Cap. 19 ( Parte 1: Por que estava doendo tanto? )
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Então se quiserem assistir o vídeo
Podem procurar no YouTube (deixo sempre o título da música em baixo)
Ah. Essa música pode ter várias interpretações, mas no caso vocês podem se perguntar: Vitória, por que escolheu essa em específico para esse capítulo?
Escolhi por causa da letra e da mensagem que ela passa. Fala sobre o
eu lírico está sofrendo alguma crise existencial e quer que alguém a entenda (por isso escreve pra alguém).
Vã melancolia é uma tristeza que ela não precisa ter. Por isso ela é inútil, desnecessária. Ela sente uma tristeza que de nada serve.
E também o fato do eu lírico querer fugir de si mesmo. Como se tivesse cansado de ser quem é.
Ravena tem muito disso e esse capítulo tem uma mensagem importante.
Essa música Eu também não está na Playlist. Foi apenas escolha aleatória
Se preparem para uma "nova fase" a partir do capítulo 20, ok?
Jade e Ravena finalmente vão estar no início da história delas e não se preocupem, porque eu vou respeitar o fato das duas serem apenas crianças
Elas são só crianças por enquanto e por isso vão ter muitas dúvidas, sentimentos novos, culpas e etc
Nosso casal ainda tem um longo caminho pela frente
Tu entenderias que sou
Obra inacabada, talvez
Uma apaixonada pela vã
Melancolia talvez eu
Obra inacabada talvez
Uma apaixonada pela vã
Melancolia que é ser eu
Eu, sempre eu, sempre eu
Eu, sempre eu
( Eu - Mari Froes )
Ravena
Eu achava os gatos engraçados.
Eles tinham facilidade de dormir em qualquer lugar, ficar em qualquer posição, se divertir com um pedaço de papel no chão, se assustar rápido.
Eram ótimos "atores" também nas horas que nos ignoravam e ficavam quietos sem querer brincar.
O motivo?
Talvez fosse por causa de algo que fizemos com o gato.
Termos pisado na patinha dele sem querer, não termos dado a devida atenção quando ele ficou miando, termos fechado a porta do quarto para ele não entrar.
Eram tantos motivos.
Carla Cecília dormia com bastante facilidade e ficava deitada na minha cama, no chão, em cima do sofá ou até no parapeito da janela.
Se chateava quando eu não prestava atenção nos momentos que ela miava, queria brincar comigo, dormir em cima da cama e eu não deixava.
Carla Cecília gostava de me fazer companhia e as vezes era como um "despertador" por sempre ficar miando de manhã cedo.
Exatamente na hora certa que eu devia acordar
Gatos sempre sentiam as coisas.
Estava para tentar desvendar o mistério por trás da inteligência dos gatos.
Carla Cecília passeou entre minhas pernas em cima da cama.
Eu deitada com a cabeça apoiada no travesseiro, suspirei e fiz carinho na cabeça dela.
- Hoje não estou muito bem - suspirei enquanto falava com a gata - Você pode respeitar meu espaço e me deixar sozinha?
Sussurrei e ela miou em resposta.
Acabei sorrindo, o único sorriso sincero que consegui durante esse dia, e pisquei os olhos.
Li em um livro que bater palmas ajuda a espantar a tristeza.
Não sabia se aquilo funcionava, mas tentei juntar o pouco de coragem que ainda me restava, e então bati palmas.
Uma vez...
Parecia uma pessoa sem forças que não queria ser ouvida.
Mais uma vez...
Estava melhorando. Talvez, com sorte, algum animal da casa tenha escutado o chamado.
E outra...
Agora sim. Podia ser considerada uma visita importante.
E mais outra...
Aos poucos as luzes iam acendendo e a dona aparecendo para abrir a porta.
O quarto parecia iluminado, a janela foi aberta de repente com o vento forte, os papéis que estavam na mesa voaram.
A dona tinha sorrido para mim.
Um sorriso convidativo.
Ela me recebeu bem e acendeu as luzes para que eu entrasse em sua residência.
Eu era bem-vinda
A alegria tinha me encontrado.
Aquele espaço tinha sido preenchido pelas flores, aromas, cores e música.
O inverno triste fugiu como se fosse uma criança medrosa.
A primavera me abraçou com carinho e disse:
"Estava esperando você, filha."
Abri os olhos e percebi que estava sorrindo.
Eu tinha imaginado esse cenário enquanto batia palmas.
Lembrei da senhora, vulgo primavera, e senti uma sensação boa de conforto. Era incrível o poder que a primavera tinha.
Capaz de espantar nossos medos, nossas inseguranças, choros e os desconfortos.
Eu estava precisando disso.
Cheguei da escola, deitei, tentei dormir, mas não consegui. A minha mente não parava. Estava muito agitada.
Agora minha mente ficou tranquila.
Era como sentir o calor do sol e ao mesmo tempo uma brisa suave no rosto.
Como se eu tivesse diante do mar, pisando na areia fria, abrindo os braços e recebendo o vento.
"Senti saudades."
Quase podia escutar minha voz ao dizer isso para o mar.
"Eu voltei para casa."
O mar e a primavera me abraçaram.
Estava livre.
- Não vai acreditar no que acabou de acontecer, Carla Cecília - sentei na cama - Uma senhora bondosa veio me atender e tirou toda a sensação horrível que eu estava sentindo.
A gata pulou e saiu andando. Parecia estar desfilando.
Como se dissesse: "não me importo, humana."
Mas para mim importava e muito.
Usei minha imaginação para pensar em tudo isso.
Olivia não podia me ver agora, mas eu queria estampar para todo mundo o quanto fiquei feliz.
Ela também não ia se importar.
Nunca fui importante para ninguém.
Hoje era quinta feira e faltava poucos dias para entregar o trabalho sobre a Páscoa.
As primeiras provas estavam chegando.
Porém, aconteceram umas coisas na manhã de hoje. Isso foi o suficiente. Não era capaz de ficar bem ao escutar Olivia dizer aquilo.
Ela foi cruel.
Na terça-feira fiquei tão empolgada com a leitura do conto de fada. Pela primeira vez eu fiquei em grupo e tive ajuda.
Pela primeira vez tive a oportunidade de contar histórias.
Fiz isso junto com Julie.
Ninguém riu quando terminamos, pois todos gostaram.
Eles se divertiram.
Mostraram interesse.
Passei o dia inteiro escrevendo na terça. Fiquei entusiasmada e com criatividade para soltar a imaginação. Escrevi até as minhas mãos doerem.
O que falar sobre Julie?
Ela era enigmática, sincera, leal, forte, inteligente.
Não sei o que deu em mim quando tive a ideia de lermos A Rainha da Neve.
Em um piscar de olhos estávamos dentro da casinha e começando aquela reunião da Biblioteca Ultrassecreta.
Surreal. Intenso. Parceria.
Um abraço em grupo no final foi o suficiente e meu coração batia tão acelerado que tive medo.
Achava que nada podia tirar minha paz.
Estava errada.
Olivia teve esse poder.
Olivia tirou minha paz e chorei tanto até não aguentar mais.
Por isso pisquei os olhos para não chorar de novo.
Ela não merecia minhas lágrimas.
Só eu tinha o poder de me reerguer quantas vezes fosse preciso.
Estava com raiva dos meus sentimentos confusos. Olhar para Olivia, admirá-la, seguir ela sem ninguém perceber, parar de desenhar só para prestar atenção na conversa dela com algum menino na sala de aula.
Precisava tirar essas vontades e esses desejos.
Esquecer a garota popular e tentar viver a infância. No futuro eu ia gostar de um garoto... assim esperava.
Flashback on
Sai de casa faltando 10 minutos para 7 horas.
O horário na escola era 7h10.
Seu Gilberto nunca mais levantou a voz e continuava trabalhando.
Chegava em casa quando eu estava na escola, deitava, almoçava e depois ele ia descansar.
A rotina normal
Nada tinha mudado.
Eu não estava de castigo e continuava escrevendo. Seu Gilberto quis mostrar para meus avós um comportamento diferente do dele.
Ele queria provar que tudo estava sob controle e que era um ótimo pai.
Um pai autoritário.
Ele nunca foi assim e achava difícil ver seu comportamento mudar.
Papai enganou meus avós e esqueceu que eu e mamãe conhecíamos ele muito bem, e sabíamos que nunca ia ser capaz de ser tão autoritário.
Eu ia ser escritora com ou sem autorização do meu pai
Estava disposta a ir contra a tradição e recusar qualquer casamento quando completasse 17 anos
Nunca ia ser matriculada em um internato
Nem ficar estudando em casa como vovô queria
Eu não era uma marionete e nem um robô.
Continuei andando pela rua e avistei três pássaros no fio do poste. Estavam parados e olhando as cerejeiras da praça.
Passei em frente ao cemitério antigo e tive vontade de entrar. Precisei segurar meu impulso e correr até a escola.
Outro dia ia visitar o cemitério.
Parei de correr e vi uma fila grande.
Pessoas e mais pessoas esperavam na fila do Orelhão.
Escondi de trás de uma árvore e fiquei observando eles.
Alguns estavam com as mãos no bolso da calça, mulheres conversavam umas com as outras, adolescentes brincavam de ficar se empurrando.
O sol iluminava o grande Orelhão e a fila só aumentava.
Os adultos tinham presa, adolescentes queriam brincar, as crianças estavam indo para escola.
Cada um vivendo sua rotina
Todos no seu próprio mundinho
Isso era interessante.
- Aconteceu alguma coisa?
Dei um pulo e me segurei no tronco da árvore. Jade Luisa sorriu baixinho.
- Desculpa, Ravena - segurou nos meus braços - Sou eu. Fica calma.
- Você sempre quer me matar do coração - reclamei - O susto na lagoa encantada e agora isso.
- Ei, em minha defesa os dois episódios não foram intencionais - levantou as mãos - Perdeu algo aqui? Olhava as pessoas?
- Sim. Gosto de observar os... adultos - confessei - Vamos logo. Estamos meio atrasadas.
Jade Luisa tossiu. Encarei ela na mesma hora.
- O que foi? - peguei no seu ombro.
- Nada demais - puxou o ar - É só uma tosse. Limpei meu quarto ontem e acabei pegando poeira.
Relaxei a postura. Ela olhou para minha mão no seu ombro, levantou a cabeça e nos encaramos.
Escutei sua respiração e observei seu rosto tão perto do meu.
Dei um passo para trás envergonhada por ter provocado esse contato físico.
- Ainda tá com aquele cansaço?
- Melhorei do cansaço e fiquei com tossi por ter mexido com poeira. Obrigada por estar guardando segredo.
- Eu tenho palavra, princesa Gabriela - fiz uma reverência - Pode confiar em mim.
- Você é engraçada, sabia? - se afastou um pouco - Hoje vai ter reunião?
- Depende da Julie. Precisa trazer um livro novo - desviei o olhar - Assim vamos ler na hora do intervalo.
- A Biblioteca Ultrassecreta tá sendo um sucesso - bateu palmas - Estou muito animada. Com medo do papai descobrir ou da professora ver...
- Deixa o medo de lado - interrompi ela - Pensa em todas as vantagens e desvantagens. Qual prevalece?
- As vantagens - respondeu - Tem bastante.
- Exatamente. Precisamos nos arriscar.
Eu e Jade entramos na escola. A gente se sentou em um banco no corredor.
Olivia e Rute apareceram e vinham praticamente desfilando.
Puxei o meu caderno de dentro da mochila, o lápis e a borracha. Assim comecei a desenhar para disfarçar o meu nervosismo.
- Jade Luisa - uma delas chamou e continuei desenhando - Pode vim aqui rapidinho?
Ela se levantou e eu soltei um suspiro. Olhei de canto de olho observando Rute indo embora e ficando somente Jade e Olivia.
Ficaram um pouco perto e aproveitei para escutar a conversa.
Mesmo achando aquilo errado
- Ainda tá andando com os excluídos? - colocou a mão na cintura.
Jade coçou o braço e olhou para trás disfarçando.
- Isso tá mesmo te incomodando?
Estava calma por fora, mas meu coração acelerado e a garganta seca entregavam tudo.
Não conseguia negar.
- É impossível andar com os excluídos e com a gente ao mesmo tempo - aumentou o tom de voz - É totalmente contra as regras.
- Tudo bem, Olivia - sorriu - Não precisa gritar, ok?
- Fico surpresa com sua ingenuidade, garota - revirou os olhos - Ninguém te contou?
- Me contou o que? - perguntou sem paciência - Até outro dia nós éramos amigas e do nada você começa a agir assim.
A popular estalou os dedos.
- Acorda, garota - gritou - Os seus amiguinhos não te contaram nada? Aquela skatista também escondeu isso de você?
Mexi a perna e sem querer coloquei força no lápis.
Escutei a ponta do lápis quebrando e tentei controlar o meu nervosismo.
Minha perna parecia ter vida própria, porque não parava de mexer.
Estava ansiosa ou nervosa?
- Como seus amigos são legais - ela bateu palma rindo - Essa menina é uma bruxa, Jade Luisa. Ela é perigosa. Acorda logo, garota.
- Você tá ficando maluca? - sussurrou - Para de gritar. Como ousa chamar Ravena desse apelido? Ela tem nome, sabia?
- O nome dela é Ravena e olha só - fingiu pensar - Até o nome é de bruxa. Sabe todas as lendas desse lugar? A sua amiguinha também faz parte delas por ser filha do casal feiticeiro.
- Não sei do que tá falando - respirou fundo - Fazendo um show desse.
- Então pergunta sobre os pais dela - desafiou - Eles são feiticeiros e essa bruxa nunca teve ninguém. Quem ia querer se aproximar da estranha? Tem amigos agora porque vocês tem pena dela. Estão do lado dela por piedade.
Uma lágrima caiu pela minha bochecha e enxuguei rapidamente.
- Você sempre vai ser excluída, Ravena. Pessoas como você nunca mudam. E eu posso ter medo, mas não podia deixar Jade Luisa ser enganada.
- Não liga para ela, Raven - se afastou - Olivia tá sendo muito maldosa.
- Estou sendo maldosa? - mordeu o lábio - Ou você que tá sendo ingênua?
Deu tchau e foi em direção a sala de aula.
Controlei o choro enquanto fingia desenhar com o outro lápis.
- Escutamos os gritos - Oliver vinha correndo - Desculpa. Queria evitar esse escândalo.
- Não foi culpa sua - enxuguei as lágrimas.
- Que raiva dessa guria - Julie chegou - Eu senti cheiro de problema de longe e em seguida veio os gritos.
- Podem começar a explicar o que tá acontecendo? - cruzou os braços - Essa história de bruxa e casal feiticeiro.
Julie sentou do meu lado e mostrou um livro.
A Pequena Vendedora de Fósforos
Outro conto de fada.
- Fica tranquila. Não deixa essa guria te colocar para baixo.
Oliver explicou tudo e no final deixou claro o quanto achava aquilo cansativo.
- É chato. Incoveniente. Querem que a gente se afaste por causa desses boatos. Minha mãe tá pegando no meu pé para mim deixar de ser amigo da "bruxa."
- Vi tua mãe lá fora e ela parecia estar te dando uma bronca - Julie falou - Esse povo dessa cidade tem medo de tudo. Imagina se Ravena ia ser perigosa. Eles é que estão julgando errado... foi mal, Oliver. Nada contra sua mãe, ok?
- Relaxa. Eu entendi - tranquilizou ela - É sempre a mesma história. Não tem outro motivo. Por exemplo, "se afaste dela. Não é uma boa companhia", "ela vai enfeitiçar você e te levar para o mal caminho" ou essa aqui "essa garota é uma completa pagã."
- Por isso procuro nem ligar - guardou o livro - Faço amizade com quem eu quero por perto e ignoro o mundo ruim, e o povo cruel que tem a minha volta.
Jade estava calada, quieta, pensativa. Observava nossa conversa enquanto parecia perdida em pensamentos.
- Vamos dar um tempo para ela - Julie colocou o skate no chão - Temos uma longa manhã pela frente.
Fomos assistir as aulas, mas passei a manhã toda distante.
Mil pensamentos surgiam na minha mente.
Queria pedir o walkman de Julie para escutar música com o fone.
Funcionava com ela quando queria ignorar o mundo e focava somente na música.
Já eu precisava encarar minha realidade e estudar na mesma sala da popular.
Queria fazer isso parar e seguir a vida sem ligar para nada. Seguir o conselho de Julie.
Só que era difícil.
Por que estava doendo tanto?
Ela quis me magoar e conseguiu. Eu dei essa chance e permitir a tristeza chegar.
A culpa era minha.
"Quem ia querer se aproximar da estranha? Tem amigos agora porque vocês tem pena dela. Estão do lado dela por piedade"
"Sempre vai ser excluída, Ravena. Pessoas como você nunca mudam."
Ela falava com um tom de voz tão... de um jeito tão...
Superior.
Olivia Garcia nunca se importou comigo.
Flashback off
Eu gostava do inverno.
Tinha algo especial naquele clima chuvoso que atraia minha atenção.
Porém, foi sufocante "viver" o inverno nas últimas horas.
O inverno foi como uma amiga indesejada.
Um convite chato.
Olivia tirou minha alegria em poucos minutos e através da imaginação eu recuperei uma parte importante que faltava.
Ser eu mesma era cansativo as vezes.
Ninguém entendia como eu era... por isso eu pedi a estrela cadente para conhecer alguém que me aceitasse e gostasse de mim.
Me entendesse.
Ou pelo menos tentasse...
As vezes queria conversar com alguém e esquecer meus medos, a conversa fluir a tal ponto onde sentisse paz e eu pudesse fugir.
Fugir da minha família, da escola, dos alunos maldosos, dos moradores ruins, das regras, dos deveres, dos problemas...
Fugir de mim.
Ficar no meio do mato com a natureza e ver pássaros, sentir o cheiro da chuva nas plantas, o aroma das flores, pisar em folhas mortas no chão.
Viver perto da lagoa encantada.
Um lugar para chamar de meu.
Mas fugir não era uma boa opção.
Tinha que enfrentar a vida e lembrar de que eu ainda era criança, e tinha muita coisa para viver.
Vida.
O que era a vida?
Como pensar nas brincadeiras de infância quando a culpa surge para te atormentar?
Como ser criança no meio de tantas dúvidas?
Eu não sabia o caminho certo, a religião certa, distinguir o verdadeiro do falso.
Só sabia que o catolicismo passava longe da religião que eu devia seguir.
O difícil era saber qual outra opção eu tinha.
No Lugar das Lendas só o catolicismo.
No mundo lá fora devia ter uma variedade de religiões.
Como ser uma criança normal quando todos querem te obrigar a seguir uma coisa? Ter uma fé?
Sufocante...
Tenso...
O pior não era nem isso.
O pior era que nunca ia conseguir controlar nada, porque eu olhava para meninas e congelava se o assunto fosse meninos.
Em uma roda de amigos, entre parentes, em aniversários, em festas... sempre ia ter aquele tema desconfortável.
Garotos, garotos, garotos
Eu estava crescendo e minhas colegas falavam sobre seus "namoradinhos."
No corredor a fofoca corria solta e longe dos olhares das professoras... meninos e meninas faziam a brincadeirade pêra, uva, maçã ou salada mista, trocavam cartinhas, bilhetes, fingiam um namoro.
Somente com abraços e risadas.
Tudo na inocência.
O primeiro beijo também era um tema bastante debatido.
Eu não tinha experiências para contar e nenhum admirador secreto. Minha vida solitária se resumia a estudos, trabalhos escolares, brincadeiras.
Eles queriam saber dos namoradinhos e não sei se iam reagir bem se eu falasse sobre esse problemão que estava enfrentando.
Garotas, garotas, garotas
Podia colocar uma plaquinha na minha testa com esse nome. Ser invisível no Lugar das Lendas era meio impossível.
Então se andasse com uma plaquinha dessa na rua... no máximo ia deixar todos intrigados.
Julie podia responder minhas perguntas em relação ao que sentia por garotas?
Oliver estava do meu lado e prometeu que a gente ia estar sempre unido.
Só não era capaz de compreender meu dilema.
O telefone tocou lá em baixo.
Corri descendo as escadas e atendi no quarto toque.
Estava no final da tarde e meus pais estavam trancados no quarto.
- Alô. Quero falar com Ravena.
Passei a mão no cabelo e reconheci a voz de Jade Luisa.
- Tem alguém aí?
- Oi. Sou eu. Como conseguiu o número daqui?
- Oi, Raven. Foi Oliver quem passou seu número para mim.
- Por que tá me ligando? Já é quase noite.
- Porque tive meu tempo para pensar sobre tudo que aconteceu com Olivia e cheguei a uma conclusão.
Quase soltei o telefone ao ouvir isso.
- Eu vou entender se quiser sair do nosso grupo...
- O que? Não. Quero concertar algum mal entendido. Você pode sair agora e passar aqui em casa?
- Pode pedir para seu pai te deixar aqui. Eu digo o endereço.
- Não posso ir. Papai disse que tá tarde e eu precisei convencer ele a deixar eu receber uma amiga. Você tá liberada.
Sair escondida
Não ia ser a primeira vez mesmo
- Vou pegar meu caderno de desenhos e correr para o ponto de ônibus.
Terminei a ligação, fiz duas trancinhas no cabelo, ajeitei o vestido e peguei o caderno.
Os ônibus paravam de funcionar as 18h.
Precisava ser rápida.
Hello. Que bom te ver aqui. Foi uma honra te receber e obrigada por ler comigo
O que acharam?
Vai ter Parte 2
Perdão se tem palavras repetidas.
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