Cap.29 (Parte 1: Ei, criança, tá tudo bem)
Inspiração que EU TIVE para o Capítulo:
Ei!
Faça uma cara feliz
Então está tudo bem
Faça uma cara feliz
Vira o interruptor
Vire o fogão
O mundo enlouqueceu
Vamos começar o show
Pegue suas emoções
E vamos indo
Se você está triste, não deixe mostrar
Diga: Estou feliz! Eu estou feliz! Estou feliz hoje!
Eu estou feliz! Eu estou feliz! Estou feliz hoje!
Eles dizem, coloque uma cara feliz!
( Happy face - Jagwar Twin)
E aí, galera. Vocês estão bem?
Lembram que eu Avisei que vocês teriam muita raiva de um homem daqui do livro?
Então já sabem de quem eu estava falando?
Acertou quem disse Joel.
Sim, gente, eu estava falando dele.
Esses áudios que gravei em novembro de 2023 resumem o Capítulo 30 em diante
Preparem os lencinhos 🥺🥲
Aviso: O Wattpad tirou o Travessão ( — ) de alguns Capítulos de Lugar das Lendas. Então alguns diálogos dos capítulos anteriores estão sem o Travessão.
Jade Luisa de Cabral
Flashback on
De manhã
Olivia e Rute não paravam de olhar para Miguel. Elas estavam gostando muito do novato e diziam o tempo inteiro sobre o quanto Miguel era lindo.
Crianças e sua incrível capacidade de aumentar as coisas e fazer tudo parecer incrível
Enquanto minhas amigas admiravam Miguel e suspiravam por ele, eu me encontrava admirando outra pessoa.
Em segredo
Olivia e Rute podiam contar para suas amigas sobre o garoto que havia mexido com o coração delas, mas eu não podia contar sobre a garota que mexeu comigo nos últimos dias.
As meninas podiam inventar mentiras a respeito de quem conseguiu trocar cartinhas com Miguel.
Enquanto eu não podia nem pensar em mentir que sentia logo meu estômago embrulhar.
As meninas podiam andar de mãos dadas com Miguel e ignorar as regras do Lugar das Lendas.
Elas não iriam se importar se as professoras brigassem por estarem andando com um garoto dentro da escola.
Enquanto eu só podia sonhar em pegar na mão da minha garota, porque se todos vissem essa cena, com certeza ficaria com vergonha e pensaria que eles podiam suspeitar de algo.
Andar de mãos dadas com a minha garota e fingir que não aconteceu nada?
Não conseguia fingir e ignorar tudo
As meninas eram livres para fazer o que quisessem.
Eu não era livre.
Essa liberdade nunca sorriu para mim.
Esse tipo de liberdade fugia sempre que percebia o quanto parecia errado olhar para essa garota assim.
Nunca ia ser livre se continuasse me culpando.
Eu precisava fazer algo, mas ficar admirando Ravena de longe e depois sentindo culpa por isso... não era nada saudável.
Ravena era minha garota.
E não podia contar isso para ninguém.
Flashback off
No mesmo dia - sexta a tarde
Era 15h da tarde, o sol brilhava lá fora, as plantas se mexiam por causa daquele vento forte, roupas estavam estendidas em varais.
A falta de plantas no jardim e a falta de um balançador no quintal deixavam a nossa casa meio apagada, sem cores, sem alegria, sem vida.
As casas do Lugar das Lendas não tinham o mesmo encanto das casas da Cidade do Sabiá
Sentia tanta falta da minha antiga cidade onde parecia ser o verdadeiro reino do sabiá, as flores traziam cor as ruas, crianças brincavam felizes, onde ninguém se preocupava com a lua.
A Cidade do Sabiá era minha casa.
Lugar das Lendas nunca podia substituir meu verdadeiro lar.
A única coisa boa nessa mudança foi ter conhecido meus amigos.
A única coisa que eu sabia naquele momento era que os meus amigos estavam animados para comemorar o término das provas.
Tínhamos marcado de ir comemorar na lagoa encantada.
Oliver e Julie estavam para chegar junto com Mariete, em seguida meu pai iria deixar a gente de carro, passaríamos na casa de Ravena para pegar ela e por fim iríamos chegar no nosso destino.
Mas eu não estava muito no clima para sair e me divertir.
Era difícil descobrir a verdade
Eu era uma garota sonhadora e ingênua, acreditava que minha mãe estava em uma longa viagem e conhecendo muitos lugares incríveis, ficava imaginando ela de costas entrando em um hotel ou de frente para o mar, gostava de fantasiar e vivia imaginando onde ela poderia estar naquele momento.
