#11- Confusão e Verdades
Após o fim de semana não conseguia parar de pensar no que havia acontecido comigo. Essa viagem deve ter me feito mal... essa é a única coisa que posso pensar para fazer sentido a forma que eu agia.
Escutei alguém batendo na porta de meu quarto, mas nem respondi.
_ Mano, está na hora do jantar, vem logo!
_ Não precisa ficar gritando Encrenca!
Apenas me levantei da cama e desci as escadas para me juntar com a família para o jantar.
Minha mãe parecia estar em um dia muito bom, então eu não correria perigo de morte em fazer um simples pedido.
_ Mãe, posso faltar nas aulas de amanhã?
_ Faltar a aula? Faz tempo que não me pede isso. Eu realmente pensei que estava se enturmando mais, principalmente após esse passeio que fizeram.
Minha mãe colocou a mão na boca e estava com um semblante pensativo, ela ficou assim por um tempinho e estalou os dedos como se tivesse chegado a alguma conclusão.
_ Aconteceu alguma coisa nessa viagem? Pode me contar qualquer coisa filho.
_ Não aconteceu nada de mais, mas tive que fazer várias coisas e ainda estou cansado.
Ela me olhou ainda pensativa. Parece que estava buscando uma forma de dizer que eu estava escondendo algo, mas não disse nada sobre isso.
_ Parece que você se esforçou bastante, então vou deixar você faltar, mas só amanhã.
_ Obrigado!
Depois de agradecer, apenas me concentrei no jantar. Terminei e voltei para o quarto, mas não saia da minha cabeça as coisas que fiz nessa viagem.
_ Provavelmente eu tive um pesadelo. Não tem como eu ter tirado a blusa daquela forma e... e... eu dancei? Não, não tem como eu ter feito isso.
Os pensamentos ficavam se embolando em minha cabeça. Ela apena estava sendo gentil como ela é com todos. Não tinha como eu ser uma exceção em nada ali.
No dia seguinte, Akira, Luna e Joseph ficam sem entender o porquê eu não ter ido a aula, então no intervalo vão até Rachel.
_ Rachel, sabe do Isaack? _ pergunta Joseph.
_ Mais fácil a Akira saber dele. _ respondeu.
_ Ele não veio a aula e eu fico preocupada com isso. _ diz Akira.
_ A última vez que o vi foi no mesmo lugar que vocês. Ele apenas deve ter se arrependido de ter ido a essa viagem.
_ Por que estaria arrependido? _ pergunta Akira.
_ Primeiro temos que lembrar que ele foi obrigado a estar lá. Segundo que ele nunca ficou daquela forma. Viu como todos olhavam para ele enquanto estavam dançando?
_ Querendo ou não ela está certa. _ diz Joseph.
No fim da aula os quatro vão direto para o clube, onde Ayato e Anne já se encontravam.
_ Isaack está atrasado de novo. Hoje eu não o vi naquele banquinho. _ diz Anne.
_ Ele não veio a aula hoje. _ explica Joseph.
_ É a primeira vez que ele não vem. É uma surpresa. _ fala Ayato.
_ Depende. A primeira semana de aula ele faltou toda, só apareceu a partir da segunda. _ fala Luna.
_ E teve gente que imitou isso depois. _ diz Joseph olhando para Akira.
_ Disso eu lembro. _ fala Ayato.
_ Acho que vou na casa dele, assim vou saber o que aconteceu e mando mensagem para vocês. _ diz Akira.
_ Você não acha que está indo longe com isso? É apenas uma falta. _ fala Joseph.
_ É verdade, amanhã podemos perguntar ele o que aconteceu. Pode ser que ele teve um resfriado ou está apenas cansado. _ diz Ayato.
_ A não ser que Akira começou a gostar dele de uma maneira diferente. _ fala Luna.
_ Nós somos amigos! Da mesma forma que sou amiga do Joseph ou do Ayato.
_ Se te confortar eu posso ir até a casa dele e saber o que aconteceu. _ diz Rachel.
_ Você sabe onde ele mora? _ pergunta Luna.
_ Lembra que eu estudei com ele em minha infância? Costumava ir lá algumas vezes.
Akira e Luna olharam para Joseph entendendo suas palavras quando disse que Akira não foi a primeira a visitar.
_ Mas qual a diferença entre eu ou você ir?
_ Simples Akira, eu moro perto da casa dele e você teria que ir do outro lado da cidade. Talvez nem precisarei ir até a casa dele, sei onde encontrar a mãe e a irmã. _ diz Rachel.
_ Pronto! Rachel pode cuidar disso então. _ fala Ayato.
_ Eu nem sabia que o Isaack tinha uma irmã. _ diz Anne.
_ E o que sabemos sobre o Isaack? _ questiona Luna sorrindo.
_ É verdade! _ diz Anne.
Eu continuava na cama, passei todo o dia lá, mas Akira não saia de minha cabeça. Era uma coisa que não tinha como evitar, mas eu não poderia prosseguir com isso.
_ Minha decisão nesse momento só pode ser uma, assim vou conseguir voltar tudo ao normal. Eu vou ter que deixar o clube de literatura e essa é a única opção. Sei que não posso deletar o que aconteceu, mas posso usar um "reset" para voltar aos meus momentos de paz.
Os dias passam e eu cada dia com menos vontade de voltar a escola. Não saia nem do quarto direito, estava tentando esvaziar totalmente meus pensamentos.
Na escola, os três dias de falta acabou deixando o pessoal um pouco preocupado. Eu já havia feito isso no início do ano e agora mais uma vez.
Ayato vai até o pessoal da classe para conversar sobre o que estava acontecendo.
_ O professor de vocês me procurou. _ diz Ayato.
_ Qual deles? _ pergunta Akira.
_ Tony!
_ E o que ele queria? _ pergunta Joseph.
_ Ele falou sobre os três dias que Isaack não vem a aula e que ele não é mais membro do clube de literatura.
_ O que!
Akira ficou um pouco assustada, além da preocupação que já estava, então se sentou um pouco e ficou muito pensativa.
_ Parece que aquela viagem o afetou mais que eu pensava. _ diz Rachel.
_ Ele era divertido no clube, além de não falar muito, a ironia dele era ótima. Pena que acabou. _ diz Luna.
_ Como assim acabou? Não vamos fazer mais nada? _ pergunta Akira.
_ Ele mesmo desistiu de tudo Akira. _ diz Joseph.
_ Nós também não sabemos o que realmente aconteceu para que ele tivesse essa atitude. Pensei que algum de vocês soubesse me informar algo. _ diz Ayato.
_ Como eu disse, a mãe dele me disse que ele só ficava no quarto e não estava muito bem em sair. Noemi disse que mal estava vendo o irmão. _ fala Rachel.
_ Infelizmente eu não sei de nada. _ diz Joseph.
_ Tem uma coisa que ainda não sei se é verdade, mas soube que ele quer se transferir de escola. _ diz Ayato.
_ O que! _ fala Akira espantada.
_ Isso é muito radical até para ele. _ fala Joseph.
_ Dessa vez eu vou até a casa dele! _ diz Akira.
_ Vamos com você. _ fala Luna.
_ Eu vou sozinha! _ diz Akira brava.
Akira sai deixando os outros ali. Rachel dá um grande suspiro olhando tudo o que estava acontecendo.
_ Acho que isso vai ser em vão.
_ E eu não sei mais o que fazer. _ fala Ayato.
Rachel coloca a mão na testa, resmungando alguma coisa, o que chamou a atenção de todos.
_ Talvez eu possa ajudar um pouco.
_ Você Rachel? Por que faria isso? _ pergunta Joseph.
_ Não tem nada a ver com o passado se é o que você quer saber. Eu só acho que posso ajudar um pouco, então vou.
Rachel também sai do local deixando Ayato, Luna e Joseph sem saber o que fazer.
Akira chega em minha casa e bate na porta. Eu não imaginava ser ela, mas de toda forma não atenderia seja lá quem fosse. Com grande sorte de Akira, minha irmã estava em casa e atendeu a porta.
_ É a moça do nome engraçado.
_ Oi Noemi, seu irmão está em casa?
_ Está sim! Mamãe, a moça do nome engraçado quer ver o maninho.
Akira entrou e se encontro com minha mãe que estava bastante feliz em ver a Boa Samaritana em minha casa novamente.
_ Akira, ele está no quarto e não está saindo muito de lá nos últimos dias.
_ Tudo bem, eu já passei por isso.
_ Pode subir, espero que consiga conversar com ele.
_ Obrigada!
Akira sobe as escadas e para em frente ao quarto. Ela hesita um pouco em bater na porta, mas depois resolve bater.
_ Zack, eu queria conversar com você.
Ouvir a voz dela foi uma mistura de sentimentos, por um lado eu queria abrir a porta e ver ela novamente, mas por outro eu queria mandá-la embora cruelmente.
_ Pode dizer.
_ Você não vai abrir a porta?
Mais uma vez fiquei totalmente perdido no que fazer, mas não poderia voltar atrás.
_ Se quer saber algo sobre a escola ou o clube já está tudo decidido. Você já deve ter recebido as notícias.
_ Mas o porquê disso?
_ Olha Akira, eu não quero continuar fingindo ser quem eu não sou. Eu não sou sociável, não sou uma pessoa que gosta de ficar perto de amiguinhos.
_ Eu pensei já existia amizade entre nós dois.
Essa foi uma das coisas que menos queria escutar. Tudo que busquei na vida era ter um verdadeiro amigo. Quando tive Rachel aproveitei cada momento até descobrir que era uma aposta. Akira não parecia que faria isso, mas Rachel também não parecia.
_ Você não me chama pelo nome Zack e se está fazendo isso pensando que vai me afastar está muito enganado. Você estava se esforçando e eu estava me orgulhando disso.
_ Eu só quero ser eu mesmo e nada mais que isso.
_ Você pode ser você mesmo e ainda participar do clube.
_ Eu nunca vou ser eu mesmo enquanto estiver perto de vocês e eu já falei isso uma vez. Finja que eu não existo e não seja intrometida.
Rachel também chega em minha casa e vai entrando onde se encontra com minha mãe e minha irmã.
_ Ray? Isso é uma grande surpresa. Você não vem aqui desde...
_ O fundamental. _ diz Rachel com ar de arrependimento.
_ Sim!
_ Akira chegou aqui? _ pergunta agarota aflita.
_ Está no quarto com o Zack, pode subir até lá.
_ Obrigada!
Rachel começa a subir as escadas, mas se encontra com Akira que voltava com semblante triste.
_ Akira, então...
_ Você estava certa Rachel.
Akira passa por Rachel e se senta em um degrau. Rachel sente raiva e vai até a porta do meu quarto.
_ Está feliz Isaack? _ grita a garota.
_ Se for para ter minha paz novamente estou sim. E o que você tem com isso?
_ E acha que se afastar vai mudar seus sentimentos?
_ Rachel, você deveria ficar calada. O que você entende sobre isso? Nada!
_ Você que pensa Isaack. Eu entendo mais que imagina.
_ O que você entende Rachel?
_ Eu entendo que se você afastar ela agora vai cair em um grande arrependimento.
_ Eu já tenho meus arrependimentos.
Parece que enquanto mais eu queria afastar tudo, mais as coisas corriam em minha direção. Eu apenas queria acabar com tudo, porque no final eu só tenho medo.
_ Sabe Isaack, eu tenho muitos arrependimentos também e o maior deles foi o que aconteceu entre nós dois. _ diz Rachel.
Eu odeio ter que lembrar daquele tempo. Aquilo foi uma experiência horrível, principalmente o dia que fiquei sabendo de tudo.
_ Para ser sincera eu gostava de ficar com você. Mesmo perdendo a aposta, eu fiquei feliz em partilhar aquele tempo com você. Eu gostava de vim em sua casa e de todo o tempo juntos.
_ Aonde quer chegar Rachel?
_ Meu maior arrependimento foi não ter falado com você antes que os outros falassem. Eu tive medo de perder sua amizade e não contei, mas quando soube que você sabia, eu fiquei sem saída a não ser contar, mas foi de uma forma tão cruel que nunca pude me perdoar.
Então esse é o lado da Rachel. Será que isso é verdade? Será que ela realmente não era tão cruel ou apenas quer me manipular novamente?
_ Pode parar de falar Rachel. Isso já passou.
_ Não! Isso nunca teve fim e por isso quando voltamos para a cidade eu pedi para meu pai me colocar na mesma escola que você. Eu queria te pedir perdão por tudo.
Perdão? A única coisa que ela fez foi me deixar mais confuso. O que eu tenho que fazer? Passei quinze anos da minha vida assim e agora tudo muda. Eu realmente não sei o que fazer.
_ Isaack, eu vou embora. Já disse tudo o que queria dizer, mas quero te dar um conselho.
_ Pode dizer.
_ Não culpe os outros pelo que eu fiz um dia. Akira e qualquer outra pessoa não tem nada a ver com um erro meu. Se você está conseguindo ter amigos, está conseguindo se relacionar, siga em frente.
_ Por que está me falando isso Rachel?
_ Porque você foi o único amigo que eu tive de verdade e errei muito com você. Esperei seis anos para pedir o perdão. Talvez se você perder eles agora, nunca mais vai encontrar novamente.
Eu apenas fiquei em silêncio. Não sabia o que falar ou o que fazer, então o silêncio reinou até eu escutar os passos de Rachel em direção a escada. Escutei alguns ruídos, pode ser dela se juntando a Akira ou delas despedindo de minha mãe.
Nem minha mãe e nem a Encrenca foi durante a noite em meu quarto, parece que minha mãe entendeu que eu apenas queria ficar sozinho, nem apareci no jantar, apenas queria dormir. Dormir para não pensar muito no que fazer no dia seguinte, pois meus pensamentos estavam me matando.
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