Cap.11 Podemos revolucionar e quebrar as regras
Neste capítulo tem diálogos com Citações do livro Anne de Green Gables
Na mídia tem a foto do Soldadinho (não sei se todos conhecem)
Jade Luisa de Cabral
A ficha caiu. Não havia viagens, cartas, vestidos lindos, praias chiques e muito menos saudades. Uma carta que nunca ia chegar. O sonho acabou.
Minha mãe morreu
O mundo espiritual era sombrio. Não entendia direito.
Me negava a apagar minha mãe. Apagar as memórias que nunca vivi, mas papai viveu. Papai conheceu ela.
Eu queria que Franciele tivesse orgulho de mim.
Por isso fiz aquele juramento e estava disposta a cumprir o que jurei pelo bem dela.
Papai falava sobre a morte as vezes. Ele evitava explicar esse assunto e eu ficava insistindo para saber.
Papai disse para mim que a morte não era o fim de tudo.
Havia o céu, o purgatório e o inferno.
A visão de inferno sempre me assustou
E ele explicou o significado de cada um. Por isso tinha certeza do destino dela. Estava no céu por ter feito só coisas boas nesse mundo.
Se passaram alguns dias desde aquela conversa difícil com Joel.
Desse dia em diante comecei a ter medo de dormir.
Quase toda noite tinha pesadelos. Esses pesadelos eram com a morte de mamãe. Passei horas vendo fotos dela no álbum de fotografias e isso ajudou a decorar o seu rosto.
No pesadelo via Franciele deitada na cama. Olhos fechados, rosto pálido, boca muito branca. Joel segurava sua mão e chorava muito.
Entrava no quarto chorando indo de encontro a eles. Quando ia chegar perto percebia sangue.
Sangue nas roupas dela
Afastava da cama com medo e acordava do pesadelo. Começou a se tornar bem preocupante, pois dormia e acordava gritando.
Joel sempre precisava dormir do lado da minha cama para não ficar sozinha.
Mais uma semana iniciou. Faltava uma coisa importante para oficializar nossa chegada ao Lugar das Lendas.
Ir estudar em Padre Aluisio Gomes.
Acordei cedo, coloquei um vestido, meu sapato rosa e luvas nas mãos. O mesmo vestidinho branco que usei para brincar com minhas amigas na Cidade do Sabiá.
Podia perder a popularidade em uma cidade assombrada cheia de pessoas nada amigáveis. Esperava conseguir se enturmar rápido.
Tamanha foi a surpresa quando ouvi duas meninas da sala sugerirem dupla com três pessoas. Elas ficaram bastante interessadas em incluir a novata nos trabalhos escolares.
Quando dei por mim, terminamos esse trabalho sobre meio ambiente e tentei acompanhar a conversa das meninas.
A primeira menina alta de longos cabelos pretos com uma pele morena incrivelmente bonita, e uma simpatia de causar inveja, era a que mais tinha me achado atenção.
Olivia Garcia.
A segunda possuía olhos castanhos com uma pele branca, e um sorriso bonito acompanhado da sua voz melosa, era a única que sorria mais.
Rute Amorim.
Olivia sorriu e puxou um pouco da manga do uniforme escolar deixando a mostra uma alça.
Ela usava sutiã.
— Achei legal te conhecer — falou — Nem perguntamos o nome da sua cidade.
— Cidade do Sabiá. Fica a umas duas horas daqui — respondi rapidamente.
— Eu já ouvi falar dessa cidade — Rute olhou a vista da janela — Você não sabe nada do Lugar das Lendas, certo?
— Deve estar toda perdida — Olivia concordou — Vamos te ajudar. Achei legal você ter dois nomes próprios.
— Ah... obrigada. Gosto muito do meu nome — abaixei a cabeça sem saber como devia reagir a esse elogio.
— Ninguém tem dois nomes próprios — falou alto e levantei a cabeça — Pelo menos não aqui. É costume ter somente nome e sobrenome.
