#03- Akira
Na manhã seguinte com toda a preguiça que o mundo colocava em minhas costas fui para tortura que chamam de escola, mas dessa vez creio que não terá ninguém para me encher o dia inteiro.
Quando entrei na sala vi Joseph e Luna conversando, mas para minha surpresa a Boa Samaritana não estava presente. Me sentei, mas fiquei com uma sensação ruim, mas não quis me envolver com nada.
Quando a aula começou percebi o desconforto dos dois alunos do trio animação que estavam presentes, provavelmente nem eles sabiam o que havia acontecido com Akira. As aulas se passavam mais lentas que eu imaginava que fossem. Os professores eram bem lentos nas matérias e como a professora que eu nem sei que é, mas já considero ainda estava licenciada eu iria embora após a aula de Tony e hoje não teria ninguém para me parar.
Antes de a aula terminar vi Luna e Joseph indo até Tony e sem perceber eu estava concentrado na conversa deles.
_ Professor, por favor, sabe nos informar por que Akira não veio à aula?
Vendo a pergunta de Luna percebi que a Boa Samaritana tinha bons amigos, então fiquei feliz, pois os dois poderiam deixar ela bem e ela não precisaria voltar a me incomodar.
_ Desculpe, mas os pais dela não ligaram, não sei o que houve, fiquei um pouco surpreso, pois ela não falta de aula.
Enquanto Joseph agradecia o professor, eu guardava os meus materiais, mas quando eu estava saindo Joseph me surpreende.
_ Ei, você! Sabe o que aconteceu com Akira?
_ E por que eu saberia da Boa Samaritana? Que eu saiba você é o amigo dela Jhonny.
_ Meu nome é Joseph!
Quando Joseph me pegou pela camisa eu senti o ódio que ele estava de mim naquele momento, mas Luna estava perto e segurou o braço dele.
_ Por favor, Joseph, fica calmo.
_ Tudo bem Luna. Olha Isaack, ela foi te ver após a aula e disse que mais tarde apareceria no clube, mas depois dela sair com você não tivemos mais notícias dela e ela nem veio a escola.
_ E o que quer dizer com isso protetor das donzelas? Pensa que a sequestrei?
_ Eu sei que você fez alguma coisa com a Akira, eu conheço muito bem o tipo que você é!
Essa frase dele me deixou com bastante raiva, era como se eu fosse o mal de tudo e todos os outros ao meu redor fossem bonzinhos. Eu poderia apenas sair sem dar satisfação, mas queria mostrar que ela que está me sufocando.
_ Mesmo que não seja da sua conta Joseph, eu apenas disse para ela não me seguir, não preciso de ninguém atrás de mim. Creio que você deixou isso claro para ela, mas ela preferiu que eu falasse, então está pronto.
_ Você...
Nesse momento ele sentia mais ódio ainda, dava para perceber pelo semblante dele, enquanto Luna ficava mais preocupada com nós dois naquele estado.
_ Se você gosta de ficar perto dela vai atrás, mas eu não sou obrigado a ter ninguém perto de mim. Eu nunca quis ter amigos, mas também não sou falso, eu já disse o que aconteceu, então, por favor, saia da minha frente.
Joseph finalmente abriu espaço para que eu pudesse passar, mas seu semblante não mudou, ainda estava com um rosto furioso e as mãos tremulas. Quando passei por ele, Luna segurou a minha mão me deixando bastante desconfortável.
_ Ela só quer ser gentil com você, não precisava ser mal com ela.
Então realmente eu que sou o mal. Isso que eles acham de mim. Quando ela soltou minha mão eu pensei em apenas ir embora, mas minha boca não se segurou.
_ Se ela é gentil comigo acaba sendo gentil com todos. Eu não tenho nada de especial.
_ Ela é gentil com todos, porque para ela todos são especiais e ela quer apenas ser sua amiga.
_ Ela sabe muito bem o que eu acho disso loirinha, ela já percebeu tudo.
_ Você tem razão Isaack, ela é minha amiga e eu gosto de ficar perto dela, então vamos até a casa dela Luna.
_ Vamos!
Os dois saíram me deixando naquela sala sozinho. Eu nunca havia sentido esse ar de que eu estava errado. Será que eu estava errado ou é apenas algo da minha cabeça? O que essa garota fez comigo?
Durante a noite não consegui dormir direito, sempre ficava lembrando tudo o que havia acontecido, mas essa não era a primeira vez, então por que estava me incomodando tanto?
No dia seguinte mesmo super cansado e sem ter dormido direito fui para escola. Meu cabelo estava totalmente bagunçado, eu quase não conseguia abrir o olho na claridade, se eu me deitasse na grama dormiria ali mesmo.
