Capítulo 11
"Estou encontrando meu caminho
de volta para a sanidade
Mas eu não sei direito
o que vou fazer quando chegar lá
Tomar fôlego e agarrar firme
Dar voltas mais uma vez"
-Breathing
Lifehouse
🚨ATENÇÃO🚨
Esse capítulo pode conter gatilhos de:
lembranças de comportamento
abusivo físico e emocional.
— Obrigada por vir outra vez, Julio. -Suspiro desanimada.
Durante a semana inteira, Mabel não quis funcionar direito e é quase como se fosse um castigo de vovô por não estar aproveitando-a como se deve.
Sebastian Rice sempre disse que uma moto é muito mais do que um meio de transporte, ela é um passe para a liberdade.
Com elas podemos chegar a qualquer lugar rapidamente, ultrapassar fronteiras e trilhar caminhos até então desconhecidos, traçar nosso próprio destino sem medo.
Eu poderia estar fazendo todas essas coisas, no entanto, estou usando-a apenas para ir e voltar da faculdade como toda uma cidadã razoável.
— Sabe que não é nenhum problema, gata. -Julio responde limpando as mãos em um pedaço de pano depois de colocar Mabel na carroceria da sua picape.
Ele ofereceu levá-la até a sua oficina para trocar uma peça que aparentemente está fazendo com que ela afogue a cada instante e quem sou eu para recusar a ajuda.
Por mais que tenha estudado o funcionamento das motos com afinco, ainda não entendo muitas coisas e agradeço por ter um amigo que o faça.
— Me ligue mais tarde quando terminar de arrumar por favor, agora eu preciso ir logo senão não vou conseguir chegar no ponto de ônibus a tempo. -Resmungo nervosa.
A primeira aula de hoje é na sala de computação e só de saber que terei que passar quase duas horas ao lado de Jhonatan, minha pele inteira se arrepia.
Já estamos a quase duas semanas nessa situação e é incrível como ele sempre consegue um jeito de puxar assunto ou me fazer desejar passar a tarde inteira ao seu lado.
— Acha mesmo que vou te deixar fazer isso? Suba, vou te dar uma carona, Ava.
Aperto as pálpebras com força. Esse cara consegue ser ainda mais fofo do que quando nos conhecemos.
Depois de deixar bem claro que eu não estava interessada em uma relação no momento, eu e ele criamos um tipo de amizade estranha, mas ao mesmo tempo reconfortante. Às vezes penso que tudo não passa de uma ilusão e em algum momento ele vai perceber que eu não sou uma boa companhia e me deixar para lá.
Julio me entende e não me faz perguntas sobre minha dificuldade de me aproximar das pessoas ou esse receio de ser tocada por exemplo.
— Claro que não! Você vai acabar se atrasando para o trabalho... -Respondo com a voz aguda.
— A oficina é literalmente do lado da sua faculdade, se não quiser se atrasar ainda mais, suba na picape, porque não vou sair daqui até que você o fizer. -Seus lábios se curvam em um sorriso brincalhão e nego com a cabeça pensando no quão teimoso ele é.
— Tudo bem, você venceu.
Abro a porta do passageiro e me jogo no assento ao seu lado em movimento seco.
Minutos depois estamos na avenida movimentada em direção à Brown para mais um dia de aula como qualquer outro.
Durante todo o trajeto, conversamos sobre vários assuntos e Julio me comenta que está saindo com uma garota que coincidentemente também estuda na minha faculdade.
Pelo que entendi, eles se conheceram em um bar e se deram bem à primeira vista.
Ambos são filhos de pais separados e embora o meu amigo tenha passado por um trauma quase similar ao meu, eles se entenderam quase de imediato.
— Como é o nome dela? -Indago com o coração acelerado desejando profundamente que não seja a Bianca. Não me entenda mal, eu gosto bastante da minha amiga, mas as vezes sinto que ela é muito mais do que aparenta, que debaixo daquela imagem de perfeição, existe algo bem mais profundo e obscuro e isso me dá medo.
Nos conhecemos quando éramos apenas duas crianças que não sabiam nada da vida, então eu fui embora e voltei depois de quase dez anos.
Muita coisa deve ter acontecido nesse meio tempo e tenho quase certeza que ela cresceu e amadureceu de uma maneira muito diferente da minha.
