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De volta ao que realmente interessa...

A Missão "Amazônia em Chamas"

MISSÃO DADA É MISSÃO CUMPRIDA. O lema tão popular desde que o Capitão Nascimento o proferiu, em Tropa de Elite, era uma questão de honra para os militares na vida real. Não somente no BOPE do Rio...

As demais forças especiais acreditavam que a falha não era uma opção. Leona iria participar da missão na equipe de apoio e sabia que era sua grande chance. Não poderia haver falhas nas entregas. Ela se dirigiu ao hangar, quando recebeu a mensagem de Romano de que iriam decolar em cinco minutos. Teve que correr com a parafernália nas mãos; por sorte, um ajudante de ordens se juntou a ela, para ajudá-la.

Em lá chegando, Leona teve dificuldade de amarrar as coisas. Romano não achou isso ruim, o que estava contra ela, era o fato de estar sozinha com todo o material, enquanto o restante de sua equipe de apoio já estava a caminho do navio. E num helicóptero, era difícil conseguir prender tudo aquilo, ainda mais se não tivesse prática. Com pena, ele a ajudou. Leona se sentiu super constrangida.

-Os rapazes? - ele perguntou, num tom neutro, enquanto prendia as fivelas de segurança.

-O C-130 já está na pista da base aérea de Curitiba e, a esta altura, os atobás devem estar embarcando - disse ela, num tom profissional.

-Bom trabalho, Vargas – comentou ele, sabendo que ela precisava ouvir isso. E de fato, ela vinha sendo imprescindível na sua equipe de base.

Romano voltou-se para o piloto e girou o dedo no ar, sinalizando para partir. A aeronave rapidamente ganhou os céus do Rio de Janeiro, em direção ao litoral norte.

---

O C-130 havia decolado da base aérea de Curitiba, enquanto o quartel general dos CECOP deslocava-se por helicóptero para se estabelecer no navio da Marinha, estacionado no mar entre Belém e Macapá. O voo levava os atobás com os voluntários bombeiros do Paraná. Enquanto a equipe Charlie fizesse o reconhecimento da área e repassasse as informações para a equipe de apoio, as duas equipes (alfa e beta) saltariam sincronizadas, cada qual com um propósito.

O líder de salto iria ser JJ Ulrich, com apoio de Thor, por decisão unânime entre Salésio e Nestor. Para eles, eram escolhas naturais, pois os dois eram os responsáveis pelos equipamentos do grupo, em cada ação, em suas respectivas tropas. Num passado não muito distante, a tarefa costumava ser de Salésio, tanto no salto de uma equipe só quanto no salto misto (ambas as equipes, mais as cargas).

Por isso, Salésio se esforçou para não bancar o controlador, nem vigiar os passos de JJ e Thor. Cada membro tinha sua responsabilidade, nas equipes. Os líderes deveriam garantir que fossem exercidas a contento, porém, seria um desrespeito inferir sobre a incumbência de cada soldado. Era preciso confiar nos homens que estavam sob seu comando. Todos exaustivamente treinados e experientes. Era preciso extrair o que havia de melhor de cada um deles... No entanto, qualquer coisa que saísse errado, o líder trazia a culpa inteiramente para suas próprias costas.

Esta era a filosofia SEAL. Esta era a filosofia GRUMEC.

Esta também era a filosofia dos Atobás.

Conferidos os equipamentos de salto e transporte de ambas as equipes, alguns soldados aproveitaram os poucos minutos que lhes restaram para passar uma camada extra de maquiagem preta no rosto... E voilá, estavam todos preparados para a ação. A equipe beta, com Thor a frente, formou uma fila única e seguiu pelo meio da aeronave, de frente para a rampa aberta. Entre eles e a vastidão lá fora, havia quatro fardos de assalto que foram descarrilhados e jogados para fora num perfeito LBP¹, com o paraquedas de extração acionando outro, de sustentação.

