Autocontrole
Hoje era um grande dia para mim, Dave finalmente iria me visitar aqui para uma festa anual. Decidimos que a festa seria em Nova Iorque, então ele já estava no avião. Era manhã e ele me pediu para esperar ele e sua esposa no aeroporto.
E lá estava eu, escorada em uma coluna próximo ao portão de desembarque com meus óculos escuros, calça jeans e uma jaqueta de couro. Não demorou até eu avistar o homem de blusa social preta junto com sua bela esposa.
– Kath, como pôde ficar mais bonita? – perguntei, a abraçando. Eu adorava implicar com Dave elogiando sua mulher, mas nunca menti nos elogios. Ela realmente era uma mulher linda. Por dentro e por fora. Cresceu junto com ele nesses anos. – você está até que bem, Dave. – falei, o abraçando.
Estava com saudade dele, mas nunca diria isso em voz alta.
– Kath realmente fica mais bonita a cada dia, mas eu posso falar isso. Você não. – ele disse. Possessivo? Talvez.
– Pode sim, Luna. E você? Está tão bem quanto sua aparência? Gostei da jaqueta. – ela também gostava de provocar o marido.
– Estou ótima. Onde irão se hospedar?
Fomos indo para o estacionamento, onde estava meu carro. Eles me deram o endereço e fui deixá-los no hotel. Até convidei eles para ficarem comigo, mas negaram alegando que ficariam por uma semana e não queriam me incomodar.
Fomos conversando sobre como estava os preparativos para a festa e combinei de ir ao shopping com Katherine pela tarde para comprarmos vestidos para a ocasião.
– Ainda bem que preciso só do meu bom e velho terno. – disse Dave. – não que vocês também não possam, mas sabe, eu só tenho essa opção.
Rimos e continuamos a conversar pelo resto do percurso até eu parar em frente ao grande hotel. Dave acertou no lugar, ali tinha ótimas críticas.
– Eu venho te buscar às três, ok? – ela concordou e saiu do carro, Dave ainda estava parado ao meu lado. – vou passar uma semana aqui, podemos sair um pouco? Sabe, não temos nos falado tanto.
– Venha até minha casa amanhã, você pode cozinhar. Ainda é tão bom nisso?
Ele riu, debochando.
– Eu sou bom em tudo, meu anjo. Enfim, tchau, Segrini.
– Dave? – ele estava abrindo a porta quando chamei. – eu tenho muita coisa para contar.
– Imagino. – me despedi e ele foi embora.
É óbvio que eu contaria o que estava sentindo. Dave era bom com conselhos e eu chamei ele para minha casa para ele conhecer Ellie e Sammy. Eu precisava saber o que ele acharia dela. Ele tinha uma intuição para reconhecer pessoas que me assustava.
Eu estava no estacionamento do condomínio quando ouvi vozes alteradas.
– Isso é culpa sua! Você me deixa assim! – era a voz de um homem, mas eu não fazia ideia de com quem ele falava. – você tá sempre arranjando problema, Ellie.
– Eu? Matthew, pelo amor de Deus! Eu não fiz nada. O cara nem olhou para mim. Você não tinha o direito! – minha Ellie estava com a voz embargada. Eu quis me meter na conversa no exato momento que soube que era com ela que ele falava daquela forma, mas precisava de uma boa desculpa para atrapalhar.
– Ele estava te comendo com os olhos por causa da roupa de vagabunda que você usa!
– Você me chamou do que? Matthew, vai se foder! Me solta agora. – ela falou. Sua voz não estava mais embargada, mas cheia de ódio. Resolvi me intrometer, acabar com aquela palhaçada.
– Ellie? Eu preciso muito falar com você, é urgente. – falei a primeira coisa que pensei e ele soltou o braço dela assim que me viu. Ela sequer olhou para trás e veio depressa até mim.
– O que foi?!
– Só vem comigo. – a puxei para meu carro e saí cantando pneu de lá, deixando o babaca com cara de idiota. – na verdade, não é nada. Eu acabei ouvindo a discussão e achei melhor intervir.
Ela suspirou, colocando a mão no rosto.
– Olha, Ellie, me desculpa mas eu não aguentei. Tinha que fazer algo…
– Eu não estou com raiva, obrigada por ter aparecido. Meu braço está doendo.
– Isso está ficando roxo, Ellie! – ela passou a mão por cima, massageando.
