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XII

Ela acordou olhando para os lados; tinha um breve recordação do que acontecera. Seu semblante se fez numa careta ao tentar recordar — lembrava-se de ter saído com o vampiro... Sua cabeça doía à medida que as lembranças dançavam. Colocou a mão na fronte, pensou que pudesse ver os vampiros de tão perto que sua memória estava. Levantou-se depressa, lembrando que fora levada ao instituto e que deveria ver como o ser que quase perdeu a vida por ela estava. Deu alguns passos e logo apoiou-se na cadeira da estante, pois sua pressão caiu lentamente. Olhou-se no espelho: sua roupa estava manchada de sangue; no seu braço, também havia do líquido coagulado. Passou a mão lentamente; era o sangue do vampiro que tentara salvá-la. Não deveria sair assim... Olhou pelo quarto, avaliando cada detalhe, até visualizar a pequena porta branca. Foi até ela, abrindo-a e observando o banheiro. Havia uma toalha branca e utensílios de banho. Fechou a porta, se afastando, indo até a porta de saída, e a abriu, dando de cara com Ferraro. Como presumiu, o vampiro estava à espera dela.

— Oi... — falou, monótona. — Eu preciso tomar um banho e ficar de roupas novas — disse, apontando para a roupa que estava suja de sangue.

Ele tinha um sorriso caloroso, os olhos chegavam a brilhar. Escutou a mulher com atenção e então entrou no quarto dela sem permissão. Abriu o guarda-roupas lentamente.

— Todas essas roupas são suas, foram feitas para você. — Ele foi até o banheiro, abrindo a porta. — Até as roupas de banho.

Ele se aproximou do armário aberto, observando as roupas. Todas as calças eram jeans escuro; as camisas diferiam em de manga curta e manga longa, e todas pretas, sem detalhes; as botas de salto eram pretas, o que fez a mulher indagar mentalmente se iria para algum funeral. Abriu a boca para falar algo, mas antes de as palavras saírem Ferraro exclamou algo.

— É tudo novo — explicou. — Sempre que um novato chega, tem direito a tudo o que precisar, para se adaptar bem, depois pode ir à sua casa para pegar suas coisas e trabalhar aqui.

Ela apenas concordou com a cabeça e indagou-se: faria o que Mak mandara? Esperaria que o vampiro fosse buscá-la? Talvez estar ali fosse sua melhor opção, já que estava sendo caçada, mas havia alguma coisa naquele lugar que fazia a mulher desejar fugir.

— Acho que, é... obrigada — falou, desconcertada, esperando que o homem entendesse que ela queria que ele saísse para que ela pudesse tomar banho em paz. Ele logo entendeu e foi até a porta.

— Vou te esperar. — Fechou a porta devagar, tendo uma última visão dela.

Ela foi rapidamente para o banheiro, tirou a roupa, jogando-a no lixo, ligou o chuveiro e esperou a água esquentar. Entrou, sentindo a água quente bater em seu corpo frio, fazendo toda a sua pele se arrepiar. Ela soltou um suspiro longo; sua mente estava em Mak, não sabia bem por que mas temia por ele. Terminou o banho em questão de minutos, e logo já estava pronta, os fios de cabelo perfeitamente alinhados. A calça jeans estava tão perfeita que ela chegava a duvidar que não fora feita sob medida; a camisa preta era de manga longa, em virtude do frio; as botas de salto era confortáveis, por fim. Achou estranho que havia até mesmo maquiagem no lugar. Saiu do quarto e deu um pulo para trás com a imagem de Ferraro, mesmo sabendo inconscientemente que ele estaria ali. Colocou a mão sobre o coração, garantindo que ele ainda batia.

— Você está linda — pensou alto.

Ela olhou para ele com um sorriso torto e sem jeito.

— Você é muito gentil. — Foi a melhor resposta que achou para responder o homem.

Ela colocou a mão no bolso; esperava qualquer palavra dele, mas ele apenas balançou a cabeça e apontou para o corredor.

— Você precisa se alimentar antes de tudo, terá um dia cheio! — Seguia a passos rápidos. — Além do mais, poderá me contar o que aconteceu. — Passou a mão sobre o ombro dela.

Ela tirou a mão do homem e andou devagar, desejando que ele não fizesse nada. Seu primeiro impulso foi falar intuitivamente:

— Não aconteceu nada.

Ele, sem paciência, segurou no braço esquerdo dela, empurrando-a para a parede. Quando as costas dela se encostaram, ela fechou os olhos. Ele se aproximou, colocando a mão na parede com a finalidade de pressionar a mulher.

— Mac, não minta para mim, não sou seu inimigo. Quero te proteger do homem que está tentando te matar. — Aproximou o rosto do dela, e afastou-se ao ver a pressão que estava exercendo sobre a mulher.

Ela, por algum motivo que não sabia bem, desejou que Maksimovich estivesse ali — apesar de não gostar do vampiro tinha um sentimento de proteção na presença dele, e tinha a convicção de que ele jamais a machucaria. Ela ergueu os olhos; fosse um vampiro ou um humano, ninguém jamais a oprimiria assim. Ela olhou para ele com fúria.

— Se tivesse acontecido algo, isso não seria da sua conta — falou, colocando a mão sobre o peito do homem, empurrando-o.

— Como eu a protegerei assim?

— Eu não pedi sua proteção, eu nem mesmo sei por que está aqui.

— Porque aparentemente Maksimovich está ferido, ele está fraco, Mackensie, e se você sabe o porquê, seria um bom momento para falar. — Ele não deixou que a mulher terminasse de se pronunciar.

— Por que eu diria algo a você? — falou, aproximando-se mais dele. Aquilo a fazia demonstrar imponência e força em suas palavras; deveria fazer assim com Maksimovich, pensou ela.

— Porque posso te livrar do fardo de ficar perto dele... Posso lhe dar sua vida normal de volta.

Ele se aproximou mais dela — talvez fosse aquilo que ele queria: dar a ela a chance de poder esquecer a imundice que era a vida real, a vida perfeita, e livrar-se de Mak. Ela, por sua vez, olhando nos olhos de Ferraro, via uma dor incontestável e acreditava piamente que homens que carregavam temores que poderiam ser visualizados de tão pesados estavam cegos por sua dor. Ela via aquilo nele; os olhos reveladores do loiro mostravam que ele estava pronto para cometer uma bobeira a qualquer momento, e ela o impediria.

— Não aconteceu nada que possa te ajudar. Fomos atacados, e então ele me mandou para o instituto. Não sei mais que isso — falou, omitindo alguns fatos. Sabia que o vampiro à sua frente não seria idiota se ela contasse uma mentira, então uma verdade omitida lhe foi a melhor opção.

Ele se afastou, e ela voltou a respirar calmamente, passou a mão pelo pescoço a fim de aliviar a tensão que sentia ao lado dele. Ele continuou a andar, e tudo o que ela fez foi segui-lo. Ao chegar no refeitório, algumas pessoas olhavam para ela com desconfiança. Ela encolheu os ombros como se aquele ato deixasse invisível e falha, caminhou com ele até a mesa indicada e se sentou com dificuldade. Estava tão envergonhada que sua mente parecia esquecer como se andava. Olhou para ele, esperava qualquer coisa — ou ficaria ali parada como idiota?

— Vou pegar algo para você comer... Gosta de bolo de chocolate, não é?

Antes que ela pudesse responder, o homem se retirava, o homem que estava satisfeito e feliz por ela estar lá. Ela cruzou as pernas; o refeitório era espaçoso, as paredes, escuras, e o chão, claro. Grandes janelas de vidro opaco dando uma claridade ao local sem ferir a pele dos vampiros. Ela saltou um pouco quando uma voz masculina a tirou de seus pensamentos. O homem pálido de olhos marcados, sardas espalhadas pelo rosto, lábios vermelhos e finos, alto e magro bateu a mão na mesa pela segunda vez.

— Não é você a garota que nos coloca em perigo? — falou, olhando para ela zangado.

Um mulher de pele em tom escuro, sorriso estonteante, pernas finas, longos cabelos grossos, com traços parecidos com os do homem à sua frente, se aproximou, carregada do mesmo ódio que ele.

— Não fale com ela, querido irmão, sabe que quem se aproxima do monstro acaba morrendo — falou com sarcasmo.

A mulher passou o dedo indicador sobre a mesa. Em sua face, era evidente o desgosto por Mackensie, que não ousou se pronunciar por não estar em seu meio. Ela desviou sua atenção dos dois e manteve-se firme, olhando para a frente.

— Nesse caso, ela não deveria nem estar aqui, colocando todo o instituto em risco — disse, praticamente cuspindo as palavras.

Batendo a mão sobre a mesa, sem emitir nenhum barulho, ela se levantou, indignada.

 —  Primeiro — ergueu o dedo indicador no ar —, eu não vim para este lugar por vontade própria e nem mesmo pedi a proteção que vocês me deram. E segundo, o meu problema com o vampiro não tem nada com vocês.

A mulher colocou a mão sobre o peito do irmão assim que ele deu um passo para a frente, a fim de impedir que ele se aproximasse. Mac não abaixou a cabeça, não poderia; em momento algum pediu algo, não poderia se mostrar tão impotente.

— É o nosso trabalho ir atrás de humanos indefesos — a mulher falou, aproximando-se e olhando bem nos olhos de Mac.

— Então faça seu trabalho, que se limita à proteção, não à opinião. — Deu um passo para a frente.

Ferraro, que voltava com bolo e o suco, colocou tudo sobre a mesa e colocou o braço entre os três, ganhando espaço e entrando no meio deles, de forma que Mac ficasse atrás dele.

— Belliny, Grasso. — Cruzou os braços, olhando para os dois. — Vocês não deveriam estar treinando? Ouvi dizer que estavam sendo punidos por comportamento impulsivo — falou, provocativo.

Os irmãos se afastaram, e então abriram a boca como se fossem pestanejar algo, mas desistiram. O medo tomou conta dos dois irmãos, afinal, Ferraro estava acima dos poderes dos dois; além de ser um vampiro bem mais treinado, ele era filho de Heleonor. Frustrados, eles se afastaram e o homem gritou:

— Isso ainda não acabou.

E com um ato deveras nojento, cuspiu no chão.

Ferraro se virou para ela com um sorriso, como se nada tivesse acontecido. Ele se afastou e se sentou; a mulher fez o mesmo depois de alguns segundos em pé, pegou uma caixinha branca e uma garrafa de suco.

— Você vai...? — Apontou para a caixinha de bolo com a segunda garrafa que o homem trouxera.

— Não, trouxe para saber caso queira comer uma segunda vez —  explicou, observando a mulher abrir a caixa de suco, lembrando-se e sentindo falta de quando era um humano e não tinha desejo por sangue. Respirou fundo; assustou-se por não perceber a chegada de Guerra.

O homem sentou-se ao lado da mulher com um sorriso nos lábios. Ele falou, avaliando-a.

— Finalmente vou conhecer a famosa Mackensie. — Ele estendeu a mão para um cumprimento formal. — Sou o Guerra, seu novo companheiro de equipe e a pessoa mais legal deste lugar.

A mulher olhou para Ferraro e para o loiro à sua frente; um sorriso singelo e preocupado surgiu em seus lábios. Segurou a mão do homem, apertou-a e logo a soltou.

— Perdão? Equipe? — Tinha mais perguntas a fazer sobre os dois que vieram falar com ela ou quando poderia partir.

— Sim, Ferraro não falou? — Ele olhou para Ferraro, e foi como se pudesse se comunicar. Voltou-se para ela. — Já que vai ficar no instituto, você deve ter uma equipe de caça. Ferraro é nosso líder. Vamos na nossa primeira missão amanhã, mas não se preocupe, é a minha primeira missão também.            

— Está enganado, eu não sou um de vocês — falou, balançando a cabeça em negação.

O homem respirou fundo, observando a garrafa de suco da mulher. Guerra sabia de tudo, sabia que ela não teria mais a opção de sair do instituto.

— Não existe essa de não ser um de nós, Mackensie. Você está sendo caçada por vampiros tão perigosos que é difícil manter você viva, mesmo pelo instituto. Todos aqui já foram caçados um dia, e a única forma de você ficar viva é lutando, como todos fizeram aqui, e se manter para salvar a vida de outros. Você sendo caçada e é uma de nós, deveria agradecer por estar aqui pela segunda vez a salvo...

Ele fez uma pausa; teria continuado a falar, todavia Ferraro o interrompeu. Seus olhos estavam sobre Guerra com uma espécie de negação.

— Não é bem assim.

Ela ficou em silencio, um silêncio incômodo enquanto pensava nisso. Como poderia ir em uma missão enquanto não sabia de nada? Mac encolheu os ombros; esperava algo mais. Teria que ficar ali por um tempo e acatar as regras daquele lugar.

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