Esses Olhos Azuis
Depois de um tempo...
- Oi, Gordo! - dou-lhe um beijo estalado na bochecha.
Dei sorte! Gordo é o cozinheiro oficial da Ala Militar. Está temperando pedaços de carne fatiada, na enorme cozinha. Está assobiando. Seu avental até os pés é branquíssimo e imenso, para abrigar seu corpo igualmente grande. Seu apelido não é por acaso.
- Oi, Princesa! De folga? No meio da semana?
Gordo me chama de Princesa sempre e eu gosto. Só ele e Cristiano me chamam assim...
Meu pai me chamava assim.
Estou sem meu uniforme azul marinho de patrulheira, então todos sabem que estou de folga.
- Pois é. A semana está muito parada... - faço uma expressão de tédio, ele ri. - O que posso fazer para ajudar você?
- Cristiano está trabalhando? Você parece triste! - ele comenta.
Estou, infinitamente triste, como sempre. Mas só converso essas coisas com Cristiano, meu melhor amigo nesse lugar.
- É só tédio! E ai, quer ajuda?
Gordo coloca um avental e uma touca na mesa e eu visto rapidamente.
- Corta uns legumes para mim, Princesa! Vou fazer uma sopa tão boa... De chupar os dedos.
Trabalho quase a tarde toda na cozinha com Gordo. Foi para isso que vim, para ter com o que ocupar minha cabeça e não perder tempo sofrendo por não ter encontrado ninguém da minha família, mesmo depois de dez anos que a guerra civil estourou na cidade.
Se estiver de folga no domingo, já estou escalada para fazer a sobremesa.
Não sinto fome quando o jantar fica pronto. Então volto para o quarto assim que Gordo começa a servir os soldados e aos funcionários mais simples da Ala Militar.
Os grandes militares não comem com a gente.
Quando viro no corredor, vejo Cristiano batendo na porta, me chamando.
Cristiano
O corredor do meu dormitório só tem uma porta.
O Major Souza, comandante da minha corporação, disse que é medida de segurança, para que eu não fique a mercê dos outros soldados, durante a noite. Por mais que eu protestasse ele não me deixou mudar de dormitório.
Não tenho medo de ninguém. Não dos soldados. Sei me defender sozinha. Mostrei isso a eles durante todos esses anos.
Quando me vê, ele sorri. Cristiano tem um sorriso largo e bonito, que ilumina seus olhos de um jeito que nunca vi em ninguém.
Me faz sorrir também.
Está de branco, dos pés à cabeça. Ele sempre veste roupas claras. É gerente do Departamento de Genética, entre outros talentos.
- Oi, amigo!
Cristiano me abraça e beija o alto da minha cabeça.
- Oi, Princesa!
- Pensei que não ia te ver hoje...
Penso em entrar no quarto com ele. Gosto muito de ficar com Cristiano, mas não quero que me veja com maus olhos e então desisto. Não quero estragar nossa amizade e não posso me envolver com ninguém agora.
Ele é um homem bonito e inteligente. Tem lindos olhos azuis e um cabelo cacheado e loiro na altura do maxilar. Os ombros são largos, os lábios fartos e rosados. Alto e magro, é um nerd quase sempre.
Como um homem como ele pode reparar numa mulher como eu?
Nem em sonho! Somos apenas amigos. Sei bem disso.
Ele é a única pessoa nesse lugar em quem confio e com quem posso ser eu mesma.
Não posso confundir as coisas, para não perder isso.
- Não apareci antes por causa do trabalho! Vamos para sacada? - ele pergunta, alargando ainda mais o lindo sorriso.
- Vamos!
A sacada é um espaço de um pouco mais de três metros, no terceiro andar da Ala Militar do Complexo, entre o elevador e a saída de emergência.
Não tem vista para lugar nenhum pois uma estrutura de aço grossa cerca todos os doze prédios de vinte andares, impedindo a visão da rua.
É o lugar que chamamos de casa, agora. É mais seguro aqui do que do lado de fora. Pelo menos é o que dizem. Eu sei me virar na rua muito bem.
O que mais sinto falta quando não posso fazer ronda, é de olhar o céu noturno.
