#12- Sábia Veterana
No dia seguinte resolvi voltar para a escola. Quando cheguei no portão estava totalmente diferente de tudo o que eu já havia passado. Eu estava com um grande aperto no peito, meu coração parecia que iria sair pela boca.
Fiquei durante algum tempo no portão sem saber se eu entrava ou voltava para casa. Vários alunos passavam me encarando até que Alicia passou quase atrasada para o início da aula.
_ Vai ficar aí garoto?
Eu até abri a boca para dar uma resposta, mas não pensei em nada para falar. Ela apenas deu três tapas leves em minha cabeça e deu um sorriso.
_ Então, vamos?
_ Vamos!
Segui para a escola e Alicia me deixou quando aproximou da sala dos professores. Cheguei na sala e fui direto para o meu lugar. Percebi que o trio animação ficou me olhando, mas não falaram nada, o que me deixou com o peito mais apertado.
Rachel chegou e cumprimentou os três, quando chegou perto ficou me olhando por um tempo com um olhar desconfiado.
_ Até que enfim resolveu voltar, estava passando da hora garoto.
_ Eu tenho que me formar ou minha mãe me mata.
_ Creio que tem bem mais que isso.
Rachel foi para o lugar, me deixando mais pensativo. A maioria da turma já estava na sala de aula, apenas uns quatro faltaram e o professor entrou na sala para iniciar sua aula.
A primeira aula era com Bruno, o professor de química. Ele era um professor gordinho, com uns trinta e cinco anos. Tem olhos negros, usa óculos quadrado e tem os cabelos vermelho que de acordo com ele foi por uma mistura química que deu errado, mas provavelmente era apenas tinta. Ele vestia roupas completamente brancas, camisa, calças e até um jaleco. A turma o chamava de Maluco da Química e com certeza dá para saber o porquê.
_ Hoje vamos ter uma aula supimpa de tão boa, podem apostar nisso!
Supimpa? Quem diz isso nos dias de hoje? Fiquei com vergonha só de escutar ele dizer algo assim.
Foi uma aula longa e ainda tivemos aulas de Tony e Alicia antes do intervalo. No intervalo fui direto para o banco onde eu sempre ficava e dessa vez, creio que a primeira vez, ninguém foi até lá.
Os dias foram passando e continuava a mesma coisa, eu voltei a ficar isolado na sala. Eu deveria estar gostando, mas senti que algo em mim havia mudado. Fim de semana refleti muito sobre isso, mas voltando para a semana na escola as coisas continuavam da mesma forma.
As vezes Joseph e Luna me cumprimentavam com um bom dia. Luna em raras oportunidades até perguntava uma coisa ou outra. Rachel conversava quando queria, mas isso fazia bem o estilo dela. O que eu verdadeiramente sentia falta era Akira que desaparecia sempre que eu estava perto. Só conseguia ver ela na sala, mas parecia que tinha medo de me olhar. Talvez era o que eu precisava para deixar de gostar, mas meu coração estava me culpando de tudo o que eu havia feito.
Algumas vezes passava perto da sala do clube de literatura, o que me deixava mais pensativo, mais angustiado, queria saber se fiz a escolha certa.
Durante a noite minha mãe veio até meu quarto e parece que queria me falar algo, mas não sabia como poderia iniciar essa conversa.
_ Mãe, a senhora nunca teve isso, o que quer falar comigo?
_ Eu só queria saber se você está bem filho.
_ Eu estou sim!
_ Você está na sua juventude, está no momento de várias confusões e parece que isso está te incomodando.
Realmente minha mãe sabe me ler como ninguém, ela sabe cada coisa que eu sinto, cada medo que eu tenho, entre várias outras coisas.
_ Mãe, eu não vou mentir falando que estou bem e realmente estou com uma confusão grande, mas eu vou sair disso. Não precisa se preocupar com isso.
_ Eu sempre vou me preocupar.
_ Só estou tentando encontrar a melhor maneira de concertar toda essa confusão.
_ Você vai se sair bem filho. Só não desista de sua vida nova. Você estava radiante nela.
Minha mãe apenas deu um beijo em minha testa e saiu me deixando pensativo. Minha vida nova e eu estava radiante. Com certeza ela estava falando do tempo que passei com Akira e o pessoal do clube.
Eu sempre tive uma boa convivência com minha mãe, mas falávamos pouco de minha vida, ela sabia que eu não gostava, mas dessa vez ela disse por que sabia que era uma coisa importante.
Eu sei que o tempo que passei com Akira foi mágico e eu realmente queria poder estar mais um tempo com ela, mas não é apenas chegar e se desculpar pelo que aconteceu. Eu tenho que ter a certeza que não acontecerá novamente, eu tenho que encontrar meu novo eu.
Mais um dia na escola, já estava aproximando as férias menores, já tinha pelo menos um mês que eu basicamente não conversava com ninguém, o engraçado é que passei a vida assim tranquilamente, mas alguns meses diferente mudou tudo.
As primeiras aulas foram bem demoradas, principalmente que tivemos duas aulas com o Bruno e ele contando algumas mentiras como sempre, do tipo da reação química no cabelo. Aquilo era outro tipo de química.
No intervalo como sempre fui para o banco perto do prédio abandonado. Fiquei deitado após comer o meu lanche e fiquei esperando o sino tocar, até perceber que alguém estava se aproximando.
Meu primeiro palpite com toda certeza estava errado, Akira já estava sem conversar comigo mais de mês, então pensei ser Rachel, mas falhei novamente no palpite. Era Anne que se aproximava com um semblante diferente do que eu estava acostumado, estava sem nenhum sorriso. Ela simplesmente chegou e se sentou.
_ Oi Isaack!
_ Vice-presidente? O que veio fazer aqui?
_ Você não precisa me chamar assim, tem tempo que saiu do clube lembra? Tem tempo que nem conversa mais comigo.
O que ela disse estava certo, eu nem estava mais vendo ela. Escutava a voz quando passava perto da sala do clube, mas era o máximo. Eu não conseguia imaginar o porquê ela estava ali, bom, queria me falar algo, mas depois de tanto tempo, o que poderia ser?
_ Aconteceu alguma coisa para você estar aqui?
_ Só queria ver um amigo, tem tempo que não conversamos. Pena que está terminando o intervalo, mas me encontre aqui após a aula, eu não vou ao clube hoje.
Ela simplesmente se levantou e saiu, sem nem esperar minha resposta se eu iria ou não. Voltei para a sala de aula mais pensativo do que eu estava. O que a vice-presidente poderia querer comigo?
As aulas foram passando e pareciam estar uma mais lenta que a outra, parecia que o relógio estava travando e isso fazia minha ansiedade aumentar consideravelmente.
Ao fim da aula fui rápido para o prédio abandonado, minha curiosidade já estava me matando de todas as formas e quando cheguei Anne já estava sentada no banco e ainda sem sorrir.
_ Você veio rápido.
_ Você ainda chegou antes que eu.
_ Não fiquei até o final da última aula, então cheguei mais cedo.
_ Então, o que você queria que foi mais importante que ir ao clube?
_ Conversar com um amigo!
Ela disse isso tão naturalmente que me deixou sem palavras por um instante, mas abaixei meu capuz e me sentei ao lado dela.
_ Então é só uma conversa normal?
_ Nunca é normal uma conversa com você Isaack, mas vim aqui também como sua veterana.
Ela me olhava fixamente parecia querer me dar um forte abraço e ao mesmo tempo um soco tão forte quanto o abraço.
_ Por que você saiu do clube?
A primeira pergunta já me desconcertou. Como eu poderia responder isso? Não teria maneira fácil para isso.
_ Eu só estou confuso, mais de um mês e eu não me encontrei ainda. As coisas estão bem difíceis.
_ Isso quer dizer que está criando responsabilidades. Você não é mais uma criança e a fase da juventude e fase adulta vão ser completamente diferentes do que já viveu antes.
_ Eu percebi isso.
_ Se já percebeu, por que não voltou para o clube ainda? Está esperando um novo convite ou uma carta em sua casa?
_ Não é tão fácil.
_ Claro que é, você está complicando as coisas.
Talvez ela tenha razão, eu acabo complicando tudo, mas eu não quero viver em falha, errar, pedir desculpas, ser perdoado, errar novamente, pedir desculpas e der perdoado. Eu odeio a monotonia.
_ Isaack, eu sei que você nunca foi de ter amigos, mas agora você tem. Eu me considero sua amiga e tenho certeza de que não é apenas eu. O pessoal do clube tem esse mesmo pensamento.
_ Isso me dá certo medo.
_ Medo?
_ Medo de errar vice-presidente. Eu não quero viver errando com vocês.
Pela primeira vez vi ela sorrindo naquele dia, um sorriso sereno que creio que me deu grande alívio.
_ Por você não ter muitos amigos tem certas coisas que você não entende, mas nós sempre erramos com amigos e pedimos perdão. Por isso somos amigos, pela capacidade de perdoar.
_ Mas posso errar de novo e de novo e de novo.
_ E os verdadeiros perdoarão mil vezes se precisar, isso é ser amigo Isaack e você é meu amigo.
As palavras de Anne estavam me confortando de uma maneira indescritível. Talvez isso era o que minha mãe queria me dizer quando falou que ter amigos era incrível.
