Cap.23 (Parte 2: Quebrar as regras)
A lua inteira agora é um manto negro, ô-ô
O fim das vozes no meu rádio, ô-ô
São quatro ciclos no escuro deserto do céu
Quero um machado para quebrar o gelo, ô-ô
Quero acordar do sonho agora mesmo, ô-ô
Quero uma chance de tentar viver sem dor
Sempre estar lá, e ver ele voltar
Não era mais o mesmo
Mas estava em seu lugar
Sempre estar lá, e ver ele voltar
O tolo teme a noite
Como a noite vai temer o fogo
Vou chorar sem medo
Vou lembrar do tempo
De onde eu via o mundo azul
Hello, galeraaa
Quem aí lembra dessa música???
Eu adorei quando achei essa música na internet.
É a versão EM PORTUGUÊS de Starman do David Bowie.
Lembrete: Lembram do que eu disse que a partir do Capítulo 20 iria começar uma “nova fase”?
Então aqui está.
A evolução delas começa aqui...
Estou ansiosa.
Acho importante contar que estou pesquisando bastante, vendo vídeos, lendo HISTÓRIAS REAIS a respeito do tema e estou conseguindo ter mais inspiração para o Livro.
Safo, Emily Dickinson e muitas outras histórias inspiradoras.
O processo para Ravena e Jade se descobrirem lésbicas vai ser meio solitário por conta da época, anos 90.
Então, por favor, não julguem as atitudes precipitadas ou erradas das meninas. Lembrem-se que eu tento fazer Personagens Reais e trago temas reais para meus livros. Talvez Jade ou Ravena decepcionem ou façam os leitores terem raiva... Isso mostra que estou sabendo trazer realidade para cada cena, cada diálogo ou momento.
Jade Luisa
Oliver estava andando de bicicleta pela rua e nem se quer olhou para mim, por possivelmente ter ficado sem graça pelo fato de eu ter o ignorado, mas falar com Ravena foi a única coisa que consegui fazer.
Ninguém nunca havia gostado de mim, quando estudava na escola da Cidade do Sabiá, todas as meninas ficavam longe dos meninos, a gente não podia nem se misturar, era cada um no seu canto e era uma regra da escola.
No meu mundo só tinha meninas
Vivia rodeada de vestido, sandália, perfume floral, lacinho rosa
Não entrava na minha cabeça essa nova realidade envolvendo o mundo dos meninos, a possibilidade de eu estar me desconectando do meu passado e tendo que aprender a lidar com o começo da adolescência, ter que passar por essas mudanças.
Eu sentia que ainda era uma criança.
Ravena estava distraída com o Orelhão e parada na calçada do outro lado da rua, também parecia ter ficado sem graça por causa do momento constragedor, não entendi a sua atitude estranha, pegar na minha mão e entrelaçar nossos dedos ao mesmo tempo que olhava diretamente para o meu rosto sem vergonha de nada, não mostrou um mínimo de insegurança quando sem querer baixou o olhar para meus lábios.
Com certeza foi sem querer.
Ravena não ia ficar encarando minha boca do nada.
Devia ter ficado com ciúmes da gente ou pensado que ia ser excluída.
Foi só isso.
Ela não entendia meu dilema, aquela sensação de se sentir diferente das outras meninas, gostar de uma amiga e ficar confusa.
Eu sabia que Ravena gostava de brincar então podia querer provocar quando se aproximava desse jeito.
Ninguém veio abri a porta e bati novamente, dessa vez gritei o nome Julie, e fiquei torcendo para alguém escutar, sei lá, só queria distrair meus pensamentos e estudar em paz.
Olhei para o céu fixando o olhar nas nuvens andando pela imensidão, como se tivessem indo ao encontro do outro lado do arco-iris, vi poucas partes azuis porque tinha muitas nuvens.
A lua apareceu e tive vontade de sorrir por ver que estava tendo oportunidade de presenciar a chegada da noite.