O piloto e o responsável pela rampa da aeronave se comunicavam pelo rádio sintonizado, conferindo os cálculos de altitude, direção do vento, coordenados com o peso da aeronave. Os soldados acompanhavam a conversa em seus Headset². Toda e qualquer pessoa que não fosse essencial naquele momento, estava sentada na fileira de cadeiras laterais da nave, com o cinto bem afivelado e máscara de oxigênio no rosto. O barulho dos motores da nave era ensurdecedor, mas os atobás estavam habituados.

Na verdade, todos a bordo estavam habituados.

O sinal ficou verde, e o okay foi reproduzido por todos. Thor se lançou no vazio, seguido por seus companheiros. Diante deles, a escuridão ameaçadora convidava os aventureiros a explorá-la. E os guerreiros, a abraçá-la. A adrenalina já estava a mil. Eles estavam ansiosos pelo momento.

Formou-se a fila da equipe alfa. JJ assumiu a frente e fez um sinal positivo para Salésio, atrás dele, que por sua vez reproduziu por todos na fila.

O responsável posicionado ao lado da rampa conversou pelo rádio com o piloto. Os soldados acompanhavam a conversa, esperando o sinal verde. JJ checou mais uma vez as alças do meio e fez um sinal para Salésio, assim que ouviu do piloto que estavam quase sobre a área. Salésio reproduziu o gesto para Nelson, atrás dele, que por sua vez passou adiante.

O piloto começou a contagem regressiva a partir do cinco - como fez com a equipe anterior. Quando chegou ao um, o sinal ficou verde, o responsável pela rampa sinalizou "vai" para JJ, que por sua vez caminhou rapidamente na direção do vazio, deixando-se cair com uma leveza que só era fácil para quem assistia. Quem estava na pele, sabia que precisava pular da maneira certa, com todo aquele equipamento pesado, a fim de não ser pego por uma turbulência, ou corrente de ar e acabar danificando o paraquedas. Ninguém nunca estava livre de uma queda descontrolada.

Um a um, os soldados da equipe seguiram pela rampa e se jogaram sem hesitação, pois a hesitação poderia resultar em desastre - colidir em pleno ar; queda descontrolada; morte... JJ conduziu a formação, atento aos procedimentos, mas sem deixar de apreciar o cenário. A tarde estava indo embora, com o sol se pondo a leste, esparramando-se no horizonte numa linha incandescente. Estar lá em cima era muito próximo do que ele considerava "a sala de estar de Deus".

Sabe aquele lugar em que você toma cuidado para não danificar nada; que pede com licença, bem baixinho, com medo de não ser merecedor? Pois bem, a sensação de euforia era parecida, só que lá em cima, você era merecedor. Você era o escolhido de Deus para uma conversa muito pessoal... Onde palavras não eram necessárias, apenas a cumplicidade que falava mais alto e melhor do que a linguagem humana convencional.

Era você e Deus.

Sob as botas oscilantes de JJ, o mar verde da floresta Amazônica se estendia a perder de vista. Ele olhou para cima, certo de que em algum ponto estaria o novato com sua câmera... O timing de salto gerava uma bela imagem visual, como um balé, e Kurt não perderia aquilo por nada. Ele ficou por último para filmar todo o salto e estava com essa ideia maluca, de criar uma página dos atobás no instagram... Mas precisava apresentar o layout ao grupo; contar com a aprovação coletiva; depois apresentar a Salésio e Romano, a fim de receber sua aprovação.

JJ sacudiu a cabeça. Não gostava da ideia de divulgar as ações dos CECOP. Contudo, havia quem pensasse que o público civil devia conhecer os feitos (leia-se: serventia) das forças armadas. Não apenas por meio das imagens geradas para propaganda, mas as práticas do ofício. JJ não era a favor da exposição. Ainda mais de missões sigilosas. Ele, mais do que ninguém, sabia o preço que se pagava quando uma exposição acontecia. E como a missão na Amazônia tinha as suas peculiaridades, estava certo de que o grupo não iria concordar que toda a ação fosse aparecer na página que Kurt estava criando. Talvez, no máximo, alguns segundos pouco... identificáveis. Os soldados com caras de emojis... Sapos felizes, tarjas pretas, fosse o que fosse.

JJ conferiu o GPS de pulso e se preparou para o pouso. As duas equipes iriam pousar em lugares diferentes, seguindo missões diferentes.

A equipe alfa desceu na clareira apontada pela imagem por satélite, a ser utilizada durante a preparação. A clareira era fruto do desmatamento tão descontrolado quanto o atual incêndio - "festejado" pela mídia. Estavam acabando com a Amazônia, e não era de hoje... Milionários estrangeiros construíam mansões com a madeira ilegal que saía de lá. Tudo, referente à Amazônia, era vergonhoso... Inclusive os navios que passavam pelo Rio Amazonas, roubando a água limpa e despejando, no lugar, água salgada... Nenhum governo brasileiro, em toda a história do país, jamais impediu esse conjunto de descasos, crimes e atrocidades contra a humanidade e os seres vivos que dependem daquele ecossistema.

Política era algo que enojava os atobás. JJ sabia que Salésio, por ter se tornado líder da equipe, era o que ficava mais exposto a toda a sujeira política. Ele recebia ordens, como qualquer subordinado, mas procurava preservar seus homens das coisas que ele via, quando era obrigado a circular entre os burocratas. Contudo, não era possível evitar completamente, a política (gem) estava imiscuída em todas as instâncias de funcionamento do Estado. E os líderes eram mantidos ou tirados conforme atendiam ou não os interesses da cúpula que estivesse no poder, naquele período.

Não era só no Brasil.

Salésio começou a checagem, enquanto recolhiam silenciosamente seus paraquedas. Dentro da ZL³, Nelson deu conta de localizar os fardos. Eles se reuniram em torno deles, desmontaram e retiraram os equipamentos que iriam precisar. JJ pegou a moto dobrável e a remontou, saindo em seguida para realizar o reconhecimento. Em terra, ele assumia a função de batedor. Os demais remontaram os armamentos, esconderam os restos dos fardos e começaram a seguir o curso ditado pelo navegador do grupo, Nelson. Ele também fazia a sintonia de rádio com a base.

A clareira deu lugar à selva. Salésio falou pelo headset: - Rebordosa, câmbio - ele esperou a resposta.

-Rebordosa toda ouvidos - foi a resposta de Leona. - Câmbio!

De onde estava JJ sorriu. Era bom ouvir a voz calma, modulada, e bem humorada de Leona, especialmente, quando estavam nas missões de treino. Ele se sentia mais focado sabendo que ela estava em seu ouvido, figurativamente falando.

Ele tinha que pensar nisso! Que droga! Agora teve um flash de Leona literalmente em seu ouvido... Muito habilidosa... O amiguinho de baixo começou a se agitar e ele xingou baixinho.

-Positivo, no alvo - foi o comentário de Salésio, arrancando JJ dos pensamentos indecentes. - Estamos com o pé na estrada, câmbio.

-Entendido... Posição identificada, câmbio. Estamos vendo os senhores. Terão uns dez quilômetros até o alvo. O batedor já está fazendo o perímetro.

Espertinha... Sim, ele estava. Ela devia estar conectada ao satélite emprestado para a missão. Quanta eficiência... Leona conseguia surpreendê-lo todas as vezes. Mas ele não a deixaria saber disso. Primeiro, porque soaria condescendente, e ela não iria gostar. Segundo, porque eles não podiam se envolver (ultimamente, ele vinha dizendo isso a si mesmo com muita frequência). Não era certo. Havia muito em jogo. Carreiras, corações... Uma filha carente e ciumenta. E ele não queria magoar a filha e nem entregar o coração para ninguém. Relacionamentos precisavam ser de uma noite só e de preferência, com completas e lindas desconhecidas. Sem exigências ou cobranças. Tudo muito simples. Sexo e nada mais.

Acontece que ultimamente, ele estava querendo mais. E estava muito, muito assustado. Era irônico reconhecer que ele podia ser um guerreiro destemido no campo de batalha, mas um menino em se tratando de lidar com o próprio coração.

Então, por via das dúvidas, era melhor esconder o coração das garras pintadas e perigosas das mulheres.

JJ escaneou a sua área e freou a moto ao avistar o ponto ideal de observação, mais adiante. Saltou e escondeu o veículo num conjunto de moitas, marcando o terreno para se lembrar depois. Tirou da mochila o traje de camuflagem na selva para snipers, vestiu e conferiu o GPS, antes de continuar a pé. Depois de uma caminhada de dez minutos, ele alcançou o alvo... Soube disso no instante em que viu as luzes da fogueira. Chamou pelo rádio.

-Batedor estabelecendo perímetro, câmbio - disse ele para ninguém em particular, mas sabendo que tanto Leona quanto Salésio estavam ouvindo.

Àquela altura, o sol já tinha se posto completamente. A equipe alfa continuou na mata fechada, em meio aos sons produzidos pelos animais noturnos. Eles haviam feito o curso intensivo na selva, estavam acostumados a missões do tipo... A selva tornava-se parte deles e, silenciosos, avançavam com atenção redobrada.

Pelo rádio, Leona informou-os a respeito da direção dos ventos e dos incêndios. O alvo, por outro lado, continuava fixo; o que era uma notícia positiva. Eles iriam conseguir encurralá-los.

JJ rodou ao redor do alvo, avaliando a disposição do acampamento e as posições das sentinelas, alcançando um ponto privilegiado para colocar seu rifle de alta precisão. Ele se esgueirou até ser confundindo totalmente com o chão da selva.

-Tenho vista para o mar, câmbio.

-Entendido - disse Salésio. - Relatório.

-Fogueira acesa. Homens em idade militar distraídos. Dois ou três a vista. Mas pode haver mais dentro das tendas, que são duas. Vejo movimentação lá dentro, portanto, chutaria uns cinco caras no total. Quanto às armas... Vejo rifles de longo alcance. - ele regulou os binóculos especiais. - Eles têm armas à cintura. Mas...

-Do que precisa, alfa dois? - perguntou Salésio.

-Uma imagem por satélite seria legal - debochou JJ.

-Rebordosa? - perguntou Salésio.

-Já estamos providenciando, câmbio.

E ela estava mesmo, concentrada no seu computador por satélite a fim de que pudesse fornecer ao computador portátil de Nelson os dados solicitados.

Nelson contemplou as imagens que apareceram na tela e interpretou-as.

-Alfa dois, câmbio, atrás da tenda, a sua direita, um veículo de transporte.

A caminhonete poderia conter o material inflamado usado nos incêndios. Neste caso, qualquer tiro descuidado e o veículo se tornaria uma bomba de proporções apoteóticas.

-Alfa dois, aguarde o sinal verde para inspecionar e neutralizar - disse Salésio.

-Alfa dois no aguardo - respondeu JJ.

Logo a equipe alcançara o perímetro delimitado pelo batedor. Eles se distribuíram nas sombras, em torno do acampamento e estabeleceram cada qual sua posição.

-Bravo, aqui é Alfa em posição - disse Salésio para Nestor.

-Aguarde, alfa - foi a resposta de Optimus Prime.

JJ tirou o chiclete e começou a mascar, enquanto esticava suas pernas. O traje de camuflagem não era confortável e fazia um calor dos infernos. Pelo menos, estava protegido dos mosquitos. Checou o rifle de longo alcance, a mira e o cão, antes de se deitar na posição certa.

-Rebordosa está aí? - perguntou.

Franzindo o cenho, Leona endireitou as costas na cadeira.

-O que precisa Alfa dois? - perguntou cautelosa.

Ele sorriu consigo mesmo, não poderia dizer o que precisava ali, para todo mundo ouvir.

-Cheque os movimentos no acampamento, do lado direito, sentido por do sol.

-Certo, aguarde, câmbio.

Ela o fez e informou: - Um dos alvos está parado a 36, outro está a poucos metros de você, em 05, e outro está ao sul, em 43. O outro entrou na barraca.

-Entendido, câmbio - foi a resposta suave.

Leona sentiu um arrepio. De repente, ela escutou a ordem de Romano:

-Atenção, comandantes, executar.

E as operações sincronizadas tiveram início.