– Tá tudo bem, eu que sou muito branca. Qualquer coisa me marca.
– Por que estavam brigando?
– Estávamos no parque e ele achou que um cara olhou para mim e simplesmente foi arranjar briga com o homem.
Eu precisei de todo o meu autocontrole para apenas interromper a discussão de forma civilizada, mas a minha vontade era chegar dando os socos que ele merecia. Minha vontade era dar meia volta e socar aquele idiota até minhas mãos sangrarem.
Pena que ele era o dobro do meu tamanho.
– Ele está sendo extremamente tóxico para você, Ellie. E sua roupa é linda. Espero que não dê ouvido ao que ele fala. – ela usava uma calça jeans rasgada de cintura alta e um cropped de manga curta ombro a ombro da cor vinho.
– Bom, acho que não tenho que me preocupar mais. – disse, me mostrando a tela do celular com uma mensagem dele.
"Eu sei que errei hoje e espero que me desculpe, mas eu acho melhor ficarmos separados. Você me faz muito mal."
Ela riu, amargurada. Eu estava desacreditada com o que acabava de ler. Ele faz merda, ele fode o psicológico dela e ELA sai como a errada?
– Eu juro que se eu ver esse cara de novo, vou socar tanto a cara dele! – esbravejei, apertando o volante. Notei Ellie abaixar a cabeça e respirar fundo. Procurei algum lugar para parar e lhe consolar.
Estávamos em Rockaway Beach. Não fazia tanto frio, mas peguei um casaco que estava no carro e entreguei a Ellie em silêncio. Sai do carro e ela logo depois. A praia estava praticamente vazia naquele horário.
Me sentei na areia e observei o mar. Quis dar tempo para ela se acalmar e falar tudo que precisava. Ellie encostou a cabeça em meu ombro, respirando fundo.
– Quando eu conheci a mãe dele, em um momento que estávamos a sós, ela me falou coisas que ficaram na minha cabeça. Disse que eu não era boa o suficiente para o filho dela, que ele merecia alguém melhor, que eu era sem graça e que eu fazia mal para o filho dela. Disse que ele se tornou agressivo por minha causa. Que as outras namoradas que ele teve sempre foram dóceis e amáveis. Que eu era a única que defendia meus interesses e que não fazia o que ele mandava. – a abracei de lado, de forma que ela ficasse acolhida em meu peito. – desde então ele se tornou agressivo e arrogante. Parecia que tudo que eu fazia era errado e prejudicial a ele. Eu não podia reclamar de absolutamente nada que ele dizia que eu estava sendo tóxica para ele, mas era ele quem chegava de madrugada bêbado no meu apartamento querendo transar.
– Ele te…
– Não. Nunca chegou a esse ponto. Ele dormia antes de qualquer coisa, mas me beijava a força… – ela parou de falar, apertando minha cintura. A aconcheguei mais, buscando palavras.
– Ellie, você não foi tóxica para ele. Falar dos seus sentimentos, tentar resolver os problemas, não é ser tóxica. Você é incrível e ele quem te fez mal mas vai tentar de todas as formas te fazer pensar o contrário. Ele é abusivo e não te merece. É ele que não te merece, ele que não é bom o suficiente para você. A Sammy sabia disso?
– Não, eu não quero preocupar ela por causa do bebê. Você pode não contar a ela o que aconteceu?
– Tudo bem, mas só porque eu sei que se ela souber vai querer matar ele. Não que eu não concorde, mas eu sei que ela faria isso.
Ela riu, saindo meu abraço. Eu poderia passar o dia segurando ela, sentindo seu cheiro levemente adocicado. Mas para o meu azar, tínhamos que voltar.
A deixei na porta do seu apartamento depois de termos almoçado num restaurante próximo a praia e eu ter conseguido melhorar um pouco o humor dela.
– Está entregue. – falei, colocando as mãos no bolso.
– Obrigada mesmo, Luna. Nossa fugidinha foi muito boa. Me sinto bem melhor.
– Você é incrível demais para ficar mal por um imbecil. Tchau, Ellie. – me aproximei, beijando sua bochecha e sai antes de me arrepender o ato.
Entrei no meu apartamento e fui tomar um longo banho. Estava feliz com meu momento junto de Ellie.
Isso explicava o sorriso bobo que não saia do meu rosto.
Merda, Luna!
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