Foi doloroso saber da verdade.
A cada dia que se passava, a cada novo ensinamento, a cada novo conteúdo na escola e a cada nova fase da vida.
Crescer significava abandonar as brincadeiras de infância e lidar com uma vida totalmente diferente.
Minha primeira experiência na fase de crescimento: descobrir que minha mãe morreu.
Minha segunda experiência na fase de crescimento: conhecer quem era meu verdadeiro pai.
Cheguei a conclusão que passei dez anos acreditando no pai herói disposto a ser autoritário para proteger a filha.
Acreditei em mentiras e ilusões.
Crescer não parecia uma boa ideia.
Parecia que uma cortina se abria e mostrava o mal, a inveja, a infelicidade, a tristeza, o medo.
Descobrir a realidade da vida fazia essa cortina se abrir e a ilusão ir embora.
Não sei se queria continuar esse ciclo de descobertas, porque o que descobri foi demais
As vezes preferia viver na ilusão e ficar sonhando com um futuro melhor
— Sinto tanto sua falta — sussurrei para a foto de mamãe no porta retrato — Por que você precisou ir?
Encarei a janela aberta, o meu quarto não era mais escuro, aquelas cortinas pesadas cheias de poeira foram embora depois que o meu pai soube da minha doença.
— Eu não consigo ser perfeita, mãe — passei a mão no vestido — Mas vou cumprir com meu juramento de ser uma boa filha, andar na linha, nunca deixar outras pessoas me influenciar,
ir para as missas, fazer boas amizades e estudar bastante.
Sorri fraco.
— Acho que esse plano de ir até o fim com meu juramento foi quase por água abaixo, sabe? — pisquei os olhos — Não contava com a chance de chegar a dar o meu primeiro beijo com 10 anos e muito menos de beijar uma garota... eu beijei uma garota, mãe. Eu... beijei Ravena, a minha nova amiga — balancei a cabeça — Imagino os seus pensamentos agora, pois deve estar confusa. Um dia desse eu falei que gostava de Diana e venho hoje com essa novidade.
Coloquei o porta retrato em cima da cama.
— Sabe? Eu sou lésbica — sorri toda boba e senti como se fosse inocente — Estou feliz e sinto uma sensação de adrenalina sempre que penso nisso.
As vezes me sentia como uma boba ingênua diante dos sorrisos alegres.
Não devia estar alegre
Porém, estava naquela fase onde vivia os dias como se não houvesse o amanhã.
Porque no meu mundo da imaginação existia respeito e todos eram livres para amar quem quisessem, por isso preferia viver mais no mundo da imaginação do que no mundo real, procurava abrigo e conforto onde eu me sentia segura.
Ignorava o preconceito, as regras, toda a maldade das pessoas ruins que julgaram Trix e sua namorada, piadinhas bestas, as risadas, o julgamento dos alunos.
Deixava somente o amor.
Então viver imaginando era o certo a se fazer agora, assim eu podia fingir ser a garota ingênua e inocente que estava se descobrindo lésbica e agindo como se fosse a coisa mais legal, sem saber dos perigos lá fora.
Preferia estar dentro de uma bolha com os olhos fechados, a cortina fechada ao meu redor, protegida do mal e dizendo para mim mesma: “Ei, criança, tá tudo bem. Só descanse, princesa.”
Ninguém precisava saber de nada e nenhuma suspeita devia aparecer.
Não deixe ninguém perceber que você tá diferente
A filha de Joel, mocinho da radionovela, sua filha seguia regras e sabia andar na linha, nunca desviava do caminho certo, nunca andava com os moleques de rua e era quase perfeita.
Precisava aprender a viver com asma e como praticar exercícios físicos pelas recomendações do médico, precisava ser uma das melhores alunas da sala, aquela criança bonitinha e amiga de todos.
Ainda lidar com o fato de ser lésbica e desviar do caminho que meu pai queria que eu seguisse.
Era muita pressão para uma pobre garotinha de 10 anos.
Encarei o sinal vermelho em formato de lua no meu braço direito e olhando com atenção para foto de mamãe... percebi que ela também tinha um sinal, mas o seu sinal era no pulso e não parecia ter o formato da lua.
— Filha — meu pai abriu a porta do quarto — Fez o que eu te pedi?
Olhei para ele com uma cara que dizia: “O senhor não pediu nada. Fez foi me obrigar.”
