Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

001

Ela chegará com o fogo ardente, entre brasas irascíveis que apagarão o brilho dos que a protegem. A filha do maligno erguer-se-á com a força do espírito do mar, carregando em seus olhos e em sua pele melíflua o sinal. Filhos da terra, prostrem-se e arrependam-se enquanto há tempo, pois quando o último folículo dançar vagarosamente a caminho da areia, todos padecerão, açoitados pela língua profana arrebatadora de almas. A complacência não mais terá lugar, e então o caos consumará o seu desígnio.

Os passos trôpegos e ansiosos seguiam uma linha contínua, cada espaço milimétrico era desbravado como se fosse uma floresta inteira. Trovões irrompiam entre as nuvens carregadas, prontas para despejar as suas lágrimas impiedosas sobre o corpo que se movia desvairadamente, o tempo estava acabando, não o tempo como o conhecemos, o seu tempo. Os trapos que lhe serviam de batina já se enroscavam nos pés cansados, mas o seu propósito deveria ser cumprido. Quando a primeira gota acertou o centro da face empalidecida, um raio cortou o céu e atingiu ao longe uma das árvores frondosas que surgiam como braços do inferno. O homem sentiu o metálico do sangue invadir o paladar e lançou-se à varanda da última casa à esquerda, fazendo com que seu corpo empuxasse a porta antes de cair sobre a soleira. Olhos assustados e piedosos correram ao encontro da face cadavérica estampada por um fio rubro que descia pelo queixo branco.

— Padre Gautstafr! — A mulher ajoelhou-se e cobriu as mãos dele com as suas.

— Minha filha — murmurou o padre, já sentindo a pulsação desacelerar. — Não tenho muito tempo. — Ele levantou os dedos, dando evidência ao papel que carregava.

O vento provindo da tempestade sacudiu a porta, e a chuva começou a se intensificar, como se quisesse pará-lo, impedi-lo de dar o seu recado.

— O que é isso? — perguntou a moça, já se ouvia sua voz entrecortada pelo desespero.

— A... profecia. Detenham-na... — Ele inspirou uma última vez com força e deixou que o seu fôlego final exprimisse o propósito de toda a sua caminhada: — Destruam a filha do maligno.

As ondas revoltas quebravam nas pedras à beira do precipício, em contraste com o horizonte calmo que revelava apenas uma mistura de céu e mar, o cinza e o azul quase da mesma cor. O sol quase nunca aparecia naquela região, uma ilha afastada e esquecida pelo mundo, ou, quiçá, nem descoberta ainda pela maior parte dos homens. Era extremamente anômala a forma com que o verde da vegetação crescia em meio a um lugar tão desfavorável, até mesmo a chuva parecia temer o vilarejo rodeado de água, ela aguardava sempre o auge de sua fúria para despejar suas gotas raivosas sobre as casas dispostas na parte mais plana da região. Encerrando completamente as expectativas de que esse pudesse ser um local claro e chamativo por quem o visse, o clima quase sempre escuro e banhado pelos ventos marítimos lhe rendeu o título de Ilha de Mörker, dado quando uma embarcação sueca atracou nas proximidades, levando os colonizadores. Com o tempo, o local foi esquecido, a procriação aconteceu somente com aqueles que já estavam lá, e nunca mais outro estrangeiro pisou no chão curiosamente fértil da ilha. As árvores eram como túmulos dos segredos mais sórdidos e sujos dos habitantes, mas também era a plateia das aventuras dos sonhadores que desbravavam cada canto do lugar.

— Devolva agora, sua peste! — berrava com força a mocinha de cabelos loiros quase brancos, enquanto corria atrás do pequeno rapazote, com um cesto de maçãs sendo equilibrado nas mãos durante a corrida.

O garoto, por sua vez, andava em ziguezague, embrenhando-se no meio das árvores enormes de troncos finos e copas que cobriam o céu, deixando com que apenas alguns feixes de luz esbarrassem no solo. Estava prestes a dar a primeira mordida, quando viu o clarão do fim da floresta. Aumentou a intensidade da corrida e deu alguns pulos para avançar com rapidez por cima dos galhos e troncos caídos, que separavam o vilarejo da mata. Os pés pequenos e habilidosos perderam a noção de espaço e altura por um segundo, o bastante para que a rota fosse calculada erroneamente e, diante da queda iminente, abandonou a fruta e levou as mãos ao rosto. Esconderia alguns arranhões nos braços, mas, com eles no rosto, seria praticamente impossível fugir do cinto afivelado do tataravô, que a mãe guardava desde que tomara ciência da importância daquele objeto para a ilha. Os outros não viam motivo na adoração por pessoas que os abandonaram lá para morrer, mas ela sabia que havia um propósito, sentia no fundo da alma que os haviam deixado por outro motivo.
O menino retirou da face as palmas amareladas e espremeu os olhos antes de escutar a voz doce e melodiosa da figura que tampava a luz sobre seu corpo:

— Se machucou, Ander?

