Capítulo 11
Lucy Gallagher
Abro a porta do apartamento e dou espaço para Dylan passar, ele começa a tirar o casaco e fecho a porta. Meus cabelos balançam com uma brisa leve e olho por cima do ombro para ver que deixei uma janela aberta como sempre deixava.
Vou até a janela e a fecho, Dylan parece interessado na parede em que grudei as fotos e percebo que ninguém nunca viu essas fotos. Tiro meu casaco e jogo na mesa de jantar me aproximando dele.
-Foi você?- pergunta apontando.
-É.- assinto.- Antes eu tirava algumas fotos.
-Antes?- franze as sobrancelhas.
-É, eu parei.- balanço a cabeça.
-Por que?- pergunta curioso e sorrio para ele.
-Porque eu quis.- respondo e Dylan sorri acusador.- Sei lá, eu acho essas fotos ruins.
-São ótimas.- ele olha para uma que bati em um parque com um cachorro correndo para pegar um disco.- Você tem muito talento nisso.
-Você vai ficar perdendo tempo aí ou vai me ajudar?- sento no sofá e abro o computador.- Tenho muita coisa para fazer.
-Por que deixou para o último dia?- Dylan respira fundo sentando em uma poltrona.
-Por que eu tinha as coisas do casamento de Tessa para resolver.- explico cruzando as pernas.- E me ofereci para cuidar da minha sobrinha.
-Sério, por que parou de tirar fotos?- ele parece chateado por eu ter parado.
-Que chato, Dylan.- o empurro com o pé e ele sorri arrumando os papéis.
-Temos que ter algo para conversar durante todo esse trabalho que você deixou.- ele pega o marca-texto.
-Foi minha mãe.- puxo um fiapo do sofá enquanto abro os arquivos.- Um dia ela entrou no meu quarto para me avisar da hora de uma festa e viu as fotos que eu tinha acabado de revelar. Eram umas fotos que eu bati quando estava passeando pela cidade, peguei pessoas aleatórias.
-O que ela fez?- ele para tudo para me ouvir.
-Ela rasgou tudo.- lembro dela jogar no chão.- Falou que eu ia me arrepender de ficar tirando fotos como se fosse uma vagabunda sem nada para fazer.- balanço a cabeça.- Sempre me chamava de Lucinda como se odiasse meu nome. Agora eu entendo....
-Como assim?- percebo que ele está me observando.
-Nada.- balanço a cabeça.- Vamos, temos que terminar isso.
Começo a digitar os números dos arquivos no computador e Dylan começa a arrumar os arquivos para eu preencher os campos vazios. Logo estamos em um ritmo aceitável e começo a observar ele bem concentrado.
Nunca ouvi ninguém falando sobre a família dele, nem mesmo os que não gostavam dele para xingar a mãe e o pai. Então ergo a cabeça e Dylan ainda está bem concentrado, coloco uma mecha atrás da orelha e junto coragem.
-E sua família?- franzo as sobrancelhas e Dylan para.- Cadê seu pai e sua mãe?
-Não sei.- admite.- Vivi em um orfanato desde que eu nasci, passei a vida inteira mudando de lar em lar.
-Ninguém nunca adorou você....
-Eu era problemático.- explica.- Quando fiz quinze, fui para um centro juvenil prisional, passei uns dois anos lá. Então fiz dezoito e comecei a trabalhar para pagar minha faculdade. Acho que levei um ano para ter dinheiro mesmo.
-Sinto muito.- murmuro.
-Por que? Não é sua culpa.- ele me encara.- As pessoas falam muito isso.
-É porque elas se sentem mal pelo que você passou.- explico.
-Não quero que se sintam mal ou sintam pena.- explica.- É por isso que não falo.
-Realmente, ninguém sabe disso.- balanço a cabeça.
-Tessa sabe, tive que falar para ela quando descobriu por meio de algum lugar que eu já tinha sido preso.- explico.- Ela entendeu, mas ainda acho que me olha estranho.
-Ah, Tessa não olharia estranho para você.- sorrio.- Ela não simpatiza com os outros, não por querer, mas por que ela acha que não é da conta dela. Se ela olha estranho para você, é por que só não gosta de você.
-Ah, que bom.- ele murmura e rio.- Está rindo de mim?
-Sua cara de decepção quando eu falei foi impagável.- explico e ele sorri.
-Sua infância deve ter sido bem legal...
-Ah, é, cheia de dinheiro. Eu tinha quinze babás, uma para trocar meu sapato, uma para me dar o almoço, outra para o lanche....
-Entendi.- fala e sorrio.- Então como foi sua infância?
-Sozinha.- respondo e ele me observa.- Fui uma criança bem sozinha. Era a diferente da família.