É mais bonito de olhar agora do que quando eu era mais jovem, antes da guerra, pois não tem mais tanta poluição, nem tantas luzes e posso ver muitas estrelas.
Isso quando eu não sou obrigada a permanecer trancada aqui como todas as pessoas normais.
Meu amigo e eu costumamos passar a maioria de nossas horas livres, juntos na sacada, às vezes conversando, às vezes em silêncio.
Hoje, Cristiano está tagarela. Me esforço, mas realmente não entendo muita coisa do que ele diz. Ele está no modo nerd, então é mesmo difícil para mim, mas amigos são para essas coisas.
O que não falta é garota querendo falar com ele, ser amiga dele, mas Cristiano diz que elas são diferentes.
As garotas do Complexo, na maioria das vezes, só querem falar de homens, cabelos e unhas.
Não tenho tempo nem paciência para isso.
Mas sei que a estranha sou eu.
- Você está longe... Algum problema?
Estou carrancuda? Não quero deixá-lo chateado.
- Desculpe, não consigo prestar atenção quando você começa a falar de plantas e genes.
Cristiano ri. Nunca fica chateado comigo. Sempre um amigo e tanto!
- É! Sei que é chato... Do que você quer falar?
Não sei. Pode continuar falando. Eu gosto de ouvir sua voz mesmo quando não te entendo! - penso.
- Meu dia não foi interessante. - é o que respondo.
Olho a parede de aço e suspiro. Queria muito ver um céu estrelado agora.
- Por que você não se candidata a um cargo administrativo? É uma ótima militar. Não precisa se prender a uma única função. Sabe que pode fazer outra coisa.
Olho em seu rosto. Cristiano está olhando para mim com um sorriso bobo, desvio o olhar.
- Gosto de estar nas ruas, você sabe.
- E você sabe que pode fazer mais.
Olho para ele de novo, que sorri automaticamente, quando meus olhos encontram os seus. Gosto de olhar esse sorriso. Desvio o olhar, não quero que ele perceba.
- Não quero, Cris! Se deixar as ruas, como vou encontrar meus pais ou meus irmãos?
- Passou o dia pensando neles?
Suspiro, concordando com a cabeça e abraço os joelhos.
- Meu pai... Sinto muito a falta dele. Sinto de todos, mas quando penso nele dói mais.
- Sabe que eu sinto o mesmo! Meu pai era tudo para mim... E ele se foi... Você pelo menos ainda pode reencontrar o seu... Eu nunca mais o verei. Mas aprendi a lidar com a saudade. Devia fazer o mesmo. Sofrer menos.
Reviro os olhos e fixo minha atenção na movimentação das patrulhas lá em baixo. Daqui, conseguimos ver todo o estacionamento da área Militar e um pouco do local onde os recrutas aprendem a dirigir.
- Como? Ele também era meu tudo. E não encontrar meu pai, mesmo meus irmãos ou minha mãe, me frustra a cada término de ronda... Os dias de folga, como o de hoje, que não pude procurar por eles... São ainda piores. Eu não tenho família aqui... Encontrar minha família perdida passou a ser uma questão de sanidade mental!
- Você precisa de distração.
Respiro fundo, com os olhos no soldado Almeida, que está aproveitando a folga para lavar seu carro de patrulha. Foi a primeira coisa que fiz nesse melancólico dia de folga, depois de socar meia duzia de homens no treinamento.
- Pensei em ver as crianças da próxima vez que tiver folga! Quer vir comigo?
- Se nossas folgas forem iguais, sim!
Olho para ele de novo.
Cristiano me contou uma vez que seu pai, ainda vivo, doou muito dinheiro para a construção do Complexo.
Meu amigo trabalha por que gosta, já que tem muito dinheiro. Herdou metade da fortuna de seu pai que morreu um ano depois do prédio do Complexo entrar em funcionamento.
- Precisa ver sua escala... Precisamos de autorização para entrar no Centro Educacional, você sabe...
Cristiano é muito inteligente. É responsável pelo desenvolvimento da tecnologia que faz a agricultura, pecuária e outras coisas essenciais funcionarem, sem muita luz do sol e com água reutilizada. Isso foi o máximo que consegui entender.