— Julieta. -O moreno ao meu lado responde em um sussurro. Seus olhos brilham quando ele pronuncia o nome da garota e um sorriso involuntário se forma no meu rosto.
É tão bonito ver alguém apaixonado.
Me faz sentir que o mundo não é esse poço de tristeza e amargura que estou acostumada a ver todos os dias.
— Ela é uma garota muito sortuda por estar saindo com você, Julio. -Ele nega com a cabeça.
— Na verdade, o sortudo sou eu. Ela é... demais. Não sei como me notou naquele bar, mas agradeço por isso.
Solto uma gargalhada incrédula.
— Já se olhou no espelho, cara? Você é um deus grego ambulante. -Dou um tapa no seu ombro e ele cai na risada junto comigo.
— O nosso exterior é só uma casca irrelevante, Ava. O de dentro é o que importa. -Seu olhar se cruza com o meu pelo retrovisor e respiro profundamente.
— Desde quando eu virei amiga de um poeta romântico, heim? -Desconverso com a voz embargada e ele chacoalha a cabeça para um lado e para o outro.
Suspiro discretamente tentando conter as lágrimas que ameaçam cair pela minha bochecha.
Julio não faz ideia de como essa frase me afetou por completo.
Por muitos e muitos anos eu fui obrigada a manter uma dieta rígida para não engordar, mesmo que isso afetasse até o meu ciclo menstrual. Meus pais não estavam nem aí para o que acontecesse comigo desde que estivesse sempre apresentável para os seus amigos e para ele.
O meu ex namorado era um idiota.
Quero dizer, ele ainda é.
Ainda consigo sentir o cheiro repugnante do seu perfume quando ele se deitava por cima de mim e me levava a fazer coisas para as quais eu não estava sequer preparada.
Ele me controlou, me usou como uma escada para subir até a alta sociedade e quando conseguiu o que queria, começou a me tratar como lixo. E o pior de tudo, por um bom tempo eu realmente acreditei que merecia tudo aquilo.
Nunca vou esquecer o seu rosto, a forma como ele segurava minha nuca enquanto caminhávamos como se eu fosse um maldito cachorrinho que precisasse ser guiada, como se não conseguisse andar sozinha.
— Gostar de alguém causa esse efeito na gente, você deveria saber disso. -A voz de Julio me traz de volta ao presente e franzo o cenho tentando entender o que ele quer dizer.
— Por que eu deveria saber? -Inclino a cabeça para o lado e ele sorri de canto sem deixar de prestar atenção no trânsito.
— Não se faça de desentendida, querida. Sei muito bem que não consegue tirar aquele bad boyzinho dessa sua cabecinha teimosa.
Quase engasgo com a minha própria saliva.
— Do que diabos você está falando?
— Qual é, Ava. Todos os dias você reclama de como Jhonatan não te deixa em paz, como ele sempre vai ao seu encontro ou dá um jeito de te tocar ou de ficar perto. -Ao contrário do que pensei, meu amigo sorri enquanto joga minhas próprias frases contra mim. — No começo eu não entendia, mas com o passar dos dias eu percebi que você sempre procura um motivo para falar dele e isso só tem uma explicação.
— Escuta, eu definitivamente não estou gostando desse idiota. É só que ele sempre me atazana e você é a única pessoa com quem eu converso, então sinto muito se te incomodo com isso. -Julio revira os olhos. — Não vou mais falar sobre ele, prometo. -Faço uma força gigante para não gaguejar.
Mas que droga! De onde esse cara tirou todas essas ideias malucas?
— Eu não ligo para isso, Ava. Pode confiar em mim para contar o que quiser, no entanto, saiba que isso é um sintoma claro de paixonite aguda. -Julio sorri ainda mais e mordo os lábios com impaciência.
— Pense o que quiser, mas eu não estou gostando de Jhonatan. -Resmungo de braços cruzados como uma criança birrenta.
— Cuidado, minha cara, que quanto mais fechamos nossos olhos para o óbvio, mais intenso é a sensação quando passamos a enxergar a verdade.
Abro a boca para lhe responder, contudo, nenhuma palavra sai pelos meus lábios.
É como se de repente eu tivesse perdido a voz como naqueles sonhos onde você tenta gritar e não consegue pronunciar nenhum som por mais que tente e tente.
Devo ficar assim por pelo menos uns cinco minutos e a cada segundo que passa, minha cabeça dá voltas e voltas completamente confundida.
— Chegamos. -O sussurro me faz piscar rapidamente e saio desse transe que eu entrei por conta própria.
O que está acontecendo comigo?
Avisto a entrada da universidade e solto um longo suspiro.
— Obrigada por me trazer, Julio. Me ligue quando a moto estiver pronta para que possa buscá-la. -Abro a porta do passageiro e desço do seu carro ao mesmo tempo em que ele faz o mesmo e dá a volta até me encontrar do outro lado.
— Não foi nada, e pode ficar tranquila que vou deixá-la prontinha para você antes do final do seu expediente.
— Você é um amor, sabia? -Sorrio carinhosamente ao ver suas bochechas adquirindo um leve tom avermelhado.
— Vou trazê-la até aqui depois das suas aulas, ok? -Ele coloca uma mão em cima do meu ombro.
— Não precisa, Julio, é sério. Eu posso ir até a sua oficina...
— Querida, quando vai entender que não adianta insistir? Sabe que irei fazer exatamente o que estou te dizendo? -Ele me interrompe divertido.
— Só pode ser minha sina ter que lidar com pessoas teimosas o dia inteiro... -Sussurro contrariada e o cara de quase dois metros na minha frente solta uma risadinha rouca que derreteria qualquer garota em um raio de cem metros.
— Nos vemos mais tarde, prometo que vou cuidar bem da Mabel. -De repente seus braços me envolvem em um abraço sincero e por alguns segundos fico sem saber o que fazer, como agir, se retribuo o gesto ou espero que ele se afaste de mim.
Então, como se fosse em um passe de mágica, contorno sua cintura tonificada e aperto o seu corpo contra o meu respirando fundo.
Deus como senti falta disso. Desse contato sem nenhuma intenção por trás.
Involuntariamente minha mente traidora me faz perceber que além de Julio, a única pessoa que permiti que me abraçasse desse jeito foi... Jhonatan.
Mas que droga!
Nos afastamos lentamente um do outro e Julio coloca uma porção de cabelo atrás da minha orelha em um gesto fraternal.
— Julieta e eu estamos indo até aquela casa de chá no centro, queremos que vá junto. Ela quer te conhecer. -Seus olhos observam atentos a qualquer reação minha e balanço a cabeça para cima e para baixo rapidamente.
— Será um prazer. -Digo baixinho dando alguns passos para trás. — Nos vemos mais tarde. -Completo.
Espero que Julio entre de volta no carro, então me viro para ir até a entrada da faculdade.
Começo a caminhar como uma sensação estranha de que estou sendo observada e quando dou meia volta e olho ao redor, dou de cara com Jhonny me encarando com o cenho franzido e uma expressão fechada no rosto.
Ele começa a vir na minha direção, porém eu faço a única coisa que me ocorre no momento: saio praticamente correndo até a sala de computação rezando para que ele milagrosamente esqueça o que viu no caminho até aqui.
Meu coração bate tão acelerado que escuto um zunido no meu ouvido.
Respiro fundo várias vezes para tentar controlar a minha respiração descompassada e bem quando sinto que estou conseguindo fazer isso, Jhonatan passa pela porta com a mesma pose de sempre e se joga na cadeira ao meu lado sem dizer uma só palavra.
Será que ele está pensando que eu e Julio temos algo?
E por que isso me importa tanto?
— Muito bem turma, agora que já estão todos presentes, podem continuar com os seus trabalhos em silêncio, por favor. -O professor adverte desde a sua cadeira e cada dupla começa a conversar e a se colocar de acordo sobre o que farão hoje.
— Hã, e-eu fiz alguns avanços em casa se não se importar... -Murmuro sem coragem de olhar para Jhonatan e ele solta um suspiro resignado.
Não sei porque estou tão afetada. Eu não deveria estar assim. E muito menos ele.
— Você está saindo com aquele cara, Ava? -A frase me pega completamente desprevenida e engulo em seco sentindo minha garganta arranhando de repente como se tivesse engolido um cacto inteiro, com o floreiro e tudo.
NOTA DO AUTOR
Hellooooo pessoas lindas do meu core,
como estão nessa segunda feira maravilhosa?
Como sempre, vou deixar esse cap aqui e sair de fininho kkkk
Espero que tenham gostado,
Tenham todos uma ótima semana e
não se esqueçam de votar e comentar!
Amo vcs 🥰
Bjinhosss BF 🖤🖤🖤
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