Capítulo 8 - Vidas que seguem (Lara)
O Sr. Junkes me chamou para dizer que a nova Supervisão pretendia extinguir o meu setor. Uma tal de Sonia Telles iria assumir o comando de tudo e já estava planejando as mudanças. O setor de Arquivos iria ser fundido ao setor de documentação do RH. Minha sala pequena e aconchegante seria transformada num depósito, para uso do arquivo morto, e eu teria que ficar numa sala ainda menor, dividindo a função com alguém que ainda não conhecia. Ou seja, o arquivo morto iria ter um espaço mais confortável do que euzinha - um ser humano vivo.
Eu deveria estar transtornada, mas não estava. E tudo porque Derek entrou na internet. Meu coração estava mais leve. Porque ele estava bem, embora parecesse preocupado... Eu queria que o expediente acabasse logo para poder lhe escrever com calma, a fim de perguntar o que aconteceu e desabafar sobre o que tinha me acontecido.
Haja o que houver, eu tenho o Derek para desabafar. Ele sempre dizia para me preocupar com as coisas que eu podia controlar. Eles tinham uns lemas esquisitos por lá... "Um elefante se come aos pedaços. Um pedacinho por vez. Esqueça todo o resto". Eu sabia que era mais fácil falar do que fazer, mas se ele podia, eu também podia.
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O expediente acabou - pelo que dei graças a Deus! Saí do prédio escuro e feio e peguei o bafão do calor que castigava a cidade, naquele verão.
Parei no salão de beleza para me despedir de Indianara.
-Ei, eu quero relatório do misterioso Sr. Gostoso do Instagram! – ela me disse, acenando pra mim.
-Não tem nada pra relatar. A gente é só amigo – eu me defendi, como sempre.
E como sempre, ela respondeu:
-Amigo, é? Sei... Isso daí ainda vai dar em casamento! – ela disse. – Minha amiga casada com um gringo, que chique!
Revirei os olhos e passei no supermercado. Fui recebida calorosamente por Gislaine que, coitada, se abanava mesmo com o ventilador enorme de parede virado para ela. Eles não tinham ar condicionado. Mas, acho que se tivessem, nem o aparelho daria conta daquele tipo de calor. Parecia um forno. O ar estava quente até para respirar.
Alcancei o balcão de congelados e peguei um Fetuccini pronto para viagem. Não era possível fazer pratos muito elaborados, quando se tem apenas um microondas, em casa. Eu comprei uma couve-flor, para contrabalancear (comida saudável, né?) e um cacho de banana. Enquanto passava as compras pelo caixa de Gislaine, a gente foi fofocando.
-Terminei de ler o romance lá, da LaGuardia.
-O que é isso?
Ela torceu os lábios.
-A LaGuardia, lembra? É o pseudônimo da autora, ou assim ela se autodenomina. Tipo, uma dama dos romances...
-Acho que o termo é diva, amiga! Dama é um título ultrapassado.
Nós rimos.
-Quando vai postar mais daquele seu "hot"?
Revirei os olhos, enquanto tirava a carteira para pagar as compras.
-Eu não sei se vou continuar.
-Te dou um tiro no meio da cara, se não continuar.
-Nossa... Isso é que é incentivo! –arregalei os olhos. – Mas eu publiquei uns cinco capítulos, eu acho.
-Eu quero o resto! – ela cutucou o meu braço com a unha bem feita. -E o garanhão?
Fingi que não ouvi.
-Ele também quer ler o livro – ela prosseguiu, porque eu tinha cometido a besteira de lhe contar que Derek acompanhava as minhas histórias.
-Agora ele não vai ter tempo. Está fazendo treinamento no trabalho – eu respondi, de forma vaga.
-O que ele faz da vida?
-Vende carros usados...
(E camelos, não nos esqueçamos dos camelos!)
-Ah – respondeu ela, entediada. – Espero que não seja do tipo calvo, com uma pança enorme e comedor de rosquinhas.
Eu mantive o olhar neutro. – Eu também espero.
Nós nos despedimos e eu fui direto para o ponto de ônibus. Fiquei numa fila por uns vinte minutos até conseguir embarcar num ônibus, com algum conforto. Tão logo me acomodei no banco, abri o celular e vi que Derek não estava mais online há uma hora.