— Escrevi tudo, papai — peguei o caderno — Minhas mãos que o diga. Estão doendo bastante e estou cheia de calos nos dedos.
Não adiantava fazer uma voz fofa e uma carinha triste.
Meu pai nunca iria se deixar levar assim.
Eu sabia que esse era o seu jeito de me educar e ele não iria ficar com pena de mim.
Tudo para meu bem
Mesmo que o meu bem significasse chegar da escola, almoçar, ficar trancada no quarto escrevendo e passando pelo castigo que meu pai planejou direitinho.
Eu continuava de castigo
Não tinha contado toda a história para meus amigos.
Lembrei da conversa que tive com eles no dia que descobri sobre a asma.
— Tenho uma notícia — sussurrei — Estou de castigo desde sábado e papai tá pensando se posso ir para o parque.
— Qual o tipo de castigo? — Julie perguntou.
— Da escola para casa, nada de brincar com os amigos a tarde enquanto estiver com os joelhos enfaixados, evitar correr e essas coisas — suspirei cansada.
O que eles não sabiam?
Que essa era só a primeira parte do castigo.
Estava de castigo desde sábado e iria durar até domingo.
Uma semana inteira de castigo.
Passei da primeira parte e agora enfrentava a segunda parte, a mais dolorosa e severa onde meu pai pegou pesado dessa vez, não tinha para onde correr.
Ele disse: “Ou você aprende por bem, porque eu te amo e estou sendo muito bonzinho com você... ou aprende por mal. Escolheu desobedecer as ordens e brincou com esses moleques de rua, ainda sem saber da asma, passou por cima dos meus conselhos, tá sofrendo as consequências agora. Eu te amo tanto, filha, não queria ser tão severo e chegar a esse ponto. A sua mãe ficaria muito triste se estivesse aqui e presenciasse essa cena, mas ela não tá aqui e você tem sorte por isso. Seria mais difícil ver ela triste por sua causa... você sabe, não é? A culpa foi sua. Nesse caso não tive culpa.”
Começou na quarta, tinha que escrever a seguinte frase no caderno: Vou pensar duas vezes antes de fazer alguma coisa errada e irei seguir os conselhos do meu pai.
— O senhor sabe que pegou pesado — entreguei o caderno para ele — Dessa vez acabou exagerando.
— Do que tá falando? — perguntou como quem não sabe de nada.
— Não se faça de inocente, papai — desviei o olhar — O senhor passou uma tarefa parecida com as tarefas que as professoras passam na escola. Como se fosse um professor autoritário.
— Desculpa, filha — encolheu os ombros — Fiquei chateado comigo mesmo. Sabe que tudo que eu faço é para o seu bem. Você me perdoa?
— Depois de passar quarta, quinta e sexta escrevendo uma frase várias e várias vezes no caderno, frente e verso das folhas, quer que eu te perdoe?
— Não quero brigar contigo — se abaixou ficando da minha altura — Vamos parar com reclamações, sim?
Ele me abraçou e não tive escolha.
— Não sei se vou te perdoar tão fácil — disse ainda abraçando ele — Prometo tentar me livrar dessa raiva, te perdoar e esquecer totalmente dessa história.
— Essa é minha garota — sorriu e se afastou — Sabia que iria entender.
Sentei na cama com vergonha de olhar para Joel e minha cara mostrar que eu estava escondendo algo, era complicado esconder meu segredo de ter beijado Ravena e estar me descobrindo, tinha medo dele desconfiar.
Na escola podia ser eu mesma.
Em casa tinha que continuar sendo a velha Jade Luisa.
— Um amigo meu vai chegar daqui a pouco — avisou de repente — Peço que fique quietinha na sala...
— Sério? Vou poder sair do quarto? — pulei da cama — Isso é sério?
— Se acalme, Jade — balançou a cabeça — Pode sair do quarto, pois você vai já para lagoa encantada com seus amigos e não quero que as pessoas pensem mal da gente.
— Como assim? — peguei minha roupa — Pensar mal da gente?
— As pessoas podem pensar que sou um pai horrível — passou a mão no rosto e suspirou — Deixo minha filha trancada em casa.
— Realmente — concordei distraída — Todos ficariam surpresos.
— Não, Jade — sorriu — Seria terrível para minha imagem. Sou o melhor ator de radionovela, conheço muita gente importante e tenho um programa a seguir. O meu programa diz respeito a minha imagem de ser um pai exemplar e o melhor personagem, o mocinho da radionovela, eles esperam que eu seja o exemplo do pai viúvo que perdeu sua esposa. Precisamos dar a eles o que eles querem, não é? Escolhi seguir a carreira de ator e gosto muito do meu trabalho.
