desconfortável e quero que entenda que mesmo saindo com outro homen, Sebastian sempre será meu primeiro amor e principalmente o seu avô. -Sua voz falha ao lembrar do ex marido e Hugo aperta seus dedos apoiando-a em silêncio.
O gesto me deixa levemente emocionada e puxo uma cadeira para me sentar na sua frente.
Seguro seu rosto com carinho e olho diretamente dentro dos seus olhos castanhos antes de falar.
— Vovó, eu sei que você só quer me proteger e eu agradeço muito por isso, mas preciso que entenda que eu não vou ficar brava porque você decidiu seguir com a sua vida. Vovô sempre vai estar presente dentro dos nossos corações, no entanto, você merece ser feliz também. -Beijo sua testa e de repente ambas começamos a chorar e a rir como duas malucas.
— Você é um amor, querida. Mesmo depois de ter passado por um inferno, ainda continua sendo doce e amável. -Ela sussurra no meu ouvido.
— Aprendi com a melhor. -Murmuro orgulhosa.
Se dependesse dos meus pais eu seria uma garota mesquinha, arrogante e muito egoísta. Ainda bem que puxei para o lado Dalton e não para o Rice apesar de que meu avô era um homem bom.
Uma maravilhosa exceção.
— E você, -aponto para Hugo — não se atreva a fazer besteira com a minha avó ou sofrerá as consequências. -Digo séria e ele balança a cabeça engolindo em seco.
— Está escutando, querido? Somos garotas independentes e sabemos nos defender. -Vovó provoca e Hugo sorri apaixonado dessa vez.
De repente o clima na sala muda e sei que essa é a minha deixa para vazar daqui antes de acabar presenciando alguma cena para maiores de cinquenta, como por exemplo um beijo de língua entre os dois.
— Se me derem licença, preciso fazer uma tatuagem. -Escapo da sala com o coração batendo acelerado.
Quando disse que estava feliz pela minha avó, não menti. Sei que ela ama com todo o coração o seu primeiro marido, mas sei também que ela precisa disso.
Precisa se distrair, conhecer pessoas novas e principalmente abrir novamente o seu coração. Ela merece ser feliz.
— Até mais, querida. Quando voltar me procure para que conversemos. -Vovó pede quando estou quase chegando na porta e faço um sinal de positivo com a mão antes de sair praticamente correndo até a calçada.
Subo outra vez em Mabel e vou direto para o estúdio de tatuagens mesmo que ainda não tenha dado o meu horário.
Eu poderia ficar rodando pela cidade pelos próximos quarenta minutos, mas só iria gastar gasolina à toa.
Estaciono no lugar reservado para clientes e vou direto até o balcão onde Debby me recebe animada como sempre.
Ela me informa que assim Nick terminar com o seu cliente ele irá me atender, então me sento em uma das poltronas e resolvo ligar para Lana e perguntar como as coisas estão na minha casa, se ela sabe de alguma novidade e toda essa merda.
Procuro seu número nos meus contatos e aperto o botão verde que inicia a chamada.
Lana atende depois de alguns toques e seu rosto toma conta da minha tela me fazendo desejar estar ali ao seu lado, bebendo algumas cervejas e fofocando até o sol se pôr.
— Alô, perdida... -A voz reconfortante ressoa do outro lado e solto uma respiração aliviada.
— Olá, Lana. Deus como sinto sua falta! -Confesso em uma respiração entristecida.
— Eu sei, Ava. Também sinto saudades, mas não se preocupe, tudo isso vai passar e poderemos nos ver outra vez. -Seus olhos se enchem de lágrimas e limpo discretamente os meus para que ela não fique preocupada.
Para todos os efeitos, estou bem aqui. Estou segura e não posso reclamar disso.
— Você tem razão, prima, mas não te liguei para ficarmos tristes, me conte as novidades. O que anda fazendo por aí? -Mudo de assunto.
— Oh querida, se soubesse como as coisas estão entediantes aqui sem você.
Solto uma risadinha engasgada.
Lana e eu éramos companheiras no crime. Sempre estávamos juntas fazendo loucuras para irritar meus pais ou para fingir que eu era uma adolescente normal.
Minha prima era, quero dizer, ainda é meu porto seguro e não vejo a hora de me encontrar com ela outra vez.
Depois de vários minutos, conversamos um pouco sobre nossas vidas universitárias e cometo o erro de mencionar sobre Jhonatan.
Bastou escutar o nome de um garoto e minha prima até se sentou melhor na cama para poder prestar mais atenção à fofoca.
— Ava, ele está louco por você. Por que não lhe dá uma chance? -Lana insiste pela décima vez e nego com a cabeça.
Pode parecer algo muito fácil para qualquer pessoa. Sair com o garoto que você gosta, compartilhar momentos a sós, até mesmo trocar beijos e carícias.
Tudo isso é o básico para uma relação.
Mas para mim é quase como um filme de terror.
E eu tenho medo. Muito medo.
Medo de me entregar e acabar cometendo o mesmo erro que com o meu ex.
Medo de ser controlada e manipulada a tal ponto que me esqueça de quem eu realmente sou.
De perder a minha essência outra vez.
É por isso que por mais que deseje repetir o beijo com Jhonatan, preciso ter certeza de que ele é tudo aquilo que diz ser.
Porque não suportaria passar pelo mesmo inferno.
Não suportaria viver sabendo que todas as minhas escolhas foram erradas.
NOTA DO AUTOR
Hellooo cidadões e cidadoas.
Como estão nessa segunda feira maravilhosa????
Espero que tudo ótimo.
Como sempre, cá estou com mais um capítulo fresquinho pra vcs.
Não se esqueçam de votar e comentar!
Amo vcs🥰
Bjinhosssss 🖤🖤🖤
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