Mesmo assim, eu digitei:
"Desculpa não ter respondido naquela hora, mas é que o chefe me chamou. Queria me dar as "boas"notícias:meu setor vai deixar de existir e eu vou ser enfiada num cubículo menor do que o anterior. Pra piorar a situação, este calor dos infernos não vai embora. Não tem um ventinho. Eu e meus gatos estamos sofrendo muito sem ar-condicionado. Só o ventilador não serve, pois circula um ar quente. Mas, como é mesmo o lema dos SEALs? Viver confortável em meio ao desconforto? Vou tentar".
Fechei o Instagram, pesquei o meu livro e comecei a ler. A viagem era longa até a minha casa. Meia hora depois, eu estava cabeceando de sono... Eu parecia um zumbi. O calor não me deixava dormir direito, à noite, então eu acabava adormecendo no ônibus. Quando acordei, o veículo estava perto da minha rua. Eu guardei tudo e dei uma conferida rápida no celular. Nenhuma mensagem de Derek. Ele continuava fora do ar.
Senti-me extremamente só, quando saltei do ônibus. Atravessei a rua movimentada e comecei minha caminhada pela trilha que corta a fazenda. Olhei distraidamente para o céu, admirando as estrelas que começam a cintilar no céu límpido de verão. Avistei a lua maravilhosa, toda iluminada, e uma emoção intensa me dominou. Foi como se o meu coração transbordasse de uma euforia inexplicável. Parei para pescar o meu celular da bolsa e enquadrei a paisagem: a lua, e sob ela, o mato alto e escurecido ao redor da fazenda. Bati a foto e postei no Instagram com a legenda: "chegando em casa".
A caminhada de dez minutos terminou em meio à escuridão.A trilha se abriu para o moinho, com as dunas ao fundo. O som das ondas do mar, em meio ao silêncio quase absoluto, foi como um som de boas vindas. O cheiro da maresia limpou os meus pulmões da poluição ambiental e energética – ambas geradas pela convivência em sociedade.
Por sorte, eu tinha a luz intensa da lua para me guiar até a porta. Caso contrário, teria que catar a minha lanterninha, para não pisar em nenhum presente mal cheiroso dos cavalos e das vacas do Sr. Silvério. Ou gastar a bateria do meu celular.
Assim que coloquei a chave na porta do moinho, os gatos começaram a gritar. Quando um gato grita, de acordo com o veterinário, é por que está com fome. Eles todos deviam estar mortos de fome. Eu ainda quis me iludir de que a reação era por estarem com saudades da mamãe.
Abri a porta, e fiz uma festinha para eles - que saltaram em cima de mim, vindos de todas as direções. Acendi as luzes da entrada e fui direto para a cozinha. Sentei no degrau que levava ao barril de vinho e agradei os meus bichinhos maravilhosos. Depois de alguns minutos, comecei a preparar a comida deles. Dei uma fervida básica nas sardinhas frescas que trouxe do Mercado Público. Servi quase cruas, em seus pratos. Enquanto eles se deleitavam, fui para o barril de vinho, arrancando as roupas. Sentia-me sufocada pelo calor. Escancarei as lâminas da janela e da porta, deixando as telas firmemente trancadas.(Eu mandei colocar as telas – a ideia era arejar o moinho por dentro, mas evitando os pernilongos e impedindo que os gatos fugissem a um só tempo).
Deveria entrar uma brisa... Que sempre sopra do mar... Mas estava tudo parado! Era a coisa mais estranha!
Decidi tomar um banho com a água que ficou armazenada no barril, pela manhã. A água provinha de um poço artesiano e convinha economizar o esforço de bombeá-la. Meus músculos relaxaram aos poucos e eu encostei a cabeça na borda do barril, sentindo meu corpo se refrescar com a temperatura gelada da água. Vinte minutos depois e não tive vontade de sair lá de dentro, mas acabei me obrigando para não dormir e morrer afogada.
Enxuguei-me, vesti uma camiseta,um shorts, então, fui para o quintal, que dá direto pra vista da praia. Fiquei um pouco lá fora, respirando o ar ligeiramente mais fresco da noite.
Voltei para dentro e liguei a televisão. Mal acompanhei as notícias... Separei a roupa do dia seguinte, organizei a minha bolsa e fiz algumas anotações sobre o que trabalhar nos próximos capítulos do meu livro, a serem postados na plataforma. Sufoquei um bocejo; larguei tudo e fui assistir um pouco de televisão, pelo computador.
Não sei quanto tempo se passou... O CSI não estava me prendendo, desta vez. Senti que poderia cair no sono a qualquer momento. Conferi o celular e vi que não tinha mensagem alguma me esperando. Adormeci com um vazio no peito.
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(Derek)
O sol começou a despontar no horizonte. Eu e meus companheiros nadávamos em mar aberto, com um bote repleto de olheiros e salva-vidas acompanhando o nosso progresso. Sei que a minha frente, outros se esforçavam para vencer a correnteza. Atrás de mim, também. Mas isso pouco importava, pois eu tinha que focar em minha meta: chegar à praia, no menor tempo possível. Continuei nadando, dando o melhor de mim para alcançar a longa faixa de areia que oscilava adiante.
Parecia tão longe!
Estava fazendo um frio glacial, atípico, naquela manhã de outono; e a água gelada parecia me atacar como milhares de agulhas minúsculas... Quase não sentia mais os meus membros, mesmo assim, continuei nadando. Eu não iria permitir que um dos instrutores pulasse na água para me salvar e dissesse que pra mim, acabou. Lá na frente, dois caras conseguiram cambalear em meio às ondas até a parte rasa, onde desabaram como sacos de tijolos. Eu não seria uma exceção...
Tudo bem, desde que chegasse lá.
Forcei o meu corpo ao limite. Meus pulmões queimavam, meus músculos ardiam, as câimbras me ameaçavam... Ignorei tudo isso e puxei o ar com força, batendo as pernas e os braços até sentir a areia macia sob os meus pés. Saí do mar, balançando como um bêbado de carteirinha. Mal consegui me situar e um instrutor me informou, aos berros, que o meu tempo foi insuficiente. Dobrei o meu corpo e fiquei ali, tentando recuperar o fôlego... Até que os meus membros reclamaram da temperatura. Endireitei as costas e me dirigi para junto dos outros candidatos. De repente, descobri que todos nós fizemos um tempo ruim.
Os instrutores se reuniram para confabular. Um deles se voltou para a gente e disse que nossos tempos não iriam computar, porque a correnteza trabalhou contra o nosso desempenho. Teríamos que repetir o teste em outra ocasião.
Eles, então, nos liberaram para o café da manhã. Estávamos acordados desde as quatro e meia da madrugada. Agora, eram sete. O dia já tinha clareado de maneira esplendorosa... Quase como se debochasse da nossa exaustão. Fui para o chuveiro e coloquei a água no modo mais quente possível. Depois, nós nos reunimos no refeitório, onde circulava a lista elaborada pelos instrutores. Eles queriam que a gente escolhesse os melhores e os piores do nosso grupo. Eu não me sentia bem fazendo isso, mas era parte do processo. Fiz o meu top 5 dos melhores e meu top 5 dos piores. Fiquei surpreso ao saber que muitos dos meus colegas me colocaram no seu top 5 dos melhores.
Olhando ao redor, observei meus colegas de bote e os dos outros botes. Sentávamos juntos às refeições, embora estivéssemos em alas de dormitórios diferentes. De um lado da mesa, os velhinhos (eu incluso), do outro, os bebês.
-O coroa mandou ver hoje – disse-me um dos bebês, com 27 anos.
Pois é, ele estava falando de mim.
Após o café a gente foi pra "casa de assassinato", onde costumávamos simular todo tipo de situação relativa às técnicas de antiterrorismo, entre shuffle-shooting¹, combate a curta distância, etc. Os cenários dentro das salas eram modificados a cada exercício, agregando novos e diferentes graus de dificuldade. Eu precisava ter o protocolo muito bem decorado na cabeça.
Os olheiros dos esquadrões já estavam acompanhando o desempenho dos primeiros colocados.
Depois da casa, eu e o restante da tripulação do bote, do qual, eu pertencia, fomos para o estande de tiro. Só no almoço, tive tempo de conferir o smartphone pra ver se Lara tinha respondido a minha mensagem.
Minha Morena, minha Lara Croft.
