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Plano de negócios

O jantar foi surreal. Derek deu um pulo rápido em casa, só para estar com Lara; mal beliscou o jantar e voltou para o que Gislaine imaginava ser o quartel general. Pelo jeito do casal, achou que estava tudo bem no checkup para reingresso nas forças especiais. Quem estava de licença, e com o comando em suspenso, era Spencer. Pelo menos, foi o que entendeu da conversa entre ele e Derek.

Depois que Derek partiu, ao anoitecer, alguns de seus companheiros e moradores do condomínio foram para a praia. Ficaram batendo papo e bebendo diante de uma fogueira improvisada (dentro de um latão vazio já todo detonado).

Gis não aguentou ficar com eles muito tempo. Como não entendia a língua direito e estava exausta da viagem, do fuso horário, etc, ela se levantou, espanou a areia da bunda e avisou que iria se deitar.

Notou que, enquanto se afastava, Spencer a acompanhava com o olhar. Aquele olhar sisudo e penetrante... Que droga, ele tinha um jeito de olhar que a deixava apreensiva. Às vezes de pernas bambas. Às vezes com raiva.

Às vezes...

Ela se sentiu mais do que aliviada em escapar daquele sujeito enervante.

Gislaine perdeu a chegada de outra viajante brasileira ao condomínio de Virginia Beach. Uma chegada inesperada para a maioria das pessoas, exceto para Lara ou Celeste, que foi buscá-la no aeroporto. A viajante teve tempo de colocar sua mala num dos quartos de hóspedes e trocar a roupa e os sapatos que usou desde o Brasil, por um par de sandálias, shorts e camiseta.

Ela então seguiu Celeste pelo caminho entre as dunas... Quando a fogueira surgiu ao fim da trilha, os olhos de Leona automaticamente encontraram os de JJ Ulrich. Talvez, porque os dois estivessem tão sintonizados que automaticamente foram atraídos um para o outro. Leona estava ciente de que os olhos dele estavam cravados em seus movimentos, mas fingiu não tê-lo visto. Estava na defensiva, com medo de uma reação negativa. Os dois tiveram uma DR antes que ele viajasse...

JJ estreitou os olhos. Depositou a cerveja calmamente sobre o tronco de madeira e se aproximou a passos lentos.

-Senhoras - cumprimentou, olhando brevemente para Celeste e se concentrando em Leona.

Celeste se controlou para não rir. Os dois eram óbvios demais. Pelo menos, para ela. Mas para os homens... Era melhor que Salésio e Romano não percebessem.

-Ah, lá está o meu marido - anunciou, vendo que Leona e JJ não conseguiam nem tirar os olhos um do outro. - Os dois precisam melhorar o disfarce.

-Perdão, senhora? - JJ franziu o cenho, parecendo genuinamente espantado.

O sorriso de Celeste se alargou.

-Assim está melhor, JJ - deu um tapinha em seu ombro antes de se afastar, deixando os dois entregues a própria sorte. Planejava distrair o marido o suficiente para que ele não percebesse o clima.
Tão logo ficaram a sós, JJ se inclinou para Leona.

-O que está fazendo aqui? - perguntou, baixinho.

Leona levantou a cabeça, alerta.

-Eu fui convidada para o casamento. Seria falta de educação não comparecer. Além do mais, quem recusaria uma viagem como esta?

Ele balançou a cabeça, sem saber se sentia decepção ou alegria.

-Entendo... - e concordou: - Quem recusaria, não é?

-Não, não entende - disse ela, chateada. Sabia que a reação de JJ poderia ser negativa, mas intimamente esperava que fosse calorosa.

JJ travou, como sempre acontecia quando algo que ele queria muito estava ao alcance das mãos, mas não podia tocar. Ele havia feito o primeiro movimento, e Leona deixara claro que os dois deveriam ir devagar. Ele não gostava de coisas nebulosas. O relacionamento com sua esposa fora sempre transparente. Com Leona, era uma surpresa a cada dia... A experiência do casamento não poderia ser usada como parâmetro de comparação.

E Leona não parecia particularmente interessada em abrir mão de sua independência.

JJ não sabia lidar com uma mulher como ela. Além do mais, era difícil aceitar que a vida continuava independente do que ele viveu antes. Abriu a boca, na tentativa de se explicar, mas deve ter sido lento demais, porque Leona sorriu friamente e encerrou o assunto:

-Vou procurar a noiva para cumprimentá-la e oferecer minha ajuda. Com licença.

Sem esperar uma resposta, ela se afastou, gingando um pouco ao pisar na areia irregular. Ele a observou se juntar às mulheres e ficou lá parado, sem saber como agir.

---

Gislaine entrou na casa de Lara e foi direto para o seu quarto, pegou o pijama, a nécessaire e saiu de novo, rumo ao banheiro dos hóspedes, localizado no final do corredor. Trancou a porta por precaução e suspirou de alívio. Colocou as roupas sobre a tampa da privada e, com um bocejo escandaloso, começou a tirar a roupa de viagem. Sentiu-se tonta, quando se abaixou para desamarrar os cadarços dos tênis. Precisou se apoiar na pia. Respirou fundo, devagar, antes de voltar a sua tarefa. Então, lembrou-se de que tinha deixado os chinelos no quarto.

Abriu a porta do banheiro e espiou o corredor. Ninguém. Descalça, só de calcinha e camiseta, correu para o quarto, pegou os chinelos, correu de volta e fechou a porta do banheiro.

O coração aos pulos.

Ela sentou sobre a roupa que estava em cima da privada, e terminou de tirar o traje usado no avião. Sentiu um cansaço terrível tomar conta de si. Seu braço direito perdeu um pouco da força ao longo do dia. Gis colocou a roupa "suja" na pia, girou para o chuveiro e tentou entender como ele funcionava. Foi mais palpite - tentativas, erros e acertos. Logo conseguiu que saísse um jato forte. Enquanto a água esquentava, ela ouviu o arranhar de unhas na porta. Devia ser Mister Bear, o cão de Derek que vivia vigiando as pessoas e pedindo para jogarem a sua bolinha. Ela pensou em espiar, no entanto, uma voz masculina muito conhecida chamou o cachorro para a sala.

Gislaine gelou. Se tivesse saído um pouco mais tarde para buscar os chinelos, teria se deparado com Spencer no corredor. Mas, e daí? O que é que tem? De camiseta e calcinha não é propriamente... nua. Claro que seria, no mínimo, constrangedor. Ela estremeceu, só de imaginar a cena.

Entrou no chuveiro e suspirou de alívio. Os músculos doloridos agradeceram. Gislaine se ensaboou toda, dos pés à cabeça. Lavou os cabelos com xampu e condicionador. Enxaguou-se rapidamente e aproveitou os minutos extras para relaxar os ombros debaixo da água gostosa. Estava precisando de uma massagem. Sentindo as pálpebras pesadas, ela desligou o registro e puxou a toalha do pequeno armário que havia sob a pia. Enxugou-se rapidamente e depois, vestiu o pijama.

Secou os cabelos com o aparelho que ficava no armário, e os escovou. Deu uma olhada no espelho, achando-se abatida. "Nada que uma boa noite de sono não resolva".

Respirando fundo, ela saiu do banheiro e caminhou devagar pelo corredor. O ar frio em contraste com o abafamento do banheiro provocou-lhe um choque térmico. Ela passou pela sala, mas não viu nem Spencer, nem Mister Bear. Entre aliviada e desapontada, ela foi para o quarto e acendeu as luzes.

Sentou-se na cama e reconheceu o triste fato: estava tão cansada que não conseguiria dormir tão cedo. Deixou a porta aberta, a luz acesa, e sentou-se na cama, decidida a mexer em seu plano de negócios. Ligou o notebook e abriu os arquivos de sua apresentação em português. Depois que estivesse pronta, teria que dar um jeito de traduzir tudo para o inglês. .

Um movimento no corredor a fez levantar a cabeça. Spencer estava parado, com o ombro apoiado no batente, olhando pra ela daquele jeito que tanto a enervava.

-O que você está fazendo? - ele perguntou baixinho, em português. - Não deveria estar dormindo?

Ela poderia lhe dar uma resposta desaforada. No entanto, optou por ser sincera.

-Estou cansada, mas o sono não vem. Decidi trabalhar neste projeto.

-Projeto? - ele abriu a porta um pouco mais, cheio de curiosidade no rosto.
Ele agora parecia um menino, com aquele boné virado para trás e a camiseta de time de basquete.

-Quer ver? - ela mal acreditou que a pergunta saltou de sua boca.

-Claro.

E de repente, ele tinha puxado a banqueta da penteadeira para junto da cama. Fechou a porta com o cotovelo. Ele era tão grande que aquele quarto pareceu encolher com a sua presença. Gis engoliu em seco. Ele sentou na banqueta e ela inclinou a tela do notebook na sua direção.

-Este é um plano de negócios que elaborei para Indy.

Ele fez que sim com a cabeça. - Lara falou por cima. Indianara é cabeleireira, não é?

Gis concordou com um aceno.

-Sim, ela é. Trabalhou durante anos num salão que ficava perto do prédio onde Lara trabalhava. Assim como eu, só que eu trabalhava como caixa de um supermercado ali perto. Nós nos conhecemos assim. Trabalhávamos na mesma rua. - Seu sorriso diminuiu ao se lembrar do que aconteceu. - Depois do furacão, todas nós perdemos nossos empregos. Lara, Indy e eu tivemos que fazer as coisas por conta própria. Assim como a maioria dos moradores.

"Lara começou a dar aulas de português para estrangeiros, Indy abriu o próprio salão, meio improvisado, dentro de sua casa, e quando eu saí do hospital, comecei a ajudá-la".

Ele desenhou no ar, com o dedo, enquanto perguntava: - E de ajudar no salão a orientar pequenos empresários, como isso aconteceu?

-Pois então... - Gis inclinou a cabeça. - O negócio de Indy começou a crescer...

-E você tem orientado a expansão do negócio - ele complementou, com um movimento breve de cabeça, que imitou o seu.

-É, bem, um pouco... - Gis não soube a razão de ter ficado constrangida, de repente. - Comecei a fazer isso pra ela e algumas outras pessoas. Depois frequentei uns cursos de administração de ensino médio... Fiz uma faculdade a distância e peguei o meu diploma.

Ele abriu um sorriso, percebendo que ela ficou vermelha. Gis se apressou em abreviar a história:

-Enfim, Lara sugeriu que Indy abrisse uma sucursal aqui, em Virginia Beach. Indy gostou da ideia e me pediu para bolar um plano de negócios. Eu agora tenho que sondar o mercado daqui para conseguir apresentar um plano viável.

Ele ficou em silêncio, olhando para cima. Gis não sabia se estava achando a ideia boa ou ruim.

-Mas para você conseguir fazer isso, terá que aprender a falar melhor o inglês - ele disse, baixando os olhos do teto para encará-la. Seu tom foi neutro, não soou como uma crítica, mas como um alerta. E o pior era que ele estava certo.

-É, eu sei - Gis balançou a cabeça, conformada.

-Posso te ajudar com isso - ele ofereceu, inesperadamente.

Essa oferta surpreendeu a ambos! Mas Spencer não voltou atrás. Ele nunca voltava atrás, em se tratando da sua palavra.

-Eu aprendi o português, - explicou. - Portanto, sei mais ou menos como vocês pensam... Posso te ensinar a entender como nós pensamos.

Ela o encarou, meio desconfiada. Daí, ele acrescentou:

-Se ajudando você, estarei ajudando Lara, então...Eu ajudo. Pelo menos, por hoje.

Claro, desde o início, sua preocupação era com a futura esposa do seu amigo. Esses SEAL formavam uma espécie de confraria. Eram unidos demais, do tipo um por todos e todos por um. A família de um deles era a família de todos eles. E como Gislaine não era da família - mas amiga de alguém que, em breve, seria da família. Só por isso, ele estava se oferecendo para ajudar.

Bom, ela que não iria se fazer de rogada.

-Agradeço se puder me orientar - disse, reconhecendo humildemente o oferecimento.

Nem percebeu que sua aceitação mexeu com ele. A humildade o desarmou. Os militares tinham um lance complicado - de se refugiarem na arrogância, quando lidavam com pessoas que consideravam arrogantes, e solidariedade, diante de pessoas que realmente precisavam deles. A reação de um militar poderia oscilar entre servir e se arriscar por um bem maior (os cidadãos em geral), e o orgulho exacerbado pela farda e o que ela representa. Uma verdadeira gangorra emocional de um ponto ao outro da personalidade para pessoas de fora - os civis - e soava meio confuso para quem não convivia com eles.  No entanto, ambos os extremos estavam interligados, na lógica dentro dessa cultura.

Spencer e Gislaine passaram a próxima hora avaliando as coisas que ela precisaria entender, a fim de criar uma boa apresentação. Gis compreendeu as dicas sobre os negócios existentes em Virginia Beach. Não que Spencer fosse um conhecedor de negócios, mas porque era um bom observador. Ele tinha o interesse de fabricar pranchas de skate personalizadas. Seu irmão era um artista gráfico fantástico e iria fazer os desenhos das estampas... Mas isso era outra história. Algo nebuloso para um futuro não muito próximo.

Gislaine levou a mão a boca, num bocejo contido.

Spencer a observou por um instante, avaliando o seu abatimento e cansaço evidentes.

-Como está a cabeça? - perguntou, inesperadamente. Ele sabia que ela tinha enxaquecas desde quando acordou no hospital.

-Está bem - ela desconversou, um tanto espantada. - E sua perna?

Ele fechou a cara, como ela esperava que fizesse. Spencer não gostava de falar de seus problemas, fraquezas ou debilitações. Mas adorava meter o bedelho na vida e nos problemas dos outros. Ele se levantou da banqueta e antes de alcançar a porta, disse:

-Minha perna está bem - segurou a porta, tamborilando de leve os dedos. - Espero que tenha sucesso na sua apresentação - comentou, num tom brusco.

Saiu, sem mais nem menos.

"O maluco".

Encolhendo os ombros, ela bocejou de novo. Recolheu o notebook e suas anotações, antes de se levantar para fechar a porta.

Puxou a coberta e se deitou, adormecendo antes mesmo que a cabeça encostasse no travesseiro.

---

No dia seguinte, ela se sentou à mesa do café com Lara. Conversaram sobre um pouco de tudo: os planos para o casamento; a chegada iminente de Indy; e o plano de negócios que Gis estava concluindo.

-Spencer te ajudou, é? - Lara comentou, num tom... estranho.

Imediatamente, Gis ficou alerta. Mastigou a torrada com calma, ganhando tempo para responder.

-Ele disse que eu precisava dominar um pouco mais da língua, se quisesse me comunicar com as pessoas por aqui - argumentou, na defensiva.

Lara saboreou o seu waffer com mel. Só então Gis reparou no quanto sua amiga estava comilona. Ontem, ela tinha devorado o churrasco que Spencer preparou. E agora... Aquela mesa farta...

-Como é bom comer - suspirou Lara, lambendo os beiços.

Gislaine riu.

-Tô vendo... Não esquece que o seu futuro marido é especialista em condicionamento físico. Ele vai querer por você na linha rapidinho.

O sorriso de Lara diminuiu um pouco. - Pior que é verdade!

Ela estremeceu de brincadeira e se virou com redobrado apetite para a pilha de waffers. -Deixa eu aproveitar enquanto posso!

Spencer bateu na porta dos fundos, que estava aberta, e foi entrando. Vestia uma calça de tarjas do exército, botas militares lustrosas, e uma camiseta imaculadamente branca, com a estampa do tridente e a pistola cruzados na parte de trás (que Gis só viu quando ele virou de costas para ela; o que ele fez bem rápido, sem nem lhe dirigir um olhar sequer).

A atenção dele era toda para Lara, quando contornou a mesa e depositou um beijo casto em sua testa. (Com um olhar tão carinhoso que Gis sentiu algo semelhante a... inveja.)

"Ciúme?"

-Fiquei sabendo que você deu uma mão no projeto da Gis e da Indy - Lara comentou em português.

Spencer não reagiu de imediato, endireitou as costas e o olhar tranquilo cruzou com o de Gis, por um instante perturbador. Ela quis que um buraco se abrisse e a engolisse. Quis estrangular sua amiga grávida e enxerida.

-É... - respondeu ele, simplesmente, fazendo com que Gis se lembrasse daquele filme "Miss Simpatia", quando Candice Bergen corrigia Sandra Bullock: "Não diga 'é', diga sim!" Calhou que no final do filme, Sandra Bullock também corrigisse uma descabelada Candice Bergen: "Sim!"

-... e hoje vamos ao shopping para sondar terreno - estava dizendo Lara, como quem não quer nada. - Não quer vir com a gente?

-Não posso - respondeu Spencer, inspirando fundo. - Abner pode ir com vocês. Aliás, ele está ansioso em exercitar o próprio português - disse ele. - É o novato agora, e por livre e espontânea pressão, ele se voluntariou para o seu "plano de negócios".

Ele disse a última frase me encarando de maneira impessoal.

Lara quase não conseguiu disfarçar o espanto. Mas Gis conseguiu.

-Que bom! - disse ela, procurando assimilar o golpe com a maior classe possível.

Ele então se afastou, pretextando ter que ir à base.

Meia hora depois, Gis estava no carro com Lara e Abner, o novato da equipe SEAL. E foi a melhor coisa que Spencer poderia ter feito, ou seja, mandá-lo para ajudar. Isso, porque Abner era um amor de pessoa. Alto astral, simpático, bom contador de piadas, devotado à mãe... Não tentou nada com ela, nem a intimidou... E para melhorar, ele era gay. Algo que Gislaine percebeu logo de cara, com o seu radar infalível para essas coisas. Tornaram-se inseparáveis como melhores amigos, durante a sua permanência no país.

Gis foi discreta e não comentou nada a respeito com Lara, já que as equipes eram o reduto por excelência dos machos alfas. Se Lara comentasse com Derek, Gislaine não sabia quais poderiam ser as implicações. Contudo, ela era adepta da seguinte regra:

"Não pergunte, não responda".

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Abner riu às gargalhadas daquele jeito que os SEAL tinham de achar graça de tudo, de não se chocarem com nada. Talvez porque tenham sido tão testados em situações extremas que as coisas que afligiam a maioria dos civis, não os incomodasse.

-Você ri? - Gis o questionou, ultrajada.

Ele tentou se controlar, ao ver que ela não estava achando graça. Mas não conseguiu.

-Como quer que eu não ria? - defendeu-se, falando num português bastante aceitável. - Você está me dizendo que uma maluca lá, no Instagram, acha que você é um SEAL disfarçado.

-Sob disfarce - ela o corrigiu, azeda.

A situação aconteceu quando Gis começou a seguir o perfil de Derek. Ele postava algumas coisas legais sobre pensamento positivo e disciplina militar; às vezes, Gis comentava.

Alguém se intitulando "Janine" começou a segui-la e a perguntar em que base militar Gislaine estava servindo.

Achando que fosse um mero mal entendido, Gis teria explicado à "moça" que não era homem, nem americano, nem militar, muito menos SEAL. Era brasileira, brasileiríssima!

A tal "Janine" não acreditou... Volta e meia enviava mensagens pelo Direct para perguntar coisas, como "qual o jeito certo de dobrar os paraquedas", ou "quem dobrava o paraquedas para ele"? Às vezes dizia para Gislaine se cuidar, onde quer que estivesse servindo. Lá pelas tantas, perguntou como Gislaine gostava da depilação da virilha de uma mulher.

Abner irrompeu em gargalhadas outra vez, diante da cara azeda de Gislaine.

Ela teve que dizer com todas as letras: SOU mulher!!! Disse também que a garota entendeu tudo errado. "Janine" resolveu se declarar para ela publicamente no perfil de Gis, que se irritou.

Disse a ela, em resposta pública, que não era chegada em mulheres. "Janine" teve uma síncope e passou a ameaçá-la. Gislaine precisou bloqueá-la e denunciá-la.

-Fica tranquila que a gente faz uma frente unida. Ela não vai mais te incomodar - comentou Abner, num tom mais sério. - Você contou isso ao Derek?

-Contei. Ele denunciou a criatura também... Mas não sem antes morrer de rir da minha cara. Assim, como você fez.

Gislaine acabou rindo também. Teria uma anedota para contar porque os SEAL adorava assuntos do tipo, numa roda de conversa. E esse episódio renderia boas gargalhadas.

Todos, menos Spencer talvez. Ele era sério demais. Carrancudo demais. Escaldado demais para rir de coisas corriqueiras. Ele era... intenso demais. Por isso, Gis se sentia tão desconfortável perto dele. Como se fosse imatura, ou superficial perto de um cara tão... sério.

Os pensamentos de Gis foram interrompidos quando o celular dela começou a vibrar. Mensagem de Indianara, avisando que o avião estava chegando ao aeroporto de Norfolk. Finalmente! Ela se levantou do banco, dando por encerrada a aula de inglês.

Abner se ofereceu para levá-la ao aeroporto e Gis passou uma mensagem para Indy avisando que estavam indo buscá-la.

O assunto Spencer ficou esquecido também... Por ora.

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Os dias corriam céleres. Talvez por causa do agito que o condomínio estava passando com os preparativos do casamento, raciocinou Spencer... Mas no fundo ele sabia que não era só isso.

Spencer precisava decidir o que fazer da vida. Essa era a grande verdade. Realistar-se, ou se retirar da vida militar? Talvez encontrar um meio termo... Ocupar uma nova posição junto às equipes... Mas, cara, ele não era o tipo de homem que conseguiria levar uma vida mais light, enquanto assistia os caras partirem para a ação. Bancar o instrutor, chefe de operações, ou o que o valha... Tinha o mesmo gosto que nada.

Ficar atrás de uma mesa, então, nem se fala. Isso iria matá-lo.

Deus... Que decisão difícil. Mas o corpo já estava cobrando o seu preço por tantos anos de operações, desdobramentos, treinamentos, e injúrias das mais variadas.

Ele massageou o ferimento da coxa recém-cicatrizado. Resultado de uma facada. Por pouco não pegou um ligamento. Teve de se afastar, fazer fisioterapia e agora estava em forma - ao contrário do inimigo, que ele acertou bem no meio dos olhos. Spencer lembrou-se da cena: a luta corpo a corpo, a faca enfiada na coxa, porque o terrorista não conseguiu um bom ângulo para acertá-lo num órgão vital... Assim como veio, o flashback passou. Ele se viu "transportado" para o mundo real de repente, devido ao som das vozes alteradas ao redor.

Ele estava sentado num canto mais afastado com sua cerveja. Queria apenas contemplar as ondas do mar... Preguiçosamente, virou a cabeça para trás. Os caras estavam em volta da grelha. Nas não eram eles que estavam causando agito.

A algazarra chegou até eles primeiro. Colhendo-os como um tsunami... O furor das mulheres em seus rituais que antecediam a um casamento. Spencer apenas levantou uma sobrancelha... Apostava que iria sobrar para ele, de novo.

E não deu outra.

Toda sorridente, e acompanhada de Indianara e Celeste, Lara chegou até onde Spencer estava "escondido". Ele reparou que Gislaine vinha mais atrás, sozinha. Aliás, parecia fazer questão de ficar para trás.

A garota olhava para todos os lugares, menos para ele, até que concentrou sua atenção nos caras e de lá não tirou mais os olhos. Eles sorriram para ela e Gis retribuiu. Quando um deles ergueu a garrafinha de cerveja, ela fez que não. Continuou sorrindo até que seus olhos relutantemente se voltaram para Spencer. Daí, ela parou de sorrir e desviou o rosto outra vez como uma gazela assustada. Ele não sabia se isso o irritava ou divertia. Decidiu que irritava mais do que divertia.

"Porra, eu não sou nenhum monstro para a garota ficar assim, toda apavorada. Não fiz nada para receber esse tratamento". E, no entanto, ela agia assim desde que se conheceram, em Florianópolis. O beijo inofensivo, roubado durante uma conversa de bar, foi tratado por ela com tanto asco que ele se sentiu quase um leproso. Como se ela o considerasse um leproso. Por isso, a partir daquele dia, ele decidiu fazer jus a sua desconfiança.

Recostou à mesa de piquenique e deixou que as meninas fizessem o seu showzinho pra ele.

-Spencer, você poderia nos levar ao centro estético para o nosso dia de noiva? - Lara riu diante da cara que Celeste fez. - Quer dizer, para o meu dia de noiva.

-Dia de noiva não é só no dia? - ele perguntou, tentando ganhar tempo.

-Bem, eu vou mais para relaxar. No dia do casamento, uma equipe vai me ajudar com a maquiagem, no hotel.

Ah... Certo... Bem que o Bruggmann poderia assumir essa parte. Mas ele não estava a vista. "Soube sair de fininho, o filho da puta!", Spencer passeou os olhos preguiçosamente pelos caras. "Salésio, coitado, não saberia nem o que fazer"...

Fechou as pálpebras, por um instante, reconhecendo que estava ferrado. Como Derek e seu parceiro de nado, Jay Constanza, continuavam de serviço, Spencer havia se prontificado a bancar a babá, sempre que necessário.

Palavra empenhada era lei.

Assim, ele acabou topando. Por que não? Iria ser divertido, no mínimo. Além do mais, estava de licença médica. Que mais de interessante ele teria para fazer o dia todo além de olhar o mar...?

De repente, ele decidiu meter mais gente naquela embrulhada.

- Eu, o Salésio, o JJ e o James estamos disponíveis - disse, apontando para os outros.

Spencer não iria afundar sozinho com o navio.

Os caras - até então todos sorridentes e exibidos - ficaram sérios de repente.

-É só dizer quando! - acrescentou Spencer, imperturbável, diante da cara de choque deles.

Lara trocou o pé de um lado para o outro.

-Pois então... É meio que hoje!

Meio que hoje.

-Meio que... agora.

Meio que agora.

Spencer tomou o resto da sua cerveja num gole só e ficou de pé.

-Demorou! - girou o corpo, ficando de frente para os caras e os exortou: - Hoyaaah! Vamos lá, galera!

Seu olhar foi contundente: "Vocês não vão me deixar sozinhos nessa roubada".

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