Os moradores daqui não sabiam como era bom olhar para lua
Senti como se tivesse com uma sandália salto alto, sem equilíbrio e caindo, mas meus pés ganharam vida e um pássaro voou bem acima da minha cabeça.
Tive um minuto de liberdade quando fiquei de ponta de pé e comecei a fingir que estava voando no meio daquele céu, descobrindo se a nuvem tinha gosto de algodão doce, a lua tinha gosto de queijo ou se eu podia ver uma estrela cadente durante a tarde.
Escutei a música Astronauta de Mármore tocando em algum lugar do céu e aquilo ajudou mais ainda a soltar a imaginação.
Escutei vozes no meio de todo aquele silêncio e solidão e fui despertando aos poucos.
— O que é isso, tchê? — ouvi uma voz feminina que parecia estar bem longe — A guria tá dormindo em pé, Roberto.
Abri os olhos devagar e a claridade do dia quase me cegou.
Um casal estava parado na porta e olhando para mim como se eu fosse um alienígena, provavelmente viram toda a cena enquanto eu imaginava, agora eles podiam estar pensando que eu dormia em qualquer lugar.
— Tá tudo certo por aqui? — Oliver se aproximou — Eu te vi em pé olhando o céu.
— Desculpa, gente — gargalhei por ter ficado nervosa — Acabei me distraindo. Eu sou Jade, sou amiga da neta de vocês, senhora... qual seu nome mesmo?
— Laura — ela sorriu gentilmente — Te aprochega. Aqui ninguém morde não.
Eu podia ter reparado no tanto de botão que tinha no seu vestido jeans, talvez até reparado no seu cabelo pintado de preto, nas suas unhas pintadas com o esmalte vermelho, chinela decorada com pérola ou prestado atenção nas sobrancelhas bem feitas.
Porém, reparei mesmo foi na cor dos seus olhos
Olhos cor de âmbar
Pareciam castanhos ou verdes.
Aquela cor me deixou hipnotizada.
— Sou Roberto — o senhor de cabelo grisalho sorriu — Estávamos esperando a chegada da gurizada.
— Meu nome é Oliver — ele logo se apresentou — Podemos entrar?
— Claro que podem — Laura deu espaço para gente passar — Julie tá lá dentro no quarto. Aquela guria não sai da frente do computador.
Roberto estava com chapéu na cabeça, usava macacão jeans com suspensório, sapato preto e seus olhos também eram bonitos.
Um olho de cada cor
Um era verde e o outro azul
Eles eram o casal mais fofo do mundo.
Laura aparentava ter 65 anos e Roberto aparentava ter seus 71 anos.
Um casal estiloso e romântico.
Eu e Oliver entramos e observei a sala com as paredes repletas de retratos, fotos do casal, de crianças, da família reunida e uma criança pequena que eu achei parecida com Julie.
Na parede do lado direito tinha os retratos e do lado esquerdo eram os quadros com paisagens.
Paisagem com uma casa bonita e na frente um lindo lago, outro quadro tinha um jardim cheio de flores, um terceiro quadro era uma casinha minúscula que parecia ser de fadas e muitos outros com várias paisagens diferentes.
Um quadro em específico tinha a foto de um menino chorando, interessante e intrigante, se fosse levar em conta a curiosidade por trás do motivo do choro daquele menino.
Oliver pegou no meu ombro e apontou para o relógio na parede, era aqueles que badalava e ressoava em toda casa de hora em hora, ficamos surpresos ao ver um relógio desse pela primeira vez.
Vimos a televisão tubo na estante e o sofá na frente.
A estante com enfeites, três elefantes de porcelana, cavalos de porcelana, jarros sem flores e imagens de santa em gesso.
Caixas de sapato que provavelmente usavam para guardar as fitas VHS e o vídeo cassete do lado da televisão.
Tantas fitas VHS despertaram a garota curiosa que adorava imaginar coisas aleatórias e assistir filmes.
