Capítulo 04
"Não preciso imaginar,
Porque sei que é verdade
Eles dizem "todos os bons garotos vão para o céu"
Mas os garotos maus trazem o céu até você."
-Heaven
Julia Michaels
Encaro o garoto com uma expressão incrédula no rosto. A sua cara de pau me impressiona e por alguns segundos fico sem saber como reagir.
— Oh por Deus... -Sorrio em deboche e ele levanta uma sobrancelha desconfiado. — Acha mesmo que esse papinho vai funcionar comigo?
— Que papinho? -Ele rebate com falsa inocência.
Solto um suspiro impaciente e isso parece dar ainda mais corda para que ele continue com o seu jogo.
— Qual é, cara? Pensa que não sei que você é o típico bad boy? E que usa esse... -franzo o cenho tentando encontrar a palavra correta - esse estilo ao seu favor? A jaqueta de couro, as tatuagens... posso até mesmo apostar que você dirige uma enorme picape preta com vidros fumês para certas situações.
— Do que diabos você está falando? -Seus olhos se arregalam e nego com a cabeça.
— Não se faça de inocente. -ralho. — Eu conheço bem o seu tipo. Vocês chegam como se não quisessem nada, vêm com essas frases prontas que provavelmente deixam as garotas pensando que finalmente estão sendo notadas pelo garoto popular. Então, uma vez que conseguem se meter entre suas pernas, desaparecem e fazem de conta que nunca as viram na vida quando cruzam com elas.
— Eu não... -Levanto um dedo para que ele não diga mais nada.
— Mas tudo bem, você deve ser um cara solteiro que gosta de aproveitar a liberdade às custas de meninas iludidas com a ideia de que vão te conquistar. -Respiro fundo e ele me olha com os lábios apertados em uma linha fina e tensa. — E ao ver um rosto novo nessa universidade, decidiu que seria a sua próxima vítima. O problema, é que eu não estou nem aí para você, muito menos para essa sua tática barata de conquista, então por favor, só... me deixe em paz.
O garoto engole em seco várias vezes enquanto tenta assimilar o que acabou de ouvir.
Ele deve estar tão acostumado a conseguir o que quer facilmente, que quando é rejeitado, não faz ideia de como lidar.
— Uau... -Ele sussurra depois de alguns minutos. — Qual é o nome dele?
— O-o quê? -Agora é minha vez de ficar confundida.
Um sorrisinho amargo se forma nos seus lábios carnudos e ele aproxima o rosto do meu até parar a centímetros de distância.
— Qual é o nome do idiota que quebrou o seu coração?
Um arrepio percorre meu corpo ao escutar essa frase e sinto que o ar escapa lentamente pelos meus pulmões. Puxo uma longa respiração para não acabar passando vergonha.
— Isso não é da sua conta.
Me levanto em um pulo e jogo a mochila no ombro de qualquer jeito.
Faço uma careta com a fisgada no pulso e então lembro da tatuagem recém feita e de repente me preocupa tê-la machucado de alguma forma.
— Mas que droga. -Resmungo tentando controlar a dor e o garoto observa atento a cena como se eu não passasse de uma atração divertida para ele.
Reviso o desenho por baixo da camada de plástico filme e solto um suspiro ao confirmar que está tudo certo. Não há sangue, acho que isso é um bom sinal.
— Faz quanto tempo que você a fez? -Meu pescoço se arrepia com o seu hálito quente e dou um pulinho de susto. Será que ele não sabe o significado de espaço pessoal?
— A-acho que há pelo menos umas três horas. -Respondo em modo automático.
— Já deveria tirar o plástico então, caso contrário vai acabar criando umidade e ela não vai se cicatrizar corretamente. -Seus olhos analisam o desenho com destreza e me sinto quase nua sob o seu escrutínio.
— Ok, obrigada. -Começo a me afastar o mais rápido que consigo, no entanto, ele segura minha outra mão me impedindo de me mover.