Engoli em seco.
Fui para janela e esperei sentir cheiro de bolo na casa da vizinha, porém lembrei que não estávamos na Cidade do Sabiá e a vizinha que fazia bolo morava lá.
Estávamos no Lugar das Lendas e mais uma surpresa desagradável resolveu aparecer.
Seu Joel se preocupava muito com sua imagem, trabalho, pessoas.
Ele não agia como um herói porque queria me proteger, era sua forma de mascarar as coisas, a sua preocupação estava em manter uma boa imagem e ser um exemplo.
— Que decepção — continuei perto da janela — Nunca pensei que sua imagem fosse mais importante.
— Eu não tenho muito tempo para conversar agora — olhou a hora no relógio de pulso — Vamos ficar na sala.
Sorri meio nervosa, senti meu coração acelerar, bateu uma vontade de gritar e fazer ele confessar o quanto era cheio de orgulho, tive que controlar toda a raiva procurando manter a calma.
— Não vem comigo? — ele pegou no trinco da porta — Ou vai se arrumar ainda?
— Eu vou me arrumar — disse meio desanimada.
— Então seja rápida — deu um passo para frente — O meu amigo tá muito nervoso e quer falar comigo o quanto antes.
Ele me analisou com atenção.
— Qual o motivo dessa carinha triste? — cruzou os braços — Você não pode ficar assim. Sorria, Jade Luisa, trate bem o Felipe, esconda essa tristeza sem sentido e não tenha raiva de mim. Sempre que olhar para esses calos nos seus dedos — apontou para minha mão — Vai saber o motivo de ter acontecido isso e no fim irá aceitar esse castigo como uma lição.
Encarei ele sem conseguir segurar as lágrimas.
— Pare de chorar, Jade — respirou pesadamente com raiva — Não tenho o dia todo. Oliver e Julie estão vindo aí e você vai perder o passeio. Quer passar o resto da tarde aqui?
— Tenho direito de escolha? — peguei o porta retrato com a foto de mamãe — Então escolho voltar no tempo para os dias onde era ingênua e acreditava que o mundo e as pessoas eram boas.
— O mundo é cheio de desafios — disse e levantou o queixo — Precisa aprender a lidar com eles.
Saiu do quarto com sua pose de homem forte e orgulhoso.
Joguei um travesseiro na porta, naquele momento só queria Franciele, somente ela seria capaz de trazer paz para meu coração.
Ninguém podia me defender.
Eu estava sozinha.
Queria tanto abraçar minha pequena Luciana e estar ao lado das minhas amigas.
Luciana precisava de mim fazendo o papel de uma mãe na vida dela.
Porém, nesse momento as risadas e as brincadeiras de Luciana me fariam tão bem que os papéis iriam se inverter.
Ela seria como uma mãe para mim.
(16h)
O vestido azul ficou bom no meu corpo e o chapéu vermelho que eu havia ganhado de Franciele combinou com os sapatos brancos que eu estava usando.
Não gostava de branco, mas pelo menos eram os sapatos e não a roupa.
Peguei na barra do vestido enquanto rodopiava pela sala.
— Boa tarde, Felipe — Joel disse ao receber a visita do seu amigo.
— Boa tarde, grande Joel — ele sorriu fraco — Essa é sua princesinha? Ela tá uma mocinha, não é?
Parei de rodopiar e encarei o homem alto.
Sua camisa de rock, cabelos longos e ondulados fazia qualquer um ficar incomodado com a sua presença de homem importante.
— É ela sim. A minha princesinha — Joel colocou as mãos no bolso da calça — O que tanto te pertuba, Felipe? Entre e compartilhe o que tá tirando seu sono.
Seu Joel parecia um psicólogo falando
Felipe amarrou seus longos cabelos, entrou rapidamente, se aproximou dele e sussurrou:
— E a sua filha? Vai ficar aqui mesmo?
— Não se preocupe. Ela tá brincando e não vai escutar nada.
Eu olhei para eles com os olhos semicerrados e fiquei quieta.
Continuei perto da cozinha.
— É a minha filha Valéria — sentou no sofá como quem sofria de ressaca e os seus olhos pretos perderam o brilho por um instante.
— Nunca mais vi a Valéria. Como ela tá? — ficou pensativo — Ela parou de ser tão rebelde? Tá estudando para ser... Qual o sonho dela mesmo?
— Ser veterinária — respondeu — Joel, estou tão perdido. Não sei o que fazer.