_ Eu agradeço por tudo o que está me dizendo, tudo o que está fazendo por mim, mas não sei se estou pronto para...
_ Akira?
Ela estava parecendo minha mãe, sabia de tudo o que eu estava pensando.
_ Sim! Akira foi em minha casa, mas eu errei muito feio com ela. Não creio que uma simples desculpa iria resolver isso.
_ Ah garoto, você é mesmo estranho. Se você errou peça desculpas e mude suas atitudes. Eu não creio que ela te odeie.
_ Eu realmente não sei o que fazer. Eu nem sei como pedir desculpas.
Anne deu um longo suspiro e depois sorriu novamente, me olhou e abaixou rindo de novo. Eu não sabia se ela estava me zoando ou se eu havia falado algo errado.
_ Eu já te falei que vocês são amigos. Deveria confiar e ir até ela se desculpar. Seja sincero com seus sentimentos.
_ Eu tenho medo Anne.
_ Medo de acontecer a mesma coisa que aconteceu entre você e Rachel no passado?
_ Você sabe o que aconteceu com a gente?
_ Claro que sei Isaack. Você imaginou que eu não percebi tudo o que aconteceu no clube depois da chegada de vocês dois?
Realmente Anne estava me impressionando mais que eu pensasse que aconteceria na minha vida. Ela era a pessoa mais observadora que eu conheci, podendo superar até minha mãe. Nesse dia realmente comecei a admirar a vice-presidente, por mais que ela parecia ser uma pessoa meio bobinha, na realidade era incrível.
_ Como você consegue disfarçar tanto a pessoa que é vice-presidente?
_ Como assim?
_ Você normalmente sempre foi uma pessoa distraída, meiga, divertida, mas hoje você está mais incrível do que qualquer dia.
_ Hoje eu precisei ser uma boa veterana, precisei te dar uma bronca por tudo o que estava acontecendo.
_ Eu agradeço muito por tudo o que fez.
_ Nós somos amigos Isaack, parece que se esquece muito disso.
_ Obrigado por ser minha amiga.
_ Creio que nunca tivemos uma conversa tão boa e fico feliz de ter essa conversa com você. Mas vou deixar você pensar em tudo, sei que tem muito o que pensar.
_ Tenho sim.
_ Não quero que faça nada de cabeça cheia. Não chegue amanhã falando que já resolveu, use o fim de semana e se divirta.
_ Tudo bem vice-presidente.
Ela sorriu e saiu me deixando mais pensativo que eu estava, mas bem mais confortável nos pensamentos. Fui para casa onde pude pensar claramente sobre tudo.
O final de semana passou mais rápido que um piscar de olhos, não que eu tenha que reclamar do tempo, pensei bastante em cada coisa, porém, eu ainda estava com medo de tudo o que poderia acontecer.
Fui para a escola e tive que esperar aula por aula, o que o fim de semana não demorou as aulas estavam demorando por ele. Sempre recebia um olhar da Luna, Joseph e as vezes até da Akira, o que me deixava cada vez mais ansioso com tudo.
No fim da aula tive que reunir toda a minha coragem para ir até a sala do clube de literatura. Cheguei na porta e estava mais nervoso que a primeira vez que estava ali, era como uma repetição de tudo o que já aconteceu.
Bati na porta duas vezes e Ayato me atendeu, era totalmente diferente dessa vez, percebi quando ele abriu a porta.
_ Isaack! É uma surpresa você aqui, uma surpresa boa.
_ Presidente, eu posso entrar?
_ Claro!
Ayato saiu da frente e eu entrei. Vi um sorrisinho no rosto de Anne, mas os quatro de minha sala não foram tão bem na recepção. Akira nem me olhou nos olhos.
_ E então Isaack, por que veio ao clube? _ diz Anne com um sorriso estampado.
_ Eu queria voltar ao clube.
_ Voltar ao clube? _ questionou Joseph.
_ Não apenas isso. Eu queria me desculpar com todos pelos problemas que eu causei.
_ Quais problemas? _ pergunta Rachel.
Ela sabia que eu não conseguiria falar sobre tudo, eu ainda não tinha toda abertura para conversar com eles com tanta facilidade.
_ Eu não preciso ficar falando o que eu fiz, todos vocês sabem e eu só queria me desculpar por isso.
Todos apenas me olhavam com exceção de Akira e me senti estranho com tudo isso.
_ Seja bem-vindo novamente Isaack. _ disse Ayato sorrindo.
Joseph, Luna e Rachel também sorriram e vi Anne com uma expressão de satisfação a balançou a cabeça positivamente. A única coisa não tão boa foi Akira saindo da sala, mas eu sabia que ela não me perdoaria tão fácil, então eu deveria seguir o que Anne, minha conselheira me disse.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro