Comprando Briga
Estou na sala do Conselho mas não reconheço o homem que está sentado do outro lado da sala, na mesa de Sato. Ele é enorme e de aparecia desfigurada. Minha espinha treme, meu sangue congela. O homem se levanta e se joga sobre mim, pego minha arma e atiro contra sua testa.
Berro, enquanto disparo um tiro após o outro.
- Lana! Por Deus! Acorda!
Estou sem folego. Tive um pesadelo. Agarro o corpo de Cristiano, soluçando.
Quando estou mais calma, vejo que o relógio marca três da manhã.
Acho que não consigo dormir de novo.
Meu Cris quente está aqui, comigo. Não há homem nenhum tentanto me matar.
Conto a ele sobre o pesadelo e sobre o que Souza disse quando estive na detenção.
- Ele não vai sair de lá. Seus soldados o odeiam. Quase todos eles. Quem facilitaria a fuga de um ex-comandante que vai promover um massacre se tiver oportunidade?
Meus homens correm perigo. Eu corro perigo. Enquanto Souza estiver vivo, teremos essa sombra sobre nós.
- Acho que precisamos construir um presídio. Longe. Todos nós corremos perigo com aquela detenção cheia de gente doente tão proxima dos dormitórios e das outras áreas.
- Acha que Sato concordaria com essa ideia? - Cristiano pergunta, beijando meu rosto.
Sorrio. Meu Cris quente e carinhoso.
- Não sei... Eu esqueci de verificar com Almeida se conseguiram arrumar o equipamento do monitoramento... - digo, saindo da cama.
- À essa hora? Almeida teria te procurado... Volta para cá.
Cristiano está me olhando de um jeito cansado. Mal dormimos na última noite, e agora eu não o deixo dormir com minhas preocupações.
- Mas pode ter acontecido alguma coisa a ele... - Começo.
Cristiano sai da cama e se aproxima de mim.
- Vou com você.
- Vai me deixar ainda mais preocupada.
Ele me encara.
- Você já acordou. Nada está acontecendo. Não tem com o quê se preocupar.
Ouço uma batida na porta.
- Aposto que é o Almeida. - sussurro, correndo para abrir a porta.
Mas dou de cara com uma deusa loira de jaleco e óculos. Ela não está sorrindo. Nem olhou para mim. Olha diretamente para Cristiano que está às minhas costas.
- Desculpe. Temos problemas com um dos testes... Aquela mistura ferventou demais.
Ela não olha para mim, nenhuma vez. Ouço Cristiano resmungar e olho para ele. Seu olhar está em mim. Sei que ele se preocupa e sabe que vou sair assim que ele deixar o quarto.
- Ok. - ele me diz. - Vá ver se as coisas estão bem com Almeida. Depois vá para o laboratório, quero saber de tudo.
Ele beija minha boca de leve e sai do quarto, acompanhado da deusa loira.
É obvio que estou morrendo de ciúme.
Mas minha obrigação vem antes desse tipo de sentimento. Preciso saber se está tudo bem no monitoramento, se Almeida está bem.
🍃🍃🍃
Na sala de monitoramento, tudo parece funcionar bem. O maquinário parece em perfeita ordem. Observo as imagens por mais de uma hora, para me certificar de que nenhuma câmera está desligando.
Depois vou até o dormitório da família de Almeida, na ala têxtil. Ele demora um pouco para me atender, mas não parece sonolento ou recém desperto. Parece que estava acordado, com um problema dos grandes.
- De pijama, Major?
Reviro os olhos.
- Você não me disse que o problema com as câmeras foi resolvido. Fiquei preocupada.
- Desculpe. Oliveira ficou com o técnico até tudo ser resolvido. Eu precisei vir para casa. Esqueci de avisar, Lana. Desculpe mesmo.
Sua expressão é bem cansada. Chateada, eu diria.
- Algum problema em casa?
Observo a porta de seu dormitório, fechada.
- Muitos. Mas o principal é minha filha. Ela bateu em um rapaz, na escola.
Parece sério. Violência na Cec é proibida. Eles expulsam por isso.
- Fui muito indelicada, nunca perguntei o nome dela.
Almeida escora no batente da porta, olhando para mim.
- Bianca.
- Na Cec eles não adimitem nenhum tipo de violência. Não disse isso a ela? - pergunto.
- Disse muitas vezes. Eu sei que ela não estava totalmente errada. O rapaz provocou. Chamou ela de aleijada, por dias. Ela perdeu a cabeça. Ainda não aceita que terá que mancar pro resto da vida.
É verdade. Quando resgatamos sua família, a menina estava mancando. Bianca.
- Você acha que ela é frágil?
- Não, mas Bianca tem tido problemas para se sentir à vontade aqui. Eu acho que ela passou alguma coisa nas ruas e não quer dizer. Silvana disse que ela se perdeu por uns dias, fugiu durante um ataque de uma gangue. Quando encontrou a mãe, estava mancando e ensanguentada. Mas isso foi no início, quando a guerra estourou.
Forte. Encontrou sua mãe. Sobreviveu.
- Ela está trabalhando na têxtil, certo?
Ele concorda com um gesto.
- Silvana também. Não consigo dormir, Lana. Ela chegou em casa e quebrou nosso espelho por que foi expulsa por ter batido no garoto. Não foi um soco ou chute. A diretora disse que Bianca chutou a virilha dele com a perna que manca, depois chutou o rosto dele, muitas vezes.
Bianca direciona a raiva para a violência, está errada em fazer isso, mas não se deixa humilhar, nem intimidar. Luta. Sobrevive.
- Conheço esse olhar. - Almeida sussurra. - O que tem em mente?
- Se quiser minha ajuda, peça que Bianca esteja na minha sala, no primeiro horário, amanhã.
Almeida sorri, olhando o relógio de pulso.
- Daqui a pouco... O que vai fazer?
Verdade. Passa das cinco da manhã.
- Contar uma história a ela.
🍃🍃🍃
Cristiano ainda não voltou ao quarto. Então vou para o laboratório. Não quero ficar sozinha, agora. Seria muito bom tomar um banho com ele antes de ir trabalhar.
As paredes transparentes do laboratório me deixam vê-lo antes de entrar na sala. Cristiano está de costas para mim, Carla de frente para ele, com uma expressão de sofrimento.
Coloco a mão na maçaneta. Não importa qual seja o assunto, Cris já ficou tempo demais com ela. Está na hora de voltar para o quarto comigo.
Carla me vê antes que eu possa abrir a porta. Ela olha nos meus olhos por alguns segundos e antes que eu possa dizer qualquer coisa, ela agarra Cristiano e crava um beijo na boca dele.
Minha reação é tão rapida que mal tenho tempo de processar qualquer movimento ou registrar as decisões antes agir.
Quando dou por mim, estou com uma das mãos no pescoço dela, a outra socando seu rosto.
- Lana! Solta! - Ouço Cris gritar, antes de sentir sua mão segurar a minha que está no pescoço dela, apertando.
Puxo seu pescoço na direção do meu rosto até que ela esteja olhando em meus olhos. Seus olhos verdes estão cobertos de pavor.
- Você deu sorte... Estou desarmada. - sussurro, soltando seu pescoço e a empurrando.
A mulher cai de costas no chão. Está chorando, tentando recuperar o fôlego, segurando o pescoço que acabei de apertar.
Cristiano a ajuda a levantar e a coloca sentada em uma cadeira. Observo a cena, com nojo.
Ele. Meu Cris. Tocando nela.
- Você não deveria ter feito isso... É monstruoso. Sabe que é mais forte do que ela. - Cristiano me repreende.
Toda a vontade que eu tinha de ficar com ele se foi. Viro as costas para sair.
- Você não tem nada demais. Não é especial. O que foi que ele viu em você?- Ela diz, a voz falhando.
Volto. Ela me chamou de comum? Me diminuiu?
- Ele me escolheu mesmo assim.
- Você é bruta, arrogante, mal educada... Como um homem escroto. - ela choraminga, o ódio pingando com cada lágrima.
Conto até cinco, mentalmente. Quando realmente preciso, não estou armada.
- Eu ainda sou a preferência dele e se não dobrar a lingua para falar de mim, enfeito sua testa com uma bala.
Cristiano permanece entre mim e ela, em silêncio, observando.
- Ele ia me amar, se você não tivesse aparecido. Ele ia ficar comigo. Você não o assumiu antes, por vergonha, por egoísmo. Olhe-se no espelho! Olhe para dentro de si mesma. Você é um monstro!
Ela me fuzila com o olhar.
Você é um monstro.
Quero responder do meu jeito, cravando balas naquela cara oxigenada.
Infelizmente estou desarmada e de pijama. Mesmo que estivesse armada, seria um monstro se atirasse nela por ciúme, já sou um monstro por agredí-la.
- Dobre a língua! Você não me conhece!
- Souza deveria ter matado você. - Ela sibila.
Ódio fervilha meu sangue, mas Cristiano entra na minha frente quando tento chegar até ela.
- Se mencionar Souza relacionado a mim outra vez, vou cumprir minhas ameaças!
- Cristiano vai descobrir o monstro que você é! - ela resmunga.
Olho nos olhos dele. A dúvida está estampada em seu olhar. Isso me magoa mais do que qualquer uma das palavras dela.
- Se Cristiano acreditar em você, te dou ele de presente. - Sussurro, olhando nos olhos azuis que eu tanto amo.
No olhar de dúvida que me magoa profundamente. Dou as costas a ele e volto para o quarto. Tomo banho sozinha e coloco o uniforme.
Espero meia hora antes de ter certeza que Cristiano não virá para conversar comigo. Quando me convenço, saio do quarto e sigo em direção ao desafio que me aguarda.
Bianca.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro