Tomando o que me pertence
Quando estou voltando para o quarto, Souza me chama.
- Soldado Fernandes.
O que foi agora?
- Senhor? - continência.
- Leve o soldado Oliveira com você na escolta.
Merda! Merda! Merda!
- Senhor, acabei de recrutar a equipe, senhor.
Ele sorri de um jeito macabro. Tecnicamente, não posso olhar em seus olhos, mas é uma regra que quebro sempre que ele está me testando. Não consigo evitar.
- Inclua-o. Sem desculpas.
Mais uma vez, ele me dá as costas.
Que inferno!
Oliveira é um idiota, maldito!
Dá em cima de mim desde que entrei para a corporação.
O imbecil não sabe a hora de fechar a boca, tem o dom de tirar meu juízo.
Souza definitivamente me odeia.
No corredor do meu quarto, é Oliveira quem está escorado na minha porta. Está com um sorriso presunçoso no rosto.
Verme!
- Saia da frente.
- Oi para você também, gatinha.
- Não enche! Sai da frente! - rosno.
Oliveira se afasta, mas não vai embora.
Entro e bato a porta.
Idiota presunçoso.
Não acredito que vou ter que aturar esse bosta na escolta, tentando tirar minha concentração. É exatamente isso o que Souza quer.
Queria que Cristiano estivesse aqui.
Sento na cama e penso na ronda noturna de hoje. Duas da manhã, com Tetso, meu parceiro.
Será que encontro algum novo sinal? Sei que é impossível encontrar Suzana de novo. Ela não quer ser encontrada. Deixou isso bem claro quando fugiu de mim.
Limpo o quarto e assim que tudo está no lugar, saio em direção a cozinha.
Gordo está sentado perto da pia. Me junto a ele.
- Oi. Posso continuar te chamando de Princesa?
- Porque não?
- Cristiano pode não gostar.
Olho em volta. Ninguém além de nós.
- Por favor, não conte a ninguém.
- Então disfarce. Todos observam vocês. Você principalmente.
- Que merda!
- Quem manda ser linda e eficiente?
Olho para mim por um instante. Muitas curvas, seios fartos demais, cachos que aliso sempre, assim meus cabelos vão até a cintura e me sinto mais séria, lábios grossos, nariz pequeno. Uma bunda enorme. Não vejo nada de extraordinário. Nada que outras garotas não tenham.
- Sou eficiente, sim, mas não tão bonita.
- Você tem espelho no dormitório? Porque não se olha lá de vez em quando?
Bufo.
- Para, Gordo. Esse assunto é coisa demais para mim. Não sabia que reparavam tanto até Cristiano dizer. Não gosto que me olhem.
- Você os trata como inferiores, como não olhariam?
- Isso não é verdade. Só... Não me encaixo. Se eles confundem isso com superioridade, não é culpa minha.
- Eles não sabem disso.
- Não precisam saber. Já me julgaram. O que eu quero perto de gente assim?
Gordo respira fundo.
- Ok. Não vou convencer você, eu sei, mas pense nisso.
Reviro os olhos.
- Vou ver se encontro tempo.
Rimos juntos. Está mais fácil rir.
Cristiano entra na cozinha e nos vê rindo. Está muito gostoso, como sempre, vestido de azul claro.
- Ei Gordo, essa é minha, não chega muito perto!
- Fala baixo. - eu chio.
- Relaxa Princesa, estamos sozinhos. - ele beija minha boca e eu coro.
- Vamos comer! Gordo, o que tem de bom?
- Omelete de frios e bacon e arroz de forno.
Ah, que fome!
- Ótimo, vem Princesa, quero sair logo daqui.
Cristiano me puxa pela mão. Nos servimos e sentamos no lugar de sempre, um ao lado do outro.
- Tenho ronda às duas da manhã. - sussurro.
- Estou de folga amanhã. - ele me olha e quero saber o que está pensando.- Vai rodar com Tetso hoje?
- Sim.
Ele olha ao redor e sigo seu olhar. Algumas pessoas chegaram e se servem, outras conversam e nos olham. Cristiano fala ao meu ouvido.
- Fica comigo até à hora da ronda?
Olho para ele e concordo com um gesto. Ele fala ao meu ouvido de novo.
- Posso esperar você no seu quarto depois?
Afirmo de novo e o sorriso dele alarga como nunca. Falo ao seu ouvido.