Voltei a rodopiar para disfarçar e não mostrar interesse na conversa.
Fiquei com a consciência pesada por estar escutando conversa dos outros
— Ela completou 16 anos e no seu aniversário — engoliu em seco e começou a chorar — Desculpa...
Joel olhou para mim rapidamente e percebeu que eu estava distraída.
Notei um vinco profundo entre as suas sobrancelhas e percebi que ele não sabia como agir nesse caso.
— Calma — levou a mão até o ombro do amigo — Estamos conversando normal.
Felipe passou a língua nos lábios e disse com a voz de choro:
— Ela chegou na festa com uma garota e contou para toda família que é sapatão.
Ergui a cabeça parando de rodopiar na hora e fiquei tonta por quase ter caído.
Significava ser lésbica também?
— Mentira! — meu pai exclamou e abaixou o tom de voz — Como assim?
— Pois é, meu amigo — enxugou o rosto enquanto respirava com dificuldade — A minha mulher, Antônia, passou mal e precisou sair antes do final da festa. Era o que ela mais temia.
— Eu nem sei o que te dizer — meu pai respirou fundo — Então o que vão fazer a respeito?
— Não faço ideia — apertou os lábios, revoltado — Estou totalmente perdido.
— Desculpa, Felipe, mas deviam ter uma conversa com ela — falou meio receoso — Esse é meu conselho, desculpe minha sinceridade ou minha ignorância no assunto, procurem ter uma conversa séria com ela e mostrem que não são de acordo.
— Já fizemos — bufou — Estamos em crise no casamento e agora vem essa novidade.
— Revolta — falou de repente — Vocês vivem se separando e voltando, Valéria deve ter ficado revoltada e aí resolveu dizer que tá namorando uma menina, vocês não souberam educar ela direito, mimaram muito e fizeram as vontades dela.
Felipe levantou e quase pude ouvir as batidas do seu coração acelerado.
— Quem te deu o direito de falar assim? — cruzou os braços — Quem é você para dizer como temos que educar Valéria?
— Calma — levantou em seguida — Você veio aqui pedir um conselho.
— Achava que podia confiar em você — cuspiu as palavras — Acabei de fazer um desabafo e não mereço escutar esse tipo de coisa. Eu sempre te respeitei muito.
— Também te respeito — sorriu para tentar amenizar a situação — Acredite em mim, é birra de adolescente, e é uma fase.
— Fase — gargalhou — Não seja burro. Antônia já desconfiava que Valéria jogava no outro time, se é que você me entende, não foi um choque. Ela é mãe então percebeu alguns sinais. Eu ainda preciso tentar aceitar.
— Aceitar? — franziu as sobrancelhas — É isso que ela quer, devia escutar o que estou te aconselhando a fazer, converse com ela e verá que 1°: é uma birra de adolescente ou 2°: é falta de uma surra.
— Você não entende — fez uma careta de reprovação — É fácil julgar os outros quando o problema não é com a gente, estamos morrendo de vergonha de falar com nossa família porque estavam presentes na festa, planejei um futuro lindo para Valéria, pensei nela formada e se tornando veterinária, casada e eu, inclusive, pensei nos netos que ela iria nos dar, essa notícia mexeu comigo, é fácil você abrir a boca para me julgar. Afinal não é com sua filha. Você não tem perigo de sofrer desse mal.
Ele andou rapidamente até a porta e saiu da nossa casa.
Senti um vento passar e tive a sensação dele ter saído como um furacão.
— Papai — choraminguei — Por que foi tão cruel?
Mordi o lábio com força e senti o gosto de sangue na minha boca.
— Esse assunto diz respeito a adultos — avisou chateado — Crianças precisam brincar e parar de serem curiosas.
— Posso ser criança e entender esse assunto — abri os braços — A Valéria sabe o que tá fazendo.
— Esse assunto não te diz respeito, Jade Luisa — levantou o dedo — Você nem sabe de nada.
— Eu sei sim, papai — passei a mão no meu lábio inferior limpando o sangue e gritei sem querer — Valéria pode gostar de quem ela quiser e tá tudo bem.
Corri em direção ao quarto.
Cai no chão chorando, eu não devia estar chorando, estava sendo fraca.
Podia ter sido um pouco exagerada também.
É feio uma mocinha chorar por causa de besteira
Quase podia ouvir ele dizendo isso.
Todo mundo pode chorar. Eu sou uma mocinha e estou chorando por um bom motivo, o senhor me decepcionou, papai, estou decepcionada de novo
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