Os nossos Conselheiros, Therence, Sampaio e Sato, têm Cristiano como uma espécie de salvador.
Nossa sobrevivência depende do tipo de tecnologia das plantas e animais que ele domina.
- Sim! - ele responde, com um ar pensativo. - Vou ver a escala amanhã e te falo.
- Você gosta do que faz, Cris?
Cristiano sorri mais largo.
- Sim. Mas não era minha primeira opção, aqui. Queria ser da patrulha, como você.
Estou surpresa. Ele nunca tocou nesse assunto comigo.
- Sério? Sabe atirar pelo menos?
Vejo seu sorriso murchar e uma negativa com a cabeça.
- Não. O Major Souza não me deixou nem dizer o sobrenome. Me reprovou antes que eu pudesse piscar.
Talvez ele seja bom sim e, sem dúvida, Souza não gostava dele na época. Por que gosta menos ainda, agora. Almeida diz que é porque somos amigos. Deve ser mesmo. Souza me detesta, porque não detestaria meu melhor amigo?
- Sei bem o que passei durante os treinamentos... Tive que exigir minha participação nos testes iniciais no Gabinete do Conselho!
Aquele prepotente e idiota do Souza não ia me impedir de procurar meus pais!
Fui até Bruna Sato naquele mesmo dia, nossa única Conselheira mulher, que me levou ao Major Souza, o odioso comandante de operações externas, e exigiu que eu fosse admitida se passasse no teste inicial de resistência física.
Minha nota foi a melhor do grupo de recrutas e eles tiveram que me engolir. Ele, Souza, tem que engolir minha eficiência até hoje.
- Mas você, provou que era capaz antes mesmo de saber o que faria da vida... Como Sato ia te negar a chance de ter um posto em que, obviamente, sua bondade salvaria vidas inocentes?
Quando as pessoas resolveram matar umas às outras, desencadeando o caos na cidade, eu estava na escola. Minha turma brincava de caça ao tesouro, nos fundos do colégio, com alguns dos pequenos, de cinco e seis anos. Invadiram o local e escondi os que estavam comigo. Seis deles.
Seis em um grupo de trinta e cinco.
Nos tranquei no porão, bem nos fundos do colégio.
Tive sorte nesse sentido. Até mesmo galões de água mineral em fardos eram acumulados, com muitas outras coisas para doação, o que garantiu nossa sobrevivência por alguns meses.
Durante o dia, eu saia para procurar comida, durante a noite nos trancava e abafava o choro dos pequeninos. Improvisava onde dormir e o que vestir com todo o material que a escola nunca doou. Também brincávamos naquele espaço tão bem escondido.
Arrombaram nosso esconderijo uma vez, mas o homem mal conseguiu olhar o que o atingiu. Uma das pernas de uma cadeira de madeira que já estava quebrada. As pontas irregulares bem em seu pescoço.
- Não me orgulho disso. Fiz por sobrevivência. Minha e das crianças.
Deus sabe o que ele teria feito comigo ou com os pequeninos.
- Mas fez. Não teve medo. - ele diz.
- Tive medo, sim. Mas precisava agir.
- Outras meninas não teriam feito. Você não é como a maioria. Você luta.
Numa das minhas buscas por comida, encontrei uma equipe médica que procurava por feridos e pedi ajuda. Eles nos levaram para um hospital, na antiga Avenida Paulista. Um prédio fortificado que, depois de uns meses, veio a baixo, junto com dez quarteirões para dar lugar ao Complexo.
Meu histórico corajoso e minha determinação em encontrar minha família, me impulsionaram a entrar para a Força Militar. Superei as expectativas ainda nas fases de treinamento. Fui a primeira colocada em muitas provas de resistência física. E como me enquadrei dentro das regras sem esforço, entrei para o batalhão de patrulha.
Mas a cena não sai da minha cabeça. Sonho com minhas mãos ensanguentadas com frequência e a expressão de vazio e morte no rosto daquele homem sempre estão em meus olhos.
- Pode ser... Mas mesmo que não fosse por isso, ninguém ia me impedir de ser patrulheira. Eu tinha uma meta... Tenho. E depois, virou minha luz ser militar. Descobri que era meu lugar quando fiz o primeiro teste de resistência.
Cristiano ri e junta as mãos.
- Correr duas milhas com barro dentro das botas? - ele ironiza.
- Pior! - sorrio - Nadar em um tanque de água eletrificado e só depois correr duas milhas com barro nas botas. Foi duro, mas provei que podia, para toda a corporação. Todos os soldados estavam lá, para ver meu fracasso. Muitos apostaram. Eu apostei com Souza. Precisava provar que podia ser a melhor e tirar proveito disso.
- O cabelo. Fiquei sabendo dessa aposta.
Sorrio. Acho que o Complexo inteiro soube.
- Eu fui a primeira a chegar a extremidade do tanque de água, a primeira a terminar a corrida, num grupo de vinte homens. Souza teve que engolir minha falta no dia de raspar a cabeça. Já não bastava desafiar o Major-Comandante, envolvendo o Conselho em minha admissão na corporação. Ainda tinha que ser o único militar, a não raspar a cabeça.
Souza me humilhou muito quando estava na concentração, antes do teste. Ele convocou todos os militares para verem o que ele disse que seria o maior fracasso desde Eva. Disse que ninguém, jamais esqueceria minha vergonha. E que ele faria com que ninguém esquecesse, enquanto tivesse vida.
O que mais eu poderia fazer para que aquele monstro arrogante engolisse as próprias palavras?
A aposta.
Fazer com que todas as vezes que ele me visse, lembrasse de como o que ele achava ser minha vergonha se tornasse a vergonha dele.
Não planejei. Coisa de temperamento.
- Só você teve essa coragem. Desafiou quem seria seu superior, sem medo de retaliação futura... Nunca conheci uma mulher de tanta coragem! - Ele diz, admirado.
Sorrio e concordo. Só minha mãe seria mais corajosa do que eu. Mas felizmente, Souza não pode se deparar com ela.
Mamãe Anis. Como gostaria de encontrá-la!
- É, mas isso não ficou barato. Sousa me dispensa o tratamento de um verme. Não sou nada mais que um cachorro. Fica o tempo todo me testando, procurando motivos para me fazer desistir.
- Mais um motivo para você pensar em outro posto.
Não quero mais falar sobre isso. Levanto, olho para ele.
- Você não vai jantar?
- Se você for...
- Vou dormir, não estou com fome.
Cristiano pega minha mão. Sinto arrepios correr por minha pele. Apesar de gostar muito do toque, tiro rapidamente minha mão da dele. Tento manter o rosto neutro e não corar, se é que isso é possível.
- Lana, não vai agora não.
A forma como ele me olha quando pede para conversar um pouco mais é hipnotizante. Sento novamente.
- Está bem. Quer falar do que?
Cristiano olha meus cabelos soltos e sorri.
- Você não tem deixado os cabelos cacheados.
Não! Esse assunto?
Levanto.
- Cristiano, se vai insistir nesse tipo de assunto, vou para o meu quarto! Está parecendo as meninas da faxina!
Falam de cabelos e namorados como se não tivessem outro assunto.
Ele levanta as mãos; as palmas para cima como quem fez algo sem querer.
- Quer ver uma coisa legal?
Faço uma carranca.
- Que seja legal mesmo!
- Vem comigo!
Cristiano fica de pé, pega minha mão e me puxa para o elevador com um sorriso babaca no rosto.
Por mais bobão que ele pareça ser, sempre me contagia com esses sorrisos. Sei que ele vai fazer algo de que vou gostar.
Ele aperta o botão do telhado e olho para ele, confusa.
Para que ele quer ir ao telhado se não dá para ver nada de lá?
A cada andar que subimos o sorriso dele alarga ainda mais.
Como ele faz isso?
- Está curiosa.
Não foi uma pergunta. Nem respondo, ele sabe. Não solto minha mão da sua, gosto disso e ninguém vai nos ver assim.
- Tenta relaxar, Princesa. Você vai gostar.
