Capítulo 5
Lucy Gallagher
Estaciono arrumando o coque que fiz, aprendi a fazer esse penteado sozinha e era o único que fazia para festas, eventos e tudo que precisasse de algo diferente do que eu usava meu cabelo. Mas tinha que deixar de pensar nisso, tinha algo mais importante.
Observo o galpão, é um daqueles que várias pessoas podem alugar com uma chave, mordo o lábio e observo o colar. Não tenho nenhuma chave, mas tenho o número do galpão que está gravado do outro lado.
Saio do carro ajeitando o vestido e vejo que tem um cara trabalhando hoje, faço careta por dar em cima melhor de mulher, mas mesmo assim posso fazer isso. Então apoio um braço na bancada e ele olha para mim surpreso, não deve vir muita gente.
-Oi.- sorrio.- Eu tenho um depósito aqui, mas perdi a chave dele. Você tem uma reserva?
-Tenho, mas não posso dar sem que você comprove que é seu galpão.- explica sério e comprimo os lábios.
-Se você me levar lá e abrir, eu posso mostrar.- mexo a mão.
-Não posso fazer isso, moça.- balança a cabeça.
-Por favor.- mordo o lábio e ele me observa.- Eu realmente preciso de algo que está lá dentro.
-Ok.- ele começa a levantar.
-Obrigada.- dou espaço para ele sair e abrir o portão.
Caminho atrás dele e entramos no corredor iluminado do depósito, tem várias portas de metal azul e vamos passando pelos número. Conto mentalmente até chegarmos ao meu e ele abre, espero que eu encontre algo que faça parece que é meu galpão.
Ele abre e acende a luz, vejo que são várias prateleiras com caixas e mais caixas, mas tem uns escrivaninha com várias fotos e uma delas é comigo. Pego a foto do meu pai com um bebê e sorrio acariciando as bordas da foto.
-Aqui.- mostro.- Não dá para ver, mas sou eu.
-Parece.- ele fala entediado.- Tudo bem.
Ele vai embora e eu deixo a foto em cima da mesa, vejo uma dele com Tessa e Gwen, pego outra foto e vejo ele com a minha mãe. Ela nunca sorriu em nenhuma da fotos, nem na foto do parto de Tessa, nem de Gwen e nem de....
Cadê a foto do meu nascimento?
Começo a procura na parede de fotos e não vejo, então me afasto e minhas costas tocam na prateleira de metal cheia de caixas, uma delas cai ao meu lado e percebo que são diários, vários diários.
Começo a procurar o diário do ano e mês do meu nascimento e o abro. Sorrio quando vejo que meu pai escreveu que estava animado por me conhecer e que ele só tinha ficado animado desse jeito quando comprou a empresa.
Mordo o lábio e chego no dia do parto.
"Demorou alguma horas, mas ela teve um bebê saudável e lindo. Uma garota. Combinamos de que ela poderia escolher o nome da bebê, mas que eu a levaria para casa."
-O que?- sento na cadeira que tem ali.
"Lucinda. Ela escolheu o nome Lucinda. Se apegou muito à ela e tive que levar Lucy a força. Martha não gostou muito de Lucy, mas eu acho que é tempo até ela se acostumar com o novo membro."
-Não....
"Tessa e Gwen conheceram Lucy, as três parecem bem unidas agora. Martha é a única que quer deixar as meninas separadas, mas se a criarmos como filha dela, ela vai ser filha dela."
-Porra.- fecho o diário e encaro a foto dele comigo.- Puta merda!
Volto para a caixa e começo a procurar nove meses atrás, acho o diário e pego rapidamente. Vou folheando e tento ser rápida por causa do jantar de casamento da Tessa, então acho algo estranho e começo a ler.
"Ela deu em cima de mim de novo. Eu não estou ficando maluco. Não posso fazer isso com Martha, com as meninas. Mas faz tempo que Martha não me olha como ela me olhou hoje de manhã. Talvez..."
Fecho o diário e me ergo, começo a fechar a porta e tranco ela, guardo a chave que ficou no bolso e vou andando rapidamente até a saída. O vento frio me faz lembrar de tudo o que eu li e percebo que eu preciso apagar meus rastros.
-Olha, alguém pode vir perguntar se alguém passou por aqui.- tiro duas notas de cem.- Ninguém esteve aqui hoje, entendeu?
-Sim.- ele pega as duas notas.
-Ótimo.- começo a ir até o carro.
Dou a partida com as mãos tremendo e começo a sair do estacionamento, minha respiração é rápida quando faço a manobra e aperto o volante tentando não pensar nisso enquanto vou ao casamento da minha irmã.
Não posso pensar nisso.
☽︎
Dylan Griffin
O barmen serve outro copo de uísque e eu bebo de uma vez, chegou há alguns minutos e ninguém veio falar comigo. Eu meio que esperava já que todos aqui são iguais a Peter Todd, se você não tem importância, não dão atenção.
Passo a mão pela nuca e pego o celular vendo que Kara ligou dizendo que está na porta do meu apartamento. Respiro fundo e me sinto bem inclinado a sair daqui só para ir encontrar ela, mas sou surpreendido por Lucy.
Ela chega ao meu lado e parece nem notar que estou aqui quando pega o copo de uísque que o barmen ia me dar. Ela bebe tudo de uma vez e pede outro para ele, então olha para o lado e percebe.
-Era seu.- murmura.
-Era.- assinto sério.
-Desculpa. Eu pago o próximo.- ela senta ao meu lado e sua expressão faz parecer que ela quer chorar.
-Não tem problema.- ignoro, não vou perguntar nada.
-Você já teve a impressão que era diferente?- pergunta e respiro fundo tentando não sair dali.
-Já.- os dois copos chegam e ela toma um de uma vez.
-Eu estava começando a me sentir normal.- explica baixo.- Aí tudo cai de novo.
-É uma pena.- ela pega meu copo de novo e bufo.
-Eu quero mais.- indica os copos e o barmen olha para mim.
Como se eu devesse fazer algo, mas eu sou a última pessoa aqui que deveria fazer algo. Olho por cima do ombro e vejo Tessa e Mattias falando com algumas pessoas, olho para o outro lado e vejo Gwen e Peter no canto conversando de forma íntima.
-Quanto você já bebeu?- pergunto para ela.
-Toda vez que um garçom passa.- ela fala rindo.
-Ok, vou chamar alguém para levar você para casa.- começo a levantar.
-Não, não, não.- agarra meu braço e a encaro.- Eu vou sozinha.- começa a levantar.- Tem mais bebida no meu apartamento mesmo.
-Você não vai dirigir assim.- falo pegando as chaves dela.
-Você roubou meu carro.- ela bufa.
-Estou impedindo você de um acidente.- falo irritado.
-Um acidente parece bom agora.- ela murmura.
-Eu vou sair primeiro e espero você no seu carro.- aviso.- É para ir, ok?
-Ok.- ela solta meu braço.
Passo por todos e eles nem percebem que eu vou embora, então chego no estacionamento e logo acho o carro de Lucy. Abro a porta da frente e vejo que tem uma garrafa de tequila pela metade, então ergo a cabeça e vejo ela vindo na direção do carro.
-Você sabe dirigir?- ela abre a porta do carona.
-Claro que sei.- entro no carro.
-Vai saber.- Lucy solta os cabelos e seu rosto parece mais jovem.
-Eu vou deixar você em casa e depois vou embora, entendeu?- dou a ré.- Mas não era para eu estar fazendo isso.
-Desculpa.- ela parece culpada.
Ignoro isso e acelero, coloco o endereço dela no GPS e começo a dirigir pelas ruas menos movimentadas por ser mais tarde. Então vamos chegar lá bem rápido e eu vou ter esquecido isso no final da noite.
Estaciono na frente do prédio dela e abro a porta, tiro ela do carro e coloco as chaves em sua bolsa enquanto levo ela para a entrada. Lucy acha as chaves e eu estou pronto para deixar ela subir sozinha.
-Lucy.- um homem desce as escadas e abre a porta que ela não consegue colocar a chave.
-Oi, Denis.- ela fala enrolado.
-Quer uma ajuda?- ele toca a cintura dela e paro de andar até a ponta da calçada para pedir um táxi.- Tenho a noite livre.
-Eu acho que não...
-Eu vou ajudar você.- ele desliza a mão.
-Lucy, você esqueceu seu telefone no carro.- falo mexendo no bolso.- Agora podemos ir.
-Eu esqueci?- ela franze as sobrancelhas.
-Esqueceu.- começo a empurrar ela.- Boa noite.- o encaro e ele mexe a cabeça.
Passamos pelo corredor e seguro seu braço enquanto aperto o botão do elevador, Lucy entra no elevador e então começa a deslizar até o chão. Seguro seus braços e ela ri quando se apoia em mim.
-Obrigada por me trazer em casa.- ela fala quando chegamos no andar e só tem a porta de um apartamento.
-De nada.- seguro o elevador.- Não abra a porta para ninguém, ok?
-Só pessoas que eu conheço.- ela lembra.
-Não, Lucy, para ninguém...
-Eu acho que tem uísque aqui.- ela entra e deixa a porta aberta.
-Porra.- bufo entrando e fechando a porta.- Lucy, é melhor você dormir.
-Claro.- ela começa a tirar o vestido.
-Merda.- observo a lingerie preta dela.
-Sabe, eu estou me sentindo bem acordada.- ela abre um armário e pega uma garrafa de uísque.- Você gosta, né? Eu vi você bebendo muito.
-Gosto, mas eu não vou beber.- explico.- É melhor você ir para a cama e...
Ela vai chegando perto de mim e então dá um gole no uísque, Lucy oferece para mim com um sorriso leve e relaxo mais quando seguro o gargalo da garrafa e dou um gole. Talvez eu fique aqui para beber um pouco, o uísque realmente é bom.
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