- Vamos precisar de proteção!
- Não vou esquecer, preciso ir no quarto. - ele fala no tom normal.
- Tá bom!
Ele sai da cozinha primeiro. Espero alguns minutos e saio também. Vou para o meu quarto, tomo um banho e seco os cabelos.
Olho o relógio, sete e trinta.
Coloco um conjunto de moletom preto e saio em direção ao elevador.
No telhado, Cristiano está arrumando a bagunça que fizemos a noite. Quando me vê, corre em minha direção e me pega no colo, me fazendo rir.
- Oi, Príncipe!
- Oi, Princesa!
Ele me beija, intenso. Me leva para as almofadas. Nos sentamos abraçados.
- Trouxe umas coisas para você!
- O quê?
Vejo um sorriso safado surgir em seu rosto.
- Primeiro, isso. Tome todos os dias a partir de hoje!
Cristiano me entrega uma caixinha com remédios. Pílulas contraceptivas. Adorei! Sinal que vamos ter muito sexo pela frente.
- Vamos usar preservativo, pelo menos por uma semana, até que a pílula faça a barreira de que precisamos.
Cristiano me dá um meio sorriso.
- Ótimo melhor presente. - digo e beijo sua boca de leve.
- Agora isso! Sei que gosta, então trouxe mais.
Uma caixa com chocolates! Cristiano ganha mais um beijo. É claro, ele merece muito mais, por trazer chocolates para mim.
- E por último, isso.
Cristiano estende a mão e a abre.
Na sua palma há dois círculos de corda trançados com miçangas coloridas. Duas alianças feitas de cordas. Olho para ele, sem conseguir dizer nada.
- Eu vou usar a minha assim... Até que você possa colocar a sua no dedo.
Ele pega uma correntinha de ouro fina do bolso da camisa e coloca a aliança de corda, depois pendura no pescoço, me pedindo ajuda para fechar.
- Você quer uma correntinha? - ele me olha.
- Sim. - quase não consigo responder.
- Toma. - ele me entrega e faço o que ele fez com a dele. Cristiano me ajuda com o fecho.
- Eu não sei o que dizer.
- Você gostou?
- Muito!
Céus... Sinto por ele algo tão forte que esmaga meu peito. Não sei dar nome a isso. E não quero sair de perto dele, nunca.
Seus lábios tomam os meus, num beijo selvagem. Quando se afasta, estou tonta.
- Agora é mais que oficial.
- Você é meu há dois dias! Não esqueça! - suspiro. - Sabe que sou ciumenta, possessiva e tenho comportamento obsessivo. Tem certeza que é isso que quer? Uma mulher mandona, louca, mal-humorada e tarada na sua cola?
Seu sorriso é fabuloso, largo e impressionante, como gosto de vê-lo sorrir!
- Gostei da parte da tarada! Não me importa o resto... Quero você Lana! Mais do que quero qualquer coisa na vida!
Envolvo seu corpo magro e gostoso com meus braços, perfeito para mim.
- Não quero ficar longe de você! Não quero nem ir trabalhar! Sabe o que significa?
- Sei. E estou orgulhoso de mim mesmo por fazer isso com você. Prender você a mim, era o que eu mais queria.
- Convencido! - mostro a língua para ele.
Cristiano chupa minha língua e nos entregamos aos beijos e carícias. Deitamos, abraçados. Ele nos cobre com um cobertor grosso.
- Que horas são? - ele pergunta.
Olho no relógio. Cinco para as dez da noite.
Caramba!
Quando estou com ele a hora não me ajuda.
- Quase dez.
Seus olhos se arregalam.
- Esqueci a ronda! Fique quieta! Eles não vão nos ver.
Prendo a respiração, segurando o nariz. Ele ri sem fazer ruído e me beija a testa, desligando a luz do pequeno abajur, nos deixando em total escuridão.
Depois de algum tempo, ouço a porta ser aberta e alguns passos. Vejo a luz de uma lanterna passear pelo teto e pelas caixas de papelão. Depois mais passos e a porta se fecha.
Uma ronda bem malfeita, mas agradeço por não ter sido pega. Cristiano acende o abajur, levanta e olha por cima das caixas, depois volta a deitar comigo.
- Tudo ok. Podemos ter intimidades agora! Faça o que quiser comigo.
Cristiano me beija. Acho que nunca vou cansar de sua boca.
