Cap.17 Seres Elementais
Na mídia tem o Tsuru.
Uma história de amor
De aventura e de magia
Só tem a ver
Quem já foi criança um dia
Era uma vez um lugarzinho no meio do nada
Com sabor de chocolate
E cheiro de terra molhada
( Era uma vez - Sandy e Junior parte Toquinho)
Jade Luisa de Cabral
Faltava uma semana para acabar o mês de fevereiro. Hoje era terça feira, dia 20, e faltava pouco para o mês de março se iniciar.
Dia 26, segunda da próxima semana,
vai ficar faltando três dias para acabar fevereiro.
Quinta feira já vai ser 1° de março.
A primavera estava chegando
Estávamos no jardim da escola com a professora Kátia, que ensinava todas as matérias, e a professora Carmen, que era só de religião.
O sinal havia tocado e tinham pedido para deixarmos nossas mochilas na sala.
Depois pediram para fazermos duas filas e contaram todos os alunos. Ficamos sem entender nada, mas nós obedecemos o pedido das professoras.
Agora estávamos no jardim da escola, ainda em fila, e conversávamos sobre o que estava acontecendo.
Ravena estava quieta na outra fila e Oliver conversava comigo.
Porém, não conseguia me concentrar direito por estar vendo ela assim.
Não queria que ela voltasse a ficar desconfiada.
Ficava torcendo para Ravena se sentir a vontade comigo.
Quando assistimos filme na minha casa.
Ela estava feliz naquela noite.
Por que estava triste agora? Podia ter acontecido algo ruim?
— Atenção, crianças — professora Carmem estalou os dedos — Façam silêncio.
Olhei para frente e aos poucos as conversas foram cessando.
— Eu sei que estão cheio de dúvidas. Eu e a professora Kátia tivemos uma ideia — ela começou a explicar — Sabem qual estação tá chegando?
— A primavera — todos gritaram em uníssono.
— Isso mesmo. Então nossa ideia foi de irmos passear — Kátia falou — Vamos visitar a praça para ver as cerejeiras.
— O inverno tá acabando e as cerejeiras florescem no inverno — Carmem disse — Nessa época fria a praça fica ainda mais bonita com a chegada das flores.
Rute levantou o braço.
— Seria bom se fôssemos visitar outra cidade — ela sugeriu e alguns alunos concordaram — Nunca viajamos de trem, nunca saímos daqui, nunca fomos visitar um lugar legal.
— Querem sair do Lugar das Lendas? — Carmem cruzou os braços e suspirou — Então peçam aos pais de vocês. Aqui na escola não podemos se dar ao luxo de fazer viagens longas.
— Os nossos pais não saem para fora da cidade — ela sussurrou na fila do lado — A gente nunca conhece nada do mundo.
— Verdade. Ficamos sempre presos aqui — Olivia falou — Acho que deve ter lojas bem legais por aí. Imagina o tanto de roupa bonita que podíamos comprar.
— Essas populares — Oliver revirou os olhos — Só pensam em roupa e lacinho rosa.
Ele estava atrás de mim na fila.
— Silêncio para dividirmos os grupos — Kátia fez a conta novamente — A sala tem 42 alunos. Grupos de seis pessoas.
— Vamos sortear os nomes — a outra pegou uma caixa vermelha de papelão — Primeiro grupo...
Senti alguém pegar no meu ombro. Me virei para o lado vendo Ravena.
Ela me entregou um papel pequeno e perguntei o que era aquilo. Pediu para mim ler.
Ei, eu acho que vi um duende ontem
Eu li aquilo três vezes tentando entender qual o sentido.
Mostrei o papel para garota que deu de ombros e continuou séria.
— Terceiro grupo.
— Oliver, Jade Luisa, Rute — tirou mais três papéis de dentro da caixa vermelha — Ravena, Vinícius e Julie.
Eu e Oliver nos entreolhamos surpresos.
Os nossos olhares demonstravam toda confusão e choque diante da menção dos três nomes diferentes.
Julie caiu no nosso grupo.
Rute estava com os braços cruzados e balançando a cabeça.
Agora quem era...
— Quem é Vinícius? — Ravena me perguntou.
— Sou eu. Prazer, meninas. Vinícius — um garoto veio andando e parou do nosso lado.
Vinícius era baixo, magro, cabelo castanho claro que era grande e liso.
Seu cabelo era brilhoso e tão grande que cobria suas orelhas.
Os olhos verdes bem claro.
Julie sorriu para mim e pegou o skate.
Estava usando o uniforme da escola e a mesma calça de sempre.
