Quando olhei para o céu noturno, ele estava em chamas.

Como um nascer do sol estrondoso, o laranja se derramava sobre as estrelas, a escuridão tranquila engolida. Eram água e óleo, os dois cenários não se misturavam, a noite lutava para abafar o caos.

Demorei a perceber que estava no centro daquilo. A lua cheia me encarava, inquisidora, como se soubesse que eu traria aquele fim a mim mesma.

Que fim era este?

O fogo estalou ao meu lado, e uma árvore partiu. Senti a dor de seu tronco se rompendo como se fosse meu próprio braço, e soltei um grito mudo. Tudo ao meu redor era consumido por chamas

Tudo, tudo queimava.

Não sobraria nada para contar história.

Labaredas rodopiavam, aprisionando-me, e senti o bafo quente daquele monstro. Um elemento que sempre acalentava meu interior, agora me destruía.

Minha própria essência se voltava contra mim.

De repente, não mais só os arredores queimavam, mas todo meu corpo. Minhas forças eram saqueadas pelas lambidas sedentas e, caí como a árvore, apoiada pelos meus joelhos. Agonizantemente, não havia dor, e observei em choque minha própria pele ser proclamada por queimaduras que deveriam ter me matado.

Em um ato de compaixão, a escuridão embalou minha consciência por minutos eternos, e eu conheci uma paz efêmera naquele sono.

Quando abri os olhos, estava estirada sobre uma grama que pinicava minha pele. Atordoada, constatei que nada ao meu redor queimava e, na verdade, uma chuva tranquila começava a cair, molhando meus braços sem nenhuma marca externa daquele pesadelo.

Sentei, tossindo, os pulmões ardendo pelo ar puro que inalavam. Vindo de dentro de mim, senti o gosto de cinzas na boca. Olhei os arredores, e não encontrei nenhum sinal de familiaridade.

Com a mesma certeza que tinha de estar ouvindo meu coração bater, eu sabia.

Eu havia queimado. E acordara em um lugar desconhecido.

304 palavras