Quando entrei na sala percebi que Akira não estava presente. Luna e Joseph pareciam estar tristes, então algo de errado havia acontecido. Isso estava me deixando com um sentimento estranho, mas eu não poderia me meter, já havia decidido que ficaria sempre sozinho e sem me meter na vida das pessoas.
Após a aula e durante a noite eu continuava pensativo, o que poderia ter acontecido para a Boa Samaritana ficar daquela forma. Eu poderia perguntar a Luna, mas o Joseph estava sempre perto e eu também não quero que pensem que ela é minha amiga então melhor deixar isso de lado.
No dia seguinte, após mais uma noite sem dormir direito estava eu na escola e novamente Akira não estava presente. Será que ela havia ido embora? Faria sentido à tristeza dos dois amigos, mas os professores continuavam falando seu nome em chamadas, então não creio que foi isso o que aconteceu. Nesse momento eu parei até os pensamentos, por que Akira não saía deles? O que está acontecendo comigo?
Antes do intervalo, no fim da aula, Tony me chama junto com Joseph e Luna. Será que era algo do dia que os dois me pararam para perguntar da Boa Samaritana?
_ Eu chamei vocês três para falar sobre Akira. Ela ainda não voltou para a escola e vocês dois são os melhores amigos dela, além de Isaack que ela teve bastante contato desde que veio para a escola.
Nesse momento eu pensei que o professor também iria me culpar por ter acontecido algo, mas antes que eu pudesse dizer algo o professor continuou falando.
_ A mãe dela disse que estava tudo bem quando a escola fez contato, que ela estava apenas indisposta, mas Akira não parecia nada bem, até porque não quis nem falar com ninguém da escola.
_ Então os professores não conseguiram falar com ela?
_ Não Luna!
Quando todos deram uma pausa na conversa olharam diretamente para mim e eu odeio me sentir o centro das atenções, então era só fazer o que eu sempre fiz... afastar todos.
_ Professor, a única coisa que posso dizer é que não sei de nada e não sou próximo dela.
_ Tudo bem Isaack.
_ Eu fui à casa dela esses dias junto com Luna, a gente queria saber o que havia acontecido.
_ E então?
_ Nada professor. Não conseguimos falar com ela, ou melhor, ela não quis falar com a gente. _ diz Luna.
Quando Luna disse que ela não quis falar veio um grande aperto no peito, como ela não queria falar se ela ama estar com os amigos?
_ A mãe dela até nos recebeu bem, disse que ela estava no quarto, mas Akira não quis nos atender. Luna até tentou falar um pouco a sós, caso fosse algo para garotas conversar, mas foi em vão.
_ E aconteceu algo com ela antes disso? Algo que deixasse ela nesse estado?
Na hora que o professor perguntou senti os olhos de Joseph em mim e não me enganei nenhum pouco. Ele me olhava com olhos do tipo "fale com o professor o que disse para nós".
_ Talvez ela só queira imitar uma pessoa que não gosta de ter amigos e vive se isolando de tudo. _ disse Joseph.
_ Joseph para!
_ Vamos escutar a Luna, talvez ela esteja com algum problema pessoal, mas se ela não vier na próxima semana, à escola terá que agir e ela pode até ser expulsa.
_ Expulsa? Mas teve outro aluno que faltou durante uma semana e agora está nas aulas, então por que ela tem que ser expulsa?
Começou de novo com o papo de falar de mim como se eu não estivesse no local e o pior que ele está até evitando falar meu nome.
_ Isaack faltou por uma semana, mas se houvesse faltado na outra não estaria aqui com a gente mais, além do mais a mãe dele já havia conversado com a diretoria da escola antes, diferente da mãe de Akira que fala que está tudo bem.
_ Então se tivesse faltado um pouco mais ela não estaria com esse problema!
Joseph disse isso olhando nos meus olhos, mas eu não esbocei nenhuma reação. Nada que ele me falava estava incomodando, eu tinha muita coisa na cabeça para pensar.
_ Professor, a única coisa que a mãe dela nos disse é que ela queria ficar sozinha e não queria ninguém lá. _ disse Luna com um sorriso meio forçado.
Acho que Luna falou isso apenas para mudar de assunto e tentar evitar que Joseph ficasse me olhando daquele jeito, mas nas palavras dela me veio algo na cabeça, eu me lembrava das palavras de Akira.
"_ Você está errado, não tem como querer viver sozinho. Eu tenho amigos porque tenho medo da solidão."
_ Professor, se não tem mais nada a tratar comigo, posso ir para casa?
_ Tudo bem Isaack, pode ir sim.
Fui direto para a casa e entrei no quarto pensando em tudo o que havia acontecido e Akira ainda não saia da minha cabeça. Escutei alguém subir as escadas e mesmo com todos aqueles pensamentos, se minha irmã me chamasse para o parque mais colorido, eu não iria negar.
_ Filho já chegou?
Minha mãe chegou perguntando e eu ainda não tirava Akira da cabeça.
_ Sim mãe, a Encrenca está em casa?
_ Não, por quê?
_ Não é nada mãe.
Minha mãe ficou me olhando e deu um grande sorriso, eu nunca importei de minha mãe ficar me observando e gostava muito do sorriso dela.
_ Filho, você está muito pensativo esses últimos dias, não fique com medo das coisas.
_ Eu não tenho medo de absolutamente nada.
_ Tem certeza Zack?
_ Sim e estou saindo.
_ Você saindo filho?
_ É importante.
Nem eu estava fazendo ideia do porquê estava correndo tanto e o porquê era tão importante, mas cheguei na porta da escola e fiquei durante um tempo olhando para o prédio.
Fui andando até a sala dos professores, onde estava Tony, ele me olhou e deu um sorriso. Fiquei meio sem graça, mas ele veio aproximando e me deixou com a cabeça totalmente confusa.
_ O que precisa Isaack?
_ Eu preciso muito do endereço de Akira, é muito importante.
_ Bom Isaack, eu não posso passar o endereço de alunos, mas eu sei bem que é por uma boa causa, então vou te entregar.
_ Obrigado professor.
O professor escreve o endereço em um papel e me entrega. Era um pouco distante, mas como eu estava sem conseguir pensar direito apenas fui correndo para o endereço.
Corri sem parar até chegar em frente a uma grande casa, na verdade era uma mansão incrível. Não entendi por que ela não quis que eu viesse a sua casa fazer o trabalho, mas tudo bem.
Fui até a porta e toquei a campainha, estavam demorando, mas pelo tamanho da casa não era difícil saber o porquê. A porta abriu e apareceu um homem velho já de cabelos brancos e uma barbicha também branca. Parecia um mordomo e ficou me olhando sem dizer nada.
_ Eu preciso ver a Akira, ela mora aqui, não é?
Eu fiquei parecendo um idiota, fiquei até com vergonha. O velho olhou para dentro sem me responder.
_ Madame!
Apareceu uma mulher muito elegante, cabelos castanhos presos em um coque, seus olhos verdes eram reluzentes, um vestido preto estonteante e algumas joias para completar. Ela ficou me olhando de cima a baixo, deveria estar se perguntando de onde eu saí, já que estava bem suado e minha roupa surrada.
_ Quem é você garoto?
_ Eu sou Isaack, da mesma classe de Akira. Como ela faltou nesses últimos dias, o professor me deu o endereço para eu passar as matérias.
Na verdade, o professor nem sabia o porquê eu iria lá e nem eu sabia, mas odeio a mentira, então assim estava bom.
_ Meu nome é Kátia Rodrigues, sou a mãe de Akira. Dois amigos de vocês vieram aqui para conversar com ela e não conseguiram, mas se você pensa que consegue.
Novamente ela me olhou dos pés à cabeça, minha vontade era de sumir dali, mas já que eu tinha ido não poderia voltar atrás.
Os dois saíram da porta e me deixaram entrar, mas ainda senti uma grande desconfiança nos olhares dos dois. O mordomo foi me levando até o quarto de Akira e bateu na porta, mas não recebeu nenhuma resposta.
_ Posso tentar senhor?
_ Fique à vontade!
Ele saiu como se isso não fosse mais do seu respeito, eu imaginei ele me vigiando na expectativa de que eu roubasse algo.
Bati na porta duas vezes, mas novamente ela não respondeu. Eu nunca saio de casa e saí para conversar com ela, então eu iria conversar.
_ Boa Samaritana, eu não saí da minha casa atoa, então é bom você abrir essa porta!
Mesmo sem a resposta dela ouvi um barulho, então ela realmente estava naquele quarto. Eu já estava começando a pensar que tinha sido enganado.
Continuei batendo na porta, mas sem êxito, eu já estava totalmente sem paciência.
_ Abre essa porta, eu já sei que você está em seu quarto, você fez barulho.
_ Vai embora! Eu não te chamei aqui!
Foi a primeira resposta que tive. A primeira coisa que pensei é que realmente não agi bem com ela e por isso ela me odiava.
_ Abre essa porta garota, não tem educação?
_ Você disse para eu não me aproximar, você queria ficar sozinho, então fique sozinho longe daqui.
Ela tinha um ponto, devolveu minhas palavras na minha cara e eu realmente mereci. Cada vez entendia menos o que eu estava fazendo.
_ Você está sendo egoísta, não disse que tinha medo de estar sozinha? O que está fazendo agora, me imitando? Então a Boa Samaritana é uma imitadora.
_ Vai embora!
_ Você não é Rihanna para fazer tanto show. Está mostrando quem é você de verdade? Sai desse quarto garota.
_ Você não entende nada Isaack, vai embora!
_ Eu cansei!