Solitária e rápida, Julie andava de skate com os fones no ouvido, seus cabelos amarrados e boné na cabeça.
Segurava seu walkman. Parou bem na nossa frente.
Passou a mão na testa afastando a franja.
— Somos um grupo agora — ajeitou o boné — Tudo bem, Vinícius? Continua jogando?
— Sim. Estou jogando bastante — ele respondeu todo orgulhoso.
— Vocês se conhecem? — perguntei confusa.
— Jogamos no Fliperama — empurrou o garoto e eles riram — Nós apostamos e esse guri sempre perde as apostas.
— As vezes eu ganho também — piscou o olho para ela — Você joga bem, mas eu estou em vantagem e estou indo jogar todo dia.
— Fiquei ocupada esses últimos dias — sussurrou meio envergonhada — Sabe, tenho uma rotina bastante cansativa.
— Não sei. Te conheço muito pouco.
Rute se despediu de Olivia, olhou as horas no relógio de pulso, ergueu a cabeça e começou a andar distraída.
Manteu certa distância da gente.
— Ei, menina gaúcha — continuou de braços cruzados — É proibido ficar com o skate ou com walkman. A professora tá pedindo para deixar tudo na sala.
Julie colocou a mão na boca como se fosse contar algum segredo.
— Acho essas regras tão sem sentido — falou baixo e demos uma risadinha.
Ela entrou correndo na escola.
— Pedi para fazerem grupos porque cada um vai ter como tarefa observar as plantas e os animais na praça.
— Licença, tia Carmen — uma garota levantou o braço — Quando a senhora diz observar os animais... quer dizer que tem animais grandes lá?
— Fica tranquila, Berenice — Vinícius abraçou ela — Os animais que tem lá são inofensivos. Só tem gato e cachorro.
— Muito obrigada, Vini. Agora fico mais aliviada. Meus pais acham perigoso eu ir para esses lugares e dizem ter animais grandes.
Os alunos começaram a rir e alguns ficaram imitando um cachorro.
Berenice pareceu ter ficado incomodada com as risadas.
— Calma, crianças — Kátia disse — Vai acontecer nada. Eu vou fazer um resumo da aula de ciências. Depois vão desenhar cerejeiras.
— Cada um precisará fazer o desenho — a outra continuou — Se preparem para andar muito.
Julie chegou bem na hora.
Nos dividimos em grupos e começamos a andar pelas ruas do Lugar das Lendas.
As ruas calmas ficaram repletas de crianças.
42 alunos para ser mais exata.
Passamos perto do cemitério antigo, de mulheres do lado de fora varrendo as calçadas, árvores altas, uns pássaros cantando nos fios dos postes.
Igrejas católicas que me surpreenderam por serem bonitas e com duas torres.
Igual a igreja abandonada que tinha perto da lagoa encantada.
Porém, essas igrejas eram novas e não estavam abandonadas.
Andei do lado da garota skatista e limpei a garganta.
— Estou com um pouco de vergonha de perguntar, mas de onde é essa calça que você usa?
— Se chama bombacha. É um tipo de calça, antigamente era usada de maneira mais larga, mas foram se tornando mais justas ao corpo. Pode usar a bombacha com bota de cano alto ou alpargata.
— Eu nunca tinha visto nada disso. Qual o significado de alpagata? Se fala assim?
— Alpargata, guria — soprou um riso — É um tipo de sapatilha. Essa que estou usando.
— Desculpa. Sou nova nesses assuntos. Preciso ir conhecer o Rio Grande do Sul para aprender essas palavras.
— Seria maravilhoso. Sinto falta do povo gaúcho, sabe? — pisou em um monte de folha no chão — A nossa familiaridade. Saudades das minhas origens. Saudades de tudo.
Enfiei a mão no bolso da saia e peguei o pacote de Balinha do Coração.
— Pelo menos você veio com parte da família — tentei a consolar e mostrei o bombom — Quer também?
— São os meus bombons preferidos — retirou uns três corações, os pondo de uma vez na boca — Uma parte só da família não é o suficiente.
— Onde você mora? — peguei umas duas balinhas do coração — Sei como se sente. Precisei me mudar e estamos em fase de adaptação. Papai sempre diz que mudanças são necessárias.
— É longe da escola. Fica a leste indo naquela direção — apontou indicando o lugar — Moro em uma rua esquisita. Não te aconselharia a ir em horário nenhum.
— Nossa. É tão esquisita assim? — parei de andar — Tem como a gente brincar na rua?
Logo ela franziu as sobrancelhas me encarando.
Ficou em silêncio.
Não entendi a reação dela de encerrar o assunto do nada.