---

Os CECOP ficaram hospedados no Hotel de Trânsito4 do Espadarte, na Vila Naval dos Oficiais (acerca de quatro quadras da base naval de Val de Cães), depois de terem sido recolhidos pelo helicóptero que os deixou na imensa Baía de Marajó, para se encontrarem com a equipe de apoio e o contra-almirante. Eles ocuparam os alojamentos preparados para recebê-los e a cozinha da base os aguardava com um lauto jantar. Afinal, a missão foi um sucesso.

Eles tinham libertado os missionários, neutralizado os incendiários e, assim, limpado o caminho para que os bombeiros voluntários e os guerreiros da selva pudessem avançar até focos de incêndio, sem maiores preocupações. O alto comando estava satisfeito. Mas isso pouco importava para eles. Era a satisfação de Salésio e Romano que lhes interessava. Os atobás eram movidos pela admiração por seus líderes, um patriotismo exacerbado e o desejo de servir. Qualquer coisa fora desse trinômio, era sumariamente descartado.

Então a missão foi um sucesso, ninguém se feriu gravemente, os alvos foram presos e conduzidos para interrogatório na Sede da Polícia Federal, os homens e mulheres de diferentes estados e forças puderam retomar o combate ao fogo...

Por que ele não se sentia satisfeito? Por que aquela constante inquietude?

Bem, ele estava sem transar há duas semanas... Bastava decidir a questão, partir para o gol, rodar a pista... Mas ele andava muito seletivo, ultimamente. Não queria qualquer mulher. Queria... Leona.

Aí estava o reconhecimento. A constatação do fato. A aceitação. Não podia escapar, evitar, ou adiar seus sentimentos.

Bem, podia tentar...

Era só sair por aí e certamente encontraria companhia para a noite.

De banho tomado, olhou através da janela do seu quarto. A calma reinava na vila, àquela hora. Tomou a decisão. Arrancou a toalha amarrada à cintura e jogou sobre a cama, com displicência, antes de começar a se vestir.

Pegou a carteira, o celular, checou as mensagens... Nenhum recado do chefe. Provavelmente, Salésio deixaria o pessoal descansar e faria a reunião de avaliação somente no dia seguinte. Ele pegou as chaves do quarto e saiu... A noite estava maravilhosa para uma caminhada, a brisa fresca e o céu estrelado. Ele cumprimentou o praça na guarita e atravessou a rua em direção ao bar que ficava em frente.

Entrou no bar, que tinha um quê de night club, e escaneou o ambiente com o olhar. Seu coração acelerou ao reconhecer uma silhueta feminina de costas para ele, sentada junto ao balcão. JJ a reconheceria até de olhos vendados! Hesitou na entrada. Afinal, Leona ainda não o tinha visto. JJ poderia sair e procurar outro lugar... Mas, como sempre, foi atraído como um ímã.

Caminhou em direção a ela, cogitando se ela estava ali pelo mesmo motivo que ele.

- Esperando por mim? – indagou, de chofre, pulando no banco ao lado. Leona também pulou, só que de susto.

Ela levou a mão ao busto e o olhar dele acompanhou.

-Te assustei, moça? - ele perguntou, com voz arrastada.

-Não, eu pulei porque não fiz ginástica hoje - sua cara enfezada despertou uma gargalhada espontânea em JJ. E ele não era de rir com frequência.

Ela sabia muito bem disso. E sabia o motivo. A perda da esposa... Leona achava que JJ jamais tornaria a amar novamente. Seu coração só tinha uma dona: a filha pequena. E por mais incrível que pudesse parecer, isso era uma das coisas que ela mais admirava nele. Não queria estragar a admiração que sentia por aquele homem com algo tão frívolo quanto uma atração sexual...

O problema é que a atração levou a melhor. E agora nenhum dos dois sabia muito bem como lidar com aquilo. Quer dizer, ela tinha essa impressão, mas quanto ao homem diante dela, não saberia dizer. JJ era uma incógnita. Ele não só tinha o coração blindado, como indomável.

Como dizia a vovó de Leona, dona Olires, JJ "era muita areia para o meu caminhãozinho".

-Já passou da sua hora habitual de dormir... – ele comentou casualmente, olhando para o relógio. - Está esperando alguém?

Ela ficou desconcertada... Claro que sendo uma equipe unida e todos trabalhando juntos, acabavam conhecendo a rotina e as manias uns do outros. Mas daí ele perguntar se ela estava esperando alguém... Era muita ousadia!

-E se eu estiver? - devolveu a pergunta, num tom casual, macio, igual ao adotado por ele.

-Nesse caso, devo desocupar o banco - disse JJ, fazendo menção de se levantar. Como ela não respondeu, ele alteou suas famosas (e sexies) sobrancelhas grossas... Aquelas que ela tanto admirava, muito masculinas, que deixavam doidinhas, doidinhas as menininhas caçadoras de militares.

-E aí? Está esperando alguém, ou não? - ele repetiu a pergunta, num tom mais incisivo. Ela quase detectou um traço de irritação em sua voz. Quase... JJ era um cara tão controlado que às vezes ela sentia vontade de bater na cara dele, para ver se arrancava uma reação.

Por isso, a irritação foi algo surpreendente. E reconfortante.

-Não, não estou – decidiu ceder, só um pouquinho.

Ele balançou a cabeça, como se estivesse refletindo a respeito de alguma coisa.

-E não acha que é muito perigoso estar solta na pista a esta hora da noite? Como vai voltar para o quartel?

Agora estava lá, a tal irritação. Mas ela também começou a se irritar, uma vez que não tolerava machismos. Muito menos que se metessem com sua vida pessoal.

-Não sei se você reparou, JJ, mas o quartel fica do outro lado da rua - disse ela, com toda a calma do mundo.

Afinal, dois poderiam fazer aquele jogo.

Ele apenas meneou a cabeça.

-É... Fica... Mas para fazer maldade, muita coisa pode acontecer nos cem metros que te separam do quartel... Não acha?

-Sou faixa preta em tae-kwon-do.

-Eu sei, fui eu quem te treinei... Esqueceu?

-Não, não esqueci.

Como poderia esquecer aqueles momentos, que provavelmente desencadearam a tensão sexual entre os dois? Como poderia esquecer que, por mais que tentasse, nunca conseguiu derrubar JJ no tatame. E ele a derrubou todas as vezes, com um sorriso jocoso, dizendo que "a natureza estava a seu favor". Só porque era homem? Um dia ela devolveu: "Se disser isso de novo, eu vou acertá-lo onde dói mais e talvez você nunca mais possa ter filhos".

Era uma brincadeira. Mas ao falar em filhos, ela desencadeou lembranças que fizeram JJ se retrair. Leona nem pode se desculpar, na época, pois JJ saiu do tatame sem olhar para trás.

De volta ao presente, ela ouviu JJ dizer algo.

-Perdão, pode repetir? – ela pediu.

-Então, - ele não repetiu, limpando a garganta e olhou ao redor à procura do bartender. - Quero o mesmo que a moça!

Ela franziu a testa.

-Pureza?

Ele fez uma careta.

-Quero uma Henniken - ele rapidamente se corrigiu.

O bartender se afastou para pegar a bebida, enquanto Leona flagrava JJ rindo sozinho.

-O que foi?

-Nada - ele comprimiu os lábios.

-Vamos lá, compartilhe a piada!

-Você é a única garota vistosa que eu conheço que toma Pureza, num night club.

Ela jogou o cabelo para trás, sem perceber que JJ não perdeu o gesto.

-Defina "vistosa" - ela pediu, com o fogo da batalha nos olhos verdes. Ah, como ele adorava isso nela.

-Ora... – começou JJ, como quem não quer nada: - Você sabe que é um mulherão! E ver um mulherão num local como este, onde as pessoas tomam bebidas estilosas para impressionar e... caçar... Soa um tanto fora de contexto.

-Em primeiro lugar - ela levantou o dedo, sem conseguir filtrar muito bem os elogios das críticas, que JJ tinha mania de misturar na mesma frase. - Eu bebo o que quero, porque quero. O que os outros pensam não me interessa. Segundo, eu não vim para caçar!

O sorriso dele se ampliou porque, no fundo, era o que queria ouvir.

-Ah, não? Bom saber...

Ela ia falar mais alguma coisa, mas esqueceu, diante do comentário dele.

-Como assim?

-Como assim, o quê? - ele se fez de desentendido, o demônio moreno maravilhoso que ela estava louca para pular em cima, mas nunca daria a ele a satisfação de saber.

-Você disse "bom saber".

-Sim, porque do contrário, eu ficaria decepcionado - ele comentou baixinho, olhando para a garrafa de cerveja suada, que o bartender colocou diante dos seus olhos. - E eu detesto me decepcionar com as pessoas.

Ele levantou os olhos e o impacto do que ela leu em seu olhar deixou-a com as pernas bambas. Ainda bem que estava sentada.

-O que está acontecendo aqui, JJ? - ela perguntou, também baixinho.

-Está acontecendo - ele disse, tomando um longo gole da cerveja, antes de se voltar para ela de novo. - Que eu estou cansado de nos ver andando em círculos em torno um do outro e decidi tomar uma atitude.

-E isso quer dizer o quê? - ela quase gaguejou.

O sorriso dele entortou. JJ virou para o bartender e disse: - Está bem do jeito que eu gosto: estupidamente gelada.

Ele inclinou a cabeça e o corpo enorme na direção do banco de Leona, até que eles ficassem quase testa com testa, nariz com nariz, respiração com respiração.

-Você nunca foi uma garota obtusa. Por favor, não comece agora - disse ele, junto aos seus lábios.

Ela tentou ganhar tempo, afastando-se um pouco para alcançar a própria bebida. Tomou um longo gole. A bebida já estava meio morna, sem gás, e ela quase fez uma careta. Dadas as circunstâncias, porém, estava pegando fogo por dentro... e a culpa não era o calor úmido de Belém.

Ele a deixou ter um pouco de espaço. Sabia que precisava digerir a ideia e o convite implícito. Bebeu da própria cerveja, antes de tornar a falar:

-Não precisa temer nada de mim, Leona. Eu a respeito mais do que muitos caras que conheci... Até mesmo no BOPE. Você uma guerreira. Uma luchadora. Faz parte de nós, e mesmo que a gente se envolva, isso nunca vai mudar. Mas a escolha é sua.

-Escolha?

-De nos dar uma chance. - Ele encolheu os ombros. - Porque eu já desisti de tentar fugir disso. Quero repetir.

Ele não precisou explicar o que desejava repetir. Ela sabia muito bem. Refletiu um pouco. Depois decidiu que estava na hora de não refletir tanto assim. Às vezes, o melhor era deixar o barco correr. Ela encarou JJ de lado e ele leu a resposta em seu rosto. Estendeu a mão para ela, enquanto com a outra mão jogava um punhado de notas sobre o balcão.

-Fique com o troco - disse para o bartender.

Os dois saíram para a noite quente, em direção ao ponto de táxi. Leona não precisou de muito para entender que JJ iria levá-la a um hotel longe da base. Antes de embarcar no veículo, ela teve um vislumbre da lua enorme que dominava o céu e pensou... Uma noite romântica. Por que não? O dia, a Deus pertence, mas a noite é dos amantes.

---

Leona sentiu o ar faltar. Caiu direto para os braços de JJ. Ele a abraçou com força, sua respiração também entrecortada. Eles ficaram assim por muito tempo, juntinhos. Até que Leona sentiu necessidade de se ajeitar e ele a colocou ao seu lado, na imensa cama de casal. Mesmo assim, sentindo necessidade de contato, puxou-a para junto de seu peito. Queria aquela longa cabeleira caramelo (que ela mantinha sempre presa num coque muito apertado) solta e esparramada sobre o seu peito.

Soltou um suspiro satisfeito e exausto.

-Isso foi... - ele disse.

-Eu sei - ela respondeu.

Os dois riram. E foi a mesma magia da primeira vez. Voltaram a ficar em silêncio. Um silêncio confortável que não durou muito, pois JJ procurou os seus lábios, ansioso para prová-los. Eles se beijaram longamente, os sons se misturando com a respiração. Então ficaram em silêncio de novo.

-Sabe qual é o meu maior medo? - ele disse, de repente.

JJ com medo? Ela nunca pensou em ouvir tal disparate. Levantou a cabeça de seu peito e fitou-o.

-Não, qual? - disse, baixinho.

Ele suspirou, acariciando o braço dela, distraído...

-Não é o inimigo, ou as missões... Eu encaro qualquer coisa. Mas tenho muito medo de colocar uma mulher na vida da minha filha e ela se decepcionar.

Agora estava entendendo. E ele tinha razão, como pai.

-Eu não preciso entrar na vida dela, se você não quiser - Leona respondeu.

JJ fechou a cara.

-O que quer dizer? Que topa ser apenas a minha amante?

Ué, não é isso que um homem gosta de ouvir? Que não precisa oferecer compromisso depois de levar uma mulher para a cama?

-Eu também não me perdoaria se decepcionasse sua filha, JJ - ela tentou explicar. - Não sei nem se eu seria uma boa mãe, quem dirá uma influência pra uma garotinha que perdeu a dela.

Ele refletiu sobre o que ela falou, erguendo os olhos para o teto.

-Acontece que eu não te vejo como a trepada de uma noite - ele disse, num tom suave e duro, a um só tempo.

Leona sentou-se, mas ele segurou o seu pulso com gentileza, para que não se afastasse.

-Eu quero você na minha vida. Mas o pacote é completo. Eu e minha filha. Você estaria disposta a aceitar?

-Primeiro, porque a gente não vê se damos certo juntos...? - ela tentou contemporizar. - Vamos deixar o barco seguir e se as coisas se encaminharem, podemos pensar no próximo passo.

Não era exatamente o que ele queria ouvir, mas era lógico. Tão lógico que poderia ter sido dito por Salésio ou Romano. Talvez isso o tenha deixado mais puto ainda. Porque ele queria que ela fosse menos racional e mais... interessada. Era o que ele esperava de uma mulher, interesse.

Ela pareceu ler seus pensamentos, porque se inclinou e o beijou na face, com suavidade.

-Eu quero você, JJ. E eu respeito muito você. Podemos tentar, e se dessa tentativa sair alguma coisa boa, vamos em frente. Mas eu acho que assim, agindo com cautela, iremos prevenir que sua filha sofra desnecessariamente.

Ele acabou assentindo com um gesto de cabeça.

-Eu teria tempo para sondar o espírito dela e preparar terreno - concordou. - Angélica sempre me teve só para ela, depois que a mãe... Bem, depois que Ariadne morreu.

Ela percebeu o quanto era doloroso para ele dizer o nome da esposa morta. Estava na cara que JJ nunca voltaria a amar outra mulher como amou Ariadne. E ela não queria ser a sombra da falecida. Afastou a pontada de dor que tais pensamentos lhe causaram.

Limpou a garganta e tentou parecer casual.

-Sim, e ela está entrando na pré-adolescência - argumentou. - Um período delicado para qualquer jovem. Vamos com calma.

Ele virou a cabeça de repente e puxou Leona pelos cabelos até que ela tivesse que se deitar sobre o seu peito peludo.

-Sabia que você é fantástica?

-Sabia sim! - ela forçou uma risada despreocupada.

-E modesta - ele riu também. - Quantas virtudes!

JJ gargalhou e então a beijou rápida e duramente. Talvez um pouco duramente demais.

Leona se levantou, sentindo os lábios latejarem. Caminhou para o banheiro, enquanto ele próprio juntava as roupas espalhadas pelo quarto. De repente, o celular dos dois soou ao mesmo tempo. Eles trocaram um olhar de entendimento e correram para o banheiro.

-Ei, eu cheguei primeiro - ela reclamou, empurrando-o sem sucesso para o lado.

-Vamos ter que tomar banho juntos - disse ele, ligando o chuveiro.

Leona não discutiu. Precisavam ser rápidos para chegarem à vila dos oficiais. Caso contrário, Salésio daria uma bronca nos dois.

---

Notas de rodapé:

1 - Lançamento de Bordo Pesado.

2 - Fones de ouvidos

3 - Zona de Lançamento

4 - Hotéis próximos das bases e vilas de oficiais, ou dentro das vilas de oficiais, para os militares que precisam se deslocar pelo país em função do trabalho.

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