Só que ao contrário de "Tomb Raider", a minha Lara ainda não tinha descoberto a sua força interior. Era medrosa! Eu tinha que lhe dar uns cutucões, de vez em quando.
Ela me chamava de seu pirata, por causa da bandeira que eu usava anteriormente, no user. Se o pessoal soubesse da nossa troca de apelidos, eles nunca mais me deixariam em paz. Nunca mais. A não ser que eu os matasse primeiro.
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(Lara)
Eu acordei cansada, por causa do ventilador virado na minha direção, zumbindo nas minhas orelhas durante a noite toda. A primeira coisa que fiz foi me espreguiçar, já como forma de aquecimento para as atividades do dia.
Varri minha casa, troquei as águas dos potes dos gatos, arrumei a cama, fiz o meu café e sentei para ler as notícias. Se desse tempo, trabalharia um pouco em meu livro. Escritor pobre não pode se dar ao luxo de se trancar numa cabana, deixando as tarefas mundanas para um batalhão de assistentes. Eu tinha que fazer as duas coisas ao mesmo tempo. E todos os minutos que restavam, deveriam ser aproveitados.
Eu não tinha nada a perder, morando tão longe. E por isso, fazia tanta coisa no período de duas horas e meia que eu ficava dentro de um ônibus... Lia, estudava, conferia as minhas redes sociais, anotava ideias para os livros, dormia... Quantas vezes eu conversei pelo Instagram com Derek, durante toda a viagem? Então, a única coisa que eu fazia questão era de sempre ter um bom pacote de internet.
Fechei a tela da porta e da janela e deixei a madeira aberta, na esperança de ventilar um pouco o ambiente. Preparei a comida dos gatos ansiosos pela boca livre. Enquanto cada um comia tranquilamente, em seu canto, troquei de roupa e fui pra minha sessão de ginástica, que consistia em exercícios abdominais e uma corrida em volta do quarteirão.Depois eu pulava no mar, fazendo um arremedo de hidroginástica de"pobre que não pode pagar por uma academia de hidroginástica". Só que eu ficava na parte rasa, pra não correr riscos desnecessários. Baywatch brasileira não atendia praias desertas. A gente nunca deve cometer o erro de achar que pode brincar com o mar.
Na volta, eu estava melada, numa combinação de areia e suor. Quase derreti de calor, só de atravessar o percurso entra a praia e o moinho. Coloquei a roupa suja na mini máquina de lavar. Enquanto ela trabalhava, fui para o banho... Fiquei dentro da banheira um tempão.
Não tinha a menor vontade de sair dali, considerando o calor que já estava fazendo àquela hora. Cadê o vento sul? Poxa! O vento sul era o ventilador da ilha. Sem ele, a gente se sentia entocado num buraco infernal.
O celular tocou. Eu o deixei à mão. De modo que estendi o braço por sobre a borda da banheira e atendi. Era a Márcia, minha colega de repartição.
Não me entendam mal... Mas a Márcia quis fazer amizade comigo apenas porque eu a ajudei com um projeto. Puro interesse. Era uma mulher muito chique, rica mesmo. Ela gostou das minhas ideias e de lá para cá, sempre me consultava. Mas não saía comigo na frente de suas colegas chiques. Tinha vergonha de ser vista com a pobretona da Repartição. Porque os funcionários do quinto andar não se misturavam com os funcionários do primeiro. É como a nobreza e a senzala... Até quando ela me convidava pra almoçar, tinha que ser escondido dos outros.
As mulheres com aquele nível salarial, casadas com maridos igualmente bem de vida, costumavam guardar o salário só para o próprio gasto. Elas trocavam figurinhas sobre maquiagem, cabelo, roupas compradas em butiques finas, passeios caros, ou refeições requintadas, feitas em lugares que eu nunca teria dinheiro para pagar.
-E aí, tudo certo, Larinha? – ela perguntou, naquele seu tom especulativo.
Aí vinha coisa... Ou ela queria que eu fizesse algum serviço para ela, ou queria desabafar seus problemas.
Revirando os olhos, eu respondi:
-Tudo certo, Márcia. E contigo? - Essa era a deixa... E eu a recitei, porque sabia de cor.
Ela começou a desfiar um rosário de reclamações sobre as fofocas e traições que rolavam em seu setor. Eu apenas escutei. Era tudo o que ela queria de mim. Não queria saber dos meus problemas, só queria desabafar os dela. E ai de mim se não estivesse com o celular ligado, a postos para ouvi-la. Se não a atendesse ao telefone, era como se eu a estivesse "traindo". Estar a disposição era uma obrigação da pobretona aqui. Assim sendo, eu tinha que atender quando ela estava disposta a falar comigo, e não o contrário.
Eu estava muito perto de mandar Márcia à merda, mas... Reconsiderei, porque é melhor ter uma aliada, num local cheio de víboras, do que mais uma inimiga. Eu só tinha três amigos, na verdade. E nenhum deles podia me ajudar, se eu precisasse.
Sempre fui uma pessoa solitária. As amizades não davam certo pra mim, porque parecia que eu nunca conseguia me tornar relevante para as outras pessoas. Nunca conseguia dizer a coisa certa. Tudo o que eu dizia, não interessava a ninguém - como o meu gosto por pets, cinema, e livros. Os textos que eu escrevia, as minhas criações, ou mesmo a forma como executava o meu trabalho. Nada disso interessava para as pessoas com as quais eu convivia por força do trabalho. Lá, dentro da Repartição, a maioria estava interessada em seu próprio umbigo. E como o seu umbigo se posicionava, em relação aos umbigos que poderiam ajudá-lo a continuar boiando acima da superfície (em meio à correnteza político-partidária).
O que não era muito diferente nas redes sociais.
As pessoas seguiam você, daí, você pensava que era para compartilhar coisas interessantes... Mas não, a maioria só queria ter volume de seguidores. Não estavam interessados em trocar experiências, nem nada. Queriam ser vistos. E para isso, iam lá, na calada da noite, e deixavam de seguir sem que você soubesse. Quando você olhava, a criatura estava com milhares de seguidores, mas seguindo apenas alguns poucos. Isso era status? Credo, ser humano valorizava cada coisa besta.
Às vezes, eu não me considerava parte dessa humanidade.
Eu bem poderia ser uma codorna que nasceu humana por engano.
Mas tinha que fazer um esforço para fingir ser humana, como agora, em que eu tentava prestar atenção à ladainha de Márcia. Deixei-a falar, falar, falar, e falar... Enquanto me ocorria que o único que se importava com os meus problemas pessoais, estava amilhares de quilômetros de distância.
-Então é isso, Larinha... E com você, tudo certinho? – ela repetiu a pergunta lá do início, só pra demonstrar que se preocupava.
Tá, vamos jogar o jogo. Decidi desabafar com aquilo que vinha me incomodando:
-A Praga me chamou para dizer que vão extinguir o meu setor e eu vou ser enfiada numa sala menor ainda...
-Ah, vai dar tudo certo, você vai ver – ela logo me interrompeu, antes que eu concluísse o raciocínio. - Eu tenho que ir. Faço academia perto desse horário. Depois, vou sair para fazer compras. Estou sem nada na geladeira. A gente se fala!
Claro... Ela desligou na minha cara e eu baixei o telefone devagar, num misto de frustração e impaciência.
Entrei na internet. Fui direto para o Instagram e vi que não havia nenhuma mensagem.
Derek ainda estava fora do ar. Bem, considerando o fuso horário de cinco horas, agora ele devia estar dormindo, não devia? Fui para o Google e pesquisei as imagens do treinamento SEAL. A maioria que surgiu era referente ao BUD/s. Mas apareceu uma ou outra coisa sobre o que consistia o treinamento da equipe seis.
De qualquer maneira, era bem capaz de ele estar correndo pela praia no meio da noite, ao invés de estar dormindo com todo o conforto.
Quem sabe, cruzando a nado o oceano de águas escuras e geladas.
Fechei o aparelho e o deixei em segurança sobre o banquinho ao lado da borda da banheira. Levantei da água e comecei a me enxugar. Logo eu teria que pegar um busão lotado para o trabalho, enquanto Marcia frequentava a academia, o supermercado e depois ia de carro para a Repartição – fresca e vaporosa.
O fuso horário entre nós duas era de duas horas e meia.
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Rodapé:
(1) - Técnica na qual a dupla de operadores realiza a cobertura de um raio de ação.
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