Finalmente chegamos e Ravena estava falando sobre ontem.
Estávamos no nosso grupo de cinco pessoas.
Rute tinha se afastado.
— Eu acredito nela — Oliver comentou, olhando sério para Julie e Vini — Raven sabe fazer chá, consegue convencer os adultos, não tem medo de coruja e adora o escuro. Se ela contar que viu, falou e brincou com um duende... eu é que não vou duvidar.
— Isso é interessante — a garota falou — A amiga de vocês tem sorte. Eu vi um filme sobre essas criaturinhas e é muito difícil elas aparecerem. Não confiam no ser humano.
— Onde você viu esse duende? Como tem certeza que era um? — Vinícius logo perguntou — Essas coisas não existem.
— Primeiro, eles são seres elementais. Não são coisas — repreendeu ele — Segundo, acho que não é questão de ter sorte. Talvez foi coincidência. Terceiro, eu tenho quase certeza que era duende e vi perto da lagoa encantada.
— Aquele lugar é tão lindo. Queria poder voltar lá um dia — eu disse e sentei no banco — Preciso ficar sentada. Andamos demais. Não nasci para essa vida.
Suspirei e deixei o cansaço vencer dessa vez.
A caminhada nunca me fazia bem.
— Ficaram doidas? — Julie sussurrou — A lagoa encantada pode ser muito linda, mas não é um lugar seguro por ficar bem próximo a floresta assombrada.
— Escutem ela. O foco aqui não é sobre lugares perigosos — Oliver reclamou — Raven viu um duende e isso deve ser tratado como algo relevante.
— Tudo bem. Calma aí, guri — levantou as mãos — Não estamos mudando o foco da conversa. Eu só estou dizendo para terem cuidado com essa lagoa.
— Continuo achando suspeito — Vini fez uma careta, mas tentou disfarçar — Me desculpem se estou sendo ignorante. Vocês acreditam que os gnomos e fadas também existem?
Sorrimos ao mesmo tempo, como se do nada tivéssemos combinado de ter essa reação.
— Depende muito — Raven foi quem opinou primeiro — No caso das fadas só aparecem se acreditarmos fielmente que elas são reais.
— Os gnomos estão ligados aos campos abertos, jardins ou florestas — Julie complementou, tirando um papel amarelo do bolso da calça — Já escutei histórias de senhoras que cuidavam do jardim e viram um gnomo no meio das plantas.
— No meu mundo tudo pode existir — falei baixo, mas eles escutaram.
— O que você disse?
Engoli em seco.
Nunca tinha comentado com ninguém que eu vivia no mundo da imaginação.
Ninguém sabia o quanto era fácil minha mente criar cenários fictícios onde eu era a princesa Gabriela.
Somente eu tinha noção desse mundo.
Ravena piscou o olho para mim.
Ela sussurrou e entendi por leitura labial.
— Prometo continuar guardando segredo.
Ela estava falando sobre a promessa que fez na sexta a noite.
Tinha descoberto sem querer, através da sua presunção, que a princesa Gabriela era parte da minha imaginação.
Contei que ficava doente com facilidade e que estava cansada.
Ravena ainda lembrava disso.
— Não disse nada demais. Só pensei alto — levantei sorrindo forçado — E esse papel amarelo? Tem o desenho de um passarinho?
— Quem mudou o assunto foi sua amiga, guri — balançou o indicador no ar na minha direção — É o Tsuru. Ele é uma ave de origem japonesa.
— Ah, sim. É aqueles passarinhos de papel — Oliver pegou nos joelhos se aproximando do Tsuru — Não sabia que o nome era esse.
— Agora tu sabe. Pode ver — entregou o pássaro de papel — O Tsuru é uma das figuras populares do origami. Também simboliza felicidade, saúde e sorte.
— Essa ave é sagrada no Japão — Vini complementou — É o pássaro da paz.
Escutamos o som de um apito alto e colocamos as mãos no ouvido.
O restante dos alunos prestavam atenção na explicação da aula.
Pedimos desculpas e nos unimos ao resto do pessoal.
— Querem ficar com nota zero nessa atividade? — Carmen apitou o apito mais uma vez — Ficam conversando e perdem a oportunidade de irem bem na prova de ciências.
— Continuando — Kátia entortou a boca — A praça é o único lugar onde nós não veremos carros ou carruagens, pois é um espaço para comunidade. As pessoas se sentem a vontade no meio de um lugar com árvores, bancos, quadras e crianças correndo.
A aula estava ficando divertida com as explicações.
