Enlouquecendo
- Lanaaaaaaaa... - ouço Vítor gritar, com voz de choro.
Paro de observar as patrulhas e olho em direção a voz do meu irmão. Vejo Cristiano com Vítor no colo, aos prantos, olhando para mim. Me chamando com as mãozinhas estendidas.
- O que aconteceu?
Corro até eles, pegando meu irmão no colo.
- Ele não dorme, te chama o tempo todo. Tive que trazer. - Cris explica.
Aperto meu pequeno em meus braços. Lucas está ao lado de Cristiano, segurando sua mão.
- Por que deu trabalho para dormir, Vítor?
- Você é minha mamãe. Não quero dormir sem você! - Ele soluça.
Olho nos olhos do homem que escoltou Cristiano até aqui. Não faço ideia de quem seja. Não tem uniforme nem identificação de patente. Usa preto, está visivelmente desarmado.
- Não quero que Cris vá embora! - Lucas sussurra.
Pelo Criador! Todo esse sofrimento deveria ser proibido. Vou matar Sato com muito gosto.
- Fica. - peço a Cristiano.
Ele me olha nos olhos.
- Lana... Teremos problemas. Sabe disso.
- Só essa noite. Somos sua família. Fica. Eu suporto qualquer punição. Só quero que fique.
Ele suspira e sorri.
Nos abraçamos bem forte. Ele me beija, pega Lucas no colo e me acompanha até o dormitório bagunçado. O homem que o escolta pára à nossa frente, nos impedindo de passar pela porta.
Saco a arma sem pensar duas vezes, rapidamente, cravando o cano em sua testa. O homem nem respira.
- Não me interessa quem você é nem o que vai dizer a quem te enviou. Se não sair da minha frente, morre. - sussurro.
O homem nos dá passagem. Espero Cris entrar no quarto e o sigo, trancando a porta. Coloco Vítor na cama. Lucas está assustado, olhando para a arma em minha mão.
Sigo para o banheiro, troco o uniforme por um pijama. Tranco a arma na gaveta da mesinha do computador, assim que volto para o quarto.
Cris está olhando os meninos, que estão abraçados em minha cama. Deito com eles, Cris deita às minhas costas.
Nada é dito, até que meus pequenos estão dormindo.
- Vem, Cris. Vamos deitar na cama deles.
Deitamos na cama baixa da beliche, abraçados, olhando nos olhos um do outro.
- Fiquei com medo de você. - ele diz, me fazendo rir.
- Eu ia atirar. Estava pronta. Ele só precisava dizer A.
Cristiano beija meu pescoço. Sorrio.
- Que bom que você ficou. - sussurro.
- Que bom que você pediu. Eu queria ficar.
Ele me beija e me aperta em seus braços.
- Vamos embora. Não aguento mais. - sussurro, segurando as lágrimas. - Eu suporto qualquer coisa, menos ficar longe de você.
Seus dedos acariciam meu rosto. Beijo sua mão.
- Só mais uma semana, minha rainha. Prometo. É pela saúde dos meninos. Falta pouco.
Me aconchego em seu calor, sinto sua respiração em meus cabelos. E assim adormeço no calor do meu amado.
Cristiano voltou para a ala médica antes das seis da manhã, levando os meninos para a escola. Voltei para a ala militar, para procurar o que fazer e aguardar uma punição, que não apareceu.
Antes do fim da tarde, quando estava me arrumando para ir buscar meus irmãos, Almeida pediu para falar comigo.
- Me economiza, Almeida. Cinco minutos.
Não preciso dizer que estou sem paciência. Ele já entendeu.
- Mais uma vez, quero pedir desculpas. Antes de tudo acontecer.
Reviro os olhos.
- Meu pai voltou?
- Está à caminho. Ouviu o que eu disse, Lana?
Olho sua expressão. Sim, ele está arrependido. Eu sei. Não sou insensível, só tenho problemas maiores.
- Ouvi. Aceito suas desculpas. Preciso pegar meus irmãos na escola. Vou me atrasar.
Sigo até a porta da sala.
- Você tem minha lealdade. Não só pelo que fez por mim, durante todo esse tempo, mas por cuidar da Bianca. Obrigado. Jamais vou poder pagar.
Olho em seus olhos. Sério, não estou bem para ter esse tipo de conversa.
- Não tem que pagar nada. Eu sempre devi muito a você. Fiz pela nossa amizade. Esquece nossas diferenças. Elas não vão importar quando estivermos lá fora.
Ele sorri e me puxa para um abraço. Retribuo. Senti falta do meu amigo.
Nos soltamos. Almeida me acompanha até o elevador da Cec.
- Só tenha cuidado. Não faça nada no impulso. - ele pede.
- Fique tranquilo. - digo.
Mas ele me conhece. Sabe ler minha expressão, sabe que estou no limite.
Quando chego a Cec, para retirar meus irmãos, me impedem de entrar.
- Temos ordens. Você não pode mais retirá-los.
Respiro fundo e conto até cinco.
- Sou mãe deles, adotei. Sempre sou eu que venho buscar os dois. Quero falar com a direção.
- Vou chamar, mas você tem que esperar aqui.
Eles realmente me deixam esperar do lado de fora. A responsável só vem me atender quase uma hora depois que todas as crianças foram retiradas.
Eu pensei em atirar contra a escola. Mas não posso fazer isso. Ainda não enlouqueci.
- Major? - A moça chama.
Acho que o nome dela é Simone. Morena, alta, séria. Ela sabe quem sou, já nos falamos antes.
- Por que não posso retirar meus meninos?
É bom que ela pense no que vai falar. Estou no limite.
- Eu não sei o motivo. Tenho ordens para não deixar eles saírem daqui com você.
Ordens. Vou perguntar, mesmo sabendo a resposta.
- Ordens de quem?
- Do Conselho.
Se eu tinha qualquer motivo que me impedisse de matar Sato, não existe mais.
- Eles vão ficar aqui?
- Sato quer que eles voltem para a Casa de órfãos. - ela me informa. - Não faça nenhuma besteira, Major. Eu já liguei para o Dr. Matarazzo, ele vai falar com o Conselho. Vou ficar com os meninos até isso se resolver.
Minhas lágrimas caem sem permissão. Esmurro a primeira parede que encontro, até sentir o sangue escorrer dos meus dedos.
- Vá para ala militar, Major. Não piore as coisas.
Mesmo depois de estourar meus dedos na parede e de chorar como seu o mundo estivesse acabando, volto para ala militar.
Almeida chama um médico quando me vê, mas mando todos eles irem à merda e esvazio minha sala.
A única criatura que consegue entrar é Bianca. Mesmo assim, sob muitos xingamentos.
- Ah, cala a boca! - ela diz, batendo a porta com força.
Em segundos, estou em cima dela, prendendo seu pescoço contra a porta, seus olhos arregalados.
- Some. - Sibilo.
Solto a garota e volto para minha cadeira.
- Eu só vim dizer para você fazer alguma coisa. Sei como se sente. Não vai adiantar se trancar aqui.
- Eu disse para sumir. - aviso.
Silêncio. Fecho os olhos.
Sinto um toque em meu pulso. Olho a garota ajoelhada ao meu lado, examinando minha mão cheia de sangue seco.
- Não rompeu nada. Só arrebentou a pele. Precisa limpar isso.
- Eu vou atirar em você. - sussurro.
- Atira. Não vai resolver nada. - ela provoca. - Você deve atirar em quem está te oprimindo, não em mim. Mas quem sou eu para dizer o que deve fazer, Major?
Respiro fundo, reprimindo um gemido de dor, quando ela toca meus dedos machucados.
- Vai embora. - sussurro, chorando.
- Eu vou... Depois que limpar isso.
Não protesto. Deixo que ela cuide dos meus ferimentos, que me traga café e que me faça companhia.
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