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21 A REPORTAGEM

ÀS VEZES, LUCAS SE QUESTIONAVA QUAL SERIA A SENSAÇÃO DO APOCALIPSE. Não no sentido bíblico do termo, mas no sentido do caos. Quando olhava para imagens de um tsunami ou de um terremoto, por exemplo, o garoto sempre pensava no que as pessoas dessas cidades abaladas devem ter pensado antes do impacto. Estavam bem, fazendo suas rotinas, e de repente caos? Tiveram pressentimentos? Sentiram um frio na espinha, um gosto amargo na boca? Aquilo o angustiava e aumentava a ansiedade, essa imprevisibilidade da vida; a impossibilidade de deduzir o que acontecerá no segundo seguinte. Pois, sim, o mundo parecia desabar ao seu redor.

Ler o novo artigo do Divulgador o deixou aéreo. Por pouco, não perdeu o ônibus. Do mesmo modo, quase não fez sinal para descer quando chegou ao bairro. Sua mente estava tomada por conjecturas sobre o que Isaú Fauller faria dali em diante. Em sua imaginação, o empresário estaria a uma hora daquelas contactando todos os advogados, contatos, amigos, espalhados pelo mundo para derrubar o Wattpad (algo que Domingas já havia explica ser quase impossível). Ou então, ao invés de se vingar da plataforma que não impedira o pior, planejaria se vingar das pessoas que ele acharia estarem por trás do perfil. Lucas estremeceu enquanto andava para casa. Por maior que fosse a lista de suspeitos, sabia que a tia e o primo estariam marcados como prioritários.

"E eu e o pessoal marcados na lista do Cléver...", supôs.

Cléver era uma incógnita naquele desastre. A raiva que deveria ser direcionada aos delatores do pai (que claramente não eram seus colegas de escola) parecia ter impulsionado ainda mais ataques do rei-sol. Lucas se lembrava das aulas de história. Luís XIV, faminto por expandir seu reino, travou várias guerras que transformaram a França em "persona non grata" da Europa e faliu o estado francês. Porém, apesar do prejuízo financeiro, as guerras transformaram o país no estado mais poderoso do continente. De certo modo, Cléver fora a fagulha de todo aquele incêndio que agora consumia o reinado de Isaú Fauller. Contudo, Lucas ainda não conseguia ver o passo seguinte, o que o garoto ganharia ao prosseguir com isso.

Luís XIV tinha método. Cléver não parecia ter nada.

Ao chegar em casa, encontrou as luzes apagadas. Estranhou. Miridéia não era dada a passeios noturnos, a não ser para lugares dentro do bairro (e sempre que o fazia costumava deixar as luzes do terraço acesas). O coração teve um soluço ao lembrar da última vez que algo de estranho o recepcionara. Mas não, Isaú Fauller não estava ali, escondido por trás das samambaias.

Lucas abriu o WhatsApp para ver se perdera alguma mensagem da tia. Ela estivera online há seis horas, por volta do meio-dia. Entrou pela sala, foi para a cozinha e encontrou um recado deixado na geladeira: "Jorim chegou bem em São Paulo. Ele quer falar contigo URGENTE. Assim que chegar liga pra ele. Tem comida no forno."

Aquele "urgente" com letras maiúsculas fez o menino largar a mochila ali mesmo no chão, sentar-se ao lado e fazer uma chamada de vídeo. Como se já esperasse por aquilo, a ligação foi atendida no segundo toque.

Jorim estava sério.

— E aí, amiguinho, como está?

— Levando a vida. A tia disse que tu queria falar comigo. Urgente.

— Sim, eu vi que as coisas estão acontecendo rápido demais. Quando saí do avião soube que o mundo tava desabando por aí.

O garoto ofegou.

— Alguém aí em São Paulo falou sobre isso?

— Não, mané. Pessoal me mandou os links e... — Jorim olhou para além da câmera e sua expressão ficou mais plácida. — Tu sabe que eu vim pra cá fazer esse curso, mas também por causa do Ronnie, né?

— É, eu sei. Ele voltou de vez da Alemanha?

— Praticamente. Essa coisa que aconteceu com o pai dele acelerou a volta. A repercussão tem sido forte.

— Na Alemanha?

— Tu sabe que a gente vive num mundo globalizado, né? E esqueceu que um daqueles equipamentos de projeção da super-hiper-mega quadra da Damariana é tecnologia alemã? Na mesma empresa onde o Ronnie foi trabalhar.

— Ah, é...

Lucas se lembrava desse detalhe. Por mais que rejeitasse o pai, Ronnie Fauller aproveitou esse contato da escola com essa empresa desenvolvedora de softwares para arranjar um emprego fora do país. Até nisso, na hora da briga, gente rica tinha privilégios de ir para longe e ficar bem, analisou. O primo berrou no telefone para trazê-lo de volta ao mundo.

— Terra chamando Lucas! Tá perdido aí, carinha?

— Pensando longe.

— Longe não. Tem que pensar é em quem tá perto de ti. Lucas, vocês têm que tomar cuidado com as coisas que dizem, com quem andam, com... — Jorim parou por um instante e tornou a olhar para além da câmera. Assentiu e saiu.

Lucas quase teve um infarto.

Ronnie Fauller era muito parecido com Cléver, a não ser o cabelo que era preto. Se o colega de turma era o rei-sol, o seu meio-irmão podia ser chamado de Imperador da Noite, ou algo do gênero. Chegava a ser irônico pensar que pessoas com índoles tão diferentes podiam ter aparências tão paradoxais. Cléver, senhor das maldades, carrancudo e mesquinho, parecia emitir luz quando aparecia. Ronnie, tranquilo e sereno, pés no chão, parecia um vampiro.

— Como vai, Lucas? Tudo bem? — O garoto se limitou a balançar a cabeça, o coração ainda disparado pelo susto. — É, eu imagino como está sendo complicado por aí.

— Muito...

— Lucas, vocês não fazem ideia do que o meu pai é capaz de fazer. E ele vai fazer.

— Ah, isso a gente sabe. Ele colocou um monte de regras novas na escola e fez de tudo pra abafar as coisas.

Ronnie suspirou.

— Escola? Eu não estou falando de escola, Lucas. Eu falo de coisas muito mais profundas. Eu vivi anos sob o mesmo teto de Isaú Fauller, esqueceu? Eu vi do que ele é capaz e digo pra ti: o meu pai não vai deixar isso barato.

— Ele... Ele não tem provas contra a gente. Fizemos o perfil, mas foi roubado.

— Eu sei. Mas você acha que ele vai fazer distinção entre quem só começou isso tudo e quem pegou o perfil do Wattpad pra denunciar de verdade? Ele vai bater em todo mundo e vai usar todas as armas que tem. Vocês precisam tomar cuidado.

— Tá. Me diz como.

O rosto do rapaz deixou evidente que ele não esperava por aquela questão.

— Eu... Eu confesso que eu não sei. Sinceramente. Sair da escola não é uma opção agora, é claro. Ir à polícia pedir proteção seria necessário uma justificativa pra isso.

— E seria como colocar um alvo nas nossas testas.

— Sim, exato. E... Algo que vocês podem fazer é evitar cair em provocações.

Lucas sorriu, irônico.

— Cair em provocações? A gente não cai em provocações, elas caem em cima da gente sem a gente pedir, Ronnie! Eles nos provocam porque a gente existe. Ponto! Ainda que a gente fosse invisível, eles veriam a minha cor, ou o vitiligo da Domingas, o nanismo do Otávio ou o fato do Evandro ser um homem transgênero! Isso sem contar as outras pessoas que eles perseguem. Eles sentem o cheiro de quem não é "normal" como eles acham que o mundo deveria ser!

O garoto notou que Ronnie ficou acanhado. Lucas não se importou de ter explodido daquele jeito. Que moral um cara branco, rico, morando no exterior, cheio de privilégios, tinha para vir lhe falar sobre "cair em provocações" quando ele e pessoas como ele eram as raízes dessas provocações? A bondade de Ronnie Fauller não o exímia da culpa, pois, pelo menos que Lucas se lembrava, o rapaz nunca fizera nada na prática para contrapor o pai e os preconceitos. Pelo contrário, aproveitara-se do dinheiro sujo para fugir pra Alemanha e levar uma vida com ainda mais privilégios.

Lucas estava tremendo de raiva.

— E quer saber mais: o teu irmão é culpado disso tudo! Se tu teve a sorte de ter uma mãe que te educou pro mundo, meus parabéns. Mas isso não te dá poder pra vir dizer pra gente que nós é que temos que nos esconder!

— Lucas...

— Se ao invés de fugir pra longe tu tivesse enfrentado o teu pai, eu tenho certeza de que as coisas não estariam assim!

— Eu tinha só 13 anos, Lucas! O que você queria eu fizesse? Como eu ia enfrentar meu pai naquela época?

— Tá. Mas depois que tu foi pra Alemanha conseguiu ficar independente dele. E agora tu tem 19 e já é de maior. Por que deixou as coisas chegarem a esse ponto pra voltar?

Ronnie exibiu o mesmo olhar de raiva do irmão. Porém, diferente do rei-sol, controlou-se.

— Porque o meu irmão também precisa de ajuda. Por isso que eu voltei. Se eu fosse sozinho (como sou desde que saí daquela casa), eu ligaria o foda-se e nunca mais voltaria — Jorim falou alguma coisa. — Eu te levaria pra morar comigo, seu besta! Eu te disse isso! Lucas, meu pai me deserdou, mas eu sempre tive o dinheiro que a minha mãe me deixou. Ela foi tão esperta que deixou regras pro advogado cuidar desses bens e exigir que o meu pai me emancipasse quando eu fiz 16 anos. Ao contrário de mim, o Cléver não tem nada.

— Nossa, sim, pobre garoto rico. Deus me livre ter a vida dele.

— Olha, eu sei que ele tem todos esses privilégios. Mesmo se ele não tivesse dinheiro algum, a aparência dele já seria um privilégio. O mundo é muito escroto. Mas o que quero te explicar é que no caso dele não é só uma questão financeira, Lucas; é uma questão de ética, moral. O Cléver foi criado no pior ambiente possível. Ele viu o que o meu pai fazia comigo por eu ser gay e isso fez o Cléver virar um monstro pra ele mesmo.

— Pessoal na escola desconfia dele. Tem muito boato. E ele fica cada vez mais violento.

— Viu só? Lucas, o ódio é um espelho. O incômodo que você sente em relação ao outro não tem a ver com o outro, tem a ver com você, com a pessoa que está emanando ódio. O Cléver... — Ronnie estremeceu. — Eu tenho muito medo de que tudo isso faça o Cléver fazer uma besteira.

— Isso ele sempre fez...

— Um besteira ainda maior, Lucas. Contra ele ou contra um de vocês.

— Ronnie, se eu fizesse alguma besteira, eu ia preso na hora e iria ser esquecido. Se o teu irmão fizer alguma besteira, uma procissão de advogados vai estar pronta para safar ele. Essa é a diferença.

— Eu sei. E contra ele mesmo?

Lucas não encontrou argumentos. Havia legitimidade na preocupação de um irmão mais velho.

— Ei, brigões — Jorim apareceu com a cara assustada e mostrou outro celular. Na tela foi possível ver o jornal da maior emissora do Maranhão. — Lucas, liga a televisão aí, rápido! Vai passar uma reportagem sobre a escola!

Lucas correu para a sala com o celular nas mãos ainda na chamada de vídeo. Ligou a TV no exato momento em que o apresentador lia a cabeça para anunciar a matéria. Enquanto imagens da Damariana passavam, o repórter falava sobre a onda de denúncias contra o dono da instituição. Então, ao comentar a reação violenta de alguns pais, as imagens mudaram para a cena da confusão na porta da escola e de Isaú Fauller e Cléver lutando para entrarem.

"... Alguns pais se dizem revoltados com a situação e denunciam que o Conselho gestor da escola sempre foi conivente com os abusos."

— Isso é de muito tempo! — Na tarja abaixo do vídeo, Lucas leu "Otto Tromep, pai de aluno". Atrás dele, apenas Otávio balançava a cabeça concordando com o pai. — Meu filho veio pra cá com a promessa de ter uma educação excelente, mas esqueceram que a excelência também passa por saber conviver com as pessoas, com aprender a sair da bolha, aceitar os diferentes, e não a sofrer bullying sem ter nenhum tipo de proteção.

"O senhor conversou com a direção sobre esses ataques?"

— Muito. E é sempre a mesma história: vamos ver, fazer palestras com os alunos, chamar os pais dos agressores. Mas se os pais dos agressores são os próprios integrantes do Conselho Estudantil da escola, como fica?

"Da mesma forma, Maira Cevelis, mãe de outra estudante da Escola Damariana, denuncia o descaso da coordenação e da direção da escola com as denúncias de assédio moral que vários alunos sofrem na instituição."

— A minha filha sofre muito com o que acontece aqui — a câmera focou no rosto de Domingas. — Ela já foi agredida verbal e fisicamente, nós já viemos à escola, pedimos soluções, entramos com processo, e nada. A coordenação e a direção da escola acobertam o que acontece dentro desses muros para manterem a boa fama do colégio.

Lucas olhou mais outros pais falarem, uma sucessão de denúncias ali, em horário nobre, para milhões de pessoas. Para uma emissora daquela dedicar tanto tempo a uma reportagem especial, era porque a repercussão do assunto estava tão forte que não podia mais ser ignorada (mesmo se nos bastidores houvesse um interessante contrário para abafar o caso). Depois que a promotora do Ministério Público falou, Lucas pensou que a matéria iria acabar, mas não.

"... Diante de todas as denúncias contra a escola, o aluno Otávio Tromep, que é uma pessoa com nanismo, resumiu o sentimento de frustração dos estudantes."

— É muito triste estudar desse jeito, num ambiente que só estimula agressão, ódio, vingança. É uma escola de elite onde a gente estuda, mas a elite fica só no bolso mesmo. No fundo, é um monte de gente que vive em bolhas de mimos e pensam que podem pisar nos colegas. Eu fico cansado de vir pro colégio e ser humilhado todo dia. Minha vontade mesmo é de ir embora daqui.

Lucas, boca aberta, olhou para o celular. Ronnie e Jorim estavam do mesmo jeito. E foi o primo quem resumiu a situação:

— Fudeu. Fudeu forte.

*

Apenas um sentimento posso emanar aqui: #tenso Grato pela leitura, sugiro que você pegue um terço (ou qualquer outro aparato espiritual que lhe convir).

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