Revide
Lana!
Alguém está batendo na porta. Vítor, sem dúvida. Não dormi nada. Cristiano nem se mexe.
- Lana!
- Já vou!
Levanto, tropeçando no meu sono e abro a porta. Vítor não parece bem, pula no meu colo e deita o rosto em meu ombro.
Ele está quente.
- O que foi? Você se sente bem?
- Tá doendo! - ele sussurra.
Encosto a porta e volto para cama, deitando Vítor entre mim e Cristiano, que nem se move.
- Aonde dói?
Vítor põe a mão na barriga. Está com o estômago alto, inchado.
- Comeu muito bolo?
Ele concorda com um gesto e esconde o rosto em meu peito. Suspiro.
- Anis me deu remédio. Mas dói ainda.
Menos mal. Só temos que esperar fazer efeito então.
- Onde está o Lucas?
- Com Anis, na cozinha. E com papai.
Edgar. Seria muito bom que ele ficasse de uma vez, mas não vou forçar nada.
- Então tenta dormir, tá? Eu tô cansada, preciso dormir um pouco mais.
Abraço meu irmãozinho e nos cubro. Ele geme de dor, se encolhendo contra mim. Ouço um choro. Beijo seus cabelos.
- Você vai ficar bem. Tem que ter paciência.
🍀
No fim das contas, não dormi.
Esperei o remédio fazer efeito e Vítor dormir. E quando isso aconteceu, Cristiano acordou. Ficou preocupado com Vítor e resolveu levá-lo à emergência. Então fui com ele e levei Lucas para que meus pais pudessem cuidar de suas vidas.
O médico disse que Vítor não teve nada grave, só a indisposição estomacal por ter comido demais. Nos receitou um remédio, o mesmo que Anis usou.
Quando estamos voltando para casa, na esperança de poder dormir, encontro Almeida, me esperando na porta. Ele bate continência, não olha para mim.
- Comandante, chegou um comunicado do Conselho.
Ele me entrega o envelope oficial de correspondência entre Conselho e Corporação. Não um convite, mas uma ordem a ser seguida.
- Obrigada!
Entro em casa, com Cris e os meninos, Vítor ainda em meu colo, deitado em meu ombro.
- O que será isso?
Nunca recebi um ofício como esse, apesar de saber que eles poderiam vir.
Uma ordem, diretamente de Sato.
- Vamos colocar Vítor na nossa cama.
Seguimos para o quarto. Lucas vai buscar seus brinquedos.
Abro o envelope assim que coloco Vítor na cama. Cristiano me abraça, para ler a mensagem comigo.
Oficialmente, Sato está reduzindo o número de rondas, incluindo as minhas. O combustível será reduzido pela metade e será redirecionado para a área agrícola.
Praguejo em voz alta, amassando o papel fino.
- Aquela maldita gasta nossos recursos em papéis como esse e quer reduzir nosso combustível? Vadia!
Cristiano respira fundo.
- Pura mentira. Se estivéssemos com escassez de alimentos, ela não teria me vendido aquela quantidade de grãos.
Vítor acordou com o barulho que fiz. Solto Cristiano, me aproximo da cama e pego meu irmão no colo. Ele abraça meu pescoço e suspira.
- Ela sabe, Lana. Não acreditou em nada do que disse.
- Nós já sabíamos disso. Sabíamos que ela ia fazer alguma coisa.
- O que faremos agora?
Sorrio.
- Atender ao pedido dela.
- Eu os convoquei aqui, para informar sobre isso.
Fixo a carta do Conselho no quadro principal de avisos, na parede de fora da minha sala. Todos os soldados foram convocados, estão em formação silenciosa.
- O Conselho determinou que o número de rondas será reduzido pela metade, porque o orçamento que era designado para o combustível, será direcionado para a área agrícola. Leiam o ofício por si mesmos.
Entro na sala, com Tetso e Júnior. Almeida entra em seguida, como um furacão, batendo a porta.
- Você merece punição por isso. - aviso.
Ele não se abala.
- Até onde vai sua covardia? Vai deixar que Sato faça isso? Que nos tire das ruas?
Respiro fundo. Tetso e Júnior estão prontos, posso ver isso. Para me defender.
- Sim. A covarde aqui vai deixar Sato fazer isso. Algum problema?
- E onde está aquela menina que dizia que lutaria pela nossa liberdade? - ele cospe.
Sorrio. Estou me divertindo, apesar do cansaço e da preocupação.
Vítor ficou com Cris, para que eu pudesse trazer o ofício até a ala Militar. Mas ele chamou por mim, antes que eu pudesse sair.
- Tem alguma sugestão sobre o paradeiro dessa menina, Tetso?
- Não, senhor! - Tetso responde.
Sorrio com escárnio, olhando Almeida lutar pelo controle de si mesmo.
- Ouso perguntar onde foi parar seu treinamento, Capitão?
Em silêncio, seus olhos brilham de fúria contida.
- Se está com raiva de mim, por que sua mulher tem outro homem e não te contou, mesmo depois de ser resgatada, isso não é problema meu.
- Você...
Ergo a mão. Almeida se cala.
- Se está com raiva, por que Sato cortou as rondas pela metade, também não é problema meu.
Levanto e ando pela sala, observando a postura deles, dos três.
- Se está com raiva por que eu não atirei no Silva, isso também não é problema meu. E sabe por que?
Almeida não move um músculo sequer.
- Porque não sou eu quem está com raiva. E só porque não estou com raiva, vou deixar que limpe as celas e as solitárias, todas elas, por uma semana, todos os dias. Júnior, avise ao Capitão Teixeira, por favor.
Júnior hesita. Respiro fundo.
- Quer se juntar a ele? - Questiono.
Sem reclamar, Júnior sai da sala. Almeida me encara.
- Não jogue seu ódio sobre mim. Fui eu quem arriscou o pescoço por sua família. Eu, Tetso e Cristiano. Você me convenceu a assumir esse posto, você me convocou, desde o início. Você contribuiu para isso. Não acabe com a imagem que tenho de você. Não por coisas que não tenho culpa.
- Quem devo culpar?
- Não sou eu que devo responder isso. Pergunte a quem errou com você. Não para mim.
Volto a sentar. Tetso observa Almeida, assim como eu observo. É a chance dele. Se ele quiser iniciar um motim, os homens estão do lado de fora. Veremos quem vai apoiar sua loucura.
- Por que? Por que hesitou?
- Do que está falando?
- Você não queria matar Souza. Por quê?
Olho em seus olhos. O amigo que respeito ainda está ali. Ele quer uma resposta. Talvez seja só o que quer.
- Por que não sou uma marionete. Sato jamais vai induzir qualquer escolha minha. Souza morreu porque fez da minha vida um inferno, porque colocou as mãos em mim. Não porque ela planejou ou me induziu.
Com isso, saio da sala, em direção ao meu apartamento. Respiro fundo ao passar por meus homens, ainda em posição de sentido.
Eu sabia que seria difícil.
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