Ele afastou as pálpebras e notou que ela estava com uma das mãos estendida, enquanto segurava a barra do vestido, alvejado ao sol, com a outra. Os cabelos castanhos, finos e longos, sacudiam contra a brisa, deixando sua pele pálida ainda mais branca pelo contraste. Tomou a liberdade de apoiar-se nela para se levantar e, depois disso, ouviu os passos enfurecidos que brotavam da floresta.

— Eu vou matar você! — disse a mocinha, desviando-se dos obstáculos no chão.

Ander correu para trás da jovem que lhe ajudara e escondeu o rosto.

— Veja isto, está toda machucada — comentou a pequena loira de olhos verdes, enquanto pegava a maçã caída e a limpava sobre o avental marrom.

— O que está acontecendo, Kiara? — perguntou a protetora, com os braços cruzados.

— Ele roubou uma maçã das que eu e Prudence colhemos para os trabalhadores, os curandeiros e as costureiras.

— E por isso ele estava correndo feito um desvairado  — disse a moça. — Dê uma das maçãs a ele — ordenou.

— Aleyna... — protestou a mais nova, indignada.

— Eu sou uma curandeira, estou dando a minha maçã a ele — redarguiu a pálida moça.

— Você ainda não é. O seu pai é!

— Meu pai detesta maçãs — disse Aleyna. — Não irá se importar. Eu mesma digo para quem foi a fruta que deveria ser dele, não se preocupe.

Kiara esticou os lábios para frente e os projetou para o lado, estendendo a fruta machucada ao menino, que se recusava a sair da proteção da jovem de cabelos com cheiro de cereja e mel, ele podia sentir dali de onde estava.

— Não essa, Kiara. Uma que esteja boa.
A moçoila jogou a maçã que estava em suas mãos para longe, espantando um amontoado de corvos que espreitava perto da floresta, depois meteu a mão dentro do cesto, a contragosto.

— Pegue a maçã, Ander — ordenou Aleyna, olhando para trás por cima dos ombros.

O garoto balançou a cabeça em negação.

— Estou mandando pegar a maçã. Kiara não vai fazer nada contigo — disse com doçura.

Ander saiu detrás dela, ainda com medo e atento a qualquer possibilidade de levar alguns cascudos. Estendeu o braço com rapidez e pegou a fruta reluzente que estava suspensa pela mão da mocinha.

— Agora, me escute — Aleyna se curvou e afagou o ombro do garoto —, não pegue mais nenhuma fruta do cesto das meninas, entendeu? Quando quiser, me peça, e eu dou um jeito. Estamos entendidos? — perguntou, com os olhos semicerrados.

O rapazinho assentiu e saiu correndo em direção ao pasto que ficava à direita, perto de alguns casebres de madeira.

— Ótimo! Agora são duas maçãs faltando — disse Kiara, ao olhar para o cesto.

— Venha. — Aleyna pegou o recipiente dos braços da mais nova e o encaixou nos seus próprios. — Eu tenho maçãs da colheita da semana passada, em minha casa. — Virou-se de costas e começou a andar na direção contrária do vento, fazendo o cheiro doce de seus cabelos invadir as narinas da outra, que correu para alcançá-la e pôs-se ao seu lado.
— Você estraga as crianças desse lugar. Vão crescer ladrões e acabar roubando a sua casa — falou Kiara, descontente. O bico formado anteriormente ainda não deixava seus lábios.

— É só um garoto. Estava com fome, as mulheres estão quase todas na costura, os homens trabalhando. É difícil ficar sem comer nada durante as refeições principais, na idade de Ander.

— E como tem certeza?

— Meu pai me ensinou a ler, está em um dos seus livros.

— Você sabe ler? — Os olhos de Kiara arregalaram-se, e ela parecia maravilhada.

Aleyna virou o pescoço em sua direção e sorriu com o canto dos lábios, enquanto movia cabeça suavemente.

— Mas então você pode se candidatar à Guia da aldeia quando for mais velha e...

— Sh! Fale baixo, Kiara! — pediu Aleyna ao acenar para uma das senhoras que estavam do lado de fora, estendendo a pele de uma cabra para curar e servir-lhe de vestimenta no frio. — Ninguém pode saber disso. É um segredo meu e de meu pai, até que eu me torne uma curandeira de verdade.

As duas continuaram caminhando em meio ao amontoado de casas, enquanto Kiara tentava descobrir mais sobre como era ser uma jovem moça que sabia ler.

— Veja como anda! — disse ao longe uma mulher, tinha ela a feição desgostosa e os braços cruzados em frente ao peito.

O senhor que estava ao seu lado, costurando a sola de um dos inúmeros sapatos que construía, soltou um pequeno riso pelo nariz a sacudiu a cabeça. O chapéu lhe cobria grande parte do rosto, mas era possível ver a fumaça do cachimbo que estava preso entre os lábios. Ele levantou a cabeça, expirou a fumaça e olhou para as duas jovens de idades diferentes, que caminhavam contentes já quase no final do primeiro beco.

— O que há de mal na moça? — A voz rouca saiu ainda mais carregada que o normal.

— Veja como anda remexendo aquelas cadeiras obscenas para os lados.

— É a jovem mais doce da ilha inteira, Elin. Tão amável, carinhosa, caridosa — ele rebateu. — Parece um anjo que desceu do céu — completou, observando a moça que acabara de receber um manto rendado, de uma das senhoras da vila, e o ajeitava sobre a cabeça enquanto entregava o cesto à mocinha ao seu lado.

Mesmo distante deles, era possível notar o sorriso dela e o da mulher que a presenteara. Aleyna ganhava muitas coisas, tanto das senhoras do vilarejo, quanto das que viviam perto da praia do outro lado, e também à beira da floresta. Os seus trejeitos meigos e simpáticos agradavam aos olhos e ao coração.

— Anjo? — treplicou Elin, olhando na direção da mesma cena: a dança feliz da moça com o véu na cabeça. — É um perfeito diabo, isso sim. Aquele sorriso cheio de dentes, a boca vermelha, clamando para que algum homem a beije. Nada me tira da cabeça que é fruto de algum pacto ou oferenda. Ninguém nasce tão belo e doce — completou. — Espero que Deus tenha piedade dessa alma. — Fez o sinal da cruz.

— Anjo ou demônio, não se pode negar que é uma moça muito delicada e atenciosa.

— O senhor também já caiu nas teias daquela maldita, papai?

— Cuide dessa língua, Elin. Ela ainda vai te matar. — O homem levou o cachimbo de volta à boca e se concentrou no que estava fazendo anteriormente.

Talvez a mulher tivesse razão, afinal de contas, havia tanto tempo que o último padre ordenado falecera, que as pessoas pareciam se afastar cada vez mais de Deus e se aproximar do pecado com constância. As leis do povo ainda eram asseguradas, mas até quando? Elin era uma das que as defendia com unhas e dentes, e esperava apenas uma brecha para mostrar a todos que tinha razão sobre a filha de Maat.

Do outro lado do vilarejo, as duas moças entravam no alojamento do curandeiro, um local amplo, de dois andares construídos em uma fundação de madeira de carvalho, quase indestrutível. O barulho dos sapatos ecoou pelo primeiro cômodo e ouviu-se uma voz que vinha das escadas.

— Aleyna!

Os passos apressados nos degraus logo revelaram a figura da pequena garotinha. Em nada se parecia com a irmã mais velha. Exceto os olhos negros, eles eram idênticos. Mas até o tom amendoado da pele destoava da palidez da mais velha, assim como os fios dourados que deslizavam sobre os ombros magros.

— Diga “olá” para a visita, Elissa — disse a jovem, enquanto pegava a mais nova no colo.

— Olá, Kiara.

A moça acenou e a pequena voltou os olhos para a irmã novamente.

— O papai esteve aqui.

— Ah, é? E o que ele queria? — perguntou Aleyna, sentindo os dedos de sua irmã enroscarem-se nos seus cabelos longos.

— Pediu a Angeline que dissesse a você para preparar uma talha de ervas frescas com cofri... cofro...

— Confrei.

— Isso! — A mais nova sorriu. — Disse que um enxame atacou alguns lenhadores, eles vão precisar de ajuda.

— Tudo bem. E onde está Angeline? — questionou Aleyna, abaixando-se e deixando a mais nova no chão.

— Lá atrás, foi pegar o meu chapéu para irmos até as pedras. — Apontou Elissa. — Vai com a gente?

— Não posso. Preciso fazer o que o papai pediu, minha pequena.

— Ah, é mesmo. Eu vou lá chamar a Angeline para irmos.

