Prólogo
- Sai daqui... Está atrapalhando, garota! - o comandante Souza berra, com o rosto a centímetros do meu.
Ergo o queixo e o encaro. Mesmo tremendo, mesmo com medo.
É a chance de mudar minha vida miserável. A chance de procurar minha família, de ter um alívio da prisão que dizem ser meu lar.
O Comandante é alto, de ombros largos e traços marcantes. Sua expressão me diz que ele me estrangularia se pudesse. Talvez ele possa.
Ah, não. Ele não pode me impedir. Ele... pode. Mas não vai. Vou continuar lutando.
- Sou boa o suficiente, sou corajosa! E o regulamento diz que mulheres podem! O Capitão...
- Sai. Fora. Daqui! - ele interrompe, me empurrando. - Seu lugar é na cozinha, limpando o prato em que como e o chão em que piso!
O homem me deixa falando sozinha e segue pelo estacionamento, com os outros soldados atrás dele, rindo.
Estão rindo de mim.
Isso não vai ficar assim.
Sigo até o Gabinete do Conselho, nossos governantes. Eles trabalham em uma sala muito simples, no prédio correspondente ao governo. Não é longe de onde estava, na ala militar.
A mulher que me recebe, de olhos puxados, tem longos cabelos negros e pele bronzeada. Ela pode ter mais tempo ao sol, ao contrário de todos os outros, que são pálidos demais.
Bruna Sato é seu nome. Ela carrega o brasão em formato de sol no ombro direito, com seu uniforme sempre sério e nas mãos o Cetro Solar, indicando que ela faz parte do atual governo.
Como se ninguém soubesse quem eles são.
Ela ouve minha reclamação e pede que eu a acompanhe de volta a Ala Militar.
O Comandante Souza fica irado quando Sato exige que eu seja iniciada no treinamento.
- Conselheira... Ela é uma menina... Não vai suportar a carga do teste inicial!
Ele diz como se isso importasse a ele. Como se estivesse fazendo isso para o meu bem, como se eu fosse uma menina indefesa.
Comandante de merda!
Quem ele pensa que é para dizer o que vou ou não suportar?
- Se ela não suportar, não pode mais realizar teste nenhum para essa Corporação. - Sato diz, me encarando. - Se passar... Terá que aceitar a garota, Souza. O regulamento é claro, ela tem a idade certa e está dentro das regras.
O homem bufa, me encarando por um momento. Sustento o olhar.
- Amanhã, às três. Não atrase!
Agradeço a Sato e saio da sala, triunfante.
Mas meus ombros cedem assim que alcanço os corredores da Casa de Órfãos, onde moro, desde que vim parar aqui.
Aquele olhar...
Terei problemas com aquele homem. Sei quem desafiei.
Sou jovem, mas não sou burra.
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