— Sério? Isso me pegou de surpresa — sorri envergonhada — Sou a única... bem... estrangeira.
— Sim. Todo mundo vai querer te fazer perguntas — disseram as duas em uníssono — Achamos um máximo ter gente de fora.
Encarei as meninas ainda surpresa.
— Pode andar com o nosso grupo. Será bem recebida — Rute cruzou os braços — Reconhecemos quando garotas são boas o bastante. Você, Jade Luisa, tem o total direito de escolher ficar do nosso lado ou não. Cuidado ao escolher seu grupinho. Não vai querer andar com os excluídos.
Apontou discretamente para frente me fazendo entender melhor.
Eu vi uma garota baixa ao lado de um garoto de cabelo castanho com cachos.
— É aquela ali mesmo — a morena logo confirmou — Ela é perigosa e nós não somos.
A tal garota "perigosa" permanecia parada de costas para gente. Estava com os olhos fixos no seu caderno.
As vezes sua mão segurava um lápis, outras vezes uma borracha,por último se ajeitava na cadeira e rabiscava algo nas folhas daquele caderno.
— Aquela garota desenhando ali? — perguntei rindo — Ela não me parece ser perigosa.
— Diz isso porque não a conhece — elas falaram em uníssono novamente — Só estamos avisando para o seu bem. Ande com o nosso grupo e será bem vista.
Esse jeito delas falarem juntas impressionava qualquer um. Parecia que sabiam exatamente as palavras certas e liam o pensamento uma da outra.
O sinal tocou. Elas se levantaram e nem disseram nada. Saíram rápido.
Eu fiquei sozinha absorvendo cada cena na minha mente.
Suspirei olhando pássaros, pipas enfeitando o cenário e borboletas voando de uma flor para outra.
Comecei a dançar sozinha fingindo ser a princesa Gabriela.
Sai da sala desanimada. Procurar fugir dos problemas ia fazer tudo ficar mais complicado.
Olhei ao redor do jardim imenso.
Crianças corriam animadas, pulavam corda, meninos reunidos brincavam de bila, alguns estavam fazendo uma roda e cantando cantigas de ninar.
Agora nesse momento eu precisava ir atrás da tal colega "perigosa." Tinha que descobrir o motivo dessa fama ruim.
O sol esquentou minha cabeça e tive medo. Papai ia ficar chateado ao me ver chegar gripada por ter pegado sol.
Fui andando procurando a sombra. O jardim estava lotado. Ia ser meio difícil achar minha colega nessa multidão.
De longe avistei uma garota diferente.
Estava sentada em um banco grande de madeira, lendo um livro pequeno que a capa parecia ser familiar.
Uma bonequinha ruiva com duas trancinhas, vestido simples, sapato preto, olhos cativantes e um chapéu.
O cenário atrás composto por duas casas e quatro árvores.
A capa era magnífica
Anne de Green Gables, um dos meus livros preferidos.
Observei-a pegar o marca texto e logo passar por cima da folha. Me assustei ao vê-la praticamente riscar o livro desse jeito.
Me aproximei devagar tentando ao máximo não pisar nas folhas.
Se pisasse em alguma ela ia notar minha presença.
Uma árvore imensa escondia o sol e pelo visto aqui se tornava ventilado. Talvez por esse fato ela gostava desse lugar.
Fiquei parada apreciando aquele momento.
Dava a impressão dela estar em outro mundo onde conseguia ir e voltar sem nenhum problema.
Sabia exatamente a "chave" do mundo imaginário.
Na mente eu conseguia criar um universo e lendo viajava entre as páginas.
O envolvimento com as histórias nos levava a um mundo que só existia na ficção.
Eu sentia certa familiaridade com Anne. Me achava parecida com a personagem tagarela e inteligente.
Tarefa impossível descrever Anne. Precisava criar palavras grandes para definir perfeitamente a criaturinha encantadora que ela era.