-Diferente?- franze as sobrancelhas.
-Tessa e Gwen sempre foram organizadas, elegantes, bonitas.- explico calma.- E eu sempre fui o oposto. Sempre achei que elas puxaram o que eu não puxei.
-Bem, você não é organizada.- ele olha para os papéis e faço careta.- Consegue ser elegante quando quer.- olha para mim de forma calma.- E você é bonita.
-Achei que você não mentia, Dylan.- cruzo os braços.
-Não estou mentindo, Lucinda.- ele fala sério.- Você é bonita.
-Vamos voltar a fazer isso.- pego uma pasta e abro o arquivo.
Dylan fica calado e eu vou pegando as pastas que ele me dá, vou preenchendo rapidamente e logo estamos terminando. Afasto uma mecha do cabelo do rosto e Dylan levanta quando me dá o último arquivo.
Termino de preencher e ergo a cabeça para ver ele vestindo o sobretudo, fecho o computador depois de salvar tudo e então me levanto para abrir a porta. Ele passa por mim e acho que vai direto, mas ele vira para mim e me encara.
-Obrigado por hoje.- fala baixo.- Faz tempo que eu não converso com tanta gente como hoje.
-Foi tudo você.- balanço a cabeça.- Consegue ser gentil quando quer.
-É, talvez.- ele respira fundo.
-Vejo você amanhã.- ele começa a virar.
-Dylan.- seguro seu braço e ele para.- Foi legal para mim também.
-Bom.- ele sorri e é tão... verdadeiro.
-Até.- sorrio também.
Dylan vai embora e fecho a porta do apartamento, passo a chave e me viro para o apartamento vazio, vou até minhas fotos antigas e percebo que algumas realmente são muito boas. Então entro no quarto e abro uma gaveta, vejo minha antiga câmera e passo o dedo pela lente quebrada, rose jogou ela no chão, dentro daquela caixa.
Guardo a máquina na caixa de novo e senti na cama me sentindo sozinha, começo a passar as mãos pelas coxas e parece que estou tão sozinha que não estou segura. Olho pelas janelas e então me levanto para pegar o casaco e ir para qualquer lugar.
Me visto lentamente e vou até a porta, abro rapidamente e vejo Dylan com o punho levantado como se fosse bater. Ele me observa atentamente e franzo as sobrancelhas.
-Você ia sair?- pergunta.
-Você ia voltar?- levanto uma sobrancelha.
-Não por você.- diz e assinto.- Por que ia sair?
-Eu...- resolvo falar a verdade.- Não me sinto segura sozinha.
-Quer que eu olhe o apartamento?- pergunta e eu mordo o lábio.
-Sim.- assinto.
Ele entra e ligo todas as luzes, Dylan começa a olhar por aí e cruzo meus braços em um tipo de abraço. Ele olha na cozinha, então na sala, e então vai até meu quarto, abaixa para ver embaixo da cama e no closet. Mas não parece achar nada, como já sabia que seria.
-Não tem nada.- explica.
-Tá.- começo a morder o dedo.
-Você não se sente segura só, ou nessa casa?- ele pergunta.
-Acho que só....- penso.- Não, nessa casa.
-Por que a comprou, então?- fica confuso.
-Achei que parecia legal. Tem um parque na frente para correr....
-Você corre?- levanta a sobrancelhas.
-Não...
-Então por que....
-Quer parar de me irritar?- bufo e ele respira fundo.
-Você....- ele limpa a garganta.- Você quer dormir lá na minha casa?
-O que?- fico surpresa.
-Você não se sente segura aqui, então pode ir dormir lá em casa.- explica.
-Sério?- o observo.
-Sim.- assente.
-Não vai atrapalhar?- pergunto enquanto ele se aproxima.
-Não.- abre a porta.- Vamos.
-Ok.- começo a ir com ele.- Obrigada.
-É, tanto faz.- ele fecha a porta e chama o elevador, que já está no andar.
Encosto meu corpo na parede fria e observo Dylan com as mãos dentro dos bolsos e olhando impaciente para o visor do elevador. Fiquei surpresa por ele ter se oferecido, mas realmente não estava me sentindo segura lá naquele apartamento.
As vezes tinha esse negócio, começa a não me sentir segura nos lugares, acho que era mais por causa de Joseph do que qualquer outra coisa. Depois do que ele fez com Gwen, eu sempre ficava com medo dele fazer algo com outra pessoa que eu gostava, ou até comigo.
Então se Dylan me convidava para passar a noite na casa dele, eu iria, por que eu estava morrendo de medo de ser morta enquanto dormia ou pior. Entro no carro com ele e nem penso direito, apenas deixo que ele me leve para o seu apartamento.
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