4 - Nasce a Herdeira
Jaci sentiu, como há muito tempo não sentia, alguém lhe invocando.
Intuiu imediatamente que era Alice. Só podia ser ela. E, apesar da suposta serenidade inerente aos deuses, ficou angustiada e temerosa.
A divindade se materializou imediatamente onde havia sentido a presença da jovem. Parecia deslocada fora de sua morada. Sentiu o cheiro da Morte. Aquele cheiro que não sentia há milhares de anos e remetia às guerras de seu povo travara. Se tivesse um coração que batesse, estaria acelerado e partido.
Apesar da falta de coração, estava furiosa. Sua energia imortal a circulando e expandindo com o ódio que sentia.
Uma flecha, sua flecha, estava fincada no cotração de Alice. Uma pequena mancha circundava a ferida em seu corpo. Os adornos na haste de metal azul, materialização de sua própria luz, pareciam veias rebuscadas que saíam de seu corpo, completadas pela ponta de pedra lunar esculpida em penas.
A Morte não podia ter aparecido ali para buscar a Caixa. Isso romperia o tratado e ela ficaria para sempre aprisionada, mas tinha certamente enviado alguém. Era uma barganha, talvez. Ele ao menos devolver a sua flecha. Não do jeito que esperava recebê-la, mas ela estava ali e seria o suficiente para salvar Alice.
Lembrou-se de quando perdeu a flecha, um ato de vingança da Morte por ter sido ela a escolhida para guardar a Caixa. Uma decisão sensata dos imortais. A Morte, contraditoriamente, era volúvel, debochada, instável. Não merecia tal tesouro, embora a pertencesse tanto quanto a qualquer um de sua raça. O presente que fizeram para dar ao merecedor e, como tal, não deveria ser tomado.
A Morte tinha uma heroína, agora era a vez dela. Teria que dar uma parte de si, mas finalmente teria uma herdeira na terra, alguém que não seria somente um humano com uma armadura dos Alefs, alguém que seria parte dela.
Jaci começou a entoar os cânticos sagrados, dançando lenta e lindamente em volta de sua escolhida. O ritmo do cântico era profundo e ficava mais intenso a cada instante, assim como a dança. O passo acelerando, a batida dos pés cada vez mais forte ecoava por todo o lugar, apesar da ausência de paredes.
O túnel mudou, escurecendo completamente. A luz vinha somente da deusa e da flecha, que banhavam o corpo imóvel da jovem.
Quando o ritmo parecia impossível de ser acompanhado, transmitindo um senso de urgência, o brilho que emanava da deusa sendo tão intenso que seria impossível para um humano ficar o olhar, Jaci finalizou a dança em um estrondo, jogando-se no chão de joelhos diante de Alice.
— Ayira — sussurrou em um sopro, prologando a palavra. A energia palpável saiu de seus lábios e desceram até os lábios imóveis da outra, enquanto retirou, no mesmo momento, a flecha em um movimento brusco. O corpo de Alice ergueu-se e bateu novamente no chão, tamanha fora a força empregada para retirar o projétil.
Jaci rasgou o vestido de Alice com uma das mãos, deixando seu tronco à mostra. A ferida em seu corpo começou a se expandir, em forma de losango, indo de sua clavícula até o meio de sua barriga. Dentro dela se via o universo, com aquela energia primordial soprada por Jaci, que agora habitava ali.
A deusa depositou uma pequena pedra da lua em seu peito aberto. Aquilo limitaria os poderes de Alice para algo que seu corpo humano pudesse controlar. Colheu, então, uma rara lágrima de seus olhos e com ela desenhou um triângulo na testa de sua protegida, uma de suas muitas marcas.
Por fim, materializou a água que banhava seu reino, colhida pelas suas vitórias régias, e a espremeu em seus lábios entreabertos.
— O que está feito, está feito, nenhum poder desfará o seu, minha herdeira, minha ayira.
Seu peito aberto fechou, como uma dobradura se desfazendo. Os olhos de Alice se abriram, arregalados, ferozes.
Pô-se sentada, a marca tilintando em sua testa, mas o que mudara foram seus olhos, exatas réplicas dos da deusa.
— Você será Lunar.
Olá, Leitores divos! <3
Este volume 1 de Lunar chegou ao fim. ç.ç
Mas não se preocupe, semana que vem tem mais! <3 Alice irá se deparar com a confusa realidade de ter habilidades especiais. Irá descobrir seus poderes e procurar respostas, tentando descobrir em que tipo de heroína irá se transformar, enquanto reluta em deixar sua vida passada para trás.
E não deixe de ler a história da "Carpe Diem" em Srta. Morte. O livro escritor por Lucas Xavier que está aqui no perfil. :)
BeijO!
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