Uma página estava com quase todos os trechos destacados com o marca texto lilás.
Incrivelmente irônico, igual como a personagem ruiva, ela também estava de trança.
— Não é esplêndido pensar em todas as coisas que há por descobrir? Isso simplesmente me deixa feliz por estar viva.
Citei a frase do livro. Um sorriso fácil espapou dos meus lábios.
Colocou a mão na cintura enquanto seus olhos negros passeavam por meu rosto. Sua expressão estava muito plena.
Seu olhar atento dava a impressão de querer decorar cada detalhe em mim.
— O mundo é interessante demais. e ele não seria tão interessante assim se já soubéssemos de tudo,não é mesmo? Não haveria nenhum escopo para a imaginação, haveria?
Completou séria. As poucas sardas no nariz e bochechas ficaram em foco.
Ali na sombra da árvore frondosa, cheia de folhas e flores, era possível imaginar vagalumes voando sobre nossas cabeças e iluminando o local escuro.
Seus olhos negros se assemelhando a noite, a expressão totalmente calma, o desenho no caderno...
Cemitério... minha colega desenhou um cemitério.
— Perdi as contas de quantas vezes li Anne — comentei distraída — Adoro encontar leitores que leram mesmos livros que eu.
— É melhor ter pensamentos lindos e queridos e guardá-los em seu coração, feito tesouros — continuou ignorando o que eu havia dito e mordi o lábio rindo.
— Não gosto que riem e se espantem com meus pensamentos — completei entrando na brincadeira.
— Estou muito feliz por esta manhã de sol — fiquei de ponta de pé como se eu pudesse voar.
— Mas também gosto muito de manhãs chuvosas. Todos os tipos de manhã são interessantes — um meio sorriso surgiu me trazendo conforto.
— Deus está em seu paraíso, e tudo corre bem no mundo — peguei no tronco da árvore.
Ela ficou calada.
Colocou um marcador de texto no livro e o fechou. Pegou seu caderno com o desenho do cemitério.
As lápides, os túmulos, muitas cruzes, umas plantas ao redor.
Engoli em seco enquanto lembranças das fotos de mamãe inundavam os meus pensamentos.
— Sou Jade Luisa. Nós estudamos juntas — me apresentei erguendo a mão.
— Oi, Jade. Sou Oliver — um garoto apareceu do nada e fiquei confusa. Ele pegou na minha mão sorrindo.
— Olá, Oliver. É um prazer conhecer você.
Da onde esse garoto veio? Ele brotou do chão? Escutou tudo esse tempo todo?
— Queria falar com a gente? — sentou do outro lado ficando a direita e ela estava do lado esquerdo do banco.
— Sim. Posso me sentar com vocês? — senti meu rosto aquecer lentamente e provavelmente eu fiquei vermelha de vergonha.
— Claro. Seja bem vinda — Oliver deu leves batidas no espaço ao seu lado e entendi que era um convite — Até agora você é a primeira interessada em puxar assunto.
— Obrigada. É ruim ficar forçando amizade — confessei e sentei no banco — Eu achei melhor perguntar antes.
— Não entendi nada desse assunto de vocês — ele não parava de olhar para mim — Quis sentar aqui por que?
— Nenhum motivo em especial — eu neguei — E sua amiga? É quietinha ou só é tímida na hora de interagir?
— Ravena prefere interagir de outra forma — desviou a atenção de mim e eu relaxei a postura — Ela interage sempre com o caderno através dos desenhos.
— Estou escutando os dois falarem como se eu fosse invisível — Ravena se manifestou enquanto desenhava uma flor.
— Sua amiga é engraçada — comentei ignorando seu comentário irônico — Se importa de eu fazer companhia a vocês?
Meu plano era passar confiança para ela.
— É uma brincadeira? Eu suspeito que algum engraçadinho te desafiou — perguntou — Te desafiaram para vim falar comigo.
— É assim que você agradece? Então eu vou embora — levantei fingindo ter ficado chateada — Queremos fazer boa ação e pensam mal a respeito.
— Fica por favor — Oliver puxou minha mão — Ravena é ranzinza assim no começo. No fundo tem bom coração.
— Eu não me importo, novata, se faz tanta questão — deu de ombros e soltou um suspiro — Ele vota para você ficar e não quero ser a do contra.
— Obrigada pela oportunidade. O que estão fazendo? — eu comemorei em silêncio.
— Procurando joaninhas. Se pudesse eu criava joaninhas — ele respondeu de imediato — Tenho um formigueiro em casa. São formigas de estimação.
— Que exótico. Uma experiência e tanto — olhei para a grama — Esse lugar deve ser lindo a noite. Pode ter vagalumes por estarmos no inverno.
— Aranhas e cobras — Ravena logo interrompeu — As árvores estão dormindo, flores murchando, plantas no escuro e os animais noturnos são os únicos acordados.
— Do que está falando? — batuquei as unhas no banco.
— Não liga. Ela quer te assustar.
O inseto chamado Soldadinho pousou na cadeira e Oliver ficou admirado.
Quando o Soldadinho voou ele acabou levantando.
— Já volto. Vou pegar o Soldadinho — saiu correndo todo feliz e fiquei rindo.
Pegou o livro e foi deitar na grama. Nem se importou de me chamar.
Ainda queria entender o fato de a chamarem de perigosa
Parecia mais uma criança que não gostava de socializar. Era totalmente indefesa e não ia fazer mal a nenhum inseto. Quem dirá as pessoas.
Me aproximei e deitei perto dela. Assim ficamos olhando as gaivotas e maritacas voando.
— Já percebeu desenhos nas nuvens? — disse rompendo o silêncio.
— O povo nem admira essa beleza da natureza — fechou os olhos por causa da luz forte — Quem dirá admirar o céu. São povo antigo que respeitam os velhos costumes. As crianças daqui nem acreditam em contos de fadas.
Eunice e Ana Lúcia viajaram ao pensar que a cidade tinha matos rodeando as casas velhas e fantasmas andando pelas ruas.
Era muito mais sinistro. Se essa garota estivesse falando a verdade então ia odiar essas regras.
Eu ia odiar morar no Lugar das Lendas, pois adorava contos de fadas.
— Você tem nada a ver com esse povo de mente fechada.
— Temos algumas coisas em comum, Ravena. Esqueceu esse pensamento de terem me desafiado?
— Ainda tenho minhas dúvidas. Estou te analisando antes de julgar.
Ela sorriu e eu mantive distância ainda deitada. Senti a grama pinicar os meus braços.
— Aquela nuvem parece um barco e a outra um furacão.
Fiz uma pausa.
— E se essa for a nossa missão? Eu vim morar aqui e você nasceu nessa cidade atrasada onde não te aceitam. Podemos revolucionar e quebrar as regras.
— Não temos esse nível de intimidade. Quem sabe em um futuro próximo.
Nuvens se tornaram as protagonistas daquele cenário para lá de especial.
Sentia meu coração acelerar, eu não compreendia o motivo por trás, e não compreendia muita coisa diante disso tudo.
Os protagonistas juntos ebaaaa
Explicando melhor... Ravena está acostumada com a solidão e infelizmente nos acostumamos com isso. Ninguém gosta dela e mesmo que sinta falta de ter amigos...
Ela tenta aceitar que nunca terá. Ravena não está acostumada com abraços e demonstrações de amor (como foi mencionado em um capítulo)
Ela fez aquele pedido a estrela cadente, mas pediu apenas que conhecesse Alguém parecido com ela. Não pediu uma amiga.
Mas não se preocupem, porque logo logo o trio estará feliz e bastante unidos.
Oliver interrompendo Jade e Ravena foi a melhor cena 😂
Deixe um emoji ☁ de nuvem e comentem o que estão achando do início da amizade de Jade e Ravena
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