- É bom que ninguém nos descubra aqui. Não podemos perder esse lugar.
Nosso lugar. Nosso segredo.
- Para de falar, mulher! Quero sua boca ocupada com outras coisas, agora!
Começo a rir, Cristiano morde meu queixo.
Meu Cris.
Quem eu encontrei sem precisar procurar.
- Ai, que nerd safado! - sussurro.
Sua boca em minhas costas, me beijando, suas mãos acariciando minha lombar. Suspiro e fecho os olhos. Me sinto inundada por ele, perdida nele. Intoxicada pelo encanto desse Príncipe. Do meu Príncipe.
Cristiano deita ao meu lado e me beija delicadamente, sem tirar o olhar do meu.
- Meu Príncipe! - sussurro, entre um beijo e outro.
- Eu te amo, Lana! - ele sussurra de volta.
Paraliso.
Olho bem fundo em seus olhos.
Não há como negar, ele fala a verdade. Conheço esses olhos, conheço a sinceridade neles.
Fico de lado e abraço seu corpo sem responder.
Não sei o que dizer. Não é cedo demais?
- Não vá dormir agora! - ele pede.
- Não vou.
Olho o relógio. Onze e quarenta. Acho que posso me dar ao luxo de chegar em cima da hora. Só uma vez.
Não quero soltá-lo! Nem agora nem nunca.
- Não quero soltar você.
- Não solte. Não quero ir a lugar nenhum sem você! - ele diz, cheio de doçura.
Olho para ele. Não está mentindo. Sinto aquela pressão contra o peito novamente.
Passamos a hora seguinte abraçados, nos beijando, sem muitas palavras. Ele não parece incomodado por eu não responder, parece feliz.
Também sinto essa felicidade. Cris é meu melhor amigo e agora, amante. Eu não poderia querer nada melhor do que ele. Porque simplesmente não existe nada melhor.
Voltamos para o meu quarto e ele deita em minha cama, enquanto eu tranco a porta.
Cristiano me observa. Intensamente.
- Preciso de banho quente. Quer vir?
- Não é pequeno para nós dois?
Solto uma risada e o puxo pelos braços para fora da cama. Ele sorri. E me beija de leve.
- Não importa... Vem!
Ele me segue até o banheiro. Tiro a roupa, entro na ducha primeiro e o espero. Pego o sabonete e entrego a ele.
- Banho de verdade, sem molhar meu cabelo!
Cristiano ri. Afinal, racionamos água e energia. Não devemos abusar por uma questão de sobrevivência. E porque a ducha é automática, dura só seis minutos.
- Pode deixar!
Tomamos banho em silêncio.
Estou incomodada por não responder quando ele disse que me ama. Eu não sabia o que dizer... Acho meio cedo. Estamos indo muito rápido. Não sei como dizer a ele. Não quero magoá-lo.
Saímos do banho, ele veste as mesmas roupas e deita na cama.
Coloco o uniforme, tranço o cabelo em uma trança única. Pego a arma na gaveta.
- Você fica tão sexy de uniforme. O azul marinho não disfarça a curva dos quadris, nem dessa bunda grande. Nem os seios, dá para ver esse corpão de longe. Um dia vou tirá-lo de você com a boca.
Estou rindo e vou até ele. Beijo sua boca e o cubro.
- Não abra para ninguém! Se quiser sair antes que eu chegue, tem uma cópia da chave na primeira gaveta da mesinha. Leve-a com você.
- OK, Princesa!
- Durma bem, meu Príncipe!
Beijo sua boca de novo antes de sair para o trabalho.
Passo bem à noite, sem nada para ver nas ruas, a não ser cachorros raquíticos e mendigos ao relento, com Tetso cantando e tagarelando.
Hoje não ligo, estou de bom humor, pensando no meu namorado.
Tetso trouxe alguns cobertores. Eu deveria ter pego comida, mas esqueci.
Sempre fizemos isso. Quando saímos juntos para a ronda, sempre trazemos alguma coisa que possa ajudar alguém.
Eu estava ocupada com meu namorado. Esqueci.
Quando volto ao Complexo, por volta das sete da manhã, estou desesperada para vê-lo.
Passo na cozinha para pegar duas xícaras de café puro porque sei que Cristiano também gosta e vou para o quarto, na esperança de que ele ainda esteja lá.
Só que o bostinha do Oliveira está na minha porta outra vez.
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