Chegamos ao telhado e vejo a porta de aço aberta. Passamos por ela para um piso de concreto do tamanho do meu quarto, três metros quadrados, eu acho, com caixas de papelão velhas empilhadas num canto a direita. Ele me leva até as caixas.
- Você me trouxe para ver caixas velhas de papelão? Ou o aço dessa parede?
Usei sarcasmo demais, mas Cristiano não fica bravo, ele ri.
- Também! Agora que já viu as caixas e o aço, feche os olhos.
Hein?
- Que palhaçada é essa, Cristiano?
- Faça o que eu disse!
Fecho os olhos, sorrindo para ele, que tem o mais largo dos sorrisos e os olhos mais lindos também.
Depois de alguns segundos, ouço o som de ferro sendo forçado como se um trinco fosse aberto. Um vento fresco balança meus cabelos soltos.
Estranho! Vento? O prédio é protegido por completo pela parede de aço... Como...?
- Agora, abra os olhos.
Abro os olhos e vejo uma janela aberta. Uma janela!
Caminho até o espaço aberto. Dá para ver o céu estrelado, com mais pontos do que se podia ver antes da guerra. Também dá para ver algumas ruas da cidade quando olho para baixo, mas só consigo ver onde ainda há postes de luzes acesos. E esses são poucos.
Debruço sobre a janela aberta e fecho os olhos, deixando que a brisa leve da noite melhore o meu humor. Percebo que Cristiano está bem atrás de mim, tocando meus cabelos. Olho para ele por cima do ombro.
Oh, Deus! Ele está cheirando meus cabelos!
De vez em quando sinto umas coisas que não deveria. Como agora que Cristiano tocou meus cabelos, ou quando ele pegou minha mão...
Sinto vontade de ter mais.
Queria saber como pode ser o toque dele em meu rosto. Também queria saber como é tocá-lo.
Fecho os olhos novamente e espero que ele se recomponha.
Eu não posso pensar em ninguém assim.
Ao invés de endireitar o corpo e acabar com a brincadeira, Cristiano coloca a mão de forma muito suave na minha cintura. Minha pele formiga por causa do toque inesperado, mesmo sobre minha camiseta preta. Depois coloca sua outra mão sobre a minha que está apoiada na janela.
Não consigo olhar para ele. Não quando estou sentindo essas coisas.
- Lana...
Não, não, não! Meu Deus! Não deixa ele começar um assunto que não pode nem ser pensado!
- Cris... é uma linda vista! - eu interrompo-o na esperança de que ele volte ao normal.
Ao normal no modo amigo.
- Sabia que você ia gostar! Pena não ter tido coragem de te trazer antes.
Viro para olhar nos olhos azuis que agora estão muito escuros. Não sei se quero saber o porquê. Aproveito para me esquivar de seu toque.
- Não pode me trazer aqui? Então vamos descer. Não quero te arrumar problemas.
- Espera! Eu... preciso dizer, mas não é fácil.
- Se for sobre plantas, já sabe...
Eu sou uma idiota! E acho que estou corando!
Cristiano respira fundo e olha o chão, acho que procura as palavras certas.
- Tudo bem! Escuta. Somos amigos certo?
Recuo um passo, nem sei porque.
- Sim, é meu melhor amigo. Na verdade é o único que tenho além do Gordo.
Ele está sério. Nenhum traço do humor que gosto tanto de ver em seu rosto lindo.
- Gosto de ser seu amigo... mas de uns tempos para cá... tem sido... doloroso...
- Está dizendo que não quer mais ser meu amigo? - as palavras quase não saem.
Ele me olha daquele jeito hipnótico.
- Eu quero ser mais que amigo. Você sabe... gosto de você... como... mulher.
Tá bom! Já chega! Gosto de você também mas não posso! E você sabe disso.
Mas não digo nem metade do que planejo dizer. Ele ainda está me olhando daquele jeito.
- Cris... Eu... não sei o que dizer... Acho que eu... eu... - gaguejo e engasgo. - Vou para o meu quarto.
Saio correndo para o elevador; deixo ele lá, esperando uma resposta.
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