Meu olhar oscila entre seus dedos tatuados que circulam meu pulso e seu rosto cujo cenho franzido é estranhamente sensual. Meus batimentos cardíacos começam a ficar cada vez mais acelerados e as lembranças de um passado tormentoso ameaçam voltar com força, então puxo meu braço com rispidez para que me solte e para a minha sorte, ele não oferece nenhuma resistência.
Sem dizer nada, caminho até a porta me controlando para não chorar. Você é muito melhor do que isso, Ava. Ele não pode mais te machucar.
Estou quase chegando na saída da sala, quando o garoto aparece novamente na minha frente, só que dessa vez ele não me toca. Em vez disso, ele estende um potinho branco bem na frente do meu rosto.
Analiso o objeto com cautela, como se dele fosse sair algum tipo de monstro.
— É uma pomada cicatrizante, comprei hoje mesmo, portanto está lacrada. -O garoto explica ao perceber minha confusão.
— Hum, obrigada, mas não precisa. -Empurro a embalagem contra o seu peitoral musculoso.
— Só... aceite, ok. É apenas uma maldita pomada.
Ele agarra meus dedos, deixa o potinho na palma da minha mão e caminha para longe sem nem olhar para trás.
O que diabos deu nesse cara?
Guardo a pomada na minha mochila antes de rumar até o estacionamento com os pensamentos a mil por hora. Sequer vou abri-la. No momento em que o vir outra vez, farei questão de lhe devolver.
Não preciso da piedade de ninguém.
Foco minha vista adiante e não ouso mover a cabeça para os lados. O único que preciso é ir para casa, tomar um banho e dormir até o outro dia. Jamais pensei que estudar fosse tão cansativo, ainda mais quando um desconhecido resolve que serei sua nova distração.
Chego até minha moto em tempo recorde e coloco a chave na ignição com os dedos trêmulos.
O que está acontecendo comigo? Por que não consigo parar de pensar no toque dos seus dedos sobre a minha pele?
— Você é uma burra, Ava. -Murmuro nervosa.
Passo uma perna até o outro lado do banco e me sento de qualquer jeito no couro frio.
Ainda bem que achei um lugar debaixo de uma sombra, caso contrário estaria literalmente cozinhando minhas nádegas a essa altura.
Antes de dar partida, respiro fundo uma e outra vez para me tranquilizar.
Eu não posso fazer isso. Não devo me distrair do meu objetivo.
Tenho que terminar a faculdade, pegar o meu diploma e desaparecer para nunca mais voltar.
Esse é o meu plano e pretendo segui-lo ao pé da letra.
Seguro firme o guidão e golpeio o pedal da moto com força pra dar a partida.
Ela se sacode algumas vezes e o motor ronca por breves segundos antes de desligar em um solavanco.
— Oh não Mabel, não faça isso comigo por favor! Não hoje. -Sussurro nervosa.
Chuto outra vez o pedal e nada.
Supostamente a moto está reformada, portanto não deveria acontecer esse tipo de coisa.
Pulo para o lado com o coração batendo como louco dentro do peito e empurro Mabel por alguns metros para pegar velocidade e assim poder ligá-la.
Devo passar uns vinte minutos fazendo essa cena ridícula e nada. Não consigo dar a partida porque quando subo em cima do banco, ela fica mais lenta e sem a potência suficiente.
— Argh! Eu gostava de você, Mabel! Pensei que nós éramos amigas! -Grito para a moto sem perceber que provavelmente esteja chamando a atenção da faculdade inteira.
— Além de ser esquentadinha, ainda conversa com motos. Confesso que isso está ficando cada vez mais interessante. -Uma voz rouca ressoa desde algum lugar e me repreendo mentalmente por reconhecê-la quase de imediato.
Olho para os lados em busca do garoto tatuado e encontro-o sentado na carroceria de uma picape... preta.
Uma gargalhada debochada escapa a todo volume pela minha garganta e ele faz um sinal de reverência desajeitado.
— Você pode ter acertado sobre o meu carro, mas errou sobre todo o resto. -Ele pula até o chão de um jeito estranhamente hábil e cruzo os braços observando-o se aproximar a passos decididos.
— Por acaso está me seguindo? -Resmungo quando ele está a apenas alguns metros de distância.
— Acha mesmo que é tão importante assim? -Apesar da frase ridícula, seus lábios se curvam em um sorriso provocante como se ele quisesse me tirar do sério a propósito.
— Pois foi o que pareceu.
— Estava só descansando no meu carro, até que você começou a discutir com essa belezinha.
O garoto desliza os dedos pelo banco de couro com veneração e seus olhos brilham com cada detalhe da moto antiga.
— Para começo de conversa, eu não estava discutindo com Mabel, apenas tentando entender o porquê ela não quer ligar.
Ele me encara de supetão ao me escutar e contém uma risada divertida.
— Então ela tem um nome. Você é bem... peculiar.
— E você é um enxerido. Agora se me der licença, preciso ver como ligar essa garota para dar o fora daqui.
Afasto o seu corpo para longe da moto, mas ele se aproxima de novo sem se afetar.
— Suba nela e vou te empurrar. Do jeito que está fazendo não vai sair daqui nunca. -Oferece, retirando a jaqueta de couro e deixando-a de qualquer jeito sobre a grama do nosso lado.
— E-eu acho que não é uma boa ideia. -Arregalo os olhos ao ver seus braços musculosos cobertos pelas tatuagens.
Agora que estamos tão perto, consigo apreciar cada uma nos mínimos detalhes.
E caralho, elas são perfeitas.
— Quando resolver parar de me secar, me avise para que possa te empurrar. -Ele diz com ironia e balanço a cabeça para dissipar sua imagem quente como o inferno da minha mente.
— Que seja, faça como quiser. E eu não estava te secando. -Resmungo a última frase contrariada.
— Vou fazer de conta que acredito. -O idiota sussurra no meu ouvido antes de começar a me impulsionar para a frente.
Decido não responder nada e me concentrar em não perder o momento certo para dar a partida.
Quando pego velocidade suficiente bato o pé no pequeno pedal de metal e como em um passe de mágica, Mabel ronca e se sacode debaixo de mim. O escape solta algumas lufadas de fumaça preta e sorrio ao ver como o garoto tosse de uma maneira teatral e exagerada.
— Oh, que pena, me desculpe por isso! -Sorrio ainda mais com a careta que ele faz.
— Que engraçadinha você.
Dou de ombros e estaciono do seu lado com a moto ainda ligada.
— Obrigada pela ajuda.
— De nada. -Ele limpa as mãos na calça jeans. — Me chamo Jhonatan, por certo. Meus amigos me chamam Jhonny.
— Até mais, Jhonatan. -Pisco um olho e parto em disparada pelo estacionamento até a saída.
Devo admitir que ele me surpreendeu apesar de tudo.
Pensei que fosse o típico garoto rico e mimado que não está nem aí para nada nem ninguém além dele mesmo.
De todas maneiras, sei que devo me cuidar porque por mais que ele tenha me ajudado, ainda assim pode ser que tenha sido com segundas intenções.
Infelizmente, aprendi da pior maneira que não devo confiar em ninguém por mais inocente que pareça.
NOTA DO AUTOR
Helloooooo queridos e queridas!
Eu sei, eu sei. Deveria ter postado ontem.
Mas em minha defesa, como vcs já devem saber, eu tenho
uma loja e essa época é uma loucura então as postagens serão irregulares
por enquanto. Tenham paciência comigo pfvr kkkkkkk
O que estão achando da interação do nosso casalzinho?
Espero que estejam gostando,
Não se esqueça de votar e comentar
Amo vcs 🥰
Bjinhossss BF🖤🖤🖤
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