Me afastei até a parede e corri me atirando contra a porta, machucou um pouco meu ombro, mas não importei, fiz mais uma vez e consegui arrombar a porta do quarto da garota.
_ Você é louco?
Eu já estava com a resposta pronta, mas quando olhei para ela não tinha nada a ver com Akira. Seus cabelos castanhos estavam bem bagunçados, os olhos estavam muito inchados, parecia estar chorando a dias e quem sabe também não estava dormindo. Ela estava sentada em uma cadeira com roupas bem relaxadas e os pés na cadeira, enquanto abraçada as pernas, mas o pior foi quando vi uma lâmina em sua mão.
_ Você não pode entrar em meu quarto assim!
Nem prestei muita atenção no que ela falava, só ficava olhando para sua mão e comecei me aproximar.
_ Não chegue perto de mim!
Seu grito deve ter ecoado pela casa, mas como era gigante ninguém deve ter ouvido. Apenas peguei aquela lâmina e tirei da mão dela.
_ O que pensa que ia fazer com isso?
_ Isso não é da sua conta! Droga Isaack!
Ela começou a chorar novamente e correu me abraçando. Aquilo me deixou paralisado, eu queria tirar ela dali no mesmo momento, mas meu corpo não respondeu. Eu realmente não sabia o que fazer.
_ Viu só, eu não tenho uma vida perfeita.
Ela me soltou e se afastou um pouco se virando de costas.
_ Ninguém precisa ter uma vida perfeita.
Eu nem sabia o porquê eu disse aquilo, eu estava em uma situação que nunca pensei, só pensava em correr daquilo tudo.
_ Quem diria que a garotinha perfeita também sofre assim, chora, você vive em fingimento com aquela felicidade toda.
_ Desde pequena tentam me obrigar a ser uma pessoa que não sou. Meu pai não tem tempo, vive viajando. Minha mãe e eu não nos damos muito certo, ela quer que eu seja perfeita. Por ela eu estudava em outra escola, estudava música clássica, seria uma dama, mas eu não sou assim.
_ Apenas seja você mesma, com seus amigos, mas não precisa fingir tudo.
_ Não tem como. A filha de um empresário e de uma dama super sofisticada que viveu muito tempo na moda.
Ela ficava cada vez mais triste, mas não sou bom em confortar ninguém, ou melhor, não sou bom em ficar perto de ninguém.
_ Agora você entende o porquê tenho tantos amigos. Eu tenho um grande buraco e meus amigos me ajudam a tampar isso.
_ E mesmo assim não é o suficiente.
_ Não! Ainda tem algo que incomoda. Mas por isso eu queria ser sua amiga, quando estou sozinha, meus demônios me dominam.
_ E então você mente para os seus amigos.
_ O que! Eu não estou mentindo para ninguém.
_ O pior nem é mentir para eles e sim para si mesma.
_ Para eu mesma...
Akira se sentou na cama e me senti na obrigação de sentar também. Ela ainda estava com lágrimas nos olhos e parecia se segurar para não chorar.
_ Eu odeio a mentira e quem não a enxerga, mas você é uma boa pessoa. Mesmo com tanto sofrimento se mantém bem na frente dos outros para os fazer feliz.
_ Isaack...
_ Esse sofrimento não é bom e você deve se livrar dele. Eu também odeio a tristeza e todo o sentimento que ela traz.
Ficou um silêncio ensurdecedor e eu muito constrangido com aquilo tudo. Ouvi ela engolindo seco e se aproximando.
_ Por que você veio aqui?
_ Eu não sei.
_ Por que está me ajudando?
_ Eu também não sei.
_ Talvez apenas seja como eu.
_ Como você? Não sou um bom samaritano.
_ Você tenta ajudar as pessoas mesmo não estando tão bem.
Me levantei em um supetão, esfreguei meus braços com um grande cala frio.
_ Claro que não, isso me fez arrepiar.
Ela se levantou e ficou olhando me deixando mais constrangido que já estava.
_ Obrigado Zack!
_ Eu já disse para não... deixa para lá!
Ela apenas sorriu, foi o primeiro sorriso que vi dela. Nesse momento deu para entender muita coisa, principalmente o porquê ela ficou tão entusiasmada com minha família.
_ Bom, está na hora de ir.
_ Já está indo?
_ Não estou acostumado a sair de casa. Minha mãe e a Encrenca devem estar preocupadas.
_ Tudo bem!
_ Espero ver você na próxima aula, tudo bem?
_ Eu vou estar sim!
Saí da casa da Boa Samaritana e novamente sua mãe ficou me olhando dos pés à cabeça. Cheguei em casa e conversei um pouco com minha mãe que já estava empolgada, mas não contei muita coisa. Fui direto para cama depois de comer, dessa vez eu teria uma noite de sono mais despreocupado.
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