No rádio tocava a música Astronauta de Mármore então não foi imaginação, era real o ritmo e a letra, nem escutei sem querer por ter conseguido “voar com as nuvens”.
Eu adorava escutar essa versão em português, porque não entendia inglês e a música original era Starman do David Bowie.
David Bowie havia aprovado essa versão e se ele ouviu, gostou, aprovou então a gente também apoiava com todo gosto e “abraçava” a música sem medo.
Ficava deitada na cama enquanto a música tocava no rádio da sala, sem perceber eu acabava viajando com a letra e se deixando levar, viajava pelo céu com as estrelas, os planetas, todas as galáxias e descobria se existia vida em marte.
Eu ficava conectada com o universo.
— Eu aceito, senhora — Oliver disse — Você também quer biscoito, Jade?
Apertei os cílios e minhas íris deviam ter entregado toda a vergonha que senti.
De novo fui pega distraída.
— Parecem muito bons — comentei — Eu quero dois, por favor.
Laura entregou os biscoitos para gente e Roberto perguntou se aceitávamos ver o jogo com ele, pois estava perto da hora de começar a partida entre dois times.
Oliver deu de ombros e aceitou assistir o começo do jogo, me chamou animado, mas eu não estava interessada em ficar vendo televisão.
Queria estudar
Deixei a mochila no sofá.
Preferir sair da sala tentando manter certa distância dele, evitando a culpa por ter pensado em forçar meu coração a sentir algo por ele, sem mais e nem menos precisar fazer o papel da garota apaixonada pelo garoto.
Mas eu não era essa garota.
Mentir e dar falsas esperanças ia ser horrível, agir igual uma personagem ruim de radionovela nunca foi uma possibilidade, me prestar a um papel desse só se fosse realmente necessário.
Queria curtir a amizade dele.
Era tentadora a ideia absurda da parte do meu cérebro que dizia: “Tente gostar dele”.
Enquanto o coração se entristecia e chorava ao pensar na cena triste do menino sendo iludido.
O coração dizia: “Você gosta de meninas. Acorda e aceita isso de uma vez. Não é uma fase”.
A quem eu devia dar ouvidos? A voz do cérebro ou do coração?
Tentar aproveitar a companhia dele e quando fosse o momento certo, sem pressão, a gente tivesse preparado ia enfim acontecer o selinho.
Eu podia sentir borboletas no estômago e a inocência da infância através de um simples selinho.
As novas experiências.
E ia deixar o coração triste, mas se existisse as borboletas no estômago ia ser uma recompensa boa.
No futuro eu e ele podíamos namorar e esse passado de dúvidas nunca mais ia voltar.
— Vou procurar Julie — avisei a vó dela — Precisamos ajeitar os materiais dos estudos.
— Pode ir, guria — apontou para o corredor escuro — Fiz negrinho e branquinho, porque essa minha neta adora doce.
— O que significa? — eu franzi as sobrancelhas — Perdão por não entender algumas palavras.
— Capaz — ela sorriu — Negrinho é brigadeiro, o jeito conhecido de vocês falar, e branquinho é o beijinho, como vocês conhecem.
Agradeci a explicação e segui rumo ao corredor mal iluminado onde tinha três portas.
Eu decidi empurrar a segunda porta entre-aberta, que pensei ser a certa, e fui surpreendida com um quarto totalmente novo.
Uma cama grande, guarda-roupa de madeira, foto do casamento deles na parede, uma cortina de fuxico na janela e tapete com fuxico do lado da cama, o rádio relógio em cima do criado mudo, sabonetes decorados na cômoda e cinco fitas VHS em cima de uma cadeira.
Era filme para todo lado
Roberto era dono da videolocadora e foi nesse lugar que conheci Julie, não tinha jeito, eu sempre ia lembrar desse dia, o espaço mágico da videolocadora ainda permanecia vivo na minha memória.
Andei pelo quarto de boca aberta com tanta coisa linda em um só lugar.
Ainda tive outra surpresa.
Várias roupas femininas estavam em cima de uma cadeira, por um motivo desconhecido TODAS as roupas eram da sua juventude, tinha de tudo naquele amontoado.
Saiaz xadrez, blazers com ombreiras, vestidos com mangas bufantes, calças coloridas, duas bolsas de franja no meio das roupas, faixas para cabelo, polainas para combinar com leggings ou shorts e usar para andar de patins.
A moda presente em cada peça.
Laura sabia se vestir bem e continuava sendo muito vaidosa.
Não conseguir evitar, respirei fundo e abri o guarda-roupa.
É, eu precisava ver mais roupas assim, desvendar o que era moda na época da juventude dela, porém, só achei roupas atuais.
No guarda-roupa tinha a roupa do dia a dia e algumas próprias para ir assistir as missas na igreja.
Vários cheiros de perfumes femininos e masculinos preencheram o ambiente, comecei a tossir com o cheiro, prendi a respiração por uns segundos e soltei o ar devagar.
Era errado invadir a privacidade dos outros, mesmo sem eu querer, agora precisava parar o mais rápido possível.
Dei um passo para trás e antes de sair, prestei atenção em um espaço onde ficava as maquiagens, o cheiro também era muito bom.
Usar um pouco de maquiagem não ia fazer mal...
“Vai embora” eu disse para mim mesma em pensamento porque alguém podia me pegar no flagra.
Peguei um batom vermelho, fiquei de frente para o espelho pequeno, suspirei criando coragem e passei o batom nos meus lábios.
Encarei o reflexo no espelho de uma garota assustada com cabelo loiro e lábios vermelhos.
— Onde fica o banheiro?
Deixei o batom cair no chão depois do susto ao ouvir aquela voz calma.
Ravena apareceu no meu campo de visão.
Ela se abaixou rapidamente e pegou o batom em um piscar de olhos, andou a passos lentos em minha direção, tentou encarar qualquer coisa, enquanto aos poucos se aproximava.
— Eu sou desastrada.
Deixei escapar em um sussurro.
— E muito curiosa também.
Ela completou séria.
— Ficou manchado aqui — passou o dedo no canto da minha boca — Usar maquiagem dos outros é o seu caminho seguro para quebrar as regras?
— Exagerei mesmo — concordei — Eu não devia ter feito isso não. É contra as regras.
— Jade Luisa prefere obedecer — ela zombou — Esse vermelho é forte e...
Limpou a garganta.
— Ficou bom em você — confessou — Quer sair correndo ou experimentar uma sombra?
Era inacreditável
Ela queria que eu quebrasse as regras?
— Não vamos virar adultas se a gente brincar um pouquinho — sorriu — Nem pular etapas.
— Invasão de privacidade — corriji — Eu estou começando a me arrepender.
Passei a mão nos lábios.
— Vai se sujar — avisou e puxou meu braço — Somos só crianças que gostam de explorar.
— Falando assim você parece toda inocente — fiz beicinho — O que você quer? Tarde das amigas ou uma noite do pijama?
— Tarde das amigas envolve coisinhas fofas, laços de cabelo, unicórnios — fez careta — Noite do pijama também não é nada legal. Aqui estamos diante de um mundo inteirinho só para gente e vamos aproveitar...
— Você me convenceu — resmunguei — Quer passar blush? Eu posso ser a sua maquiadora.
— Eu que vou ser a sua maquiadora — falou dando ênfase a palavra — Escolhe uma sombra.
Seu cabelo de corvo junto com as tranças bem feitas transmitiam mistério e confiança, características marcantes, no entanto, se escondia uma menina triste por trás dessa máscara.
Ela era incrível sendo corajosa, tímida, desenhando, expressando seu amor pela arte.
Mesmo quando tentava esconder seu lado romântico continuava incrível.
— Já escolhi.
