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Capítulo 2 - Encarando o mundo, as amizades e a internet (Lara)

O que teria unido a manicure, a caixa do supermercado e a garota da repartição?

Resposta: o amor pelos livros. Nós três gostávamos de ler e trocávamos impressões sobre as obras que líamos. Gislaine e Indy eram as únicas pessoas em quem eu confiava. Quer dizer... Mais ou menos.

Minha péssima experiência com pessoas, desde a família de Renato, até os meus colegas de trabalho, não foram os únicos fatores que influenciaram na minha atitude arisca e desconfiada em relação ao ser humano em geral. A depressão foi outro fator decisivo. Não sei dizer ao certo quando começou... Deve ter sido na infância, mas com certeza agravou-se na adolescência. Ao me envolver com Renato, tendo a minha vida bombardeada pelo desrespeito e humilhação, não percebi que deixei de construir uma identidade própria. Vivi em função dos outros. Das migalhas de afeto que os outros me davam.

A melancolia foi se agravando ao longo do tempo... E chegou ao ápice quando comecei a trabalhar na Repartição. Se por um lado, o emprego público foi a resposta para todas as minhas orações - a salvação da minha lavoura! - e me propiciou a chance de me tornar independente... Por outro lado, me expôs a um bombardeio nocivo de jogos políticos e "Ligações Perigosas".

Você deve se perguntar: Porque não larguei o emprego e procurei outro? Bem, eu não tinha pra onde ir - e com a crise, emprego não estava dando sopa por aí! O povo pensava que funcionário público era tudo marajá, vivendo bem à custa do dinheiro público, rodeado de todos os confortos... A situação não era bem assim. Os que viviam desta maneira eram os indicados políticos – os comissionados – que se misturavam aos funcionários públicos nas instituições. Eram eles que ganhavam uma fortuna e nem apareciam para trabalhar. Muitas vezes, nem eram concursados.

O dia em que separassem o serviço público da política, o povo teria acesso a uma educação e saúde de qualidade. Não tenho dúvida sobre isso. Qualquer ideia de melhoria não saía do papel se não fosse de autoria de um comissionado e, em última instância, do seu padrinho político. Todo mundo queria ser pai/mãe de um bebê de sucesso. Muitas vezes, era assim que os projetos de melhorias para a população costumavam ser encarados, dentro do serviço público. (Mas, realmente, havia poucos interessados em ajudar a população.) E os poucos que tentavam corresponder ao trabalho que lhes cabia, eram massacrados por seus colegas ávidos em conseguir favores e gordas gratificações somadas aos seus rendimentos.

Pessoas com boas idéias eram atropeladas para desistirem delas e as entregarem de mão-beijada para quem queria aparecer bem diante do público. Os politiqueiros de plantão pegavam idéias que trariam benefícios e as tornavam "bebês de sucesso" com muita visibilidade, porém, pouca eficácia prática.

Era assim que a banda tocava.

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A depressão me roubou as forças e a vontade de fazer as coisas, por um longo tempo. Tive que procurar tratamento. As pessoas, que não conhecem o funcionamento da doença, costumam dar vários palpites de como combatê-la. Acham que é fácil, que o deprimido é uma pessoa relaxada, que não se esforça... O fato é que o deprimido enxerga o mundo em preto e branco. Não literalmente, mas é como se nada lhe provocasse uma reação positiva. A vida tem gosto de nada.

Sei que se trata de uma descrição simplista, mas foi mais ou menos assim que as coisas aconteceram pra mim. Além do cansaço constante que me dominava, eu queria fazer as coisas, mas não conseguia. Acordava com o firme propósito de realizá-las. Criava listas, preparava-me e... Simplesmente não conseguia fazer nada do que me propunha.

A gente perde a vontade de fazer as coisas e não consegue se obrigar a fazê-las... Não olhamos mais a paisagem. Não absorvemos mais o ambiente ao nosso redor. Não fazemos atividades físicas... Tudo o que, na verdade, ajuda a combater o problema. Ao sair do fundo do poço, voltamos a comandar nossas ações, começamos a tirar o pé da lama, por assim dizer.

Para curar esse tipo de "estado", não existe uma receita, exatamente. Porque a depressão pode variar conforme as situações que a desencadeiam. Pode se instalar por conta de um ou mais acontecimentos, ou por uma necessidade orgânica (dependendo do funcionamento hormonal e químico do organismo). E neste caso, a medicação adequada é essencial para obter sucesso. Se for desencadeada por situações de estresse, é um pouco mais fácil de conseguir combatê-la através da iniciativa própria.

No meu caso, o problema nunca foi bem diagnosticado.

Por sorte, o quarto psiquiatra que consultei não se baseava apenas em remédios, nem ficava aumentando ou combinando a dosagem com diferentes medicamentos – os quais podem provocar efeitos colaterais adversos. Ele me passou medicação, porém, orientou-me a procurar atividades que me ajudassem a superar o problema.

Aos poucos, voltei a enxergar as cores do mundo. A apreciar o marulhar das ondas derramando-se sobre a areia; o grito lamentoso das gaivotas em busca do alimento; a lua cheia no céu límpido – tão cintilante quanto o sol da meia noite...

A Mãe Natureza nos alimenta e recarrega as energias. Cuida da nossa saúde, por mais que não reconheçamos isso. Sem ela, ficamos doentes.

Esta compreensão foi uma poderosa alavanca para combater a doença.

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O processo todo foi difícil, e exigiu que eu me redescobrisse como pessoa – aliás, exigiu que me reinventasse, a começar pelos objetivos de vida. Foi assim que resgatei a minha formação em Música; com o firme propósito de lhe dar algum sentido.

A música era uma parte da minha vida que eu quis me dedicar com amor e afinco, mas que não chegou a lugar algum... Talvez porque tudo o que eu ouvisse das pessoas que mais deveriam me apoiar, era que a música não servia para nada. Não havia lugar para algo "supérfluo" num cotidiano repleto de deveres.

Durante a jornada, em busca de mim mesma, realizei descobertas pessoais que me fizeram compreender o que era supérfluo para os outros e o que era importante para mim. Decidi ressuscitar o diploma, o violão, e compartilhar a paixão pela música com quem se via na mesma encruzilhada em que já estive.

Assim, eu me voluntariarei para trabalhar nas horas vagas em uma ONG chamada "O Amanhã é Nosso" - OAN. A cada quinze dias, aos sábados, eu ensinava música às crianças e adolescentes que freqüentavam o lugar.

A ONG atendia jovens carentes e suas famílias, oriundos de diferentes partes da Grande Florianópolis – das favelas às regiões pesqueiras, em diversas frentes: educação, assistência social, medidas de proteção, aconselhamento e atendimento médico, entre outros.

No campo educacional, as crianças e adolescentes eram estimuladas por meio de aulas interessantes, lúdicas, e no caso dos adolescentes, eram-lhes ofertados cursos profissionalizantes, a fim de que não aceitassem as ofertas dos traficantes, e resolvessem permanecer do lado certo da sociedade. (Quebrando valores distorcidos e falsos que povoam a mente dos adolescentes, do tipo que prega que um traficante é um herói; do amor contra o mundo de Bonnie & Clyde - erroneamente romanceado como "viva e ame perigosamente, sem se importar com o que faz da sua vida e da vida dos outros".)

As crianças e os adolescentes também recebiam assistência; suas famílias eram monitoradas e informadas sobre os direitos dos filhos; as medidas de proteção eram acionadas, em caso de violência doméstica e abuso; os desenvolvimentos físicos, intelectuais e emocionais dos jovens eram acompanhados de perto (e, em caso de necessidade, eles eram atendidos por médicos, psicólogos e fonoaudiólogos credenciados como parceiros da ONG).

A OAN distribuía lanches aos estudantes da rede pública que não tinham comida em casa e também ajudava suas famílias com cestas básicas, desde que os filhos permanecessem na escola, com o boletim apresentando notas condizentes com o seu esforço.

Os voluntários, como eu, davam aulas de artesanato, esportes e música pra toda a garotada. Era uma forma de mantê-los fora das ruas, longe das drogas, e mais próximos de se sentirem felizes, incluídos e úteis à sociedade.

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Mas não foi só a Música, e a minha formação na área, que eu resgatei...

Nesse mesmo período, iniciei um projeto audacioso... Comecei a escrever. Um sonho antigo, mas que eu não me sentia capaz. Os professores do ensino médio diziam que eu escrevia muito bem, mas eu não acreditava. Na verdade, eu não acreditava que qualquer coisa que eu fizesse fosse boa, ou útil, para os outros. Cresci ouvindo comentários como: "Você não serve pra nada"; "Você é muito burra"; "Você nunca vai ser alguém"; "Ninguém gosta de você"; "Ninguém te suporta". Hoje entendo que isso é uma tática dos abusadores para dominar a sua vítima. Mas, naquela época...

Primeiro, tive a indiferença dos meus pais. E quando eles morreram, ouvi essas declarações terríveis do meu "marido" e de sua família.

Com o passar do tempo, você acaba acreditando.

Agora também entendo, graças à filosofia dos SEALs¹, que a gente tem que procurar conviver com pessoas com as quais nos afinamos, para sermos felizes. Do contrário, vamos nos sentir inferiores, deslocados, intrusos e inúteis.

Rodapé:

[1] - Sea, air, and land. Mar, ar e terra, são os âmbitos de atuação. Sigla usada para designar os efetivos das forças especiais da Marinha americana, treinadas numa doutrina designada coloquialmente como "Mindset". Essa filosofia está disponível por meio de diferentes obras.

Nem sempre tal convivência é possível, quer dizer, estar com quem nos faz sentir felizes. Mas se pudermos fazer isso, pelo menos, em alguma área de nossas vidas, todo o resto se torna suportável. Sendo assim, consegui contrabalancear a tristeza que sentia ao trabalhar na Repartição, participando da ONG, escrevendo, e convivendo com minhas amigas – as quais compartilhavam do meu modo de ver a vida.

Aliás, Indy se empolgou com as minhas iniciativas e se ofereceu para dar um curso de cabeleireira às garotas que freqüentavam a ONG. Gislaine pediu à dona do supermercado, dona Mariete, para recolher as sobras de estoque, ou os produtos que estivessem perto de vencer a validade, a fim de distribuí-los para uso imediato das famílias carentes. Nós montamos cestas básicas e começamos a entregar como incentivo aos pais que conseguissem manter seus filhos na escola e na ONG.

Foi tipo uma corrente do bem. E eu me senti muito melhor por ter feito a diferença na vida daquelas crianças e até das minhas amigas.

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Além de começarem a participar dessa parte da minha vida, minhas duas únicas amigas também passaram a dar bastante pitaco nos meus projetos pessoais. Elas acompanhavam tudo o que eu escrevia. Eram as únicas pessoas para as quais eu confiava a leitura dos meus textos. Mesmo assim, eu morria de vergonha de mostrá-los.

Por incrível que parecesse para mim, elas adoravam as histórias que eu criava para os meus personagens (as aventuras geralmente giravam em torno de ações e atividades que eu sonhava em realizar, mas não tinha coragem, tais como praticar pára-quedismo; tirolesa; viajar pelo mundo; escalar o topo da Pirâmide de Gizé, surfar no Havaí; etc). Enfim, elas achavam que eu escrevia bem e começaram a me incentivar para que publicasse a minha "voz escrita".

Certo dia, as duas vieram com uma conversa mole, preparando terreno... Para me convencer a publicar. E me indicaram uma plataforma online de publicação gratuita, chamada VoxPaper. Mais tarde, eu viria a descobrir que é bastante conhecida no mundo inteiro. Na época, porém, pareceu-me apenas uma comunidade de escritores e leitores amadores, onde eles publicavam seus textos e as pessoas trocavam impressões sobre eles. Meio que com uma finalidade pedagógica.

Criei o meu perfil e aprendi a lidar com as ferramentas online... Entretanto, restava um probleminha básico: eu precisava aprender a "etiqueta", ou melhor, o "jogo social" dos relacionamentos online; aos quais, definitivamente, eu não dominava.

Logo descobri que o comportamento online segue as mesmas regras do comportamento real. Dependendo do lugar que você freqüenta, corre risco de encontrar pessoas perigosas, malucas, ou até péssimas influenciadoras. Você deve cuidar muito do seu tempo para não desperdiçá-lo em qualquer lugar, dentro da rede, nem com qualquer pessoa. E quando abordar os outros, deve seguir as "regras da casa". Tipo: quando em Roma, aja como os romanos.

Claro que dei várias bolas foras no começo, mas aprendi a não me expor tanto. E a rechaçar pessoas que não  acrescentam em nada na vida. Também criei algumas regras minhas, tais como: nada de fotos pessoais, nem que mostrem a minha rotina. Muitas pessoas são assaltadas e seqüestradas porque dão o passo a passo do seu dia, nas redes sociais. Fotografam a si próprias comendo, passeando, estudando e isso dá ótimas pistas aos tubarões que espreitam pela rede, apenas esperando uma oportunidade de te pegar. Fotografe o seu "tanquinho" no quarto ou na sala de estar, e o bandido estará contando quantas televisões, aparelhos de som, aparelhos de vídeo game e roupas de marca têm no fundo da foto.

Eu era uma garota sozinha, que precisava me cuidar. E depois do maluco do meu ex "marido" e sua família, eu não seria alvo para mais ninguém. Assim, decidi que, na rede, não colocaria nada de coisas pessoais. Apenas postagens sobre os meus livros.

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