— A tia Kátia vai mostrar as cerejeiras para vocês — pegou uma câmera — E eu vou tirar fotos das plantas enquanto isso.
Seguimos a professora.
— Sejam bem-vindos ao mundo das cerejeiras.
Alguns olharam surpresos para as flores rosas.
— Vamos começar oficialmente nossa aula — avisou — As flores de cerejeira são objetos de adoração da população japonesa. No Japão é diferente, pois lá as cerejeiras florescem nos primeiros dias da primavera.
— Nem parecem de verdade — Berenice comentou — Então elas vieram do Japão mesmo?
— Exato. É a flor nacional do Japão. — pegou no tronco da cerejeira — Essas árvores podem medir de quatro a 12 metros.
— Caramba. Que incrível — toquei na delicada flor rosa.
— Para o povo japonês significa perfeição, beleza, efemeridade e esperança.
Julie colocou o Tsuru na árvore.
— Vou deixá-lo aqui. Depois faço outros — ela deu de ombros e Rute revirou os olhos — É o seu presente, cerejeira.
— Nossa. Garotinha estranha — ela resmungou — Vive falando com esses pedaços de papel.
— Melhor falar com pedaços de papel do que perder tempo com gurias chatas — Julie disse, dando ênfase na palavra antes de cruzar os braços.
— Para com isso, Rute — dei um passo para frente.
— Fica tranquila, Jade. Tu ainda não viu nada — acenou com a mão — Essa guria é muita irritante.
Mandou um beijo no ar e continuou acenando enquanto se afastava.
— Essa menina tá me provocando.
Olhei para o céu azul. As nuvens se moviam lentamente e escodiam o sol.
— Vejam — uma menina apontou na direção do poste — Naquele fio ali tem um sonhim.
Apareceu mais dois macacos pequenos e ficaram passeando no fio.
— É uma família de macaquinhos — Berenice começou a pular — Tira foto, Vinícius.
Ele direcionou a câmera para cima e tirou fotos da família de sonhim.
— Vão observando tudo — Kátia bateu palmas — Vai cair na prova bimestral. Tema: o solo, as praças e os animais.
Era bonito ver Berenice com Vini. Eles pareciam irmãos. Eram unidos e fofos.
Terminei de desenhar uma cerejeira linda com flores rosas e delicadas.
Não sabia desenhar direito, mas ver as cerejeiras me fez ter inspiração para imaginar e conseguir passar para o papel o desenho quase perfeito.
Voltamos para a escola e agora faltava pouco tempo para o intervalo.
Fingi que estava ocupada, porque não queria que Olivia viesse sentar na cadeira ao lado.
Eu queria aproveitar minha companhia.
Estava ficando cansada de Olivia e Rute.
De repente um livro caiu em cima da mesa e acabei gritando. Coloquei a mão no peito e respirei fundo. Olhei para a capa.
Julie começou a gargalhar alto e os alunos olharam para ela.
— Por que você jogou esse livro? — reclamei — Eu estava concentrada na atividade.
Ela continuou rindo e foi parando aos poucos. Tentou recuperar o fôlego.
— Foi mal. Eu queria fazer surpresa — puxou a cadeira — Não imaginei que fosse se assustar.
— Surpresa? Vai me presentear com esse livro? — penteei o cabelo com os dedos.
— Não. Isso é do meu pai — mordeu a unha — Ele nem sonha que eu peguei escondido.
O livro tinha o título A Rainha da Neve do autor Hans Christian Andersen.
Fiquei encantada com a capa.
— Seu pai faz coleção de contos de fadas?
— Ele é professor, Jade. Então tem muitos livros infantis.
— Ele é professor?
Minha boca devia ter formado um O perfeito devido a essa novidade.
— Virou papagaio para ficar repetindo tudo? — mordeu o lábio abafando uma risada — Ele ensina as crianças em uma escola daqui.
— Espera aí — interrompi a explicação — Isso aqui é contos de fadas, Julie. Seu pai não pode ler.
— Ele guarda esses livros — confessou — Eu cresci escutando essas histórias. Toda noite era uma diferente. O meu pai fazia questão de ler esses contos.
— Julie gosta de histórias assim — falei sem pensar — Porque... eu achei que seu estilo fosse outro.
— Tu tem toda razão. Essa ideia de ser uma princesa, passar anos presa em uma torre, sozinha, com medo do que o futuro me reserva. Isso não é para mim.
— Não quer estar no lugar da princesa?
— Nunca quis ser uma princesa, Jade. Eu sou forte o suficiente para enfrentar um dragão sozinha e enfim conseguir minha liberdade. Não quero esperar o príncipe encantado me libertar da torre.
Concordei com ela.
Eu não pensava assim, mas era interessante ver por outra perspectiva.
— Não curto Cinderela ou Rapunzel, por exemplo — explicou — Esse A Rainha da Neve, O Flaustista de Hamelim ou o da Pequena Vendedora de Fósforos são uns dos meus preferidos. Nenhum desses termina com a frase “Eles foram felizes para sempre.”
— Eu já ouvi falar de O Flaustista de Hamelim — sorri forçado — É muito triste. Fiquei traumatizada no 3° ano quando leram.
— É trágico. Porém, isso me fascina por deixar esse mistério — suspirou — Estou entediada. O que faço? Pego esses livros, escondo no meu quarto e devoro um por um até ficar cansada de tanto ler.
— O título é fofinho — disse com um pouco de receio — Ninguém desaparece aqui? Nenhum flautista some com crianças?
— Isso, guria, você só vai descobrir lendo — falou com um tom de mistério na voz.
Ravena interrompeu nossa conversa.
Passou por nós com uma leveza impressionante.
Como se fosse uma gata que chega de mansinho.
— Nossa.
Ela sussurrou.
Olhou para gente e sorriu tímida. Pegou o livro e ficou o analisando.
Parecia querer entender alguma coisa.
— Ela ficou muda? — a menina franziu as sobrancelhas — Tá tudo bem contigo!
— Julie — resmungou — Você pode me achar doida agora. Só que tive um plano infalível e preciso da ajuda de vocês.
— Posso saber o que tá acontecendo? — puxei o livro — Ficou estranha do nada, Raven.
— Temos uma tarefa para fazer na hora do intervalo — disse decidida — Todas as crianças precisam participar. Vamos nos reunir em um canto escondido.
Continuei confusa.
— O que você tá aprontando?
— As crianças precisam ficar sabendo da existência dos contos de fadas. Vamos ler A Rainha da Neve na hora do intervalo.
— Podemos ir parar na diretoria. Aqui é proibido vender coisas da Disney e imagina se contarmos essas histórias.
— Só mudamos se primeiro tivermos uma atitude, Julie. Somos pequenas ainda e somente os adultos conseguem mudar a cidade.
— Exatamente. Não somos adultas.
— Mas podemos fazer a diferença mesmo assim. Começaremos com as pequenas coisas. Por enquanto esses livrinhos vão nos ajudar e depois nós vemos o que mais tá ao nosso alcance.
Nos entreolhamos e eu balancei a cabeça.
— Sem chances, Ravena. Tenho medo. Papai me pediu para obedecer as regras. Posso não acreditar em todas as lendas. Só que tentar mudar a mente do povo é mais complicado.
— Fica tranquila, Jade Luisa. Você só vem se quiser.
— Isso é do meu pai. Preciso ir contigo se quiser o livro de volta.
— Então é um sim...
— Confesso que é chato ver todo mundo com a mente fechada, vivendo sempre no passado, passando os dias com medo e querendo obrigar os filhos a nunca usarem a imaginação.
— Eu concordo. Nós precisamos usar a imaginação. O mundo tem tantas cores e temos muitos sonhos bonitos. Se todos parassem de imaginar... o mundo ficaria sem graça. Teria somente o vazio.
— Exatamente. Pensem comigo. Chega a nossa adolescência, crescemos com os nossos pensamentos bons e enquanto isso a cidade inteira parece adormecida em um eterno sono. Eles nunca irão nos entender. A hora de ter uma atitude é hoje, Jade Luisa.
Levantei rapidamente e puxei o ar que nem percebi estar segurando.
— Vai ser trágico.
— Pequenas mudanças também valem, pois geram resultados. Eu posso contar e vocês só precisam ficar quietas junto com os outros.
— Quer ir, Jade? Sem pressão. Apenas quero saber.
— Eu vou. Uma vez eu te falei para Ravena que podemos revolucionar e quebrar as regras.
— Verdade. Eu lembro perfeitamente. Fica calma que o seu Joel nem vai ficar sabendo. Vamos te proteger.
— Obrigada. Você e Julie vão ler juntas. Eu e Oliver ficaremos de vigia para ninguém aparecer.
— Teu amigo adoraria fazer o papel do Kai e tu fazia o papel da Gerda. São os personagens. Faríamos como uma peça de teatro.
— Oliver não gosta de clichê e nunca iria topar fazer essa encenação.
O sinal tocou.
Todos sairam correndo e comemorando o intervalo. Escondemos A Rainha da Neve, combinamos como íamos fazer e fomos procurar o lugar perfeito.
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