Ravena foi me guiando até a cama e começou com a sessão de beleza.
Eu estava sonhando e precisava que alguém beliscasse meu braço, em um passe de mágica ia acordar, e perceber que tudo foi um sonho confuso.
— Sua amizade também ajudou a colorir meu mundo — disse baixinho — Fica de olhos fechados. É difícil para mim falar sobre amigos, porque nunca tinha tido nada parecido com ninguém. Eu desconfiei de você no começo, achei que queria participar das apostas dos alunos que brincam comigo, através da sua aproximação inesperada encontrei uma amizade verdadeira. Não achava que alguém ia aparecer e mudar tudo em poucas semanas... eu era problema... você veio toda simpática e me enxergou como uma pessoa normal.
Segurei as lágrimas e permaneci em silêncio.
Nunca tinha presenciado uma cena assim.
Raven sendo sensível e falando palavras bonitas, fazendo uma declaração onde estava tirando sua rebeldia, revelando que se importava mesmo sem querer admitir.
— Você enxergou meu talento e ainda tirou minhas defesas, fiquei totalmente exposta sem nem perceber, veio com a intenção de ficar e compartilhar bons momentos comigo.
Terminou de passar a sombra e foi me guiando até o espelho.
— Não consigo me amar — continuou — Era acostumada com solidão, gostava da paz do cemitério, meu melhor amigo era o caderno de desenhos, vivia uma vida solitária e amava contar histórias. Fui escritora muito antes de aprender a ler. Sou igual um vulcão prestes a entrar em erupção ou igual ao furacão que chega destruindo tudo. Eu guardo tanta coisa aqui...
A sua mão logo encontrou a minha na escuridão dos meus cílios e sem a visão daquele espaço todo ao nosso redor.
No escuro, com os olhos fechados, só enxergava manchas coloridas passando e queria visualizar a reação dela ao dizer tudo aquilo.
Ainda estávamos de mãos dadas, pegou nos meus dedos e levou nossas maos até o lado esquerdo do seu peito, senti seus batimentos cardíacos acelerarem cada vez mais.
— Guardo muita confusão aqui dentro — sussurrou — Também estou passando por mudanças, por isso estou falando essas besteiras, não tenho nada a perder então você pode achar que estou muito sensível e vou contar meus segredos, e se for assim... desculpa, mas tá somente se enganando.
— Eu posso ver agora, por favor? — supliquei — A ansiedade tá demais.
— Fica a vontade, princesa — disse com o tom de voz normal.
Ela tinha voltado a ser a velha Ravena
Estava com a pose de forte novamente.
A maquiagem revelou uma Jade Luisa vaidosa e cheia de atitude.
Porém, não era eu.
— Se arrependeu — ela resmungou — Você continua pensando demais. Precisa agir.
— Vai mesmo mudar o assunto e fingir que não abriu o coração? — cruzei os braços — Eu lembro de tudo que acabei de ouvir.
— Aquela garotinha foi embora — deu de ombros.
— A velha Ravena voltou — revirei os olhos — Não adianta negar, espertinha. Sou boa de memória e vou lembrar disso para sempre.
— As provas estão nos chamando — se afastou — Precisamos estudar.
— E eu preciso tirar isso — fiz careta — Ninguém pode saber que estamos aqui.
— Tudo bem, princesa — mandou um beijo no ar — A sua fama de popular e perfeitinha continua. Esse segredo fica só entre a gente.
Fechei o guarda-roupa e antes que eu pudesse ir no banheiro, ou cogitar essa possibilidade, imaginei ter ouvido ela dizer algo bem baixinho.
— Pelo menos você gosta de meninos e eu nem sei quem sou...
Saiu do quarto e congelei depois desse comentário.
O que isso significava?
Ela entendia meu dilema?
Gostaram dos avós de Julie?
E da descrição da casa deles?
O que acharam de Ravena maquiando Jade?
Perdão se tem muitas palavras repetidas :(
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