Elissa saiu tão depressa que mal se despediu das moças.

— Venha, Kiara. Vou pegar as maçãs.
As duas seguiram até a cozinha, onde havia uma bacia com algumas frutas colhidas na semana anterior. Depois de pôr duas maçãs dentro do cesto, Aleyna ainda enfiou duas laranjas e dois morangos dentro dos bolsos da garota ao seu lado.

— Não precisa, Aleyna.

— Aceite, por favor — suplicou a pálida dos olhos negros. — Ganhamos muitas coisas das pessoas que vêm aqui.

— Angeline não vai brigar contigo?

— Angeline cuida da Elissa e de algumas coisas da casa até o casamento. Quem manda é o papai, e ele não se importa que eu dê algumas frutas a você — insistiu. — Não me faça pôr mais maçãs na sua cesta! — brincou.

— Obrigada, Aleyna.

— Não tem que agradecer. E se quiser ficar aqui para me ajudar com as ervas e aprender um pouquinho do que fazemos, será um prazer.

— Você vai ler?

— Bem, eu sei preparar o que o meu pai pediu sem precisar de nenhum livro — disse Aleyna. — Mas se quiser, eu posso ler alguma coisa... dos livros secretos do papai — sussurrou com um sorriso sugestivo.

— Aleyna — chamou a mulher, antes de atravessar a soleira. — Já estamos indo.

— Bom passeio — disse a moça.

Angeline carregava uma sacola de pano atravessada sobre o corpo e uma garrafa de leite que provavelmente deixaria na casa dos pais, esta ficava no caminho do destino para onde iria com a pequena Elissa.

As que ficaram esperaram até que as demais saíssem para começar o preparo das ervas. A iluminação estava um tanto precária, então, Aleyna decidiu acender algumas velas para ajudar a clarear o ambiente. Primeiro acendeu o fogão à lenha, que já estava preparado por seu pai, depois encheu um caldeirão de água limpa e pôs sobre ele, para que fervesse. Em seguida, sentou-se à mesa e começou a separar as folhas boas das ruins, enquanto ensinava Kiara a decifrar qual estava própria para o uso.

— O que vai fazer depois que Angeline se casar? — perguntou a mais nova, ao tempo que arrancava alguns folículos do molho de ervas em suas mãos.

— Como assim? — Aleyna ergueu o olhar, sem parar de arrancar as folhas do galho que as mantinha juntas.

— Vai ter que cuidar da Elissa sozinha, não vai mais poder sair para colher frutas, nem vai poder ajudar o seu pai como curandeira.

Aleyna pensou por algum tempo. Aquilo ainda não lhe havia passado pela cabeça. Kiara tinha mesmo razão, mas Elissa não era um peso, não para ela.

— Elissa já está crescida, vou ensiná-la tudo o que eu sei. Quanto a não poder sair e ajudar o meu pai, é só até minha irmã ganhar mais alguns anos. Isso não é um problema. — Sacudiu a cabeça e depois jogou todos os fios para cima do ombro esquerdo.

— Já passava da hora de Angeline se casar — Kiara comentou.

— Todos temos o nosso tempo, esse é o tempo que ela escolheu.

— Ela deu sorte.

— Sorte? Por que, Kiara?

— Oras, Yrian! — disse, como se fosse óbvio. — Já o viu cortando lenha?

— Não, e não sei por que deveria.

— Ele é um homem muito... acalorado. — Kiara remexeu os ombros.

— Esta conversa está indo longe demais — afirmou Aleyna e se levantou da banqueta. — Venha, vou te mostrar ao certo como cortar as folhas. — Pegou uma chaleira cheia de água fria e começou a despejar sobre as ervas já separadas.

— Me perdoe. — Kiara colocou-se ao seu lado. — Eu só quis dizer que na idade de Angeline, ninguém esperava que ela arranjasse um homem como ele.

— Eles têm a mesma idade — replicou a jovem, o tom denunciava que não estava gostando do rumo do diálogo.

— Exato, Aleyna. E o que se espera? Que um homem escolha uma moça mais jovem.

— Eles são feitos um para o outro, não importa a idade de nenhum dos dois. Acho bom parar com essas ideias que passam pela sua cabecinha, moça. Não quer ser fustigada no meio da ilha e lançada do precipício, quer? — murmurou, relembrando uma das leis primordiais da ilha.

— Claro que não, Aleyna. Eu jamais seria capaz de seduzir um noivo e me deitar com ele.

— Eu acho bom que não seja mesmo. Agora pare de falar bobagens e venha me ajudar.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro